Capítulo 7
A
lguém bateu à porta.
— Oi, quem... — a frase que mal havia começado morreu ali mesmo. Não havia necessidade de perguntar quem batia na porta: era Maicon. Meu amigo Maicon.
Ofereceu para mim um de seus sorrisos gentis.
— Tá, isso é bem estranho — disse abrindo a porta por completo e me pendurando na mesma. — Não sei se posso te deixar entrar. Como descobriu meu endereço? Anda me seguindo, né.
— Essa está muito fácil: morar do outro lado do muro tem suas vantagens — apontou com a cabeça castanha escura para o lado direito.
Dei um passo porta afora, ficando ao lado dele e notando nossa diferença de tamanho, quase um palmo. Lá estava um caminhão de mudança, com a mesma mulher que eu havia visto na casa algumas noites atrás elogiando cada tijolo. A mãe de Maicon, a senhora Magda Scholz, falava firme com os homens da mudança enquanto balançava os braços gordos, pedindo para tomarem cuidado, ao lado da vendedora.
— Minha cristaleira vale mais do que essa lata velha que chamam de caminhão. Cuidado!!! — gritava com o sotaque alemão mais afetado pelo nervosismo.
Fiquei olhando para ver se a porta de vidro da cristaleira era resistente quando caísse no chão: não era. Foram pedaços, mais gritos e o riso de Maicon.
— Nunca gostei daquela coisa, agora podemos nos livrar dela. Parecia coisa de gente morta — ele disse, inclinando levemente a cabeça para cima por estarmos tão perto. Perto demais para outro moleque ficar de mim. Olhos fixos nos meus, cabelos voando no vento da tarde. A pele branca bronzeada levemente pelo sol muito quente.
De repente, senti a boca seca demais. Disse quase sem pensar:
— Quer água? — entrei, deixando a porta aberta para que ele me acompanhasse.
Enquanto dividíamos o litro de água bem geladinha, contou parte de sua história.
— Fizemos a visita na casa ontem. Mamãe adorou tudo, quis mudar imediatamente. Também estávamos precisando de ares novos — deu de ombros. — Parece que agora sou seu amigo e vizinho.
— O vizinho, na verdade — coloquei o copo vazio na pia. Sorri para ele, depois da onda de calor, senti um calafrio no pé da nuca. Uma gota de água fugia pelos lábios de Maicon, fazendo seus lábios ficarem molhados, mais rosados com o frio.
Segui a gota de água, sentindo que ela poderia se dar mal. Ele passou a língua por ela, recolhendo-a. Pressionou os lábios. De longe eram tão suaves.
Porcaria. Desde quando eu ficava reparando na boca dos moleques? E desde quando eles tinham uma boca tão gostosinha?
— É... — Maicon colocou o copo na mesa, parecendo desconfortável com o silêncio.
Um dos carregadores deu a volta na casa, passando pelo muro e pela janela da cozinha, tinha um vaso em pedaços nos braços. Magda arrancaria o couro do homem se visse aquilo, era melhor dizer que se perdeu e remunerar outro.
— É... onde está sua mãe? — Maicon procurou por ela com os olhos na cozinha. Na certa não estava dentro de um dos armários, ou no fogão. Talvez na geladeira.
— Mamãe está no hospital, com o papai. Meu irmãozinho está na casa dos meus avós. Não sou a melhor pessoa para tomar conta dele — contrai os lábios, sem alegria.
— Ficou fazendo o que sozinho em casa?
Um brilho diferente iluminou meu estômago, não era fome, com seu interesse por minha vida. Meus amigos, antigos amigos, só se interessavam em saber se eu poderia jogar ou não. Todos se fodendo para minha vida. Era legal ter alguém com quer falar de assuntos simples.
As coisas pequenas tornam a vida grande.
— Fiquei no hospital à noite toda, depois que você foi embora. Minha mãe me obrigou a vir para casa as sete da manhã. Ela disse: "Carlos dorme, isso é bom. Terão outras cirurgias. Vou te manter informado, pega isso aqui e vai para a cama". Ela me entregou uns calmantes. Dormi até uma da tarde — agora era 2:24.
— Sozinho em casa — ele repetiu, seu sorriso gentil se transformando num gesto obsceno. — Podemos fazer muita coisa sozinhos em casa.
— Sim, muita coisa — obrei o mesmo sorriso em meu rosto.
— Quer fazer agora? — caminhou para mais perto de mim.
— Claro. Vamos pro quarto.
No quarto, quase uma hora depois, Maicon tinha o cabelo preso na testa com o suor que se acumulou ali. Meu rosto estava eufórico também, cansado e sentindo todo o corpo dolorido. Pela janela, não se via mais a luz do sol, só um pálido tom azul-acinzentado. Maicon pulou o short para cima e jogou o controle do meu Xbox sobre a cama. Eu estava exaurido depois de perder para Maicon no PES2021. Mas no Naruto eu ganhei, lutei contra ele vinte vezes e o fiz chorar todas as vezes, após terminar minha humilhação no campo. De Naruto eu entendia.
— Puta que me pariu, como foi capaz de fazer dez gols? — olhei feio dele para o videogame. Havia uma conspiração ali, contra mim. Mesmo com a vitória no último jogo, a derrota ainda amargava minha boca.
— Sendo bom, foi assim que consegui — ele recolheu os controles e os guardou ao lado do console, na estante de frente para minha cama.
— Roubou, isso sim — estava irritado. Que moleque não fica irritado por perder no próprio videogame? Queria vingança, mas sabia que perderia se tentasse.
— Vou te entregar o seu prêmio de consolação — ele andou pelo quarto e parou na minha frente, meus joelhos batendo nas suas pernas da cama. Ficou com as costas totalmente eretas, diante de mim, sem se incomodar com o contato físico de nossas pernas. Curvou a coluna, ficando com o rosto perto do meu. Aviso de impacto imediato: lábios pertos demais. Colisão em 3... 2... 1...
Droga. Com todos os infernos! Maicon ficou bem perto do meu rosto e deu um arroto com cheiro de sanduiche que queimou os pelos do meu nariz.
— Seu porco miserável — disse, fazendo cara de nojo. Senti meu lanche magro, que comi ao levantar a tarde, subir queimando pela garganta.
Sem perder tempo, levantei logo a mão, aproveitando que ele estava perto de mim. Pronto para dar na cara dele. Quando estava para acertar, ele segurou meu pulso não sei como. Sua mão simplesmente conseguiu entrar por debaixo dos meus braços e me segurar. Firme.
— Vai se ferrar — disse lutando contra seus dedos finos. Aquele magrelo pagaria por sua insolência com, pelo menos, um chute nos ovos.
Torci o braço, fiz força, puxei para os lados subindo e descendo o ombro. O magrelo tinha mais força que eu imaginava a princípio. Segurava firme minha mão pra não apanhar, os músculos rígidos debaixo do tecido da sua camiseta batendo no meu rosto insistentemente. Um moleque fortinho para sua idade, não é?
Em uma última tentativa, vendo que estava fadado a errar qualquer soco, mesmo que conseguisse me librar dele, dei um chute a esmo para o alto. Maicon deveria lutar alguma coisa, tinha que lutar, antes que o chute fosse entregue ao seu endereço, largou minha mão e pulou para o lado. Foi tão rápido que não pude acompanhá-lo, apenas olhava para o local onde estivera segundos antes e minha perna à deriva no ar.
Então investiu contra mim, com todo o seu peso leve sobre meu corpo. Ele me prendia contra o colchão, desfazendo cada tentativa que eu empenhava em conseguir me livrar dele e ficar de pé.
Segurei em seus ombros, desistindo de tentar me levantar, e rolamos na cama. Um tentando segurar os braços do outro, para ficar em cima. Ele me segurou, prendendo meu corpo no colchão com ferocidade, molhou os lábios de cuspe, pronto para encher minha cara com aquela gosma nojenta.
— Não! Não! Caralho!, não faz isso — eu lutava contra ele, o que era em vão, uma vez que ficou claro, desde o momento em que segurou meu braço, que Maicon era mais forte. Foi difícil para mim engolir o orgulho e admitir que aquele tampinha era mais forte. Sua estrutura física deixava muito a desejar para a real força. Seus bíceps, quase inexistentes, subjugaram todo o meu esforço facilmente.
Só me restou ficar com o rosto completamente vermelho, no esforço que fazia e com medo de levar uma catarrada na fuça.
— Me solta — a minha intenção era dar uma ordem direta a Maicon, no entanto, quando ele segurou em ambos os meus pulos e me puxou para cima, arrastando minha camiseta no colchão, me deixando parcialmente nu, mina voz estava sem qualquer autoridade.
Diante da minha expressão de banana e o rosto corado, ele abriu os lábios lentamente, revelando dois caninos afiados. A vitória brilhava em seus olhos.
— Oh, o bebezinho da mamãe vai chorar — ele piscou ao mesmo tempo que dava um aperto especial nos meus pulos. — Vou pegar leve, seu fracote — Maicon soltou a mão direita do meu braço. Senti o sangue correr forte para a ponta dos dedos. Ele enfiou seu punho no próprio short, dentro da cueca na parte da frente, coçou o saco e depois passou o dedo na minha cara.
— Seu porco! — gritei. Aquela humilhação era demais. O que ele pensava que estava fazendo? Qualquer brincadeira que pudesse estar navegando na sua mente depravada, teria um limite. Aquele era o limite.
Aproveitando a mão que estava livre das duas garras, dei um soco no seu ombro e depois o chutei para fora da cama, com todo o ódio que pude reunir na pouca distância. Ele caiu de tal modo, esparramado e gemendo baixinho, que fiquei com medo de ter exagerado na brincadeira.
— Maicon? — chamei, ainda deitado para evitar ver seu rosto machucado. — Maicon? — chamei de novo, sem resposta.
Ele ficou de pé vacilando com as pernas bambas. Tinha as mãos em volta da cintura, onde afundei o calcanhar antes de jogá-lo para longe. Puxei o travesseiro e olhei sem graça para ele. Estava pronto para pedir desculpas, até ele dar um pulo sobre a cama feito um gato, filho a mãe. Caiu em cima de mim, me segurando pelos braços. Lá estávamos nós de novo. Nessa guerra de braço onde eu não conseguiria ganhar sem usar um golpe baixo.
Dessa vez, notei sentindo os dedos recebendo sangue normalmente, a pressão de seus músculos para me prender estava muito a quem do que ele realmente poderia fazer. Puxei o braço das suas garras, me libertei sem qualquer empecilho. Ele continuou sobre meu corpo, mudo, me fitando sério. Ficamos apenas parados, com suas pernas sobre as minhas.
Uma claridade opaca invadia a janela aberta. Já era quase crepúsculo e um vento gelado agitava os cabelos de Maicon e as costas de sua camiseta, vindo de fora. Literalmente cabelos ao vento. Senti o cheiro forte de suor que o vento trazia dele, sabia que ele sentia o mesmo aroma de mim. Não era um suor fedorento, estava mais para algo natural. Até gostoso. Olhei para a pele dos seus braços, esbranquiçados pela claridade da luz. Um moleque bonito de se admirar. Olhos verde-claros fixos em mim. O nariz grande demais quase tocando minha face esquerda. A sua coluna desenhando uma leve curva.
— Preciso ir ao banheiro — me livrei dele facilmente e corri para o reservado fora do quarto. Dei uma mijada, lavei as mãos, olhei no espelho, mas a porra da minha ereção não diminuía. Meu pau doía de tanto que estava duro. Duro por causa do Maicon. Olhei para meu short receando o que ele poderia ter sentido estando tão perto de mim na cama, praticamente deitado em cima. Ele não deveria ter feito aquilo, pensei olhando amargurado para o volume dando seta.
Não tive certeza, mas quando sai correndo do quarto parecia que ele também estava duro. Minha perna bateu em algo, disso eu tinha certeza. Só não sabia se fora no seu joelho, pau excitado ou canela. E pensar nele com o membro maciço me fazia ficar mais excitado.
Respirei fundo, pensei na minha família. Não seria nada legal ficar fazendo essas coisas enquanto eles passavam por tanta merda, por minha causa.
Meu pau murchou em três segundos e voltei para o quarto. Maicon estava sentado na cama, cobria o colo com o meu travesseiro. Preferi ignorar esse detalhe para não perder o controle novamente. Já estava duro demais para mim.
— Então... hã... de onde saiu tanta habilidade no videogame? Especialmente no PES?
— Não tenho habilidades apenas no videogame — disse ele, agradecido por não voltar ao assunto constrangedor que tentava esconder como o elefante rosa na sala. Percebi que seus cabelos estavam despenteados casualmente, sem o suor prendendo-os.
Um flashback passou diante dos meus olhos: o nerd no banheiro da escola, falando com o grupinho de moleques, dizendo que Maicon era do time de futebol da escola passada.
Então ele sabia o que fazer com uma bola nos pés.
— Acabei me esquecendo de perguntar. Você estava na escola ontem, o que quer dizer que sua mãe te deixou voltar? — pensar no ontem era como me referir a um ano atrás. Depois do acidente do meu pai, o mundo girava mais rápido. Talvez por isso houvesse um cara no meu quarto.
— Por enquanto, sim. Ela quer saber o que vai virar a denúncia que a escola vai fazer. Se insistirem em nos envolver, mesmo que eu queira ficar, ela vai me matricular em outro lugar.
— Vem cá — sentei na cama aproveitando o assunto e sua resposta direta. — Por que sua mãe ficou tão aflita no colégio? Isso é estranho. Minha mãe estava nervosa, mas a sua foi diferente. Fiquei pensando nisso, era sobre isso que eu queria conversar naquela carta/bilhete que te mandei. Sua mãe agiu na defensiva demais, e minha mãe com aquela história de proibição. Tem algo que eu precise saber? Só para saber se meus pais estavam certos em tentar me afastar de você. Vou ficar realmente chateado comigo mesmo se, depois de tudo o que aconteceu, eles estiverem certos esse tempo todo e eu sendo um babaca.
Maicon tirou o travesseiro do colo, não havia nada demais ali, não mais, abaixo do eu short. Ele o jogou para o lado e ficou de pé, arrastando o corpo devagar sobre a cama. Está ganhando tempo, pensei. Olhou para o chão, já do outro lado, como quem decide contar os centímetros do piso.
— Em relação a isso — Maicon coçou a nuca —, peço que não se preocupe. Não fiz nada que deva se preocupar. Foi só um mal entendido.
— Quer falar sobre isso? — estava esticando demais a corda.
— Hoje, não. Você está preocupado demais e do que ajudaria, não é.
A senhora Magda gritou com os carregadores na casa ao lado, que colocavam um móvel no cômodo errado.
Maicon estava achando o chão bem interessante, porque o fitou por mais um tempo, depois disse, baixinho:
— Olha, desculpa, mas preciso ir para casa. Tudo bem em ficar sozinho?
— Sim, claro. Vou pro hospital, preciso ir ver meu pai, na verdade. Boa noite, então.
— Obrigado por me receber enquanto eles fazem a mudança, ia ser o maior porre ficar olhando entediado. Pode deixar que conheço a saída. Boa noite — Maicon saiu do quarto, sem a energia que exibiria a pouco enquanto abusava de mim.
Sentia que havia tocado no ponto certo: na ferida do seu passado. Havia alguma coisa ali, relacionada com seu antigo colégio. Ainda era um mistério exatamente o que tinha acontecido, mas deveria ter uma relação entre sua mudança, o colégio e as autoridades locais.
Sai do quarto, ruminando esse assunto. Fechei a casa e fui para a porta da frente. O celular marcava seis e trinta e oito da noite, minha mãe ficou sozinha por tempo demais.
Na rua, vi os moleques jogando bola na esquina. Bruno, Gregory, Diego, Diogo, Vitor, Luan, e mais alguns moleques. Todos machucando o pé no asfalto, perdendo gols. Nem dei muita atenção para o grupinho, um gesto recíproco. Na hora não liguei os pontos, mas depois percebi que estavam justamente na mesma rua que Maicon. Gregory cumprira sua primeira promessa: de acabar com a vida do novato na escola, e agora estava organizando sua vingança fora dela.
Já estava no meio da rua, quando notei alguém correndo em minha direção.
Merda, era tudo o que eu desejava, um encontro com esses moleques idiotas.
Virei meu corpo sob os calcanhares, pronto para descer o braço.
— Oi — disse Diogo, com a voz arfando. O gêmeo ruivo tinha o suor pela testa. O corpo queimado pelo sol, a cor do pecado, ao chegar na luz do poste. — Minha mãe me contou sobre a barra com seu pai — claro que tinha contado. Todo mundo deveria estar fofocando sobre a minha vida agora. A nova sensação do momento.
De repente, pude sentir na pele, em primeira mão, o que Bruno dizia sentir quando as pessoas ficavam falando sobre a vida e a família dele pelas costas. Não foi um gosto fácil de engolir. Foi um sapo enorme, para ser sincero.
— Sinto muito, tipo, seu pai sempre compra a bola pra gente e tal. É um cara bacana, estou torcendo por ele — sua voz soava sincera, gentil e eu não conseguia sentir simpatia por ele. "Compra a bola"???
Eu gostava de Diogo como pessoa, bem afeiçoado. Seus charmosos os olhos verde-claros escondidos pelo cabelo ruivo despenteado. Ele era gostoso, mas acontece que tudo ficava no passado: "era gostoso", "me deixava com fogo", agora só o via como alguém que virou as costas para mim quando o diretor me acusou de colocar aquelas fotos na escola. Me lembrava muito outro moleque...
— Ah... mais tarde minha mãe vai sair, e meu irmão vai com ela. Vou ter a casa só para mim. Se quiser podemos terminar aquilo. Eu posso enfiar o pau na sua... — não consegui ouvir o que tinha a dizer. Minha atenção se voltou para o rosto de Maicon, ele estava atrás do muro que fazia divisória entre nossas casas, olhando para mim. Sua sorte era que o muro só tinha um metro de altura, ou nunca daria para vê-lo, mesmo com as luzes da sua casa iluminava todo o jardim onde estava. Será que ele pensava que eu estava afim de Diogo? —... não gozo dentro, se não gostar.
— Gozar? Onde? Quem? — voltei a olhar para o moleque ruivo desinteressante parado perto de mim. — Não vai dar, estou indo pegar um ônibus para o hospital agora, nem sei quando volto. E estou dispensando traidores do caralho que vão me queimar na escola na primeira oportunidade. Prefiro sair com caras que tem caráter e falam igual velhos.
— Tá — seu sorriso artificial se quebrou em pequenos fragmentos de ódio. Deu de ombros para mim e voltou para o grupo de moleques pouco se importando de quem eu falava.
Antes se virar e continuar meu caminho, vi Maicon acenando para mim ao desviar do caminho de um dos carregadores que terminava a mudança naquele momento.
Eu acreditava que o maior susto da minha vida foi quando recebi a notícia que meu pai havia sofrido um acidente. Eu estava terrivelmente errado. Ao me deparar com seu quarto vazio, sem avisos de onde estava, o local da sua cama abandonado, foi nesse momento que realmente senti toda a minha vida acabando sem que pudesse gritar ou chorar para que ela voltasse. Tudo o que sentia era um imenso vazio que se apossou de cada centímetro de mim.
As pernas fraquejaram quando não o vi ali, deitado e se recuperando. Segurei na parede e fiz força para continuar em pé. Minha cabeça estava sem oxigênio, uma nuvem opaca tomou conta da minha visão.
Uma equipe médica chegava, com um novo paciente para ficar onde meu pai estava.
Não, pensei. Entrei numa profunda fase de negação. Não poderia acreditar que aquilo estava acontecendo. Outro paciente ali significava que o antigo não iria precisar mais do leito.
Significava que meu pai estava morto.
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