Entre a Cruz e a Espada

A minha vontade era de estraçalhar Bill com as minhas próprias mãos, além de nos perseguir por toda a floresta, veio com aquela chantagem que mais parecia uma ameaça.

Travis não acreditava no que seus olhos lhe mostravam e perguntou:

- Quem é esse, Ryan?!
- O nome dele é Bill, uma longa história tenente!
- Isso está ficando cada vez mais bizarro!

O militar pegou sua submetralhadora e apontou em direção ao monstro, mas Bill sorriu e avisou:

- Se eu fosse você não faria isso rapaz!
- Ele tem razão Travis, abaixe essa arma, se atacarmos ele nunca mais veremos a Judy!
- Como vamos saber se ele não está mentindo?!
- Eu não sei, mas não podemos arriscar, não temos outra escolha!

O maldito assassino sorriu mais uma vez e falou:

- Melhor você ouvir o Ryan! Ou o sangue daquela criança estará em suas mãos!
- Me diga o que você quer em troca Bill! - Perguntei a ele

O maligno começou a caminhar sobre os corpos com um olhar cruel e intimador, era notável a sua ira contra minha pessoa, acho que se ele pudesse me mataria ali mesmo, mas havia algo de seu interesse que estava em meu poder.

- Eu quero uma coisa simples Ryan, algo sem importância pra vocês!
- Diga de uma vez!
- Me dê a espada de Gabriel!
- Jamais! Essa arma é do meu amigo e ainda vou entregar a ele quando encontrá-lo!

Bill começou a rir sem parar, o tenente se irritou e apontando sua arma novamente, perguntou:

- Do que você está rindo seu demônio?!
- Tenha calma Travis! Deixa que eu resolvo isso! - Alertei o militar, que logo obedeceu minha ordem - Onde está a graça Bill?! Você também sequestrou Gabriel?
- Nem se eu quisesse!
- Como assim?!
- O Arcanjo não está comigo e nem com os canibais!

Aquela nova informação me deixou perplexo, o que ele me disse logo depois chocou minha realidade.

- O que você quer dizer com isso?!
- Pelo jeito vocês ainda não ouviram falar dele, o verdadeiro senhor desses nativos medíocres!
- Do que você está falando?!
- Existe um espírito demoníaco que domina essa floresta, chamado Wendigo!
- Quem é ele?! - Perguntou Travis
- Ele viveu aqui há milhares de anos atrás, e para não passar fome começou a comer a carne dos seus próprios companheiros indígenas, se tornando o maior canibal da história, se transformando em uma criatura monstruosa, que se esconde nas florestas em busca de carne nova e almas desorientadas!
- Isso só pode ser obra sua! - Acusei
- Desta vez não caro Ryan! Esse ser terrível é tão poderoso que apenas o próprio Lúcifer poderia mata-lo ou Deus! Não quer dizer que você não possa ferir ele, mas não é uma tarefa fácil e uma vez que ele pega uma alma... Nunca mais a devolve!

- Qual a forma de dete-lo?!
- Não posso te dar essa informação caro Ryan! Mas aconteça o que acontecer não entre naquele templo ou serão mortos por ele!
- Se Gabriel estiver lá dentro é claro que vou invadir, não tenho medo de demônio algum!
- Você é quem sabe, foi apenas um conselho de amigo! - Disse Bill com um sorriso sarcástico
- Me poupe das suas ironias, você é o próximo!
- Ou talvez vocês! Vou te dar apenas uma hora para decidir, ou me entreguem a espada ou mato aquela menina e trago a cabeça numa bandeja!
- Seu louco! - Desabafa Travis
- Me encontrem na frente do templo daqui uma hora ou o destino da Judy estará traçado para sempre...

O demônio do Bill se transformou em um corvo novamente e levantou vôo, desaparecendo entre as nuvens escuras.
Me senti inútil naquele momento, estava sendo chantageado por aquele assassino e não podia fazer nada, deveria pensar em um plano e rápido.

Travis sugeriu que retornassemos para a tribo, para recuperar nossas armas. No meio do caminho, ele me perguntou:

- O que você vai fazer Ryan?
- Eu não sei, ainda tenho uma hora pra decidir!
- Se eu fosse você não daria a espada para aquele monstro! Não deve ser por acaso que ele deseja tanto essa arma!
- Mas também penso na Judy, ela não merece isso!
- Você nem sabe se ela realmente está com ele, pode estar blefando!
- Pelo que conheço do Bill, ele não é do tipo que brinca em serviço!

Quando estávamos chegando na pequena aldeia dos nativos, avistamos um grupo de canibais arrastando uma mulher no meio do mato, amarrada pelas mãos e sendo puxada violentamente pelos cabelos. Ela gritava desesperada, pedindo por socorro:

- Alguém me ajuda por favor!! Socorro... Pelo amor de Deus...

Ao tentar retirar a espada da bainha, para matá-los, o tenente me avisou que isso era loucura, pois ele estava com pouca munição e a espada não era o suficiente para exterminar todos eles e salvar a moça.

- Então vamos nessa pegar logo minha 12 e explodir as cabeças desses caras!
- Esse é o Ryan que eu conheço! - Brincou o militar

Corremos cautelosamente para a Oca, com receio de sermos descobertos. Eu só queria voltar logo e salvar a vida daquela jovem de um destino cruel. Os canibais eram verdadeiros monstros e não tinham pena de ninguém.

Fiquei aliviado ao rever minha Calibre 12 e meu fuzil tático, além da minha 9mm. O tenente aproveitou também para pegar sua poderosa Calibre 32 e as duas pistolas automáticas .50 do Arcanjo Gabriel.

Após nos equipar fortemente com nossas armas, retornamos para tentar salvar a pobre mulher das mãos daqueles assassinos, porém já era tarde demais...

... O que eu vi aquele dia foi algo que me marcou até hoje, raramente vi tanto sofrimento em uma só pessoa, o que irei descrever aqui é algo que presenciei visto por esses olhos que um dia a terra há de comer.

... A jovem estava sendo esquartejada viva por golpes de machado, eram cerca de dez canibais ao redor da vítima, onde ela se debatia inutilmente, enquanto os nativos devoravam a sua carne.
Ela somente conseguia gemer de dor e agonia. Um deles pega a ferramenta e arranca seu braço direito com apenas um golpe, e entrega o membro ao companheiro ao lado. Eles comiam e riam ao mesmo tempo, sem se importar com o sofrimento da mulher, suas bocas sujas de sangue demonstravam o seu prazer em matar.

Mesmo sabendo que ela não tinha mais chances de sobreviver, peguei meu fuzil e apontei para o grupo, estava preparado para exterminar aqueles monstros de uma vez por todas. No entanto, a situação ficou pior ainda, pois naquele instante um deles assobiou como se tivesse chamando alguém, onde surgem três crianças de dentro das Ocas.

Elas se aproximaram dos canibais e começaram a se alimentar da carne humana, fazendo com que um deles pegasse o machado e acertasse o tórax da moça, causando uma abertura enorme abaixo dos seios. Os monstros abriram as costelas com as próprias mãos e ofereciam os órgãos vitais para as crianças, que imediatamente avançaram sobre o corpo como verdadeiros abutres.

Por último, um dos nativos pegou um espeto de bambu e fincou sobre os olhos do cadáver, extraindo as córneas com brutalidade e violência, mastigando logo em seguida, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Engatilhei minha arma e mirava naqueles insetos nojentos, mas pela lente do meu fuzil, eu observava o rosto de um dos meninos, apesar de ser um canibal como eles, ainda era uma criança, sendo que provavelmente foi criado daquela forma e talvez nem soubesse que aquilo era errado e nos enxergava apenas como animais para seu consumo.

Antes que eu pudesse atirar para dar um fim neles, fui surpreendido por uma explosão, que deixou toda a família canibal aos pedaços. Ao tentar descobrir de onde veio aquele ataque, percebi que foi Travis, que com sua poderosa M-32 resolveu aquela situação sozinho, com somente um disparo.

- Você demorou demais Ryan! - Disse o tenente com ar de superioridade
- Haviam crianças entre os nativos!
- Aquilo não eram crianças, mas sim pequenos demônios!
- Da próxima vez espere eu dar o sinal para atacar!
- Se eu for seguir como você quer, nós estaremos mortos!
- Como disse?! - Falei alterando minha voz
- Olhe ao seu redor Ryan! Onde estão seus amigos?! Se não fosse por mim, você já tinha virado almoço dessas criaturas!

Levado pela raiva, saquei minha 9mm  e apontei para a cabeça do militar, eu ia explodir os miolos dele por falar assim comigo, mas encarando seus olhos, notei que ele dizia a verdade. No fundo, Travis tinha razão, eu não era um bom líder e estava sacrificando minha equipe por não saber diferenciar a lógica da insensatez. Minha ambição em matar Lúcifer talvez estivesse passando dos limites e estaria arrastando a todos para aquele inferno.

- Vou te prometer uma coisa Travis e nunca mais esqueça das minhas palavras que vou dizer agora! - Falei guardando minha arma na cintura - Quando criarmos as Balas de Deus e eu tiver o poder para derrotar o mal, irei sozinho!
- Como assim?
- Não quero mais ninguém ao meu lado, só restará eu e o Diabo!
- Você sabe que isso é suicídio não é?!
- Talvez seja, mas essa é minha escolha e não de vocês!
- Você quem sabe! - Afirmou ele sem se importar

Logo em seguida, começamos a ouvir passos vindo de dentro da floresta em nossa direção, eram o restante dos nativos que foram atraídos pelo barulho da explosão. O tenente e eu nos olhamos e concordamos em exterminar aquelas criaturas para sempre.

Assim que eles surgiram, começamos a fuzilar todos os canibais, alguns deles tentavam nos acertar com machados e foices, mas nada que uma bala de fuzil no meio da testa não resolvesse. Outros corriam inutilmente pra cima do militar, mas ele com as pistolas .50 do Gabriel, matava um por um com tiros no peito, causando um estrago enorme, tudo isso carregando um sorriso no rosto, como se adorasse fazer aquilo.

Confesso que não sentia prazer em matar, mas era minha missão e modéstia a parte, eu era ótimo em resolver problemas desse calibre.

Em menos de dez minutos nós já tínhamos devastado toda a tribo, ao menos aquele povoado daquela região já não existia mais, graças a mim e ao Tenente Travis.

Andando entre os corpos, ele recolhia algumas ferramentas dos nativos, e ainda reclamava que eles não tinham tesouro algum nas ocas.

- Agora que já acabamos com eles, você já decidiu o que fazer com a espada do Gabriel?
- Sim, pensei muito no que você me disse e tomei uma importante decisão!
- O que você vai fazer?
- Você verá na hora!
- Vai bancar o misterioso comigo? - Perguntou ele em tom de brincadeira
- Não se preocupe, deixa que eu resolvo isso, agora vamos voltar pra lá por que já está quase na hora de Bill nos encontrar!
- Aquele cara me dá arrepios!
- Eu te entendo!

Ao chegarmos no local, damos de cara com um corvo pousado no topo do templo, nos observando de cima como se nós fôssemos ratos. Imediatamente retirei a espada e falei bem alto:

- Pode usar sua forma original Bill, esse seu truque está ficando velho!

O pássaro maldito levantou vôo e foi em nossa direção, pousando sobre uma cerca de arames farpados.
Na mesma hora ele começou a se contorcer novamente, era uma das coisas mais bizarras que já tinha visto em toda minha vida, realmente ele não era deste mundo.

Travis apesar de sempre querer bancar o durão, virou o rosto para não ver a transformação daquele demônio. De certa forma eu compreendia ele, não era qualquer um que aguentava ver tamanha aberração. Mesmo estando acostumado a lidar com coisas sinistras, eu ainda sentia calafrios na alma, ao presenciar tudo isso, mas não demonstrava medo, apenas nojo.

Quando voltou ao normal, se é que pode se dizer que a figura dele era normal, eu questionei:

- Onde está a Judy?!
- Me dê a espada e eu direi!
- Nada disso! Diga de uma vez ou eu quebro!
- Não faça isso! Tudo bem, ela está aqui...

Inexplicavelmente, Judy surgiu atrás dele, mas a menina estava amarrada num tronco de árvore, bem na entrada do templo, próximo às escadas. Ao me ver, ela começou a chorar e pedia por socorro:

- Me ajude tio Ryan, por favor!
- Eu já vou te salvar criança, tenha calma!

Bill olhou para mim com um sorriso satânico e disse:

- O que vai ser Ryan?! Já sabe o que deve fazer?! Lembre-se que a vida dela está em suas mãos...

           ... Aquele momento foi crucial, eu tomei uma importante decisão naquele dia, pelo qual não me orgulho, mas as consequências foram bem piores do que eu imaginava...

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