Capítulo Nove
Marcos Dawson:
Comi em silêncio, com o olhar atento de Zayn e Oliver sobre mim, como se um grande peso estivesse caindo sobre meus ombros. Pedi um pouco mais de comida antes de tomar qualquer outra ação.
— Vocês vão me dar indigestão se continuarem me olhando assim — falei, passando um guardanapo pelos lábios.
— Você ainda não disse se vai comprar a pílula ou não — Oliver disse calmamente, pegando um pedaço do meu bacon.
— Eu vou comprar, mas primeiro vou comer toda essa comida — respondi, devolvendo o olhar.
O celular de Oliver começou a tocar, ele pegou com um sorriso e soltou uma risada antes de me olhar novamente.
— Marcos, posso fazer uma pergunta, nada com que você deva se preocupar? — Oliver começou, enquanto Zayn olhou para a tela do celular.
— Sério que você fez isso? — Zayn perguntou, mostrando o celular para mim. Na tela, havia uma foto minha e de Oliver lado a lado no clube na noite anterior, e pelos comentários dos conhecidos de Oliver e Zayn, a situação estava se tornando completamente viral.
Percebi alguns comentários pedindo para Oliver apresentar seu "irmão", enquanto outros homens escreveram cantadas, algumas de forma indireta, outras diretamente, o que me fez soltar uma risada.
— Eu só postei as fotos no Instagram — Oliver disse. — Teria como saber se os meus amigos iriam dar em cima do Marcos nos comentários.
Peguei o celular dele e deslizei para o lado, examinando outras fotos que me lembrava de ter tirado na noite anterior. Em uma delas, eu estava no clube, dançando, e Edu se aproximou. Observei seu rosto magro e pálido, com uma expressão cansada, mas quando me viu, parecia que as coisas se iluminaram para ele.
Isso me deixou confuso. Ele havia me traído em nosso antigo apartamento e agora agia como se fosse a vítima, como se tivesse perdido a vontade de viver. Fechei os olhos e suspirei. Em seguida, lembrei da expressão de Lisa e das palavras de Edu, mencionando que sua mãe tinha ajudado a tal de Samira. A situação estava ficando cada vez mais complexa.
No silêncio da minha mente, puxei aquela memória com calma. Samira estava em cima do Edu no nosso sofá, mas ele parecia grogue, com movimentos lentos e passos pesados ao se aproximar de mim ou ao chamar pelo meu nome para esperar. A imagem da cena só tornava as coisas mais confusas e perturbadoras.
Abri os olhos e me deparei com Zayn e Oliver discutindo animadamente sobre algum amigo deles que estava comentando sobre me convidar para um encontro. A conversa deles me trouxe de volta ao presente, mas as preocupações com o passado ainda pairavam em minha mente.
— Zayn, você se lembra claramente daquele dia, há seis anos, quando deu um soco no olho do Edu? — perguntei.
— Claro, lembro bem disso — Zayn respondeu.
— Como ele estava naquela época?
— Ele parecia um pouco... desgastado, como se algo estivesse afetando seu corpo. E quando me viu, tentou perguntar sobre você, o que me levou a dar um soco na cara dele — Zayn disse, dando uma mordida no seu lanche vegano.
"Eu tenho provas que podem me inocentar do que você acha que viu anos atrás"
Essas foram as palavras de Edu, que ele havia dito esta manhã, cheias de raiva e desgosto, antes de eu sair do quarto. Essa afirmação me deixou ainda mais perplexo e me fez questionar profundamente o que realmente havia acontecido naquela época.
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Saímos do restaurante, com minha mente ainda trabalhando a mil por hora para juntar as peças do quebra-cabeça. Oliver me deixou na farmácia e fui atrás da pílula.
Ao entrar, olhei para a recepcionista, que acenou para mim.
— Bom dia, senhor — ela falou.
Retribuí o cumprimento com um sorriso e me dirigi ao balcão da farmácia.
— Olá, preciso comprar uma pílula do dia seguinte, por favor — solicitei, mantendo a voz firme enquanto tentava manter a calma diante de toda a confusão em minha mente.
A farmacêutica pegou a embalagem do medicamento e começou a processar a venda, sem fazer muitas perguntas. No entanto, eu não podia deixar de pensar em todas as revelações recentes e na necessidade de esclarecer o que realmente aconteceu no passado.
— Senhor, está tudo bem? — Ela perguntou.
— Muita coisa na cabeça nesse momento, parece que minha mente vai explodir — falei. — Estou relembrando o passado.
A farmacêutica me olhou com empatia enquanto completava a venda e entregava a pílula do dia seguinte.
— Entendo, às vezes o passado pode ser uma carga pesada — ela disse com compreensão. — Espero que tudo se resolva da melhor maneira possível.
— Eu também espero — Falei.
Agradeci, peguei a pílula e saí da farmácia, ainda com a mente repleta de preocupações e incertezas, mas determinado a descobrir a verdade sobre o que aconteceu no passado.
Minha cabeça estava prestes a me enlouquecer, então peguei meu celular e olhei para o carro de Oliver, que estava me esperando.
— Vocês podem me deixar em algum lugar? — perguntei.
— Claro — Fernando respondeu com um sorriso, e Oliver me olhou, depois para Zayn. — Para onde deseja ir?
Dei a informação do hotel onde Edu estava hospedado, e Zayn me olhou como se eu estivesse completamente louco. Mandei uma mensagem para um conhecido meu em Nova York, que era um amigo de Edu.
Minha surpresa foi quando ele respondeu em questão de segundos, expressando saudades de me ver.
— Marcos, o que você está fazendo? — Zayn perguntou, visivelmente preocupado.
Esse amigo respondeu às minhas perguntas rapidamente, e meu coração se apertou.
— Confiar em quê? — Zayn perguntou.
— Apenas confiem em mim e na decisão que estou tomando agora — falei.
Desembarquei do carro e, ao me aproximar do hotel, o porteiro me ouviu e, antes que pudesse dizer algo, Edu apareceu à minha frente, mantendo uma certa distância.
— Você voltou — Edu disse.
— Quais são as suas provas? — perguntei.
Ela me pediu para sentar na mesa da recepção, e ficamos ali até que Edu suspirou e coçou a nuca, visivelmente perturbado.
— Você se lembra que eu sempre tomei remédio para minha ansiedade e vivia com o corpo dolorido — Ele começou, e seu olhar se perdeu. — Naquele dia, Samira trouxe um remédio para minha ansiedade e pegou em casa um remédio que chegou no endereço dos meus pais. Estava conversando com ela no sofá depois de pegar um copo d'água para que tomasse os comprimidos, e o que ela pediu…tomei os comprimidos enquanto ela conversava comigo e em segundos senti meu corpo ficar pesado e mole e ela subindo em cima de mim.
Ele estava claramente perturbado e minha mente reparou no que havia acontecido.
— Continue, Edu — pedi, incentivando-o a compartilhar o que mais tinha a dizer.
— Antes que ela pudesse fazer mais alguma coisa, você chegou e começou a brigar com ela e comigo. — Ele continuou e seus olhos estavam em suas mãos que tremiam. — Gritei para que ela fosse embora, fiquei desesperado por você ter fugido e não atendendo minhas ligações ou mensagens, Contei para minha mãe o que ela havia tentado fazer... minha mãe disse que todos erram.
Isso era bem uma coisa que Lisa fosse capaz de fazer; infelizmente, aquela mulher é perversa até com o próprio filho.
— Ainda disse para que eu ficasse com a Samira, que estava perdidamente apaixonada por mim — Edu disse, seus olhos brilharam de raiva e nojo. — O que ela sente por mim não é amor, é algo tóxico e maluco. — Suspirou e pegou o celular dele, me mostrando algumas informações. — Pedi para um amigo investigar esses comprimidos, e ele descobriu que era uma mistura de drogas depressoras. Quando fui pedir ajuda à minha mãe para denunciar, ela simplesmente ignorou o assunto, e descobri que ela havia ajudado Samira a conseguir essas drogas. Cortei relações com minha mãe e me afastei de tudo. Eu estava determinado a te encontrar a qualquer custo e mostrar que jamais cogitaria te trair ou fazer mal a ninguém. Se não acredita, até fiz com que conhecidos da sua família me ajudassem nessa busca.
Meu coração doeu com essa revelação.
— E seu pai? — perguntei.
Edu soltou uma risada seca.
— Ele nunca se importaria com algo assim, e ainda diria que a culpa é minha — Edu disse. — Ele nem sabe que minha mãe e eu brigamos um com o outro. Ela tenta se aproximar ou me manipular, mas nada funciona. Hoje mesmo, ela veio até aqui com a Samira. Depois que você saiu, começaram a bater na minha porta, e só consegui me livrar delas chamando a segurança.
A tristeza nos olhos de Edu era palpável, e eu senti uma onda de empatia e compaixão por tudo o que ele havia passado.
— Edu, você não está sozinho nessa — eu disse, colocando a mão em seu ombro para confortá-lo. — Nós vamos enfrentar isso juntos. Você não precisa lidar com essas situações tóxicas sozinho, e sua mãe e Samira não vão mais te afetar.
Edu olhou para mim, seus olhos cheios de gratidão e alívio.
— Marcos, eu senti sua falta e a sua presença aqui é como uma luz no fim do túnel. Eu estava me sentindo completamente perdido até agora.
Ele se aproximou para me abraçar, e isso me deixou um pouco envergonhado. No entanto, me afastei dele com rapidez.
— Eu tenho que ir embora — falei, com um nó na garganta.
— Pode me passar seu número? — ele perguntou, com uma expressão de esperança nos olhos.
Não consegui responder. Virei-me e fui embora, meu coração pesado, mas com a certeza de que nosso encontro marcava o início de uma jornada juntos, enfrentando os desafios do passado e construindo um futuro mais brilhante.
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