Orgulho e Preconceito
Eu não sabia o que exatamente esperar do quarto de um príncipe. Talvez quadros antigos nas paredes, livros de capa escura e com aparência séria, organização exagerada; talvez um perfume másculo impregnado por todo o recinto... Eu esperaria qualquer coisa, exceto a bagunça que encontrei assim que dei um passo para dentro do quarto de Arthur.
Havia pilhas irregulares de livros por todos os lados – todas alcançando, no mínimo, a altura da minha cintura –, e cadernos com rabiscos e anotações jogados em todas as superfícies disponíveis. Enormes cortinas escuras escondiam as portas da sacada, deixando apenas um fino feixe de luz entrar, brincando com as partículas do ar. Uma escrivaninha de mogno ao lado das cortinas era o lugar mais organizado de todos – embora eu não fosse capaz de entender a lógica com a qual ele organizava seus materiais: os livros não estavam em ordem de tamanho ou de espessura, as canetas pareciam ter sido enfileiradas de forma aleatória, e até as folhas estavam dispostas em pilhas de tamanhos diferentes. A única indicação de que aquilo era um quarto era a enorme cama dossel com lençóis creme e travesseiros cheios que também acomodava alguns livros.
Quase desmaiei de choque. Minhas mãos estavam coçando de vontade de arrumar aquilo tudo.
Arthur, alheio à minha surpresa, caminhou até as cortinas e as abriu. A luz preencheu o cômodo como mágica, e a desorganização quase foi totalmente disfarçada pela forma bela como os raios de sol discretos atravessavam os cachos ruivos do príncipe, formando uma auréola alaranjada. Então Arthur voltou-se para mim com um sorriso quase tímido.
"Por favor, ignore a desorganização. Eu peço para que os criados não mexam em nada e apenas vez ou outra permito uma faxina de verdade."
Acenei afirmativamente, ainda estática demais para reagir.
"Eu costumo ler muito, e gosto de manter os meus preferidos perto de mim. Acabo não devolvendo alguns dos que pego na biblioteca...", continuou o príncipe, massageando a nuca.
"Ah... b-bem, o que você pretendia me mostrar?", indaguei, tentando desviar o foco da minha atenção do braço dele, que tinha os músculos ressaltados pelo tecido fino de sua camisa de botões.
"Ah!"
Arthur apressou-se em direção à escrivaninha e passou o dedo pelas lombadas dos livros até encontrar um exemplar em especial, que ele puxou. Ao fazer isso, deixou cair um livro menor, que quicou pelo tapete até parar aberto aos meus pés.
Instintivamente, abaixei-me para apanhar o pequeno objeto, e fui surpreendida ao ver as mãos de Arthur surgirem antes das minhas, agarrando a caderneta e a fechando rapidamente. Não tanto que não me permitisse ter um vislumbre de seu conteúdo, e foi aí que percebi tratar-se de um livro de poemas.
E, pela caligrafia, eram poemas escritos pelo príncipe.
"Aqui está o que eu queria lhe mostrar", disse Arthur, ao se erguer, estendendo um livro de capa escura para mim e colocando o outro na escrivaninha. Ao pegá-lo, reconheci ser um exemplar muito antigo de um clássico: Orgulho e Preconceito.
Suspirei de surpresa, porque sabia que aquele livro era raríssimo. Assim como Shakespeare, que eu lera porque meu pai ganhara uma coleção de presente, havia sido mantido em segredo durante anos, até que o rei Maxon chegasse ao poder e desfizesse as o sistema de castas.
"Eu sei que você tem bom gosto por livros, e imagino que não tenha lido esse ainda" ele olhou para mim em busca de confirmação, "como temos alguns outros exemplares desse, decidi... dar esse de presente a você."
"Presente...?", balbuciei, fitando o príncipe com incredulidade.
"Sim. É seu."
Olhei para o livro, depois para Arthur, depois para o livro de novo. Eu não estava acreditando naquilo.
"Mas Arthur, este livro tem um valor inestimável... não pode dá-lo a uma simples plebeia assim...", afirmei quando retomei o controle da minha voz.
"Eu posso e estou dando-o a você. Nem tente devolver. Já é seu."
Suspirei, extasiada, e olhei para ele, sorrindo com gratidão incontida.
"Obrigada."
"Ah, mas não vai ser de graça! Quero uma coisa em troca!", Arthur brincou com um olhar levemente malicioso.
"O quê?" Semicerrei as pálpebras em desconfiança.
"Ah, é simples! Quero que o leia para mim!"
"Ler para você?! Espere, não vai me dizer que ainda não leu este livro, vai?"
"Sim!" Arthur sorria como um menino que havia ganhado um brinquedo muito desejado. "E sim, nunca li."
"Mas... mas..."
"Será que vou ter que persuadi-la de outro jeito?", o príncipe ameaçou, baixando a voz e aproximando-se de mim com as mãos erguidas e os dedos dançando.
"Tudo bem!", exclamei, decidindo aceitar qualquer coisa para que ele não me fizesse cócegas de novo. Ou tocasse minha cintura de novo. Ou ficasse tão perto quanto estava agora de novo. Apertei o livro de forma protetora sobre o peito. "Quando começamos?"
"Agora!"
Arthur surpreendeu-me mais uma vez, afastando-se de mim num rompante e pulando sobre sua enorme cama de forma que ficasse com as costas e a cabeça apoiadas sobre os inúmeros travesseiros. Depois deu dois tapinhas no espaço ao lado de si e sorriu, convidando-me.
"Você realmente acha que eu vou me deitar numa cama com você?"
"Não que isso nunca tenha acontecida antes... ou você quer repetir aquela dose, especificamente?"
Senti que ficava vermelha da cabeça aos pés e me aproximei da cama. Relutante, sentei-me no sobre o colchão e apoiei-me nos travesseiros, tomando o cuidado de manter uma distância segura entre mim e o príncipe. Arthur, então, estendeu as mãos e me puxou para perto de si, de forma que minha cabeça repousasse sobre seu peito.
"O que, diabos, você-", reclamei.
"Por favor, daquela distância eu não conseguiria sequer te ouvir!"
Semicerrei os olhos para ele, tentando disfarçar o rubor intenso de minhas faces e os batimentos acelerados do meu coração. Mas que droga! Ele não podia colaborar um pouquinho?!
Suspirando, resignada, abri o livro. Era melhor acabar logo com aquela tortura.
"Droga de príncipe mimado!", murmurei, e senti o peito de Arthur vibrar com uma risada em resposta.
"'É verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro em posse de boa fortuna deve estar necessitado de esposa...'", comecei.
O príncipe me escutava com atenção, vez ou outra interrompia minha leitura para fazer algum comentário sobre um trecho, fazendo-me rir de suas posições quase sempre antirromânticas. Algumas vezes, eu parava de ler em voz alta sem perceber, e era cutucada na cintura pelo príncipe, que exigia continuação. Quando terminei o primeiro capítulo, suspirei e virei a página, já envolvida na leitura.
"Acho que já é o suficiente por hoje", disse o príncipe. "Afinal, não queremos gastar muito a sua voz, e nós ainda temos bastante tempo para ler o livro todo."
"O livro todo?!", engasguei.
"Sim!"
Encarei o príncipe boquiaberta e engoli em seco, subitamente consciente do grande número de páginas que tinha o romance. Enquanto isso, Arthur sorria amplamente para mim, satisfeitíssimo consigo mesmo.
Balancei a cabeça para os lados, desviando o olhar e tentando impedir que minha mente fosse completamente anuviada pela imagem do príncipe, e amaldiçoei mentalmente o momento em que havia entrado naquela Seleção.
SOCORRO, DOIS DIAS DE ATRASOOOOO
Gente, desculpa, sério! Esse fim de semana foi cheio pra mim!
Espero que tenham gostado, volto dia... (conferindo o calendário) 9 de junho!
Até lá que tal darem uma lida no meu continho de São João pra ajudar a entrar no clima junino (e dar um apoio moral na competição do perfil RomanceLP na qual estou concorrendo hehe)? O Bolo de Fubá está pronto para ser degustado! Vai lá no meu perfil 😆❤
Beijooooos 😘😘😘
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top