Capítulo 9
O
profe nos levou para a sala dos professores. No horário de aula, ninguém estava por lá, exceto a professora de geografia que mal levantou os olhos do livro quando entramos, se ela havia reconhecido o professor, não demostrou interesse em sua volta.
Ele pegou cafezinhos para nós em uma das três garrafas, nos sentamos, bebemos e esperamos para que ele contasse de uma vez: quem espalhou suas nudes.
O assunto era complexo demais para ele sair comentando. Compreendia sua demora em abrir o jogo, só esperava que contasse antes da minha mãe vir me buscar. Por fim, tomou mais um cafezinho e disse:
— Não foi o Bruno, ou qualquer um dos outros alunos que ficaram de exame, que espalhou as minhas fotos, como você tinha sugerido, Peter. Parecia mais plausível do que acreditar que foram vocês dois, mas também não foram eles.
— Não foram eles? — repeti desacreditado. Depois da humilhação na quadra, queria mais do que nunca ferrar com aqueles otários. — Eu poderia jurar que sim. Foi por isso que aquela Jacqueline ficou espalhando que fomos nós. Assim ela livraria a barra deles — eu disse, ligando todos os pontos do seu plano perfeito.
Maicon guardou os comentários para o final. Apenas franzia cada vez mais as sobrancelhas grossas.
Do meu lado, ter esse trunfo contra eles em minhas mãos e depois perder, me deixou louco.
— Ela espalhou para toda a escola a briga que aconteceu na casa do Bruno. Acredito que acrescentou suas próprias fantasias na história. Foi ela quem começou com tudo aquilo... — repetia a mim mesmo.
— Neste ponto você está certo, Peter — contou o professor, que deixou de ser nosso professor e com isso a discrição que deveria ter. — Na terça-feira, que parece outra vida agora, ouvi a Jacqueline conversando com suas amigas do último ano. Falavam sobre a briga de um rapaz em casa. Mais tarde, quando a história se espalhou, entendi sobre quem fofocavam
Então Jacqueline estava jogando sujo, afinal. Minhas dúvidas se mostraram tão verdadeiras quanto água ser molhada. Ela nos encontrou no corredor, naquele domingo, depois deve ter ficado interessada em Bruno, no pau dele em minha boca. Mesmo chantageando ele para sair com ela, em troca de guardar o segredo, ela não confiou nele. Agora fazia de tudo para nos separar. E aparentemente havia conseguido há muito tempo. Ela soube usar Bruno como um guardanapo. Pelo menos tinha uma alegria, como tal, ele era descartável.
Me intrigou o fato de Jacqueline conhecer os detalhes da briga.
Poderia ir agora mesmo correndo contar para o Bruno que ele beijava a mesma boca que espalhava as fofocas que ele tanto odiava. Então lembrei da sua reação quando Marlon e Diogo estavam me humilhando: nada. Ele não fez absolutamente nada para impedir o abuso.
Seguiria alegremente seu exemplo e modelo. Não faria absolutamente nada. Ele que ficasse com aquela cobra sem sal. Se mereciam, é o que dizem quando duas pessoas ruins terminam juntas.
— Professor — disse Maicon, me trazendo de volta para a sala dos professores. — Conte quem espalhou as fotos então, se não foram aqueles garotos do último ano.
— Ah, sim. Foi minha esposa, ou devo dizer ex-esposa. Ela me deixou no mesmo dia que me demiti... — olhamos para ele sem entender bulhufas. — Deixe que eu conte a história toda, não tenho mais nada para fazer mesmo, além de falar com o diretor.
— Nos últimos seis meses eu não tenho sido um marido modelo. Sempre que chegava em casa dizia para minha esposa que estava cansado demais, com dor de cabeça por causa do trabalho, os gritos dos alunos, as más condições, as provas para corrigir, contas para pagar, doenças falsas. Usava tudo como desculpa. Não tínhamos uma conversa decente, de marido e esposa, há muito tempo. Transar não fazia parte da nossa rotina nos últimos quatro meses. As desculpas se alongavam até a cama e depois dela.
— Minha ex-esposa, por outro lado, havia desistido da sua faculdade de direito, seu sonho desde que era uma garotinha, para casar-se comigo e ajudar a pagar as despesas da casa, enquanto eu pagava a minha faculdade com meu salário de ajudante de caixa. Ela abriu mão sua festa de 15 anos para conseguir guardar dinheiro suficiente para a faculdade, tudo em vão, no fim. Ela sacrificou sua vida por uma vida ao meu lado, por um casamento destinado ao fracasso desde o começo. Nos últimos meses ela parecia estar conformada com a separação. Casamentos dão errado, todos sabem disso, melhor cada um seguir seu caminho. Até gritava durante nossas brigas que era melhor ela voltar para a casa dos pais e tentar recomeçar.
— Seu bom senso acabou quando ela entrou no meu computador para enviar um e-mail para o seu chefe. Maristela é secretária e naquele dia o PC dela havia travado. Assim buscou o meu para enviar o relatório por e-mail. O problema foi ela ter entrado na hora e no dia errado. Meu e-mail estava aberto no navegador e haviam vários e-mails com notificações de um site de relacionamentos que eu frequentava. Os e-mails diziam coisas do tipo "Fulana acaba de enviar uma foto", "Fulana curtiu sua foto de perfil", "Fulana deu corações a sua foto". Por não conhecer o nome do site e achar que se tratava apenas de uma comunidade virtual, ela entrou no site. Fez login na minha conta e literalmente a casa caiu.
— Bastou cinco minutos no chat do site para descobrir milhares de imagens que não vou descrever, vocês viram em primeira mão na sala de aula. Simplesmente conteúdo adulto. Coisa não só minha, aliás, ela pegou fotos das mulheres com quem eu conversava.
O professor tomou um gole do cafezinho, que já estava frio em suas mãos. Parecia querer continuar contando sua história, desabafar. Não o culpava, dava para ver que tudo estava sufocado em sua garganta.
— No final de semana, antes de vir aqui e espalhar as minhas fotografias, Maristela quis fazer amor comigo. Disse que me amava, me beijou, repetiu várias vezes que me amava. Eu a beijei, mas logo disse que tinha trabalho pra fazer, uma pasta cheia de provas da sala do Peter para corrigir. Lembro que menti para ela dizendo "ainda preciso ir na escola pegar mais provas para corrigir". Ela não disse mais nada, e não dormiu na nossa cama. Eu usava a escola como a maldita desculpa para o meu desinteresse no casamento.
— Acho que eu mereci o que me aconteceu. Ela havia sacrificado sua vida, não sairia como idiota no final da história. Sabia como e onde me atacar. Como disse, mereci o que me aconteceu. Só vim até aqui contar para o diretor a verdade, e livrar ambos dessa situação que nada tem a ver com vocês.
— Íamos entrar nessa de cabeça. Levar a culpa por algo que nem sabíamos — Maicon suspirou aliviado. Percebeu, diante da história de toda uma vida, triste e frustrada, que ria despreocupado. Engoliu o riso e bateu no ombro do professor que nem chegou a conhecer. — Sinto pelo senhor.
— Tudo vai se resolver, então, professor? — indaguei pensando no que poderia acontecer a ele.
— Tudo vai ficar como deveria estar. Maristela foi embora para a casa dos pais, também seguirei meu caminho e ela não irá mais espalhar fotos minhas — ele começou a rir. Maicon caiu na gargalhada com ele. Tudo o que eu pude fazer foi dar um sorriso nervoso.
Ainda lembrava do dote de Robson, impresso no papel. Lembrava nitidamente das curvas, da cabeça rosada, de uma veia sobreposta a pele clarinha. Um pau até que bonito o professor tinha. Tomara que as mulheres com quem conversou tenham aproveitado, ao menos.
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