CAPÍTULO SETE

O moreno terminou de comer sozinho em uma mesa do lado de fora da escola embaixo de uma árvore, aquele jardim era onde a maioria das pessoas antissociais ficava lendo livros, ou em cantos completamente isolados. Zach não se importava em ser rotulado como eles, só não queria ficar perto dos dois amigos que não acreditavam em sua palavra.

Ele mesmo não sabia se conseguia acreditar em suas próprias palavras, mas que tinha algo errado acontecendo com Henry Scott, ele tinha certeza. E sua curiosidade estava o matando lentamente para tentar descobrir os segredos daquele homem misterioso de fios encaracolados e olhos esverdeados.

Zach voltou para a sala e voltou a prestar atenção na aula, ignorando Noah e Logan que tentava falar com ele e observando o jardim lá fora pela janela. O clima não estava muito bom, de poucos raios de Sol, passou para nuvens nubladas e carregadas, provavelmente teria que ligar pra sua mãe vi-lo buscar. Pois, não iria de carona na viatura com a mãe de Noah e também não costumava ir no carro do Logan, pois seu pai era o diretor do colégio e isso ficava um tanto estranho demais.

E como estava de mal com eles, pois não acreditaram no que disse sobre o professor Scott, Zach não iria dar pra trás.

Quando o sinal bateu indicando o fim das aulas, o moreno começou a juntar suas coisas lentamente, pois ainda estava com sono. Noah tentou falar com ele, mas foi ignorado e os dois amigos saíram da sala deixando Malik para trás que bufou angustiado em resposta. Ele ainda iria provar para os dois que estava certo de alguma forma.

Depois de pegar suas coisas, Zach caminhou pelo corredor, indo direto para a entrada do colégio. Ele notou que os pingos estavam muito fortes e com certeza iria vir um temporal daqueles por aí, logo revirou os olhos e tirou o celular do bolso para ligar para a mãe.

Ele colocou o aparelho no ouvido enquanto observava alguns dos alunos sair correndo na chuva, alguns indo direto para seus carros, outros tinham guarda-chuva e tinha uns que usavam o casaco para se proteger, esses com certeza iriam pegar uma gripe brava.

Do outro lado da chamada só dava ocupado e Zach já estava ficando impaciente com aquilo, a única alternativa que ele iria ter era ficar esperando até a chuva passar em frente o portão do colégio se não fosse Henry Scott aparecer ao seu lado, usando óculos escuros em um pleno dia fechado.

─ Gostaria de uma carona pra casa? ─ perguntou e a voz melodiosa chegou aos ouvidos do moreno. Zach o encarou por alguns segundos, ele era tão lindo que era quase impossível não ficar pasmo com sua beleza.

O moreno se lembrou do que Noah havia dito sobre o ataque e um medo lá no fundo começou a se espalhar por seu corpo. Mas, sua curiosidade era sempre maior e pra descobrir mais sobre Henry, era preciso ficar próximo dele.

─ Sim, claro. ─ respondeu Zach retirando o celular da orelha e o bloqueando.

─ Fique aí, vou pegar o carro. ─ disse com a voz séria e o moreno afirmou com a cabeça.

Henry desceu as escadarias da escola com rapidez, se molhando totalmente por causa da chuva e correu até seu carro. Era um Audi R8 prateado. Um automóvel muito bonito e caro, Zach ficou muito surpreso ao notar que Scott poderia ser muito rico por ter o comprado e isso o incentivou ainda mais a prosseguir com o plano de pegar a maldita carona.

Zach entrou dentro do automóvel quando Henry o parou em frente à escadaria, ele havia sido muito gentil de não deixar que o moreno pegasse chuva, só que Zach nem lembrou de agradecer por isso, estava concentrado em descobrir outras coisas.

O cheiro de carro novo e plástico tomou conta de suas narinas. A única alternativa que passou por sua mente era que Henry havia comprado o carro não tinha muito tempo. Zach tentava amenizar as rápidas batidas que seu coração dava, pois ele, querendo ou não, estava nervoso por ficar com Henry no mesmo carro, afinal ele podia ser um assassino.

O de cachos se curvou e ligou o rádio em um volume médio, Zach não o encarava hora nenhuma e ele prendeu seus olhos na janela, observando a chuva cair lá fora.

─ Está tudo bem? ─ perguntou Henry chamando a atenção do outro, pois este parecia bem desconfortável.

─ Está... Está tudo ótimo. ─ Zach respondeu soltando uma respiração nervosa. Ele encarou o homem ao seu lado e notou que alguns fios de seus cabelos estavam molhados, o deixando ainda mais bonito do que antes.

Henry retribuiu o olhar por alguns segundos e depois voltou a olhar para a frente, fazendo o carro sair finalmente do estacionamento e chegar até a rua.

─ O clima tá frio hoje, não é? ─ Zach tentou puxar conversa, vendo o quanto Scott havia ficado rígido atrás do volante.

─ Gosto muito de tempos frios. ─ o de cachos respondeu sem nem ao menos olhar o moreno nos olhos. Zach não entendia como ele poderia mudar de temperamento tão rápido. ─ Parece que você pensa ao contrário de mim em relação a isso...

Zach ergueu as sobrancelhas e ficou confuso, estranhando o fato sobre como Henry sabia daquele detalhe, mas não perguntou nada. O moreno nunca gostou de Bonwina, mas, apenas porque não abria nem um raio de Sol sequer.

─ É. Curto muito o calor e as praias... Sabe, gosto da minha pele quando fica bronzeada. ─ disse Zach relaxando um pouco no acento, ele não queria transparecer nervosismo, estava com medo de que Henry percebesse suas intenções.

─ Você realmente tem uma pele muito bonita, Zach. ─ falou Henry dessa vez movendo a cabeça para fazer com que seus olhos se encontrassem com os do moreno. Verde no castanho.

Zach sentiu seu rosto se esquentar com o elogio repentino e se arrepiou por inteiro quando percebeu que Scott estava o encarando demais. Seu coração voltou a bater de modo rápido e rapidamente Henry fez uma careta, voltando a dirigir atentamente. Zach ficou confuso e desviou seus olhos para a janela de novo, tentando entender o porquê do outro fazer aquilo.

─ Você também ficou sabendo sobre o possível toque de recolher? ─ perguntou o moreno depois de pensar muito em como começar o assunto sem focar logo no ataque e acabar com aquele clima esquisito.

─ O Sr. Turner falou conosco na sala dos professores hoje na hora do intervalo. ─ Henry falou com as mãos esguias no volante, seus dedos eram longos e Zach os ficou observando. ─ Admito que não prestei muito a atenção no que ele estava dizendo, o café da sala estava muito bom... Pode me explicar o que está acontecendo nessa cidade maluca?

Henry depois de dizer isso, lançou um olhar para Zach e sua expressão era de alguém que não entendia muito bem sobre Bonwina. O moreno poderia facilmente dizer que ele estava atuando muito bem.

─ A mãe do meu amigo é policial... E ele nos falou que aconteceu um ataque com um animal ontem a noite por volta das quatro da manhã perto da trilha da floresta. ─ explicou Zach fingindo estar desinteressado para que Henry não suspeitasse de nada. ─ Sabe, um pouco depois que nos encontramos na rua.

─ Uau. Fico realmente surpreso com a quantidade de gente que sai na rua a essa hora nessa cidade. ─ Henry disse em um tom debochado, mas depois voltou a fechar o rosto, com um semblante sério. ─ E não nos encontramos, você estava me seguindo.

─ E-eu não estava te seguindo! ─ Zach foi pego de surpresa pela fala do professor e corou fortemente. Mas, ele sabia que era essa a verdade.

─ De qualquer maneira, é perigoso ficar andando por aí a noite sozinho, Zach, principalmente seguindo os outros e sendo menor de idade, então você deveria tomar cuidado... ─ proferiu Henry em um tom preocupado e isso fez com que o moreno levantasse as sobrancelhas.

─ Você também não deveria andar sozinho por aí. ─ Zach cruzou os braços murmurando e desviou os olhos para a chuva lá fora que aumentava cada vez mais.

─ Talvez essa pessoa deveria estar fazendo algo muito errado para ser atacada por um animal desse jeito... ─ o encaracolado parecia querer defender o animal de algum jeito com sua frase, Zach prestava atenção em suas palavras, mas fingia que não estava nem aí. ─ Bom, digamos que fazemos as piores coisas de madrugada.

─ O que quer dizer com isso? ─ sem querer a velocidade das batidas do coração de Zach aumentaram com isso. Henry o deixava nervoso e o moreno não sabia se aquela fala era algo revelador ou algo simplesmente normal. Mas, ele arregalou os olhos por alguns segundos.

─ Ora, Zach, achei que você era um garoto esperto... Eu, por exemplo, estava indo beber de madrugada, você estava me seguindo descaradamente, e aposto que outras pessoas por aí estavam trocando nudes no celular, fumando maconha ou trabalhando em casas noturnas. ─ contou Henry sem desviar os olhos da rua, o trânsito havia aumentado e a chuva também. ─ E talvez, até coisas piores do que isso que você não iria gostar de saber.

─ Você está supondo tudo isso? ─ perguntou Zach sentindo as palmas das mãos suando, era apenas uma conversa e o moreno sentia que podia começar a tremer de nervoso a qualquer momento.

─ Não, eu apenas sei. É um dom. ─ disse Henry dando de ombros. Um sorriso de canto surgiu em seus lábios. ─ Mas, chega de falar sobre isso... Quero saber de você.

─ De mim? ─ Zach levantou as sobrancelhas, surpreso. Henry apenas se virou para ele e afirmou com a cabeça, seu rosto estava mais pálido do que o normal. ─ O que você quer saber sobre mim?

─ Qual o seu problema com a minha matéria? ─ perguntou o de olhos verdes e o moreno pode relaxar novamente no banco do carro. ─ Você está indo tão bem nas outras, não estou entendendo, Zach. Não gosta de História?

Zach queria dizer que não gostava de Henry e nem do seu comportamento estranho, mas nunca teria coragem pra tal ato.

─ É... É isso. Nunca me dei bem em História pra falar a verdade. ─ mentiu o garoto coçando a nuca. Zach tinha observações pra fazer enquanto Henry dava aulas, não dava pra focar em duas coisas ao mesmo tempo.

─ Notei que seus colegas lhe chamam de "Bebê Chorão", qual o motivo disso? ─ Henry perguntou intrigado e entrou em uma rua conhecida com o carro, Zach sabia que a conversa iria acabar logo, logo e agradeceu por isso mentalmente.

─ Foi por causa de uma apresentação da escola, eu tive um ataque de pânico. ─ falou sem detalhes e indo direto ao ponto. – E quem diz isso, definitivamente não são meus colegas...

Antigamente Zach não conseguia falar sobre esse assunto sem chorar ou ficar nervoso, depois que acabou suas sessões no psicólogo, ele finalmente superou aquilo.

─ Ataque de pânico, hmmm. ─ Henry espremeu os lábios um tanto pensativo, afirmando com a cabeça lentamente.

E então o carro foi ocupado apenas pelo som do rádio e da chuva lá fora, nenhum dos dois falou absolutamente nada quando chegaram na rua de suas casas.

Henry estacionou o carro em frente ao jardim de Zach que era praticamente do lado da sua residência, como ele não podia parar o carro lá dentro, achou melhor deixar que o moreno saísse do veículo e fosse na chuva mesmo até a varanda.

─ Espere só um minuto, vou pegar a chave. ─ pediu Zach colocando a mochila sob o colo e começando a procurar sua chave tão depressa que Henry até se impressionou.

Zach abriu a parte da frente, a parte de trás, os bolsos do lado, procurou em tudo quanto é lugar, mas não estava achando a maldita chave. Henry ergueu as sobrancelhas, olhando aquela cena com um sorriso divertido no rosto. Quanto mais o moreno tentava procurar, mas seu coração batia rápido de nervoso.

─ Se acalme, Zach... Você pode ficar na minha casa enquanto sua mãe não chega para o almoço. ─ a voz melodiosa tocou seu ouvido novamente como se já soubesse o que teria acontecido, o moreno parou de procurar na mesma hora e fez uma careta.

─ O problema é que ela almoça no hospital. ─ explicou ele com o desespero no olhar e se sentindo cada vez mais ferrado, Henry tornou a sorrir.

─ Não vejo importância nisso, podemos pedir um lanche pra comer, se você quiser. ─ o encaracolado deu de ombros e olhou para Zach como se esperasse por uma resposta do mais novo.

─ Tudo bem. ─ Zach concordou, mas na verdade queria arrombar a porta de sua própria casa e socar a cabeça na parede por ter se esquecido de pegar a chave de manhã.

Henry pisou no acelerador, virando o carro em direção a sua garagem. Ele apertou um botão no controle pendurado no retrovisor e o portão se abriu sozinho para que Henry conseguisse parar o carro lá dentro. O barulho da chuva foi parando aos poucos e Henry desligou o carro.

A garagem de Henry Scott era muito maior do que o quarto de Zach, disso o moreno tinha certeza.  A chuva lá fora ainda fazia barulho, só que um ruído mais abafado dessa vez. Ele quase se esqueceu do nervosismo quando saiu do carro do professor, mas aí pensou que teria que ficar mais algumas horas junto com ele para esperar sua mãe chegar em casa e isso seria um tanto assustador.

Mas, Zach balançou a cabeça negativamente deixando que isso tudo pudesse sumir de sua mente, pelo menos para o professor não suspeitar que o moreno tinha dúvidas quase certeiras de que ele era um assassino cruel a sangue frio. E as provas que ele havia na cabeça não diziam ao contrário.

O moreno contornou depressa do automóvel prateado e agarrou a alça da mochila com mais força, começando a seguir Henry em direção à porta branca aberta que provavelmente levava para o interior de sua casa. Zach não quis prestar muita atenção na garagem, não havia muitas coisas em volta que pareciam o interessar tanto... Era algo comum, tinha prateleiras, coisas amontoadas como o de uma pessoa normal. Nada de um assassino por enquanto.

Mas, quando passou pela porta, seu queixo caiu. Henry tinha a sala mais moderna e organizada de todas que ele já tinha visto na vida. O interior parecia enorme em comparação com a pequena construção azul que Zach espiava pelo lado de fora. O piso era liso e todo branco, destacando as paredes escuras do local. Havia uma mesinha de centro de vidro com jornais e um vaso de flor em cima, um sofá de camurça esverdeado, aquele verde musgo que normalmente aparecia apenas em revistas caras com modelos internacionais sentadas neles, uma televisão de tela plana enorme em cima de um armário largo de madeira. E o que não faltava, era o tapete fofo embaixo de tudo para dar aquele toque final.

Zach ficou pasmo com aquilo tudo, até ser interrompido pela voz de Henry, o fazendo sair de suas observações.

─ Você gosta de pizza? ─ perguntou o encarando, iria soar como uma pergunta normal, mas vindo de seu professor sinistro aquilo fez Zach tremer na base.

O moreno assentiu, ainda não sabendo para onde direcionava os olhos.

─ Você pode ficar por aqui enquanto eu ligo pra lá pra pedir. Tudo bem?  ─ ele disse e não esperou resposta, partindo para a outra direção, a qual Zach deduziu que fosse a cozinha.

O moreno ficou realmente desconfortável naquele lugar chique e bonito, seus olhos logo se viraram até a escada que levava até o segundo andar e a curiosidade o atiçou de uma forma sinistra, porém, ele negou com a cabeça com a ideia absurda de subir, pois, Henry poderia voltar a qualquer segundo e pegá-lo na flagra.

Ele não podia começar com seus planos logo no primeiro dia que havia sido convidado pra entrar na casa, deveria esperar mais um pouco e pegar intimidade, era isso que ele iria fazer. E concordando com essa ideia mentalmente, Zach pegou seu celular e mandou uma mensagem para sua mãe avisando que quando ela chegasse em casa, era pra ligar pra ele, pois ele estava esperando por ela na casa do vizinho. Não explicou mais nada, muito menos mencionou que esqueceu as chaves, isso iria fazer com que ele tomasse um sermão bem grande.

Colocou o celular no bolso depois de deixar a mensagem para ela e caminhou devagar até instrumento grande e preto que estava chamando sua atenção. Era um piano muito bonito. Estava limpo até demais, não havia nenhuma poeira sobre ele, tanto que parecia brilhar ao longe e Zach conseguiu ver seu escuro reflexo nele por alguns instantes, até ouvir sons de passos chegando ao seu ouvido. O moreno não demorou muito para voltar para a sala e ficar no mesmo lugar em que foi deixado por Henry.

─ E então, o que achou? ─ perguntou o homem de cachos assim que seus olhos encontraram os de Zach novamente. O moreno ficou um tempo tentando entender a pergunta, até que Henry completou. ─ Da casa.

─ Ah, achei bem... Moderna. Pra falar a verdade nunca entrei numa casa tão chique antes, ainda mais nesse bairro. ─ tentou soar de uma forma natural, empurrando o nervosismo. Ele se lembrou também do primeiro dia da mudança e dos móveis chiques saindo pelo caminhão. ─ Porque veio morar sozinho aqui, afinal?

─ Você é a primeira pessoa que me pergunta sobre isso desde que cheguei. ─ Henry levanta as sobrancelhas definitivamente surpreso. ─ Eu me mudei porque estava de luto... Minha mãe morreu tem poucos dias e eu queria sair um pouco daquela antiga cidade, mas para falar a verdade, a dor não muda independente do que você faça.

─ Eu... Eu sinto muito pela sua mãe, não sabia. Meus pêsames.

─ Não tem o porquê se desculpar, você não fez absolutamente nada. ─ disse Henry sorrindo de lado e se sentando no sofá de camurça. Zach notou que ele tinha um anel dourado em formato de rosa em sua mão quando ele apoiou o queixo com ela. ─ Sente-se.

Zach demorou um pouco para ceder, mas por fim fez o que Scott havia pedido com hesitação.

─ Também gostaria de te perguntar como entrou como professor na nossa escola? ─ o moreno resolveu começar o plano por ali, tentando descobrir mais sobre os objetivos de Henry. ─ Você tem um rosto muito novo para ser professor, sem ofensas. E porque História?

─ Obrigado. ─ Henry sorriu convencido e levou as mãos nos fios, colocando os para trás com movimentos suaves. ─ Bom, eu já dava aulas na minha antiga cidade e eu conheço muitos contatos, assim que eu cheguei aqui, o diretor Turner me pediu para cobrir o velho professor, eu aceitei de bom grado... E eu gosto muito de História, me identifico e percebi que nas outras matérias eu não era assim tão bom... Sabe? Deve ter alguma matéria em que você se sinta assim também na escola.

─ Artes. ─ soltou Zach.

─ Artes... ─ Henry acariciou seu próprio queixo, pensativo. ─ Você desenha, pinta ou algo assim?

─ Sim, eu costumo desenhar coisas aleatórias que me intrigam. ─ respondeu o moreno encostando no sofá, desconfiado. ─ E gosto de quadros, pinturas e essas coisas.

─ Vejo que tem um ótimo gosto. ─ comentou o professor sem demonstrar emoção.

─ E... Não, esquece. ─ Zach queria perguntar mais sobre sua profissão, mas não queria deixar ainda mais na cara que estava interessado em saber mais sobre seu vizinho.

─ O que foi? ─ Henry levantou as sobrancelhas esperando. ─ Pode me dizer, não há problemas. Já estou com muitos alias, só de ter você aqui comigo. Sozinho.

O moreno franziu o cenho não entendendo muito bem o que Scott havia dito no final da frase, afinal não estavam fazendo nada de errado, porém empurrou esses pensamentos para longe e continuou com o assunto que queria.

─ Como você tem essas coisas... Digo, a mobília e essa casa toda bonita trabalhando como professor? ─ Zach não queria ofender nenhum professor, quanto mais Henry, porém era óbvio que o salário não daria para nada daquilo. Sua mãe era exemplo disso.

Ela era médica e trabalhava com afinco todos os dias e mesmo assim quase não dava para pagar as contas no fim do mês, arcando com todos os seus gastos e ainda com os de seu filho.

─ O meu pai é dono de várias empresas por aí, ele me ajuda a pagar tudo, já que sou o filho mais novo. ─ falou Henry um tanto hesitante. ─ Nós viemos de uma família bem rica, Zach... E é bastante dinheiro. Eu não preciso de muito, só gasto o necessário.

─ É... Deu pra perceber. ─ o moreno olha em volta ainda em choque com todas as coisas elegantes que havia de decoração, mas fala com ironia. 

─ Hmmm, sua mãe trabalha no hospital, estou certo? ─ perguntou o de cachos ignorando o comentário anterior do moreno, se mostrando interessado.

─ Sim. Ela trabalha quase o dia inteiro, não para em casa nunca. ─ reclamou Zach relaxando os ombros, mesmo achando estranho o fato de Henry já saber onde sua mãe trabalhava. Mas isso não era tão incomum assim, afinal eles eram vizinhos. ─ Eu fico sozinho lá na maioria das vezes.

─ E o seu pai? ─ franziu o cenho, encarando o moreno.

─ O meu pai foi embora quando eu era muito pequeno, eu não me lembro dele para falar a verdade e nem gostaria de conhecê-lo. ─ respondeu Zach dando de ombros e desviando os olhar. ─ Estamos bem assim.

─ Sei bem como é ser abandonado. ─ comentou Scott demonstrando um semblante sério, como uma pedra. ─ Eu me sinto muito sozinho algumas vezes... E por isso, você viu o que aconteceu naquela madrugada.

─ Porque? ─ Zach não queria acreditar que seu professor bonitão e elegante de História poderia se sentir sozinho algum dia. Todas as pessoas do colégio babavam nele. ─ Eu não entendo... As pessoas, elas, simplesmente rolam no chão como cachorros se você pedir.

─ Da onde você tirou essa conclusão, Zach? ─ Henry pareceu surpreso e curioso ao mesmo tempo, estava se divertindo.

─ Como você não vê? ─ o garoto agora parecia claramente entristecido. Agora até o professor iria achar que ele estava maluco. ─ Todos te acham legal, bonito, chique, com classe... Parece até que você é de outro planeta.

─ Então você acha que eu sou de outro planeta? ─ Henry lançou um sorriso ladino para Zach que percebeu que havia falado coisas demais para seu vizinho.

─ Não foi isso que eu quis dizer... Bom, é que-

─ Você me acha legal, bonito, chique e com classe também como esses outros? ─ interrompeu Scott mudando de expressão. Agora ele parecia mais sério e aquilo dava um pouco de medo.

Zach ficou imóvel, ele não esperava esse tipo de pergunta e também não sabia responder.

─ É... Eu, na... Ah, onde que é o banheiro mesmo? ─ foi a única coisa que ele pensou para se livrar daquele interrogatório estranho.

─ Segue pelo corredor, primeira porta a direita. ─ disse Henry num tom mal humorado apontando com a cabeça a direção correta, Zach com certeza tinha em mente que havia o deixado irritado por não responder a pergunta.

O moreno se levantou rápido e seguiu em passos pesados até o corredor. Era bem largo e muito branco, nas paredes tinha quadros bonitos e meio renascentistas que Zach nunca tinha visto antes, mesmo gostando de artes. Não parou para reparar muito e logo entrou no local que desejava.

O banheiro também era chique. Tinha um chuveiro cinza quadrado que parecia sair água para todos os lados, havia um vidro também que separava o box do resto, onde ficava o vaso sanitário e a pia. E como a casa de Henry era toda chique, essa pia não precisava girar em cima, nem tocar. Zach demorou muito para entender o que era para fazer ali, mas depois percebeu que havia um sistema de presença em baixo dela e assim que pôs sua mão em frente, a água começou a cair como se fosse mágica.

Porém, Malik estava frustrado que quase nem prestou muito atenção nisso. Henry Scott era estranho, isso ele não podia negar, mas havia alguma coisa ali que fazia seu coração bater mais forte e ele tinha certeza de que não era medo ou nervoso. Alguma coisa muito mais absurda do que isso. Talvez uma atração? Ele não poderia criar esses sentimentos por um suposto assassino, ou serial killer. Zach não podia contradizer suas próprias conclusões, aquilo estava errado.

A água que foi levada por suas mãos em formato de concha bateu em seu rosto diversas vezes para aliviar a tensão que estava sentindo em seu corpo. Metade dele queria ficar e descobrir mais, metade queria que sua mãe chegasse logo para poder ir para a casa. E no final, Zach sabia que sua curiosidade ganharia o jogo fácil.

Depois de ficar alguns segundos se olhando no espelho, respirando fundo e vendo seu reflexo com enormes olheiras embaixo dos olhos, decidiu que já era hora de voltar para a sala e encarar novamente Henry Misterioso Scott. Não tinha outra opção até que sua mãe não chegasse, de qualquer forma.

Seus passos ecoaram no corredor e alguns minutos depois já estava de volta a sala, Henry ainda estava sentado no sofá de costas, então Zch aproveitou isso e se aproximou do piano preto que havia ali a alguns metros de distância, perto da escada. O moreno agiu sorrateiramente e devagar passou os dedos em cima do grande instrumento brilhante. A tampa estava fechada escondendo as teclas e o banquinho preto que dava para no mínimo duas pessoas se sentarem, estava à frente.

─ O que está fazendo? ─ a voz veludosa vinda de trás, pegou Zach totalmente desprevenido, o moreno se virou para Henry.

─ Você toca? ─ franziu o cenho e percebeu o quão rápido ele havia saído do sofá para ir até ali, ou estava apenas imaginando coisas.

─ É, mas faz muito tempo que não mexo nele... Acho que estou meio enferrujado. ─ Henry diz mudando rápido de humor, soltando um sorriso ladino.

Zach não queria ter que conversar por muito mais tempo com o professor e acabar passando por outros momentos constrangedores, implorar para Scott tocar seria um ótimo plano de fuga para que ele ficasse quieto por um tempo.

─ Gostaria de ver. Pode tocar pra mim? ─ insistiu o moreno tentando fazer a cara mais convincente possível.

Henry refletiu por alguns instantes, hesitante e então assentiu com a cabeça.

─ Vou tentar ser breve, pois essa música é realmente longa.

Scott se sentou no banco de estofado preto, ficando no meio. Ele olhou para o piano fechado e estendeu seus dedos longos com movimentos lentos, parecia estar se preparando. As teclas foram reveladas e Henry suspirou pesadamente, fechando os olhos por alguns segundos e depois os abrindo quase no mesmo instante. Ele posicionou suas mãos em cima e mordeu o lábio inferior.

Zach olhava aquilo tudo com atenção e ficou ainda mais atento quando a primeira nota foi soada pela grande sala, ecoando em todos os lugares. Henry começou a mover suas mãos e dedos em uma majestosa dança, enquanto as notas saiam pelos ares e chegavam aos ouvidos do moreno como algo que ele nunca havia ouvido antes. Era perfeito. Parecia que ele tinha anos de experiência.

Aquela era uma música que Malik não conhecia, pois não escutava sons de piano, nem músicas clássicas. Era algo que ele detestava. Mas, magicamente, olhando Henry naquela posição, tocando com o coração e fechando os olhos para sentir as vibrações, ele passou a gostar de um jeito estranho. Os dedos batendo nas teclas, sem errar pelo menos uma nota, era incrível, quase impossível.

Henry sabia qual música era aquela, era uma de suas preferidas, Clair de Lune. Ele não iria errar, tinha cem por cento de certeza disso. E sabia também que Zach estava gostando daquele pequeno show. O moreno nem piscava e permanecia imóvel. Henry se movia interpretando cada nota que saía, demostrando sua angústia e todos seus profundos sentimentos ali. O lábio permanecia preso entre os dentes com a tensão.

Nas últimas notas, Henry desviou seus olhos para os castanhos de Zach, enquanto seus dedos continuavam se movendo sem errar nada. O verde se encontrando com o castanho e permaneceram naquela briga de encarada, o clima pareceu esquentar para Malik e ele não conseguiu controlar a imensa vontade de se sentar ao lado de seu professor. Era estranho e parecia que a música e todo o resto estavam o chamando. E então ele o fez, com cautela.

Seu corpo quente tocou de lado com o gelado e pálido de Henry, fazendo com que ele sentisse uma descarga elétrica imensa, causando um arrepio forte pela costela, deixando seu coração ainda mais rápido. Ele não conseguia parar os abruptos batimentos cardíacos que cresciam dentro de seu peito, parecendo que seu coração iria sair pela boca. Estava próximo demais de Scott e nem percebeu quando o de cachos havia parado de tocar repentinamente sem nem terminar a música.

Henry ainda estava com seus braços estendidos no piano, mas ele relaxou, deixando os cair lentamente, enquanto seus olhos fitavam Zach naquela tensão enorme. O moreno estava tão perto naquele momento que podia sentir o cheiro de canela do outro, os olhos azuis alheios pareciam adentrar dentro de sua alma e ele engoliu em seco, prendendo a respiração quente que saia de suas narinas que Henry sentia muito bem batendo contra seu rosto.

─ Porque fez isso? ─ soltou Henry, mas não parecia estar curioso, parecia estar um pouco bravo.

Zach levou seus olhos até a boca pálida de Henry por alguns segundos.

─ E-eu não sei... Eu simplesmente-

O moreno não conseguiu terminar a frase, pois também não sabia como explicar o que o fez se sentar ali, foi como uma conexão, uma energia que passou pelo seu corpo de uma hora para outra, algo inexplicável. Zach não sabia o que estava acontecendo com ele, estava ficando louco e agora tinha certeza.

─ É tão difícil, Zach... ─ sussurrou Scoot se aproximando ainda mais e ficando a centímetros de distância. ─ Tão difícil resistir.

As bocas estavam quase se tocando quando a campainha foi ouvida por todos os cômodos. Zach foi o primeiro a recuar de susto e se endireitar, raciocinando de verdade dessa vez e se levantando do banco em que estava ao lado de Henry. Scott se levantou depois com uma carranca brava no rosto, aquelas que davam medo de verdade. Ele arrumou suas roupas e encarou Zach que já estava corado.

─ Deve ser a comida. ─ disse o de cachos, como se nada tivesse acontecido anteriormente.

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