CAPÍTULO DOZE
Zach finalmente acordou de manhã cedo, estava com a cabeça doendo e latejando, era a ressaca. Ele virou para o lado, sentindo o cheiro de Henry e se lembrou que havia dormido na casa do vizinho, agora vampiro. Vampiro... O que será que mais existia nesse mundo? Zach não conseguia nem imaginar. Mas não tinha dúvidas de que Henry era um, suas ideias estavam certas desde que ele o conheceu, o professor não era uma pessoa normal... Era diferente. Diferente de um jeito especial e ao mesmo tempo misterioso.
Ele se levantou com cuidado, se sentando na cama e olhando direito para o quarto inteiro agora para analisar cada canto. Respirou fundo, tentando assimilar tudo que havia ouvido na noite anterior. E então finalmente sentiu uma pontada de dor no corte da sobrancelha que levou, voltando para a realidade.
— Oi... Vejo que acordou. — a voz cautelosa de Henry soou como sinos suaves pelo cômodo.
Zach percebeu que em suas mãos estavam uma bandeja de café da manhã cheia de coisas gostosas. Aquilo o surpreendeu em um nível extremo, nenhuma pessoa durante toda sua vida lhe foi dar café na cama... Nem mesmo sua mãe, quando estava doente.
— O que é isso? — perguntou se sentindo todo bobo para falar algo. Aquilo era muita gentileza de Henry. — Não precisava... Sério.
Zach sentiu seu rosto corar quando Henry colocou a bandeja em cima de seu colo. O vampiro o encarou com um sorriso doce e simpático.
— Depois da surra que você levou ontem, merece um pouquinho. — ele respondeu com um toque de repreensão na voz, Zach se sentiu envergonhado novamente. Até a presença de Henry o fazia ficar sem jeito, agora mais ainda...
O garoto observou a bandeja. Havia algumas frutas, um misto quente e um copo de leite. O cheiro estava uma delícia, Zach desejou poder ficar ali por muito mais tempo, logo sua barriga roncou.
— Obrigado. — ele agradeceu e começou a comer. — Se você fizer algo como isso de novo eu juro que saio correndo.
— Sério? Não gostou? — Henry levantou as sobrancelhas se sentando na cama.
— O que? Eu adorei... Só estou brincando. — Zach deu uma risada baixa e encostou no ombro do vizinho por alguns segundos.
Henry ficou sem entender durante algum tempo, mas o clima voltou e ele sorriu para o mais novo de uma forma genuína. Zach continuou a comer sem quaisquer preocupações, já que era manhã de sábado e ele não precisaria ter que ir pra escola... Nem mesmo Henry dar aulas. Era uma sorte grande que os dois tiveram. Na verdade, Zach não sabia se levar uma porrada na cara teria sido o sinal para que sua vida melhorasse... Ele gostaria que sim.
— Trevor costuma implicar muito com você na escola? — perguntou Henry querendo puxar assunto, ele tinha visto o garoto sair correndo de fininho na festa.
— É... Mas, tudo bem. — Zach deu de ombros. — Você colocou ele pra correr ontem.
O moreno riu, mas Henry continuou muito sério.
— Se ele te perturbar novamente, você pode me chamar na mesma hora. — disse encarando os olhos castanhos alheios. Zach afirmou com a cabeça. — Agora você sabe do meu segredo... Posso confiar em você?
O garoto foi surpreendido por aquela pergunta. Mas, não hesitou em responder.
— Prometo que estará seguro comigo. — era algo difícil de se dizer, principalmente pelas razões que Zach poderia mostrar aos amigos que estava certo desde sempre em relação ao vizinho.
Henry fez uma expressão de alívio.
— Mas, você tem que me contar sobre as coisas que estão acontecendo... — continuou Zach, tomando seu leite. O copo fez uma marca em seu rosto, parecendo um bigode.
— Certo. Sobre o que quer saber primeiro? — Henry cruzou os braços, esperando o questionário. Havia muito tempo que não se explicava para um humano...
— Você... Bebe sangue? — mesmo que fosse boba, aquela pergunta estava martelando na cabeça de Zach e ele teria que saber a verdade.
— Sim... Muita das vezes de alguns animais e as outras pego de doações nos hospitais. — respondeu Henry casualmente. Zach arregalou os olhos. — De madrugada é o horário que eu saio para fazer uma ronda, sempre tem saquinhos sobrando... As pessoas ultimamente doam bastante.
— Então por isso nos encontramos naquele dia... — Zach raciocinou.
— Sim. Eu estava indo encher o estoque. — admitiu Henry. — Na geladeira há alguns sobrando... — Zach fez uma careta com aquela frase, ele odiava sangue e quase passava mal se visse.
— Certo. Então... esses outros vampiros são perigosos? Você os conhece? — Zach não pôde esperar para fazer duas perguntas.
— Eu não sei quem são... Normalmente eles chegam em bandos, gostam de dominar a cidade... Mas, são contra as regras e infelizmente alguma hora são pegos pelo conselho. — explicou Henry, achando aquilo tudo um tédio total.
— Conselho?
— O Conselho é tipo uma corte de vampiros, existem os vampiros mais velhos que preservam a existência de todos os outros... Temos que seguir perante as leis, assim como os seres humanos. Essa corte fica localizada na Noruega, mas existem alguns centros de encontros em outros lugares. — disse o professor, parecia mais uma aula de História, mas a diferença era que Zach prestou atenção em cada detalhe.
Ouvir Henry falando era como se abrisse uma porta secreta para Zach, um mundo novo estava agora aberto a sua visão, o vampiro estava confiando cem por cento que aquele minúsculo humano poderia guardar todas aquelas informações. E guardaria. Em um baú com sete chaves.
— E... Você não tem vinte e quatro como estavam falando na escola, não é? — aquela pergunta fez Henry ficar meio encabulado, Zach ainda estava prestes a fazer dezoito e esse tempo era como um abismo entre eles.
— Tenho vinte e quatro anos há um tempo... — disse devagar para não assusta-lo. Zach se interessou ainda mais, levantando as sobrancelhas. — Pra ser mais preciso há cento e dois anos.
Zach estava com os olhos brilhando pela descoberta do novo imortal a sua frente, Henry ainda estava curioso e confuso pela falta de alguma reação de medo vinda do menor. Ele deveria estar com muito medo. Deveria estar tremendo, mas Zach não demonstrava espanto e da última vez que um ser humano não demonstrou nada assim, as coisas não saíram como Henry queria...
— Ao falar sobre essas coisas, estou te colocando em perigo, Zach... Talvez seja melhor que você volte logo pra casa e se afaste por um tempo. — disse o mais pálido. Depois disso, Henry conseguiu o que queria, uma reação imediata.
— Não! — Zach quase deixou a bandeja cair no chão e pegou o pulso de seu professor, segurando forte.
O verde se encontrou novamente com o castanho, a conexão era inexplicável. Uma faísca se acendeu no peito de Zach, era o calor de uma paixão verdadeira que não sentia há muito tempo.
— É melhor ficarmos juntos. — ele disse, finalmente.
E puxou Henry para mais perto com toda sua força, já que o corpo alheio era duro e impenetrável como um manequim perfeito. Henry Scott se deixou ser puxado e empurrou a bandeja para o lado vazio da cama para ter mais espaço.
A aproximação estava perigosa para os dois. Ambos respiravam ofegantes um contra o outro e então Zach decidiu cortar os centímetros de distância, empurrando seu rosto contra o de Henry que fechou os olhos no mesmo instante. Sentindo a explosão proibida se espalhando por seus lábios, quando a boca alheia lhe encostou-se à sua. O beijo era frio e duro, Henry não queria ceder no começo, tentando controlar seus impulsos, mas era difícil resistir perto de Zach Malik.
Ele abriu a boca, aproveitando o momento e as línguas finalmente se colidiram, travando uma batalha árdua de se expandir. Henry empurrou Zach para trás que já estava ficando sem fôlego, segurando seu rosto com força com a intenção de ficar mais próximo. Queria entrar dentro dele. Consumir cada centímetro... A palpitação de Zach aumentou dentro do peito, ele estava ficando cada vez mais excitado.
Henry sentiu a energia alheia. Os batimentos cardíacos altos e o sangue correndo pelas veias. Teria que parar agora ou cometeria alguma loucura. E então, antes que Zach pudesse perceber o vampiro já estava longe o suficiente de seu corpo, deixando um vazio e um fiapo de brisa para trás.
— Ainda é difícil me controlar perto de você... Não podemos. Fazer isso. — sua voz saiu sôfrega. Mas, estava orgulhoso de que conseguiu se afastar na hora certa.
Ao ouvir aquela frase, Zach se sentiu ainda mais na necessidade de se aproximar de Henry e o beijar intensamente. Pois, o que era proibido era bem mais gostoso... Mas, ele era um vampiro e o garoto precisava se acostumar com isso também. Era complicado estar em um "relacionamento" onde você pode ser a caça.
O garoto soltou um sorriso abobado ao pensar naquilo, mas Henry permaneceu sério e chegou próximo a cama novamente.
— Mas agora é sério... Você precisa ir pra casa, sua mãe deve estar preocupada com você. — comentou o vizinho, relembrando da enfermeira.
Zach arregalou os olhos e se deu conta de que não havia falado com ela desde a manhã anterior.
Henry e Zach combinaram de se encontrarem mais tarde a noite, Zach não imaginava mais como passar tanto tempo longe de seu vizinho. Era como se tivesse ligado o seu lado protetor e romântico ao mesmo tempo, finalmente algo de bom estava tendo sucesso em sua vida e ele não iria largar isso nunca, pelo menos não queria. Mesmo com a nova descoberta de ele ser um vampiro e de todos os perigos que o cercavam...
As coisas impossíveis passavam pela cabeça de Zach. Será que um dia também se transformaria em um vampiro? Será que as coisas seriam iguais nos livros de contos de fadas que leu quando era criança? Era difícil imaginar o suficiente. Preferiu esquecer por agora e apenas viver o que os momentos lhe entregavam.
Assim que chegou em casa, sua mãe já estava lhe esperando, com uma careta de brava. Zach sabia que Henry inventou uma história pra ela e lhe safou de levar um sermão por ter ido à festa, ficado bêbado e ter levado uma surra.
— Meu deus! Isso está muito feio! — disse Trycia quando colocou os olhos no corte da sobrancelha. Ela tentou dar uma de mãe carinhosa, enfiando a mão em cima.
— Não toca! — Zach se afastou imediatamente, pois ainda estava doendo. — Tá tudo bem comigo, mãe... Estou bem, foi só um tombo.
— Hmm, certo... — ela demorou para se convencer, mas depois soltou um sorriso. — Como foi o jantar com o Henry? Você se sentiu sozinho em casa, foi isso, querido?
— Ah, como eu resolvi ter algumas aulas extras de História com ele, me resolveu me convidar pra dar uma passadinha ali do lado... Mas, começou a chover e achei que não teria problema passar a noite. — era a desculpa mais longa que já havia inventado. Henry era bom nisso, Zach pensou.
— Claro que não... Mas, você não incomodou o Senhor Scott, não é? — a mãe levantou uma das sobrancelhas, cruzando os braços.
"Incomodei bastante.", era isso que Zach queria dizer e mais um monte de coisas que havia descoberto. Mas, ficou quieto e fez em negativa com a cabeça.
— Que ótimo! Podemos chama-lo para jantar qualquer dia desses também, se você quiser... — a mãe lhe deu uma cotovelada no braço, Zach achou estranho de sua parte, mas soltou um sorriso forçado.
— Claro... Eu... Eu vou lá pra cima. — disse Zach apontando para o segundo andar.
— Daqui a pouco vou fazer o almoço, não esquece de descer. — ordenou a mãe enquanto o garoto já subia as escadas depressa. — E passa uma pomada nesse machucado!
— Ok!
Ao chegar ao quarto, ele finalmente conseguiu colocar as mãos no celular. Tinha passado muito tempo fora das redes sociais e aplicativos de conversas, Noah e Logan estavam mandando mil mensagens no grupo para saber de seu paradeiro. Era óbvio que estavam preocupados com seu estado, depois de saberem da briga. Principalmente Noah que mal conseguiu ver Zach depois que ele entrou no carro.
Zach entrou em um dos grupos com os dois amigos e começou uma chamada em trio. Poucos segundos se passaram e eles atenderam rapidamente, mostrando as carinhas na tela, em um vídeo online.
— Zee! O que aconteceu com sua cara? — comentou Logan com certa brincadeira na voz, mas ainda estava se demonstrando curioso.
O moreno riu.
— Trevor. — deu a resposta como se fosse óbvio.
— Não cheguei a tempo de te salvar, amigo... Desculpe. Mas você já está melhor? — agora foi a vez de Noah perguntar, seu vídeo estava travando um pouco.
— Melhor do que seu namoro com sua web namorada, sim. — respondeu Zach brincando.
Noah lhe lançou um dedo do meio na tela, insatisfeito com a resposta. Logan riu.
— O professor Henry disse que ia te levar pra casa, deu certo pelo visto. Você deu sorte que ele chegou a tempo... — comentou o loiro dando uma risadinha maliciosa, Zach ficou meio desconfortável com o assunto, com medo de ter que explicar algo para desviar a atenção de Henry, mas Noah logo soltou uma piada. — Pra onde mais ele te levou ontem a noite?
— Vai a merda! — xingou Zach aliviado, começou a corar ao se lembrar do fato de que ele e seu professor haviam se beijado.
— Ocorreu mais um ataque depois da tempestade. — Logan falou depois que todos ficaram em silêncio.
— A gente sabe... — falou Noah dando de ombros, acostumado. Zach ainda não sabia de muitos detalhes, mas agora que Henry não estava envolvido, com certeza ficava aliviado. — Falar nisso, Logan tem novidades pra contar... Não é?
Zach ergueu as sobrancelhas, esperando o amigo começar a falar. Ele parecia envergonhado.
— Dormi na casa do Luke depois da festa, nós estamos bem próximos... Acho que vai rolar algo. — disse em um fôlego só, Zach quase não entendeu nada, mas estava feliz pelo amigo.
— Isso é bom. — comentou. — Mas, não quero ir a festas de novo por um bom tempo...
Os dois amigos riram do comentário. A conversa se estendeu para coisas aleatórias, o romance virtual de Noah, as paranoias de Zach (que já haviam acabado e ele distraiu os amigos agora invertendo as situações), Logan que começava a entrar no time da escola... E todas as novidades possíveis e besteiras de garotos que se poderiam imaginar.
Na hora do almoço, Trycia falou mais sobre o ataque que ocorreu, ela disse que o corpo estava do mesmo jeito que os outros... Sugados até o final. Sem nenhum pingo de sangue. E Zach estremeceu com essa notícia, já sabendo a verdade. Ele pensava em Henry, se ele estaria seguro com vários outros vampiros caçando pela cidade... Se ele mesmo estaria seguro saindo por aí. Começou a pensar que talvez teria que ficar de olhos mais abertos, pesquisar o que destruía esses seres, proteger sua família (sua mãe) e as pessoas que amava em primeiro lugar antes que pudesse ser tarde.
Após comer e tentar dar o máximo de atenção a sua mãe, lhe dizendo para a mesma ter cuidado a partir daquele dia, se manter protegida, Zach foi para o quarto... Estava ansiando poder se encontrar novamente com Henry, mas não queria pagar de desesperado. Em seu último relacionamento isso não funcionou muito bem.
Resolveu pegar as matérias acumuladas e os deveres de casa para fazer, era bom que no domingo, não iria ter nenhum deles pra se preocupar. Logan sempre dizia que era bom fazer as responsabilidades todas em primeiro, para depois ficar relaxado, sem nenhuma preocupação. E o tempo passou mais rápido do que imaginava.
Trycia saiu novamente para trabalhar a noite, se despedindo de Zach, o mandando tomar cuidado dessa vez e não quebrar mais a cara. Ele prometeu que não iria ter problemas. Mal sabia que estava enganado...
Após sair de casa, andou até o jardim da moradia chique de Henry, esperando encontrar o vizinho novamente para ter mais tempo juntos, talvez se conhecendo melhor. Pois, agora tinha uma ligação com ele... E com seu verdadeiro eu. Zach tocou a campainha e esperou que fosse atendido, mas os minutos se passaram e nada de respostas.
Aquilo o fez ficar em estado de pânico, não sabia o que pensar, mas sentia que algo de ruim havia acontecido... Era seu instinto falando mais alto. Ele pegou o celular e tentou ligar para Henry, mas não foi atendido. O moreno começou a dar voltas pela casa, olhando para dentro, na espera de ver o vizinho ocupado com alguma coisa, mas foi em vão... A casa parecia estar vazia.
Zach sentiu seu coração se apertar. Será que havia acontecido algo? Henry havia combinado e esquecido? Ele não sabia quais conclusões tomava... E então decidiu voltar para a casa e esperar mais um pouco. Era óbvio que se o vampiro tivesse ido fazer algo rápido, já estaria de volta em algum momento da noite.
Zach Malik fez seu jantar sozinho, esquentou o miojo como de costume e comeu na sala, assistindo televisão — no canal de animais que ele tanto gostava. Ele estava entristecido e preocupado... Henry não respondia e ficou sem dar avisos, não era possível que iria embora e deixasse tudo para trás daquele jeito. Alguma coisa dizia que o vampiro estava em uma enrascada.
O garoto terminou de comer e olhou para o relógio que já batiam as nove e meia. O calor começou a subir pelo seu corpo, algo estava errado, ele pressentia. Ele saiu de casa novamente e foi parar na frente da de Henry de novo, andando de um lado para o outro, tentando ligar e batendo na porta sem parar. E foi aí que ele percebeu...
Henry havia realmente sumido.
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