Manual de Sobrevivência a Bailes
Eu queria poder dizer que sabia o que havia se passado com Olympia, que tudo havia sido um mal-entendido e que ela ainda estava na seleção. No entanto, Olympia sumiu do castelo tão rápido quanto foi disseminada a notícia de que era ela a comparsa dos rebeldes. Como não aconteceram novos atentados ou tentativas de invasão dos rebeldes, a Seleção prosseguiu tranquilamente por mais algumas semanas. Aparentemente, todos haviam aceitado que a moça era a traidora do reino e que agora tudo voltaria ao normal.
Até que tudo mudou. Para mim.
Naquele dia, o príncipe parecia distraído: não trocou nenhuma palavra com os pais durante o café da manhã, mas ficou encarando, durante um bom tempo, o bolo de morangos que havia em seu prato, como se ainda estivesse dormindo e sonhando. O rei, por outro lado, parecia animado, trocando comentários sorridentes com a rainha, que já devorava, elegantemente, o segundo pedaço do mesmo doce que era apenas contemplado por seu filho.
Eu já devia ter aprendido que Arthur calado era sinal de más notícias, mas, claro, naquele dia não desconfiei de nada.
Tudo ocorreu normalmente até o almoço. Depois dessa refeição, fui para o Salão das Mulheres e ouvi os cochichos cheios de teorias sobre que fim Olympia teria levado e de baboseiras como que cor de unha usariam na próxima semana.
"Ouvi que Arthur adora verde-jade!" Phillipa Stones, uma selecionada de olhos e cabelos claros, que praticamente todos os dias usava um esmalte diferente, disse enquanto lia uma revista de moda com as cores e modelos da estação.
"Eu soube que ele estava organizando um jantar muito romântico para uma de nós! Quem será que é?" disse Miriam Chord, uma selecionada ruiva que tinha um rostinho de criança – e altura de uma também.
Isso gerou mais burburinhos e eu revirei os olhos. Ele bem que podia ser mais criativo nos encontros. Fazia a mesma coisa com todas! Uma raiva estranha borbulhou em meu estômago, e logo eu me repreendi. Não era como se ele tivesse algo especial comigo, afinal, então eu não podia exigir nada dele. Mas ainda assim era irritante. Eu me sentia como um objeto usado por alguém, como uma roupa que você achou bonita para usar em uma noite e depois deixou no fundo do guarda-roupa porque não estava a fim de repeti-la.
Então ela entrou no salão. A única roupa versátil o suficiente para ser usada em qualquer ocasião. A única que detinha, sozinha, a maior parte da atenção do príncipe. Layla.
Aparentemente, eu não era a única a pensar assim àquela altura do campeonato, pois uma aura pesada começou a pairar sobre o salão assim que o salto de Layla deu o primeiro estalo no piso do recinto. Várias garotas lançaram-lhe olhares furtivos e pararam de conversar por alguns segundos antes de começarem a ignorá-la e voltarem às suas respectivas atividades.
Suspirando, ergui-me do sofá onde estava e larguei a revisa que estava lendo – ou melhor, fingindo ler – sobre o assento. Caminhei até o piano que ficava no lado oposto ao que as garotas se concentravam no salão e sentei-me no banquinho. Sabia tocá-lo, mas havia dois anos que não praticava. Música era apenas uma distração para mim até o dia em que meu pai morreu. Depois disso, virou mais uma lembrança. Levantei a proteção de madeira e passei os dedos pelas teclas sem pressioná-las, sendo imediatamente invadida por uma onda de nostalgia. Minha mãe havia sido a primeira a me ensinar as notas, depois meu pai havia contratado uma professora para mim. Ele amava me ouvir tocar, dizia que eu lembrava minha mãe na época em que ele havia a conhecido, e eu amava tocar porque ele sempre me contava alguma coisa da história deles dois depois que eu terminava.
Abaixei a proteção das teclas rapidamente e saí de perto do piano. Sentimentos demais. Logo eu não teria mais tempo para ficar remoendo isso, então era melhor não virar uma bonequinha de porcelana sentimental. Drica adoraria me quebrar em vários pedacinhos.
De repente, as portas do salão se abriram mais uma vez, surpreendendo a todas nós e dando passagem para a mesma mulher que havia me puxado em direção aos tratamentos de beleza no primeiro dia em que eu estivera no palácio. Eu não lembrava o nome dela, mas as selecionadas pareceram reconhecê-la, talvez de outras vezes que ela havia entrado da mesma forma no salão.
"Boa tarde, senhoritas!", ela exclamou. "Hoje trago notícias animadoras para vocês!"
Observei enquanto a mulher se posicionava no centro do Salão e me juntei às outras selecionadas para conseguir vê-la e ouvi-la melhor. Em seu peito havia um broche com seu nome: Gina. Ela parecia ser jovem, mas tinha uma pose e usava um penteado que a deixavam com uma aparência mais severa.
"Bem," continuou. "Vossa Alteza, o príncipe Arthur, decidiu realizar um evento a fim de alegrar os ânimos de todos após as últimas ocorrências. Um baile!"
Todas as garotas começaram a murmurar animadamente. As que estavam perto de mim falavam sobre como queriam dançar mais uma vez com o príncipe e em como tinha sido mágico o Baile de Seleção. Revirei os olhos. Novamente um baile. O príncipe realmente era pouco criativo.
"Por favor, senhoritas, silêncio!" Gina pediu. "Esse baile será diferente, pois suas famílias estão convidadas! Os convites já foram enviados, então não se preocupem com isso. Então, a fim de instrui-las melhor sobre o comportamento esperado de vocês em um baile, serão distribuídos livretos para as senhoritas, e aulas de etiqueta serão realizadas três vezes por semana. Qualquer selecionada que não comparecer a essas aulas estará automaticamente eliminada da Seleção."
Olhei abismada para aquela mulher, que sorria para nós como se tivesse acabado de anunciar a melhor surpresa do mundo. Minha família?! Minha verdadeira família estava morta, Drica nunca havia sido uma familiar para mim. Ela era um monstro e certamente faria de tudo para me destruir durante aquele baile. Era sua chance de armar alguma para que eu fosse expulsa, e Drica não desperdiçava chances.
Ainda estava chocada quando uma criada estendeu um livrinho branco e dourado para mim. Estendi as mãos e agarrei o livro no modo automático. Em sua capa, em letras floreadas, estava escrito: Etiqueta Feminina para Bailes Reais. Apertei o livro entre as mãos e ergui o rosto. Será que naquele livro havia como fugir da sua "família" durante um baile?
Eu achava que não.
_-*-_
Mais tarde, em meu quarto, peguei uma caneta e abri o livreto. As últimas páginas dele estavam em branco, então decidi aproveitar aquele espaço. No topo, escrevi: Manual de Sobrevivência a Bailes. Eu iria armar um plano para estar sempre o mais longe possível de Drica durante aquela noite. E tinha que dar certo.
Então, três batidas soaram em minha porta, interrompendo-me. Fechei o livro rapidamente e corri para abrir, encontrando a última pessoa que eu esperava ali.
"Preciso de ajuda."
Como o prometidoooo =3
bezuz, meus pompons *3*
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