Capítulo 4


M

eu dia estava bom demais pra durar por muito tempo aquela paz toda. Sempre tem uma merda querendo aparecer, ser notada, cheirada e xingada. Essa merda se concretizou no refeitório da escola.

Lá estava eu, lindo e louro, pegando minha comida, quando ouvi uma conversa de um cara e uma garota na minha frente, eles falavam despreocupados que alguém ouvisse:

— É, viu aquele olho roxo? Foi o pai dele, o próprio pai — a garota deu uma risadinha de mal gosto, com os dentes tortos e cheios de metal aparecendo para todos. — Por isso ele veio sem uniforme hoje. Quer mostrar alguma rebeldia.

— Fiquei sabendo que a mãe dele saiu pior. O pai chegou bêbado e sentou o braço nela, foi o que fiquei sabendo pela vizinha deles — o cara dizia tudo com uma propriedade que me perguntei onde ele havia se escondido quando a briga começou. Eu não o vi no local.

— Sério que ele apanhou do pai? — perguntei para eles, me intrometendo na conversa.

— Por que todo esse interesse jovem? — quis saber a garota, me encarando suspeita.

— Ué, não é super amigão do cara, não sabe de nada? — o estúpido rapaz me olhou de cima. Até um Hobbit era mais alto do que eu.

— Se soubesse não perderia meu tempo perguntando a vocês que provavelmente não sabem de nada e ficam aí cagando pela boca. E sou amigo dele sim, por isso não perco meu tempo falando da vida dos outros igual dois enxeridos — não deixei o olhar frio deles me atingir.

— Calma, meu jovem — a moça fez cara de quem não desejava problemas por causa de uma simples fofoca.

— Querem saber, que se fodam vocês que não tem nada melhor para fazer — disse abandonando a fila da cantina e indo procurar o Bruno. Já era quase a minha vez, o cheiro de estrogonofe chamava meu estômago com um canto mágico e épico. Lambi os lábios deixando a fila para trás.

O problema não era a fofoca, mas de quem essa mentira estaria saindo. Todo mundo falava pelos cotovelos, modificava o assunto de boca em boca, só ficando dois únicos detalhes: briga entre pai e mãe e o olho roxo do Bruno. Senti uma onda vertiginosa no estômago ao compreender que rumo aquilo tomaria.

Precisava encontrar Bruno, conversar com ele e garantir que eu não tinha nada a ver com a fofoca. Ata, senhor Peter, você ficou de tocaia na janela da casa dele, ouvindo o que não era da sua conta. Agora que detalhes da briga circulam pela boca do povo o senhor não tem nada a ver?

Bruno não estava no refeitório, o que foi um alívio para a minha fome. Passei pelas portas dublas e fui até a sala de aula, onde ele provavelmente poderia estar.

— Não tá aqui não — disse Georgina, uma garota esquelética e mal encarada. Roeu a unha e me encarou, sem interesse.

— Tenta no banheiro, ele entrou lá quando sai — sugeriu Cesar, o único amigo de Georgina, ambos estavam conversando animadamente quando entrei de abelhudo na sala vazia. — Mas vem cá, é verdade que o Bruno apanhou do pai porque ele pegou a mãe com o tio do Bruno? — ele sussurrou a mais nova versão da fofoca. Eu precisava pegar um diário e começar a anotar as variações daquele boato. Daria pra ser uma novela das nove.

— Como é que eu vou saber? — disse seco, franzindo a testa. Dessa história de tio eu estava tão por fara quanto calcinha de piriguete.

— Ah, qualé mano, mente pra outro. A gente tá sabendo que foi você quem espalhou a conversa — Georgina continuava a roer as unhas com indiferença ao mundo. Aquilo estava me irritando, pra caralho.

— Eu... vou ir procura o Bruno — não compensava me defender ou mandar eles a merda. Estava preocupado apenas em explicar as coisas para o Bruno, mas se ele não acreditasse a segunda opção também viria a calhar.

Banheiro, fui para lá. No caminho ouvi rapidamente a mais nova versão da história: o pai de Bruno flagrou filho e mãe na cama, daí o olho roxo e a briga. Moleques sem tempo podem ser bem criativos. Alguns já poderiam mandar currículo como roteirista de filme dramático ou nosense.

Bruno estava lá sim, mas não era o único garoto no local, tinha uma rodinha, que eu conhecia bem, mas achava estranho não ter sido notificado que iriam fazer uma reunião hoje. Vi um rosto novo no centro da rodinha, Bruno e os outros caras do time de futebol circulavam um cara novo.

— Não se incomodem com minha presença — dei um risinho de desculpa quando ficaram em silêncio e olho por olho se voltava para mim. — Bruno?

Ele olhou para os outros, deu de ombros e veio até mim. Não tinha exatamente uma cara feliz, nem perguntei se ele já estava a par dos assuntos sobre sua vida. Fui direto.

— Olha, eu não sei quem espalhou essas conversas, mas da minha boca não saiu uma palavra, eu juro — falei baixo, não era um bom local para discutir aquilo.

— Peter, seu cretino filho da mãe! — Bruno me pegou pelo braço e me levou para um canto, o que não fazia sentido já que falava alterado. — Sem mentiras hoje, ok? Jacqueline me contou que viu você conversando com duas garotas no portão, depois ela foi até elas e o que ouviu? Uma fofoca quentíssima sobre essa porcaria de olho roxo! — ele babou um pouco ao gesticular a mão frenética sobre o rosto machucado. Começa a gritar demais e vai ganhar um amiguinho para esse olho roxo.

— Quem caralhos é Jacqueline? — olhei para ele, em busca de resposta, mas nada. Veio uma luz. — Foi aquela mesma garota que flagrou a gente no final de semana? Pera aí, vai acreditar nela em vez de mim? Quem é o seu amigo há mais de sete anos? Quem foi que dividiu a cama com você ontem? — pouco me importava se alguém ouvisse nossa conversa. Bruno não faria aquilo comigo. Tinha uma neblina de puro ódio em frente aos olhos.

— Parece que tudo isso foi um erro. Só esperou o momento certo para colocar a boca no trombone e revelar sua verdadeira cara. Afinal, são muitas, qual será a verdadeira? Eu deveria ter cortado nossa amizade quando meu pai te expulsou de casa.

Pelo espelho do banheiro vi meu rosto ficar vermelho, a cara ficou igual pimentão, literalmente. Meus olhos ardiam, mesmo sem vontade de chorar. Daria minha mãe para ter um dragão agora e mandá-lo queimar até a alma do Bruno. Aquele moleque não tinha o direito de me difamar assim.

— Olha... — comecei a dizer, mas ele estava determinado em manter a palavra.

— Olha porra nenhuma. Foi bom descobrir que espécie de amigo eu tenho. Agora eu preciso resolver um assunto que não requer sua presença. Pode ir embora.

Ele simplesmente deu as costas para mim e foi se juntar ao grupinho mafioso.

Vou explicar: as garotas populares e o time de futebol criaram uma espécie de máfia dentro da escola, há uns 4 anos. A máfia mirim funcionava da seguinte forma: os membros controlavam toda a vida social do colégio, e colhia os benefícios. Ficavam com os melhores lugares no almoço, os melhores computadores na sala de informática, na sala de multimídia, até na sala de aula comum. E eles ditavam as regras para os outros alunos, privilegiados surgiam sempre, mas com um preço. Os nerds pagavam para não apanharem nem sofrerem bullying, do tipo ter a cabeça enfiava num vaso sujo. Se alguém dedurasse o esquema levava um porrete dos feios e aqueles que desafiavam o poder os mafiosos tinham uma lição de braço, a casa recebia uma rápida visita de vândalos e ganhava, de brinde, a destruição da vida social fora e dentro da escola. Ninguém quer sair com uma pessoa que pode levar ovada na rua, de uma hora para outra, não é mesmo? E do que valeria enfrentar esses cuecas sujas. Depois da escola tudo daquilo faria parte do grande vazio da vida escolar.

Nesse momento, agora no banheiro, a reunião acerca do aluno novo era para saber em que lugar ele enquadrava melhor já que chegara sem demonstrar seu valor ou pagar por isso.

Fiquei por ali, para saber o que se passava e para mostrar que estava pouco me fodendo para aquele moleque idiota que alguns chamavam de "amigo".

— Consegui o histórico dele — disse Paolo, um dos moleques nerds que ganhava privilégios com frequência. — Ele foi zagueiro no time da escola anterior e um bom aluno, tanto na quadra como em sala. Notas razoáveis.

— O time tá completo — cuspiu Luan, um perna de pau que mal conseguia se manter no time. Era compreensivo que estivesse com seu cu trincado de medo de sair da rodinha mafiosa e ter que pagar pra não levar uma coça todo dia.

— Então parece que nosso garoto sensação vai ter que pagar uns refris pra gente, até que a gente tome uma decisão — disse Gregory, com todo o estilo de líder mafioso, faltou apenas o charuto e o copo com whisky, sem gelo é claro. Ele fez o gesto de estar segurando algo, mesmo assim. — Mandarei dois homens vigiarem você e descobrir onde mora. Se achar necessário, mandarei alguma garota visitá-lo para dar boas-vindas ao colégio.

— Muito bom, Gregory — disseram alguns ragazzi puxando o saco do líder. Os outros apenas concordaram acenando reverenciosos com a cabeça.

A rodinha se voltou para o visitante. Com os termos do contrato, justos se olhar melhor, todos esperavam que ele beijasse a mão de Gregory e pagasse o que lhe foi pedido.

— Vou pagar, vou pagar sim, fica esperando sentado naquele vaso ali, porque vai cansar de não receber nada! — desafiou o aluno novo. Para minha surpresa, ele não tinha a voz afetada de um moleque magrelo, o que de fato era. Falava grosso, o tom pesado e maduro. Algo a ser levado em conta pela rodinha da máfia se quisessem engrossar o caldo a partir de sua recusa.

Luan colocou a mão discretamente sobre a boca, tarde demais. Todos soltaram o ar incrédulos com a resposta do novato. Gregory olhou para eles rapidamente, preocupado que perdesse o controle do rebanho. Ele era, e pretendia continuar sendo, o pastor siciliano.

— Olha, o topetudo quer cantar de galo. Vamos mostrar pra ele quem canta mais alto aqui — Marlon desceu da pia pulando pesado no chão e estralou os dedos, unindo a mão como um pianista pronto para agraciar a todos com uma linda peça.

— Oh, meu Deus! — gemeu Paolo, empurrando os óculos para cima do nariz coberto de espinhas. Suava frio de medo, ficou todo encolhido no seu canto atrás de Gregory. Só esperava o pau quebrar.

— Calma aí — interviu Diego. — Esse mané é novo no pedaço, ainda não sabe como as coisas funciona, vamos dar alguns dias para ele pegar o ritmo das coisas. Se não aceitar como as coisas funcionam por aqui, eu terei prazer em quebrar aquela bike suja de barro que ele chegou hoje.

O novato olhou para Paolo atrás do líder, franzindo nos dentes. O nerd fizera um relatório mais do que completo, a julgar pelas informações na mesa.

— Não preciso de alguns dias para entender que são uns manés sem zé. Bando de moleques valentes, qual a força que tem sozinhos? — provocou o aluno novo. O cara estava cercado por onze moleques, mesmo contando o nerd que não saberia sair do banheiro quando a briga começasse, e ainda fazia pose. Coragem ou ignorância?

O fato é que encarou a turma de frente. Tinha mais peito que a Card B.

— O meu pau eu garanto — disse Gregory, sem deixar os nervos subirem à cabeça como nos outros moleques. Dizia tudo com uma calma fria, calculada até a última silaba. — Vamos dar tempo para o franguinho deixar a crista abaixar. Mas se prefere sair no braço, ele é todo seu Marlon. Só não faz a gente passar vergonha.

— Tô pronto — exclamou Marlon, dando um passo à frente. Ele era uma cabeça mais baixo que Gregory com seus 1,90.

— Cai dentro bundão — o aluno novo não perdeu sua coragem ignorante e foi pra cima do outro. Os olhos faiscando e trovejando até mesmo de onde eu acompanhava a novelinha de camarote.

Fiquei surpreso comigo mesmo, ao me dar conta que corria para o meio da rodinha mafiosa. Me meti entre eles com uma coragem que não possuía. Se fosse uma luta de tamanho, eu já tinha perdido há muito tempo. Minha cabeça mal dava no ombro de Marlon do meu lado esquerdo. O novato também era mais alto do que eu.

— O que tá acontecendo aqui, Gregory? — olhei friamente para o único cara que iria fazer alguma coisa pela situação. — Ficou sem dinheiro pra coca e paçoca e vai bater no primeiro que encontrar? Vergonhoso. Cadê a irmandade entre os brothers?

— Peter — ele sorriu para mim, mas não de alegria. Foi algo que fez minhas pernas fraquejarem ali. O sorriso nunca chegou aos olhos. E se ele viesse para cima de mim agora? Será que aluno novo tinha braço pra aguentar aquele parrudo? — Sabe que tenho simpatia por você, é como se fosse nossa mascote. Um rostinho bonito que podemos usar em tempos de necessidade para tapear alguma professora a nos dar pontos extra, então acho melhor deixar seus dentes onde estão. Pega o seu amiguinho e cai fora, antes de meu coração mole mude de ideia. É melhor convencê-lo a aceitar minha oferta quando estiver pronta. Vou colocar a insubordinação de hoje em meus cálculos.

Dei um passo para longe da máfia, feliz por ainda ter todos os dentes. Na minha vaga esperança o aluno novo me seguia, a gente ia feliz da vida. Mas o otário continuava lá, infeliz estúpido.

— O show acabou — disse voltando e pegando ele pelos ombros. Tirá-lo de lá foi uma confusão que só vendo. Os moleques riam dele e o instigavam a voltar. Contei para ele o que eles poderiam fazer, muito além de quebrar a cara dele, de envolver os pais deles numa confusão que só daria dor de cabeça. Avaliando a situação por esse olhar, ele saiu comigo. Graças ao Deus das brigas.

— Se eles são assim tão mafiosos, por que entrou no meio para me defender? — disse ele nervoso, puxava assunto para distrair a cabeça e não voltar lá.

— Porque... sei lá que porra eu estava pensando. Só fui e fiz. Foi a maior idiotice que fiz hoje. Deve ter sido por causa do Bruno. Estava... estou puto com ele.

— Admiro sua coragem.

— Admira um olho roxo e hematomas pelo corpo? — dei um sorriso não muito animador para ele.

— Se esse olho roxo vier com uma causa justa, vai valer a pena — ele disse sério, como se apanhar, mesmo achando que isso fosse o certo, valia a pena.

— Temos conceitos diferentes, amigo. Definitivamente diferentes. Ainda mais no que toca meu bem estar.

— Mas concordamos que aqueles idiotas são idiotas. Afinal de contas, por que eles não socaram sua cara e o grandão te chamou de "mascote"?

Dei um suspiro, era hora da verdade.

— Ele me chamou assim porque eu sou membro da "máfia" — fiz as aspas no ar —, ou era. Não fui convidado para aquela reunião, e pensando bem... nenhum deles falou comigo hoje. Estão espalhando fofocas sobre um amigo meu, e parece que fui responsabilizado.

— Se não foi você, deveria dizer isso a ele.

O cara novato falava como um galã de novela que prezasse algum valor moral. Ninguém ligava para moralidade ou amizade até onde meu conhecimento prévio alcançava. Uma pessoa era amiga de outra enquanto estivesse recebendo algo em troca. Bruno notou que eu não poderia mais dar prazer sexual para ele e preferiu ouvir outra pessoa para se afastar de mim. Simples assim.

— Eu disse, caso estivesse concentrando chakra e não notou. Viu como ele me ignorou.

— Se ele não confia em sua palavra, então não é um amigo de verdade — a voz grossa agora parecia menos perigosa e mais amigável. Ele sorriu para mim e, inconscientemente, retribui o sorriso. Tinha uma babinha no canto do meu queixo.

Foi naquele momento que o encarei de perto, sabe quando tu olha na cara da pessoa e percebe cada detalhe? Foi o que fiz. Ele tinha um topete maneiro no cabelo castanho bem escuro, que chamou minha atenção. O nariz era grande, mas não feio. Orelhas finas, grandes. Abaixo das sobrancelhas grossas, devo dizer que isso fez meu coração acelerar um pouco, havia um par de olhos verde-claros. Havia algumas sardas nas bochechas, muito claras e espaçosas. A boca era bem cheia a vermelha. Os mafiosos haviam chamado ele de magrelo, mas era mesmo magrelo, usava a camiseta do uniforme escolar e exibia braços finos e brancos, devia passar o dia todo em casa se masturbando com vídeos de porn na net. O short revelava pernas cabeludas e um tênis surrado.

Olhando para ele, até esqueci que estava com fome. Meu estômago roncando me trouxe de volta a realidade dolorida: eu estava sem almoço.

— O intervalo está quase acabando — observou ele olhando no celular. — Se você não tivesse ficado preso lá dentro, defendendo minha pele, não estaria com fome e com o estômago rugindo.

Meu rosto esquentou quando percebi que ele ouvira minha fome pedindo socorro a qualquer Ong mais próxima.

— Ah, estou bem — menti, menti tão mal que fui desmascarado com outro ronco da barriga.

— Vamos, te pago uma coca e um salgado. É o mínimo que eu poderia fazer pelo meu novo amigo — ele deu um sorriso. Não parecia mais disposto a arrumar briga.

— Amigos sabem os nomes um do outro, eu não sei o seu — disse, enquanto andávamos em direção a cantina.

— Com aqueles manés no meu pé até me esqueci. Sou o Maicon, prazer — ele estendeu a mão e eu apertei. Foi uma pegada forte, senti os ossos dos dedos finos. — Você é o Peter, ouvi os moleques dizendo seu nome.

— É, esse é meu nome, Peter — dei um sorrisinho meio sem graça. De repente percebi que estava envergonhado na presença dele. Poxa vida, acho que tinha alguém se interessando pelo aluno novo. Isso não era legal, não mesmo. Nem tinha comido ainda!

Foi na hora de comer que eu realmente me senti sem jeito. Estávamos sem tempo e minha fome gritava na boca do estômago: "engula isso de uma vez, seu desgraçado!", mas eu ia mordiscando e bebericando a coca. Tudo para impressionar Maicon. Ele falara de amizade e de coragem de tal forma que me senti sem jeito de comer como um selvagem preso em uma masmorra.

Ele próprio não me desapontou. Não era apenas sua voz que se fazia madura, o modo de comer, olhar para mim e de puxar assuntos. Descobriu mais de mim com poucas perguntas do que eu achei que fosse possível. Fiquei abismado quando ele repetiu, veemente, que era um ano mais novo do que eu e os caras do futebol. Não era possível alguém tão novinho ter mais consciência que o futuro do Brasil junto. O sino marcou o final do intervalo.

— Vou contigo até sua sala, não quero virar as costas e deixar eles te pegarem por me defender.

Fiz um aceno com a cabeça. Não por medo, mas porque queria ficar mais tempo com ele. Mal sabia que seu nome era Maicon-alguma-coisa, mas tinha uma simpatia genuína por sua pessoa. Ele me fascinava como uma viagem pela França que nunca fiz. Merda, olha como ele estava me deixando careta.

Caralho, caralho, não gostava de ficar pensando essas coisas, era meloso e sem graça. A única graça era quando ele sorria e os olhos verde-claros brilhavam abaixo da sobrancelha grossas.

Chegamos até a sala ouvindo uma confusão sem fim. Pessoas riam as gargalhadas e apontavam, algumas horrorizadas e outras com malícia. Senti uma onda de vertigem no almoço magro que tive. Não poderia ser coisa boa, e os mafiosos estavam com ódio de mim e de Maicon, eu sabia. Aquele assunto não terminaria assim, a vingança viria. Fiquei com medo e não entrei na sala. Maicon foi na frente, voltou branco.

Tomei coragem e fui até a sala, ele atrás de mim.

Nunca tinha visto tantas fotografias impressas no mesmo local, os tamanhos eram diversos, algumas com tamanho de cartazes, a maioria em folha sulfite. Mas o que comovia a plateia não era as fotografias, mas seu conteúdo: era nosso professor de português. O senhor Robson.

Não era simplesmente ele.

O profe estava pelado, com o pênis ereto e em poses a perder de vista. Em uma segurava o pau, com uma baba saindo pela cabeça, na outra gozava no papel higiênico, batendo, com ele meia bomba, mostrando os testículos, foco na glande, flácido com esperma por todo o cumprimento. Algumas fotos revelavam ele e outra mulher, em uma conversa de chat, a tela se dividia com ele na parte inferior e a mulher na superior. A vagina dela nas mais diversas obscenidades. Não quis olhar para aquilo, na verdade já estava cheio de ver o cacete do professor de português mergulhado em um pote de iogurte rosa.

— Vamos sair daqui — chamou Maicon, buscando minha mão, segurou com força em meus dedos e me puxou pela sala. Não fazia aquilo por romantismo, mas por necessidade. A sala virou um centro expositivo e havia tanta gente tentando entrar que era difícil sair. Eram alunos, funcionários, pais que por acaso estavam na escola. Todo mundo se amontoando para entrar e ele me puxando para a saída.

Quando saímos, tive vontade de me jogar de volta na salsa e nunca mais sair. Porra.

— Me acompanhem, Maicon e Peter — pediu o diretor da escola, do lado de fora da sala, atrás dele o casal Bruno e Jacqueline faziam pose, sorrindo de mãos dadas.

— Mas, senhor, não fizemos nada! — a voz de Maicon não estava tão grossa e segurava. Ele vacilava.

— É isso que vamos descobrir, venham comigo.

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