n i n e

atenção: esse capítulo narrará um relacionamento abusivo. peço que, se esse assunto for sensível para você, não leia! se decidir não ler, pode me chamar para receber um resumo do capítulo para não se perder no que acontece na fanfic. para aqueles que lerão, peço encarecidamente que leiam as notas porque lá eu vou falar coisas importantes que envolvem a fic e coisas que não envolvem também.

boa leitura <3

× × ×

Eu:

eae jiji|

meu tudo 💘:

|oioi koo
|como vc ta?

Eu:

bem, e você?|

meu tudo 💘:

|to com sono mas to bem
|ta precisando de algo?

Eu:

não|
quer dizer|
sim|
eu queria conversar com você sobre| algumas coisas

meu tudo 💘:

|é sobre o livro?

Eu:

nah, não é nada sobre o trabalho|

meu tudo 💘:

|iiiiii
|oq aconteceu?

Eu:

nada que você precise se preocupar|
só queria conversar mesmo|

meu tudo 💘:

|sobre oq?????

Eu:

acho melhor falar pessoalmente|
mas em um lugar tranquilo, sabe? que|
a gente não seja interrompido

meu tudo 💘:

|pode ser na sua casa?
|você ainda ta me devendo aquela pizza de beringela
|dai você faz enquanto conversamos
|pode ser?

Eu:

claro, pode sim|
pode vir aqui hoje a noite?|

meu tudo 💘:

|logo hoje que eu tirei o dia pra limpar a casa?

Eu:

pode ser outro dia, então?|

meu tudo 💘:

|nadakskdks tava brincando com vc
|pode ser hoje sim
|daqui a pouco to aparecendo

Eu:

ta bom, então|

meu tudo 💘:

|vai adiantando a minha pizza

Eu:

kkkkk|
pode deixar!|
exigente 👺|

meu tudo 💘:

|sou 😎

—— after a while ——

Embora gostasse do frio, nunca fui com a cara de dias chuvosos. Eu gostava do céu nublado, gostava do vento que gelava meu rosto, gostava da sensação da brisa quase congelante batendo em minha pele e revigorando minha alma, mas chuva, ah não, chuva não era bom. Nunca gostei da sensação do molhado, do cheiro que a chuva trazia, dos perigos, da solidão. O clima chuvoso não me agradava.

Havia acabado de voltar do mercado, as compras estavam em cima da mesa enquanto tirava minha capa de chuva azul e levava para a área de serviço, voltando para a cozinha para adiantar algumas coisas já que Jimin queria provar minha pizza de beringela. Não faria um molho totalmente elaborado, apenas o tradicional, sabia que Park era um cara simples, mesmo que sua aura exuberante o deixasse nobre como um rei.

Não mentiria, estava nervoso, aquela conversa poderia colocar um fim na amizade que construímos como poderia fazer da nossa relação algo mais forte. Eu não sabia exatamente o que falar, nem como falar, muito menos sabia sua reação, mas depois de um tempo, eu percebi que pensar demais pode te fazer menos corajoso, e o que eu menos queria naquele momento era perder a coragem.

Tremi dos pés à cabeça quando toquei minha sola no chão frio da cozinha, levando as coisas para lá e começando a retirar tudo dos sacos de papel. Ainda me tremia um pouco, mas sabia que não era de frio, já que o aquecedor do apartamento estava ligado e eu estava muito bem aquecido pelo conjunto de moletom cinza que tampava o meu corpo. Eu tremia de nervosismo, mesmo pedindo a mim mesmo que me acalmasse, que não era necessário ficar daquele jeito, que eu tinha que manter a calma se não nunca conseguiria falar nada.

Enquanto cortava os tomates e as cebolas, me recordava das vezes em que me negava a pensar que estava de quatro pelo cara desconhecido de cabelo preto, o cara que me deu o melhor sexo da minha vida, porque fala sério, quem iria admitir estar encantado por alguém que nem conhecia e, ainda por cima, encantado só porque transou? Me sentia patético, como um virgem que comeu alguém pela primeira vez e gozou nos primeiros 4 segundos.

Péssima referência.

Me assustei com o barulho da campainha, engolindo em seco antes de andar até a porta com um pano de prato nas mãos enquanto as secava. Abri a porta com calma, vendo um Jimin completamente ensopado enquanto jogava o cabelo para trás.

— Quem cuspiu em você? — perguntei, vendo Jimin bufar e caminhar para dentro, me fazendo fechar a porta atrás de mim.

— Muito engraçado isso vindo de um cara com um avental amarelo de babado rosa. — Jimin disse impaciente enquanto tirava o tênis.

— Foi presente da mamãe, mais respeito. — falei, rindo logo depois quando vi o outro sorrir. — Não viu a previsão do tempo? Desde semana passada estavam avisando que iria chover.

— É, eu vi, mas não achei meu guarda-chuva e pensei que não me molharia tanto assim. — Park comentou enquanto tentava descolar a blusa de seu corpo. — Seu prédio bem que podia ter vagas para visitantes no estacionamento, né?

— Mas tinha, só que agora aquela parte está em obra, querem colocar vagas para deficientes e um bicicletário. — falei, olhando Jimin de cima a baixo. — Você está ensopado.

— Jura? — falou sarcástico.

— Se ficar de malcriação eu te deixo com essas roupas para você pegar um resfriado brabíssimo que te deixará todo encatarrado. — falei enquanto andava até a cozinha.

— Você não faria isso com o pobre Jiminzinho, faria? — Park perguntou enquanto me seguia.

— Não, porque eu sou um imbecil emocionado, não seria tão cruel assim. — falei, pegando a faca e voltando a cortar as cebolas. — Você já conhece o apartamento, vai lá no meu quarto, toma um banho e pega uma roupa para você.

— Você é um anjinho, que saco. — ouvi o menor enquanto sua voz sumia pelo corredor, me fazendo sorrir.

Alguns minutos depois, o molho já estava quase pronto e as beringelas já estavam cortadas quando ouvi os passos atrás de mim. Senti o cheiro do meu shampoo assim que senti um corpo me abraçar por trás, me fazendo suspirar. Assim que eu e Jimin adotamos essa nova amizade, percebi ele me tratar como tratava todos os outros amigos, sempre sendo muito carinhoso e fofo. Vivia dando abraços, beijos na testa, cafunés no cabelo e apelidos no diminutivo, e eu gostava muito de tudo aquilo, era bom ser mimado por ele, mas o mesmo parecia não perceber meus músculos tensos sempre que ele se deitava em meu ombro quando algum filme estava lhe dando sono, ou todas as vezes que encarava sua face quando ele se perdia desenhando coisas aleatórias nas minhas coxas, nem mesmo como suspirava diversas vezes quando ele se oferecia para fazer alguma massagem nas minhas costas.

— Isso está com uma cara tão boa. — ouvi o mesmo dizer enquanto apoiava seu queixo em meu ombro.

— Hoje nós forraremos seu estômago com comida de qualidade, sem nuggets congelados. — falei, tirando uma gargalhada de Jimin enquanto o mesmo andava até a mesa no centro da cozinha e se apoiava lá.

Passamos um tempo calados enquanto finalizava o molho, jogando por cima das beringelas estendidas pelo tabuleiro, começando a montar com tomates, orégano, alguns cogumelos, cebolas e queijo vegano ralado. Senti minha nuca se queimando levemente, me fazendo olhar para trás, vendo Jimin me encarar com a cabeça inclinada, parecia longe, perdido em seus próprios pensamentos. Só ali consegui reparar nas roupas que o mesmo pegou no meu armário, uma bermuda preta que Jimin se apossou quando passou a frequentar a minha casa e uma blusa grafite de manga que ele me obrigou a comprar certa vez dizendo que eu ficava bonito com blusas como aquela.

Franzi a testa, virando novamente para frente.

— Por que está me olhando assim? — perguntei enquanto lavava a mão e retirava o avental, pendurando-o perto da entrada da cozinha e levando o tabuleiro até o forno pré-aquecido, sincronizando o despertador de cozinha para tocar em quinze minutos.

— Porque você fica lindo enquanto cozinha. — o ouvi dizer calmamente, seu tom de voz tão sutil quanto a brisa fresca de uma manhã na praia. Suspirei, enquanto apoiava minhas mãos na pia, ainda de costas para o outro.

— Não fale isso. — falei baixo, fechando os olhos, tentando manter minha cabeça no lugar.

— Por que não? Eu sempre te elogio. — ouvi os passos dos pés descansos de Jimin sobre os azulejos enquanto ele se aproximava, senti seu corpo ao meu lado e percebi o mesmo se apoiando de costas para a pia.

— Mas não desse jeito. — pronunciei, abrindo os olhos e olhando para o lado, vendo os olhos de Jimin cintilantes como as noites de verão.

— Que jeito? — sua pergunta soou dura, me fazendo piscar os olhos e suspirar algumas vezes. — Fale, Jungkook, que jeito é esse?

— Por que está fazendo isso? — falei em choramingo enquanto apertava a borda da pia.

— Isso o que? — e mais uma vez sua voz soou dura. — Eu quero ouvir você falar.

Seu sussurro ecoou por meus tímpanos, chegando ao meu cérebro, me fazendo processar aquela avalanche de informações que meu próprio corpo estava me obrigando a sentir. Tranquei o maxilar assim que me segurei em seu olhar, que de uma forma tão rápida piscaram quando me aproximei de seu corpo, parando em sua frente enquanto cercava a altura de sua cintura com as mãos, apoiando na pia. Minha respiração estava forte assim como meus dedos estavam esbranquiçados pela força que usava para apertar a pia.

— Por que está fazendo isso? — repeti a pergunta, vendo os olhos de Park cravados nos meus. Sua mão subiu enquanto seus dedos se enrolaram na corda que saía do capuz do meu moletom.

— Eu sabia que você não conseguiria se controlar por muito tempo. — Jimin pronunciou enquanto sua outra mão era levada até o meu antebraço exposto por eu ter arregaçado as mangas até o cotovelo no momento em que cozinhava. Seus dedos eram passados sutilmente pelas veias ali enquanto seu olhar seguia seu movimento.

— Eu estava controlado até você decidir me provocar. — falei baixo, apertando mais ainda a pia, fazendo as veias ficarem mais evidentes.

— Se soubesse se controlar, minhas palavras não fariam efeito algum em você. — o de cabelo preto disse enquanto seu olhar subia novamente até o meu.

— Não sou eu que está alisando o seu braço.

— Nem sou eu que está te prendendo contra a pia. — sua voz soou debochada, e quando percebi, havia dado um passo para frente e apertado meus braços em sua volta, fazendo Jimin tensionar e ajeitar a postura. 

— O que você quer de mim, Park? — falei bufante, sentindo sua respiração perto do meu rosto. Ele estava tão ofegante quanto eu.

— Agora eu sou “Park”? — o mais baixo perguntou, seu sorriso se abrindo enquanto eu suspirava levemente irritado. Cerrei os olhos, olhando para cada canto daquela face, tentando entender suas intenções.

— Eu não te entendo. — falei, fechando os olhos e suspirando, dessa vez rendido, cansado de tanta confusão dentro de mim mesmo.

— Ei, — ouvi o mesmo me chamar enquanto sentia suas mãos se apoiarem em meu rosto e subirem o mesmo no momento em que abria os olhos e encarava sua expressão preocupada, até parecia um pouco arrependido. — eu não queria que você ficasse assim, só estava brincando.

— Brincando?

— Sim, você sabe que eu provoco meus amigos, e você é meu amigo, não achei que te afetaria assim. — ele falou baixo enquanto seu polegar fazia um leve carinho em minha bochecha.

— Mas você vai brincar assim logo comigo? — perguntei choroso, vendo Jimin suspirar e, logo depois, senti seus braços rodeando meu pescoço para logo eu abraçar seu corpo, sentindo a maciez de sua pele e o cheiro bom que emanava de seu cabelo úmido.

— Me desculpa. — sua voz sussurrada foi ouvida perto do meu ouvido, me fazendo arrepiar dos pés a cabeça enquanto apertava meus braços em si. Seu rosto se afastou de mim e seus lábios selaram minha bochecha enquanto o mesmo sorriu para mim, um sorriso confortante.

Será que ele não entendia que todas as suas ações me afetavam de uma forma absurdamente forte? Será que ele esqueceu de tudo o que passamos? Será que não o afeta mais ao ponto dele fazer todas essas coisas sem pensar nas minha reações?

Ouvi o barulho do despertador anunciando que já haviam se passado quinze minutos e que eu já poderia retirar as beringelas do forno.

— Vem, vamos comer. — ouvi Jimin dizer enquanto o mesmo segurava em minha mão e caminhava até o forno, abrindo e pegando um par de luvas para retirar o tabuleiro quente com segurança.

Eu estava meio atordoado com os acontecimentos anteriores, mas sacudi minha cabeça, acordando para a vida e ajudando Jimin a pegar os pratos, talheres e copos para colocar na mesinha de centro da sala. Liguei a TV enquanto Jimin voltava da cozinha com o suco de laranja que eu havia comprado no mercado, sentando-se ao meu lado no sofá e dizendo para deixar naquele determinado canal, qual passava um filme de ação que havia acabado de começar, nem me dei o trabalho de ler o nome.

Peguei uma das fatias cortadas de pizza e levei a boca, suspirando enquanto sentia o gosto bom do molho e do queijo derretido, me agradando com a sensação quente da comida. Ouvi Jimin soltar um som gostoso, como se estivesse satisfeito, logo vendo o mesmo suspirar e abrir os olhos. 

— Jungkook, meu deus, eu quero fazer estoque dessa pizza. — o mesmo falou de boca cheia enquanto devorava o primeiro pedaço, me fazendo sorrir. — Tem algo que você não saiba fazer? Porque eu realmente estou ficando triste por ser quase um inútil perto de você.

— Bom, — comecei, terminando uma fatia da pizza e logo pegando outra. — eu não sei boiar, nem estalar os dedos.

— Mas são coisas simples, então não tem problema não saber. — Jimin falou enquanto mastigava mais devagar.

— Mas se eu estiver me afogando, os salva-vidas sempre indicam tentar boiar, e se minha vida depender disso, fodeu. — falei, observando explosões inundarem a tela da TV.

— Mas isso é só para o caso de alguém que não saiba nadar, se você souber, então não precisa se preocupar.

— E se tiver em uma corrente d’água? Nadar nunca adianta nada, você se afoga mais ainda.

— Então é só não ir para lugares onde tem uma corrente forte de água. — Jimin pegou outro pedaço, se aconchegando no sofá.

— Que graça tem viver sem nunca ter quase morrido? — questionei, tirando uma gargalhada engasgada do menor ao meu lado.

— Está parecendo um adolescente de 16 anos falando assim.

— Tenho a vitalidade e disposição de um garoto de 16 anos.

— Onde, Jungkook? Outro dia você e o Hobi ficaram discutindo por vinte minutos para saber quem pegaria o controle da TV que tinha caído no chão. — Park pronunciava enquanto seu corpo começava a se inclinar em minha direção, porque Jimin tinha um sério problema de achar que eu tinha cara de encosto ou almofada, sempre me usava para se apoiar.

— É por isso mesmo, não existe alguém mais preguiçoso do que um adolescente no auge da puberdade. — ditei enquanto suspendia meus pés, apoiando na mesinha.

— Vai morrer atrofiado e sedentário.

— Tomara. — informei, vendo Jimin rir enquanto se engasgava pela segunda vez.

Sabe, quando criança, eu não era especialmente corajoso, quer dizer, eu temia bastante coisas, mas coisas bem aleatórias mesmo, tipo medo de bexigas, de tratores, medo de me perder em lojas e até mesmo medo de nunca crescer — acredite, eu tinha medo de ficar pequenininho para sempre já que eu sempre tive um processo de crescimento um pouco mais lento que a maioria das outras crianças, coisa que deixou de me incomodar depois dos 13 anos que foi quando eu cresci de uma forma absurdamente rápida, parecia que o meu corpo pensava “vamos fazê-lo ficar desesperado e com medo de não crescer para depois fazermos crescer tão rápido que seu novo medo seja o de ficar tão alto que chegasse a ser esquisito e desengonçado.”

Quando a gente é criança, não temos muito filtro, então nossos medos pareciam ser os maiores do mundo, mas quando a gente cresce, pensamos que aqueles medos não eram nada comparados aos medos que a vida adulta nos presenteia. Sempre achamos patético qualquer coisa que vivemos no passado, porque tudo sempre parece ficar mais difícil do que era antes, mas será que fica difícil mesmo ou só pensamos assim porque é a nossa atual realidade? Quer dizer, quando eu era criança, meu medo de bexigas e de tratores era bem real, bem vívido, quase sufocante, e aquele medo era sim o maior do mundo para mim, então por que só os medos dos adultos podem ser considerados realmente plausíveis?

Virar adulto nos deixa muito egocêntricos.

O mundo não gira em torno apenas de você, oh pobre adulto que não tem dinheiro para pagar os seus luxos comprados no cartão de crédito; tratores são bem mais assustadores do que as faturas no final do mês.

Mas hoje, como um adulto de 26 anos, um único medo ronda a minha cabeça e, pra mim, naquele momento, ele parecia ser maior do que um trator: o medo de perder Jimin. Perder não só ele como também o que criamos, o que construímos, toda essa intimidade que mesmo me deixando surtado às vezes, me faz muito bem. O medo é real, meus amigos.

Suspirei enquanto olhava o tabuleiro já vazio e sentia o corpo de Jimin encostado em mim, mal percebendo quando o mesmo fez isso, nem mesmo percebi quando meu braço automaticamente abraçou sua cintura,fazendo as costas do menor pairar sobre meu peito enquanto a cabeça do outro estava apoiada na minha. Suas pernas em cima do sofá fazia o short que usava liberar mais pele, pele essa que revestia suas coxas fartas, e a dificuldade tamanha de não secar aquela área, mas eu nunca era forte o bastante para tal.

Levei meus dedos da outra mão desocupada até sua perna direita, tocando sutilmente seu joelho, vendo automaticamente a pele de pelos ralos se arrepiar.

Então ele estava acordado.

Levei meus dedos pela extensão de suas coxas, até pausar na borda do short, sentindo minhas digitais queimarem por estarem tão próximas de seu íntimo. Fiz o caminho de volta até o joelho, descendo minhas mãos novamente, dedilhando cada canto de pele daquele espaço. Senti um suspiro cortado sair do de cabelo preto, tendo a trilha sonora final do filme como fundo.

Minha respiração descompassou quando observei a perna direita de Jimin se mexer, sendo levada para o meu colo. O tronco do mesmo se inclinou para o lado onde seu ombro agora fazia pressão entre meu tronco e meu braço. A mão de Jimin andou por minhas costas, abraçando minha cintura enquanto sua cabeça foi deitada em meu ombro. Agora tinha livre acesso a parte interna de sua coxa, algo que não deveria me afetar, mas afetou, e afetou tanto que nem pensei direito, só levei a mesma mão de antes novamente para sua coxa, dessa vez massageando com minha palma. Cada canto de pele arrepiada ali era um choque grotesco que eu sentia, e a cada respiração quente que batia em meu pescoço conforme Jimin expirava, era uma fisgada que ia da nuca até a virilha. Por que eu tinha que parecer um virjão que não podia ver um peito que já ficava duro? Eu não posso ser normal pelo menos uma vez na vida?

Sem perceber, meus dedos apertaram a pele do mais baixo, vendo sua mão circulando pelas minhas costas enquanto sua outra mão estava agarrada em meu ombro, apertando levemente. Por que eu ficava tão descontrolado a ponto de não conseguir controlar minhas mãos? Tudo seria mais fácil se eu não sentisse vontade de tocá-lo de maneira mais íntima a cada vez que sentia sua respiração em minha pele, e seria mais fácil ainda se Jimin não demonstrasse se agradar tanto com aqueles toques, porque eu sei que se aquilo se aprofundar, ele vai fugir, igual já fez diversas vezes.

Eu era tão idiota assim por ignorar todas essas fugas apenas para poder sentí-lo mais?

Subi minha mão por sua barriga, levando ela para dentro de sua blusa levemente embolada. Ao tocar sua cintura, seu corpo tensionou e eu tive medo de ter chegado a hora da fuga, mas ele ainda estava ali e ainda apertava seus dedos em meu ombro. Apertei sua pele que, a princípio, parecia quente demais para um dia frio e chuvoso. E eu já havia mandado um grande foda-se para a razão que gritava para que eu parasse de tocá-lo, eu só queria me manter ali até onde pudesse, pressionando meus dedos até onde desse, porque aquilo estava me fazendo um bem danado, tocá-lo sempre me deixava assim, extasiado, como passar quarenta dias no deserto e ao final desse período, receber um copo d’água. Cada gole de Jimin valia a pena.

Meus dedos, ligeiramente quentes, subiram por sua costela enquanto havia um objetivo em minha mente, e esse objetivo foi alcançado quando senti seu mamilo tocando em meu polegar, junto de uma pecinha gelada que me recordei detalhadamente da aparência.

Como esquecer daquele piercing que Jimin tinha no mamilo? Aquela pecinha que muitas vezes, em uma única noite, foi alvo da minha língua enquanto trabalhava para dar prazer ao outro.

E quando circulei meu polegar ali, ouvi um suspiro forte partindo de Park, percebendo como suas pernas ligeiramente se abriram mais, e como havia um evidente volume por ali. Não julgo, eu estava do mesmo jeito.

E enquanto sentia Jimin relaxar em meus braços e seus lábios começarem a tomar rumo para o meu pescoço, selando o local, minha mente logo se clareou com algo: eu precisava conversar com Jimin antes que ele fuja, antes que ele se dê conta do que está acontecendo e corra novamente.

— Jimin? — sussurrei seu nome enquanto descia minha mão novamente para sua cintura, suspirando por sentir seus lábios selando vagarosamente minha pele. Seu murmúrio me indicou que o mesmo estava ouvindo, mas só quando ele levantou a cabeça devagar, encostando a mesma entre meu ombro e o encosto do sofá enquanto me encarava, eu tive coragem de encará-lo de volta, percebendo como nossa aproximação era quase completa, como nossa atração um pelo outro era natural, o tipo de natural que me fez levar uma das mãos até a lateral do cabelo de Jimin, fazendo um leve carinho enquanto olhava seus olhos pesados se fechando conforme meus dedos passeavam pelo seu couro cabeludo. Suspirei e pisquei algumas vezes antes de continuar. — Eu preciso conversar com você.

Seus olhos se abriram lentamente enquanto eles mudavam de expressão, indo de relaxado para nervoso, com as sobrancelhas escuras franzidas e o lábio inferior sendo elevado em um leve bico. Olhei aqueles lábios, me segurando para não fazer uma loucura, visto que Park estava tão entregue ao meu carinho que cogitaria dizer que aceitaria de bom grado um beijo. Mas não poderia ser assim, nem naquele momento, então apenas beijei sua testa enquanto o mesmo tirava sua perna de cima do meu colo, se afastando de mim e sentando com as pernas cruzadas, e eu apenas imitava seu gesto, ficando de frente para ele.

Suspirei, tentando encontrar palavras para iniciar aquele diálogo, mas tudo parecia mais difícil enquanto tinha Jimin me olhando daquela maneira preocupada, seus olhos brilhantes direcionados a mim enquanto o barulho da chuva parecia aumentar de intensidade. A tempestade lá fora parecia não ser nada comparada ao que existia dentro da minha cabeça naquele momento.

 — Aconteceu alguma coisa? — Park perguntou baixinho enquanto sua cabeça virava para o lado. Ele parecia perceber minha briga interna enquanto ainda encarava aqueles olhos.

— Ahn, não exatamente, é só que... — suspirei, sacudindo a cabeça para tomar coragem. — Jimin, eu queria te perguntar uma coisa.

— Pode perguntar. — peguei em suas mãos, percebendo o outro ficar tenso, mas não afastá-las.

— Você… Sente alguma coisa por mim? — observei seus olhos se arregalarem enquanto seus lábios se prensaram um no outro. 

— Como assim? — perguntou nervoso.

— A pergunta foi clara, Ji.

Um suspiro saiu de seus lábios enquanto suas pálpebras pareciam ficar pesadas, tremiam e se fechavam vagarosamente.

— Por que está perguntando isso? — Park perguntou em um fio de voz.

— Porque eu preciso saber, Jimin. Eu necessito saber disso. — meus dedos se apertaram nos seus quando senti suas mãos suando. 

— Eu… Eu não posso responder isso, Jungkook.

— Por que não?

O mais baixo abriu e fechou a boca algumas vezes, seus olhos expressivos demonstrando o pânico que se alastrava em si.

— Nós estávamos tão bem. Por que você precisou tocar nesse assunto? — Jimin largou as minhas mãos enquanto levantava do sofá, andando pela sala.

— Não fuja de novo, Jimin. — levantei, andando atrás de si. — Por que você faz isso? Por que sempre foge? Por que você nunca encara as coisas? Por que você nunca me diz nada? Por que foge tanto de mim? Por que vo…

— Porque eu tenho medo. — Park gritou já perto do corredor que dava para os outros cômodos. Seus olhos estavam marejados e só os deuses sabiam como aquilo havia partido meu coração em trilhões de pedaços. Logo lembrei que precisava ser paciente porque eu poderia estar tocando em um lugar extremamente profundo dele, e de forma alguma eu gostaria de ser o responsável por fazer ele reviver aqueles demônios que o assombram.

Cheguei devagar perto dele, vendo que o mesmo estava levemente acuado. Me odiei por ter o deixado naquele estado, realmente não era aquilo que eu queria, nem chegava perto de ser o rumo que gostaria de ter tomado.

— Jimin, me desculpa, me desculpa mesmo, eu não queria te deixar desse jeito. — ele assentiu, mesmo ainda com seus olhos cheios de lágrimas.

— É só que é um assunto delicado, Jungkook, um assunto que ainda me deixa sensível. — suspirei após sua fala, mentalizando quais seriam meus próximos passos para não feri-lo. Eu sabia que precisava ser o mais transparente possível e que mesmo sendo sincero, ainda precisava estar aberto a qualquer decisão de Jimin.

— Eu imagino, e realmente não quero te forçar a nada, nada mesmo, quero que se abra comigo quando se sentir extremamente confortável. Eu quero que você seja sincero comigo, até mesmo se for para dizer que nunca se sentirá confortável o suficiente para me contar. — meus dedos fizeram um leve carinho em seu rosto enquanto via a primeira lágrima descendo por suas bochechas. Limpei-a ainda o encarando, vendo seus olhos brilhantes presos em mim. — Mas… Me dê um norte, Jimin, um mísero que for, não me deixe perdido em um abismo escuro. Eu preciso saber alguma coisa, preciso saber se posso continuar com isso. Eu não aguento mais, eu… Sentir o que eu sinto e não saber se é recíproco é tão sufocante que dói, dói tudo, dói dos pés a cabeça, dói por dentro e por fora. Então, por favor, me diga se sente o mesmo. Não precisa me contar o que aconteceu, só quero saber se preciso desistir de vez.

— Jungkook, eu estou confuso. — o de cabelo preto disse enquanto eu limpava as outras lágrimas que desciam por suas bochechas.

— Confuso com o que?

— Eu não quero te prender a mim, Gguk, não quero mesmo, de forma alguma. Independente do que tenha acontecido comigo, não tenho direito algum de te deixar preso a algo incerto.

— Então eu tenho que desistir?

E com o silêncio de Jimin, eu suspirei, já cansado daquilo tudo, cansado das fugas, das desculpas, das palavras não ditas. Cansado de estar perdido e de não saber onde pisar. Eu precisava de palavras.

Levei uma das mãos até a nuca de Jimin, levando a outra até a cintura, observando seus olhos pesarem.

— Eu sei que seu coração bate mais forte quando eu te toco, — apertei meus dedos em sua pele. — sei que você não consegue segurar o suspiro quando eu aperto a sua pele, — cheguei mais perto, sentindo sua respiração trancar enquanto a minha batia em sua face pela proximidade. — sei que fica nervoso quando estou próximo porque você gosta quando me aproximo, sei que você sempre quer que eu me aproxime mais, mesmo fugindo. — cheguei mais perto, vendo Jimin desviar os olhos para o chão.

— Jungkook, eu… — o mesmo começou, mas não completou, o que me fez ficar mais frustrado, com as esperanças já quase inexistentes.

— Diga para mim, diga que não sente todo esse calor dentro si sempre que nos olhamos. Diga que tudo o que aconteceu foi só algo casual, que nada daquilo te afetou de diversas formas possíveis. Me diga que você não gosta de mim também, Jimin. Diga. — falei suspirando, sentindo minha respiração falhar de nervoso. Muito tempo se passou, quase dois minutos com Jimin calado, até que o mesmo, ainda de cabeça baixa, respirasse fundo e se pronunciasse:

— Não, eu não sinto. — Park disse baixo, quase como um sussurro.

— Então diga isso olhando nos meus olhos. — levei novamente minhas mãos para seu rosto, vendo o mesmo sacudir a cabeça em negação diversas vezes, fazendo seu cabelo se bagunçar levemente, a franja cair em seus olhos molhados, se entrelaçando em seus cílios.

— Eu não consigo.

— Por que não?

— Por que eu estou mentindo. — vi Jimin erguer a cabeça, elevando os olhos até os meus. A sinceridade ali era palpável, e eu via como estava sendo difícil para ele estar falando aquilo. — Eu sinto, Jungkook, sinto muito, sinto demais, sinto tanto que também me dói, corrói minhas células, me deixa atordoado. Sinto tanto que eu queria não sentir.

— Não diga isso. — falei negando com a cabeça enquanto minha testa colava na sua.

— Mas é a verdade, e eu tentei escapar disso, eu tentei não sentir, mas nós simplesmente não temos esse poder, não podemos controlar nada. — Jimin riu de forma nervosa enquanto mordia seu lábio inferior. — Eu não queria sentir isso, mas sinto. Queria que tudo fosse mais fácil.

Afastei nossas testas para colar meus olhos em sua face novamente, vendo a mesma distorcida em um misto de frustração e tristeza, um pouco de negação também era presente e eu realmente não entendia aquilo.

Eu queria tanto entendê-lo, ele parecia estar em uma briga interna pior que a minha. De qualquer das formas, acho que ele era o mais complicado de nós dois, porque a minha decisão dependia dele, mas a decisão dele dependia de si mesmo, e isso parece tão assustador, escolher o que fazer parece tão difícil, porque há riscos, e esses riscos podem acabar com você e também com pessoas ao redor. Aquele medo que ele parecia ter era realmente plausível, mas eu ainda queria entender a origem dele, parecia até egoísta da minha parte ansiar por aquilo, porém sabia que seria o auge da confiança de Jimin quando ele finalmente decidisse me contar, porque eu sabia que era um assunto sério, delicado. Nem todo mundo sabia lidar com aquilo, e eu mesmo sabia o quão leigo era sobre, que eu com certeza estava cometendo um erro em pressioná-lo tanto. A culpa caindo em mim naquele momento quase me tirou o fôlego, estava prestes a pedir milhões de desculpas novamente e deixá-lo em paz, mas um suspiro alto vindo do mesmo me chamou a atenção.

— Eu fui vítima de um relacionamento abusivo, Jungkook.

Taehyung tinha razão, quando há palavras, tudo parece mais real e palpável, e eu me odiava pelo meu palpite estar certo, porque doía que alguém como ele tivesse passado por algo tão brutal. O medo de Jimin era plausível e real, estava ali e o assombrava. O medo de ser magoado por quem gosta pode destruir as pessoas, pode privá-las de viver, tudo porque alguém consegue ser covarde o suficiente para tal feito. E mesmo que corações partidos sejam tecnicamente fácil de superar para alguns, para outros é como a morte, porque mexe com tudo o que tem, mexe com a autoestima, mexe com suas motivações, com seus desejos para o futuro, com sua vontade de estar conectado a alguém.

Jimin era quebrado, e eu queria ajudar a consertá-lo, se assim fosse possível.

Sei que relacionamento algum cura feridas, sei disso porque depois de algumas marcas que adquiri ao longo da vida, nenhum amor magicamente colou curativos em mim. Não quero ser o salvador dele, apenas alguém que o impulsiona para que ele mesmo se cure sozinho.

— Eu tenho medo, Jungkook. — ele começou. — Medo de sentir demais e acabar sendo tratado como qualquer um. Eu tenho medo de não entender o que é tóxico para mim, medo de estar em um relacionamento que me mate aos poucos, e mais medo ainda de perceber isso tarde demais. — ouvi suas palavras enquanto ainda o abraçava com os olhos, mantendo um olhar terno e atento a todas as suas palavras, e esse olhar era recíproco, porque ele também me olhava como se estivesse me tendo em seus braços com toda a força do mundo, se equilibrando para não cair, para não desistir no meio do caminho. — Eu tenho medo de não poder ser eu mesmo, medo de não poder dizer o que penso sem temer ser machucado, medo de perceber estar em um relacionamento abusivo e não ter a chance de contar.

Esperei o mesmo respirar, seus olhos brilhantes de lágrimas ainda me encarando.

— Wonsuk era um cara legal no início, e eu não era o cara de todo romântico, mas ele me encantou porque parecia saber dizer exatamente o que eu queria ouvir. Nos conhecemos em um momento ruim da minha vida e acabei me apoiando na primeira pessoa que me passou o mínimo de confiança. Então depois de oficializar um namoro e começarmos a morar juntos, as coisas mudaram um pouco, quer dizer, eu não percebi de primeira porque ainda estava abalado, ainda achava que suas palavras eram incentivos para eu melhorar, até que comecei a me sentir mal por piorar a cada dia mais, por não ser um bom namorado, por não dar orgulho para quem estava ali disposto a ver minha melhora. Mas ele não estava ali para me ver melhorar, Jungkook, ele acabou aos poucos com o meu psicológico. Ele foi o meu primeiro em tudo, tudo mesmo, fiquei longos cinco anos dentro desse inferno de relacionamento sem me dar conta do quão tóxico aquilo era, e eu ainda acho que aguentei demais, mas nem foi porque eu quis, foi porque ele fazia questão de dizer que me queria vivo, que me queria respirando, e eu achando que era porque ele me queria bem, mas era só porque ele não queria perder sua bonequinha de favores.

Jimin suspirou, limpando seus rosto que já tinha algumas lágrimas secas.

— Ele odiava o fato de eu querer ser escritor, no início ele dizia que era porque sabia o quão tóxico o mundo da fama era, depois passou a dizer que não aguentaria me ver sendo assediado, depois passou a dizer que eu era melhor em outras coisas, depois falava que eu era um péssimo escritor. No final, tudo o que ele fazia era me colocar para baixo, e tudo o que eu fazia era correr atrás dele porque acreditava que era o único que me dizia a verdade, que todos mentiam para mim dizendo que eu era bom só para provarem da minha queda. Eu me afastei da minha família, dos meus amigos, até do Taehyung que é meu amigo de infância. Até hoje eu não sou seguro com meu trabalho, até hoje eu tenho problemas de insegurança, ansiedade e síndrome do pânico, e saber que adquiri tudo isso por causa de uma única pessoa me deixa tão mal, porque eu penso que fui muito idiota por me deixar ser manipulado por alguém como ele, que deixei de lado todas as pessoas que me amavam por causa de um maníaco sem coração. Eu me achava tão estúpido.

— Jimin, não! Você não teve culpa de nada, não diga isso. Esse cara se aproveitou de você em um momento frágil, o estúpido é ele, um covarde, alguém que não merece ter um por cento da sua atenção, nem mesmo merece suas lágrimas. — falei quase desesperado, não queria de forma alguma que Jimin cogitasse sentir culpa ou qualquer coisa parecida.

— Eu sei, hoje em dia eu sei que a culpa não foi minha. Depois de muito acompanhamento psicológico, posso dizer que estou na fase mais forte da minha vida. Estou fazendo o que gosto, me amando da forma que sou e vivendo a minha vida. Mas algo que me dói é que eu nem pude olhá-lo nos olhos para dizer tudo o que queria dizer, não tive a oportunidade de deixá-lo e seguir em frente.

— Por que não?

— O Wonsuk era envolvido com algumas coisas ilegais, nunca entendi direito o que era, mas ele acabou sendo morto a três anos atrás, foi na época que estava começando a perceber que estava em um relacionamento abusivo. Na noite em que invadiram a nossa casa e o mataram, eu estava na casa do Taehyung, e até hoje o agradeço por não ter desistido de mim e ter me chamado para dormir com ele naquele dia. Wonsuk nunca deixava eu ir a lugar algum sem sua permissão, mas havia aproveitado que ele não estava em casa e fugi.

Concordei com a cabeça, tentando assimilar tudo, sentindo muito por perceber que tudo parecia muito mais cruel e profundo do que eu sequer imaginei.

— As marcas do que vivi ainda estão aqui, mas estão cicatrizando. Ele ainda está na minha memória, não porque sinto algo romântico por ele, mas porque sinto raiva por não poder ter dito o quão monstro ele era por me deixar naquele estado, o quanto eu o odiava por ser tão insensível, o quanto repugnava seus toques e o quão patético ele era por achar que eu nunca cairia na real. Eu sempre fui muito forte, Jungkook, e mesmo tendo momentos frágeis, mesmo estando tão despedaçado, mesmo tendo alguém me manipulando da forma mais cruel possível, eu consegui me dar conta do que estava acontecendo, consegui me reerguer e estar aqui hoje, forte e bem. Me incomoda saber que passei cinco anos da minha vida vivendo aquilo tudo, mas sei que tudo o que vivi fez quem eu sou, e eu tenho orgulho de quem eu sou, acho que é isso que me conforta quando penso nisso.

Concordei com a cabeça, compreendendo tudo aquilo.

— Eu só tenho medo de ser vítima de algo como o que vivi, Gguk, e não é porque eu penso que você é igual a ele, mas é porque eu tenho medo de que essa força que adquiri não seja suficiente. Faz três anos que isso aconteceu e por três anos eu vivi me preocupando apenas comigo, vivi sem me relacionar com ninguém, vivi bem, me sentindo totalmente livre. Você foi o primeiro cara que me relacionei depois daquilo tudo, o segundo da minha vida inteira, e agora percebo que tenho sentimentos por você, sentimentos esses que fizeram eu cair na conversa de Wonsuk. Como acha que posso simplesmente ceder a isso tendo tantas marcas passadas? Eu posso estar forte hoje, mas ainda tenho medo porque ainda dói.

Suspirei, vendo como a sinceridade de Jimin transbordava pelos seus olhos. Eu o banhava com um mar de compreensão enquanto observava ele exalar nervosismo; nervosismo por estar me contando essa questão delicada de sua vida, nervosismo por não saber exatamente meus pensamentos com relação àquilo, nervosismo por eu estar o encarando a muito tempo sem saber realmente o que dizer.

— Jimin, eu juro que sinto muito, de todo o meu coração, que você tenha passado por isso. Me dói saber que alguém tão incrivelmente bom quanto você tenha sofrido tanto nas mãos de um idiota que não soube ver a luz que você exala sempre quando chega nos lugares, e eu estou tão orgulhoso de você por ter superado tudo isso, por amar a si mesmo da forma que é hoje. Você é forte Jimin, mesmo ainda tendo certa dúvida disso, e eu não precisei te conhecer muito para entender isso, porque desde o primeiro dia que te conheci, percebi o quão forte você é, e o quanto você incentiva as outras pessoas a serem tão fortes quanto você. Sabe como isso é importante? Sabe como sua presença é importante? Como é gratificante receber um sorriso seu depois de um dia difícil de trabalho? Eu passei a me preocupar com você, passei a querê-lo perto, passei a depender de você, não da forma ruim, depender no sentido de fazer questão da sua presença, de saber que não há outro como você.

Levei uma mão até sua bochecha apenas para sentir o calor que emanava daquela região, e como era boa a sensação da pele dele contra as minhas digitais.

— Eu não sou o seu salvador, nem quero ser, acho que ninguém tem o poder de ministrar a vida e a decisão dos outros sem pôr suas próprias ambições no meio, então eu quero apenas ser alguém que vai estar do seu lado, quero ser alguém que te revigora a alma sempre que ouvir minha voz. Quero ser importante para você da mesma forma que você é para mim.

— É tão difícil recomeçar depois de tudo, difícil se abrir para relacionamentos quando seus maiores demônios foram criados a partir disso. — o mesmo disse, piscando seus olhos enquanto tentava mostrar seus próprios sentimentos de todas as formas possíveis.

— Eu sei, Ji, eu sei disso, e eu não quero que faça nada que te deixará desconfortável. Estou aberto a qualquer conclusão sua, qualquer rumo que você queira dar ao que temos agora.

Jimin suspirou, fechando novamente os olhos. Toquei em seu cabelo por puro instinto, deslizando meus dedos até sua nuca, vendo Jimin pender a cabeça para trás. Queria relaxá-lo, deixá-lo menos tenso, sabia que ele sempre ficava muito bem com alguns carinhos, e naquele momento eu sorri internamente por conhecê-lo bem daquele jeito.

— Gguk, eu quero deixar bem claro que sei sobre meus sentimentos por você, eu tenho total certeza deles, e eu não acho que você agirá como Wonsuk agiu, eu não deixaria você fazer isso. Naquela época eu estava mal, vulnerável, hoje não. — ele disse baixo, sussurrado, enquanto seus dedos apertavam minha blusa. — Existe algo que me prende e sei que pode ser falta de coragem. É algo tão bobo, uma barreira tão fina, você conseguiu derrubar todos os muros que construí e isso começou no dia em que te conheci, e algo que me deixa feliz é que você conseguiu isso de uma maneira saudável. Essas barreiras não foram derrubadas nas vez em que transamos ou em todas as vezes que nos beijamos, elas foram caindo enquanto tentávamos ser amigos, nos momentos em que estávamos em um clima leve, nos pequenos momentos onde estávamos confortáveis um com o outro. Isso não é apenas sobre atração sexual, Jungkook, isso é sobre se sentir bem com o outro, é sobre sentimentos que floresceram de pequenos detalhes, pequenos gestos, coisas que você talvez nem tenha percebido, mas que me afetou muito. Se não tivesse afetado, eu simplesmente não aceitaria manter uma relação com você, se você parecesse uma ameaça para mim assim como Wonsuk foi, eu teria sumido da sua vida a muito tempo. O problema nunca foi você, compreende?

— Então você… — fui calado pelo indicador do Jimin em meus lábios, em um gesto para que eu me calasse.

— Eu não terminei. — assenti, ainda sentindo o dedo de Jimin em meus lábios. — Você sabe que sou alguém movido a energias, sensações, coisas captadas de forma metafísica e que estão além dos sentidos comuns, e depois de tanto refletir, percebi que não era normal essa conexão que tive com você no dia em que nos conhecemos, que não era comum de forma alguma. Naquele mesmo dia, outras pessoas tinham chegado em mim, mas dispensei todas porque só queria dançar sozinho, mas com você foi algo surreal, longe de tudo o que já tive acesso, de tudo o que eu pudesse conceber. Se isso aconteceu conosco, era porque, de alguma forma, eu precisava te manter na minha vida, e eu só percebi isso depois, porque naquele dia eu estava tão assustado com esse sentimento que acabei te deixando lá sozinho sem nem me despedir. No final das contas, tudo acontece com algum propósito, te conhecer naquele dia, sentir o que eu senti, te ver novamente e manter contato, ter esses sentimentos aflorados e ser recíproco da forma que é… Por mais que eu quisesse Jungkook, nunca seria louco de ignorar isso tudo, nunca conseguiria ignorar, por isso precisava de tempo, por isso fugia, porque eu precisava juntar coragem para entrar de cabeça nisso, e depois de tanto tempo, eu... Sinto que estou pronto.

Olhei no fundo de seus olhos, encarando cada canto daquele olhar enigmático que me prendia praticamente de forma física, como se estivéssemos agarrados um no outro.

Avaliei novamente cada palavra que o mesmo disse, começando a sentir uma euforia crescente dentro de mim.

— Então você… Você dará uma chance para a gente? — sussurrei, já chegando mais perto de si, sentindo o corpo de Jimin ser prensado na parede com delicadeza, meu rosto próximo ao seu a ponto de sentirmos a respiração um do outro.

— Darei. — outro sussurro vindo do mais baixo, sussurro esse que fez meu sorriso abrir instantaneamente. Relei meus lábios pelos seus, sentindo a maciez daquele local, já completamente entregue a ele.

— Você nem faz ideia do quão feliz eu estou.

E só precisei finalizar a minha fala para sentir os lábios de Jimin se esticarem em um sorriso antes de sentir esses mesmos lábios tocando os meus de forma desesperada. Ele parecia tão sedento daquilo, tão intenso que senti que toda a força que colocava em minhas mãos enquanto o apertava não parecia sucumbir todo aquele desejo. Suas mãos que antes seguravam minha blusa, foram direto para o meu cabelo, bagunçando-o e apertando seus dedos em meus fios, causando um leve ardor que no momento parecia ser o menor dos problemas.

Levei minha mão até uma de suas coxas, a erguendo até minha cintura enquanto pressionava mais ainda Park na parede, na falha tentativa de fundí-lo a mim, porque parecia que toque algum matava minha sede, beijo algum matava minha fome, e o desejo só crescia, como fogo em palha, como lavas em um vulcão prestes a entrar em erupção, como a água corrente inundando todas as pedras no fundo do rio. Meu corpo tremia em excitação enquanto minhas digitais queimavam apenas por tocar Jimin.

Com um impulso, o mesmo foi para o meu colo, me fazendo segura-lo pelas nádegas, já começando a ficar sem ar pelo tempo que o beijava, e minha boca já tão dormente que quase não sentia todas as mordidas desferidas em meus lábios dadas pelo menor em meu colo. Extasiado, era assim que eu estava, quase hipnotizado pelo momento, nem mesmo percebi minhas pernas se encaminhando cegamente pelo corredor até a última porta dali; meu quarto foi aberto de forma desengonçada, e a porta batida com força porque pouco me importava medir a força para fechar aquilo, eu só conseguia me concentrar no ser em meu colo que me beijava da forma mais carnívora possível.

E tudo o que consegui sentir foi felicidade, felicidade por ter finalmente esclarecido tudo com Jimin, felicidade por perceber que ele confiava em mim, felicidade por tê-lo daquela forma, e por minha causa.

A felicidade é uma virtude que muitos procuram, mas poucos encontram, e que benção é ter a felicidade em forma humana bem ali, debruçado em meu colo, fazendo uma das coisas que ele faz de melhor: sendo ele mesmo, de corpo e alma.

A felicidade é Park Jimin.

• • •

olá lolanjos!!!!!!

sim, eu sei, demorei horrores, essa quarentena ta acabando com toda a minha disposição e eu gostaria de me desculpar com vocês por isso. eu não abandonarei oásis, só to meio sem ânimo pra escrever no momento, parece que sempre que eu tenho tempo pra fazer, eu não tenho criatividade, em compensação quando to atolada de trabalho da facul pra fazer vem inspiração até eu não aguentar mais. produtividade vem de trabalhos diários, realmente.

eu gostaria de agradecer aqueles que esperaram por essa atualização, deu pra perceber que ela é bem pesada e eu estou prestes a abrir meu coração sobre esse capítulo, então sentem-se e leiam:

particularmente, esse foi um dos capítulos mais difíceis que já escrevi na vida. bem sabemos que o assunto é extremamente delicado e requer atenção, e pelo fato de ter me prontificado a abordar esse tema, mesmo que de forma narrativa, sem realmente fazer o plot da fic girar em torno disso, precisei fazer com a maior cautela possível.

no início, o jungkook e o jimin brigariam, e nessa briga o jimin ia acabar contando o que houve. sim, eu queria um conflito, não sei porque, mas achava que ia de alguma forma ser bom, porém depois de muito refletir, eu achei que não seria uma forma adequada de abordar esse assunto. mesmo o jimin sendo um personagem, eu lido com ele do mesmo jeito que lidaria com alguém que existe (faço o mesmo com todos os meus personagens), e pela gravidade do assunto, fazer com que ele se sinta pressionado a contar em um conflito não seria uma forma muito saudável de abrir esse papo na fic, sabem? não é algo que qualquer um que passou conta com tranquilidade, existem cicatrizes que são deixadas na pessoa.

eu, lola, que sempre tento abordar tudo da forma mais consciente possível fazer essa narração iniciada justamente de um conflito não estava me agradando, não fazia parte da essência das minhas histórias. assim que eu modifiquei esse capítulo pro que vocês leram hoje (sim, eu cheguei a escrever a cena da briga e tal) eu também me prontifiquei a modificar alguns diálogos nos capítulos anteriores, tanto o diálogo que o jungkook teve com o wooyoung quanto o que ele teve com o taehyung, porque já que eu havia mudado, não gostaria de fazer o jungkook enfrentar esse momento de forma completamente cega. eu queria construir uma compreensão nele, uma reflexão, não queria um jungkook de forma crua se deparando com uma vítima de relacionamento abusivo e não sabendo o que falar e o que fazer. o fato do wooyoung ter aberto esse tópico na mente dele e a forma como o taehyung utilizou as palavras pra justificar os afastamentos do jimin fez o jungkook saber o que ele poderia enfrentar, ele queria mostrar ao jimin que eles poderiam ter aquela conversa, que ele iria ouvi-lo e entende-lo. acredite gente, isso é extremamente reconfortante pra alguém que já passou por isso, saber que existem pessoas que vão te ouvir sem qualquer pretensão é quase como uma benção.

nós, escritores, não temos obrigação moral com ninguém, é por isso que sempre existe a classificação de idade, pra que ninguém que tenha uma faculdade mental que não seja 100% desenvolvida não leia as coisas e ache que está certo, mas bem sabemos que os próprios adultos são inconsequentes e irresponsáveis, é por isso que cabe a cada escritor criar sua linha limite do que é aceitável em uma obra e do que não é. eu tento respeitar tudo o que diz respeito as pautas sociais e assuntos que são abordados rotineiramente nessa internet de meu deus, então cabe a mim ser responsável e não romantizar coisas que por uma questão socialmente ética não são romantizáveis.

quero deixar claro que mesmo tendo todo o cuidado possível com a abordagem, o diálogo, a forma como o jungkook expôs seus próprios sentimentos porque ele também estava mal e frustrado, ainda sou suscetível a erros, e que se alguém ficou incomodade com alguma fala, me chamem e digam, eu estou aberta a ouvir vocês.

abrindo um pouco mais o meu coração, quero falar um pouco sobre pessoas que podem estar em um relacionamento abusivo ou até mesmo pessoas que são abusivas e não sabem. não falo como psicóloga nem nada, então não achem que tenho o bastão da verdade e que minha opinião está completamente certa; eu falo como alguém que já sofreu em um relacionamento abusivo e alguém que já foi abusiva. acho que a primeira coisa que precisamos fazer é dar um giro de 360 graus em volta de si mesmo e se enxergar, observar como você está agora. o que você está fazendo? isso que você está fazendo é algo que realmente quer fazer? está fazendo isso por outra pessoa? ta tudo bem você ceder as outras pessoas, eu sempre tento fazer de tudo pelas pessoas que eu amo, mas a outra pessoa ta fazendo por você também? você, de alguma forma, sente que ta sendo moldade?

é importante lembrar que uma relação abusiva não é apenas entre namorades, pode ser entre familiares e amigues também, eu sofri alguns relacionamentos abusivos, sempre me sentia rebaixada, menor que a outra pessoa, como se eu não tivesse qualquer noção das coisas e que precisava ouvir a pessoa porque ela sim sabia de tudo, ela sim tinha propriedade pra falar. às vezes, eu apenas tinha medo de expor minhas opiniões, seja por medo dos conflitos, seja por medo de ser julgada, então muitas vezes acabava me podando e deixando de falar coisas pra evitar climas ruins já que a pessoa simplesmente não aceitava muito bem minha posição. uma dessas relações fazia eu procurar pela pessoa o tempo inteiro, e eu realmente me achava insuportável por estar sempre desesperadamente atrás dela recebendo migalhas de atenção, enquanto quando a pessoa me procurava eu era extremamente atenciosa e prestativa. não havia reciprocidade, em nenhuma das relações.

mas da mesma forma que sofri com relações abusivas, eu também fui abusiva. eu era muito insegura com amizades, então acabava manipulando as pessoas e fazendo jogos psicológicos pra ter a atenção da pessoa só pra mim. minha insegurança não justifica meu erro, apenas informa o que fez eu ser desse jeito, e como todo mundo que adquire maturidade e supera seus próprios problemas, hoje falo sobre esses fatos com tranquilidade porque todos nós cometemos erros, todos nós já machucamos ou vamos acabar machucando alguém, seja de forma consciente ou não, porém é importante assumir seus erros e, principalmente, arcar com suas consequências.

o caso do wonsuk é delicado porque ele fazia aquilo de propósito, ele sabia o que estava fazendo e fazia porque queria, pra mim não há redenções cabíveis e suficientes pra pessoas como ele, por isso decidi por um fim no personagem daquele jeito porque ele claramente não é são (no sentido de ser cruel e não de ter algum problema psicológico que tira sua sanidade), se eu não o retirasse de cena completamente, tentando ser mais fiel possível a realidade, o jimin ainda teria um medo gigante dele aparecer a qualquer momento na vida dele, então achei aquele fim o mais viável. acho importante colocarmos essas pessoas como wonsuk como alguém que sabe o que está fazendo, não levando essas pessoas como insanas, transformando elas em pessoas descontroladas que não sabem o que estão fazendo, porque sabem sim, e sabem bem.

não se sintam culpades se algum dia perceberem que sofreram um relacionamento abusivo, você não procurou por isso, apenas confiou demais em alguém. e você que já foi abusivo, apenas assuma seu erro, sem tentar se justificar, ouça a outra parte, peça desculpas sinceras e arque com as consequências do que você fez. ninguém é obrigado a seguir um único plano de vida, nem uma única linha de pensamento, muito menos um único estilo de ser. devemos compreender as diversidades e entender que cada um age da sua maneira porque todos somos diferentes. se você estiver incomodade com alguma atitude, sente e converse! e se mesmo assim a pessoa continuar fazendo a mesma coisa, se afaste. acredite, dá pra mudar certas atitudes sem se mudar completamente, o ser humano é adaptável e mutável, mas essa vontade de mudar deve vir de você e apenas de você.

enfim! acredito que eu falei tudo o que tinha pra falar, se caso eu lembre de mais alguma coisa, falo em outro capítulo ou atualizo aqui mesmo. qualquer coisa, podem me chamar, estou aberta a ouvir qualquer pessoa que queira dialogar ou apenas amigar mesmo, ta bom? meu twitter ta na bio, eu mudei o user e agora uso delightgun, então é só clicarem lá.

próximo capítulo vai ser O Capítulo rsrs aguardem.

última coisinha: alguém aqui shippa mewgulf? to pensando em criar alguma coisa com eles, mas não sei ainda o que. e já que estamos falando de mewgulf, pra quem quer ler algo aqui no wattpad deles, indico a fic "delicate" da @tinygulfie, a danizinha faz um excelente trabalho, eu amo a fic dela e ela ficaria muito feliz se vocês fossem ler.

é isso gente, fiquem na paz, bebam água, usem máscaras quando saírem, conheçam the boyz, dêem view em what you waiting for da somi, mewgulf namora e offgun também.

beijos *:

lola.

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