V | Em Busca Dos Ossos


30 De Outubro De 2018

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Estava muito surpresa com a história da minha família, nunca pensei que o meu avô tinha sido capaz de cometer tamanho crime, minha mente girava e varias duvidas martelavam a minha cabeça.

-Por que ela está na casa da Camila se ela morreu na cabana abandonada? -Perguntou Gabriel após longos minutos de silêncio.

Eu me perguntava a mesma coisa!

Madame Mayana respirou fundo e respondeu:

-Talvez ela esteja buscando ajuda lá. -Sugeriu sem ter certeza.

-Você não tem algo concreto? -Perguntei.

-Infelizmente a mente de Paloma ficou presa somente nos últimos locais onde ela passou antes de morrer, seu avô a fez muito mal e talvez ela tenha ido buscar ajuda da família dele. -Sugeriu novamente sem ter certeza.

-Como a alma dela ficou presa aqui na terra? -Indaguei.

Se soubéssemos como ela se tornou um fantasma talvez pudéssemos ajudá-la a descansar em paz.

-Quando ela foi assasinada pelo seu avô ela caiu em um poço. -Falou ela fazendo uma pausa. -o poço na verdade é um elo místico entre a morte e a vida.

-Um elo místico? -Perguntamos eu e Gabriel em uníssono.

-Sim, esse elo se abre toda noite de dia de los muertos. -Explicou ela.

-Ok. -Falei tentando assimilar toda a informação. -Então Paloma caiu no meio do elo da vida e da morte ficando presa na terra? -Perguntei.

Ela acenou com a cabeça confirmando.

-Então temos que encontrar os ossos do Diego e devolver para a Paloma? -Perguntou Gabriel um pouco mais confiante.

-Sim e não. -Falou ela nos deixando mais confusos. -Vocês terão que encontrar os ossos de Diego, porém terão que entregar os ossos para o poço. -Explicou ela.

-Por que? -Perguntei sem entender.

-O poço é um elo muito orgulhoso e vocês terão que convencê-lo a liberta-lá.

-Como? -Perguntou Gabriel.

-Não sei, mas vocês terão que descobrir. -Falou ela me deixando nervosa.

-Onde estão os ossos? -Perguntei chegando no ponto principal da conversa.

-Seu avô nunca revelou a ninguém, mas talvez ele tenha deixado alguma pista na mansão. -Falou ela desanimada.

Automaticamente também fiquei desanimada, até que de repente eu me lembrei de algo: do mapa!

-O mapa! -Exclamei me animando.

-O mapa! -Repetiu Gabriel sorrindo.

-Que mapa? -Perguntou Madame Mayana.

-Vamos te explicar tudo. -Falei sentindo um calor invadir o meu corpo.

Depois de explicarmos tudo para Madame Mayana, ela exclamou feliz:

-Vocês já tem um ponto de partida!

-Exatamente! -Respondi feliz tocando a minha bolsa.

-Que horas vocês têm que voltar para casa? Já está tarde. -Perguntou ela.

Imediatamente olhamos para a janela e percebemos que o céu estava totalmente escuro. Andei em direção a Madame Mayana e perguntei:

-Podemos passar a noite aqui?

-Claro, mas por quê? -Perguntou ela curiosa.

-A minha mãe quer me levar ao psiquiatra. -Revelei me sentindo muito mal.

-Sério? Por que você não me contou nada? -Perguntou Gabriel preocupado.

-Eu não queria falar sobre isso. -Respondi.

-Não cometa o mesmo erro que a sua avó, não confie nas pessoas erradas! -Me aconselhou ela.

Fomos dormir com aquele conselho na cabeça!

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01 De Outubro De 2018

Acordei cedo e com uma energia nova invadindo o meu corpo, o cheiro de café invadiu as minhas narinas me causando uma sensação boa de aconchego.

-Bom dia! -Falei me sentando na mesa de madeira.

Gabriel já estava tomando e pela profundidade das suas olheiras eu percebi que ele não tinha dormido à noite inteira.

-Eu passei a noite inteira estudando o mapa. -Revelou ele após perceber o meu olhar sobre ele, involuntariamente eu procurei a minha bolsa ao lado do meu corpo, mas não estava lá , olhei ao redor e a encontrei ao lado de Gabriel.

-O que você encontrou? -Perguntei me servindo de café.

-Após estudar bastante, eu percebi que temos que começar as nossas investigações na cabana onde o assassinato aconteceu. -Falou com convicção.

-O que será que vamos encontrar ? -Perguntei receosa.

-Eu espero que encontremos pistas ou indicações da real localização dos ossos. -Falou Gabriel dando uma mordida em um pão com presunto.

Ponderei um pouco e ele tinha razão, nada pior poderia acontecer conosco.

-Vejo que a bela adormecida acordou! -Exclamou Madame Mayana.

-Obrigada por tudo Madame Mayana. -Agradeci.

-Agora que somos cúmplices, você pode me chamar de somente de Mayana. -Falou ela pondo um cesto cheio de ervas sobre o balcão da cozinha improvisada.

-Ok. -Respondi com um meio sorriso no rosto, realmente depois de tudo éramos cúmplices.

-Já sabem por onde começar? -Perguntou ela nos encarando.

-Sim. -Respondeu Gabriel animado.

-Podemos levar um pouco de comida? -Perguntei pensando nas possíveis provações que teríamos que passar.

-Claro que sim, mas não vai caber tudo nessa sua bolsa, ela é muito pequena, acho melhor vocês levarem duas mochilas que eu tenho aqui, além de outras coisas para ajudarem na investigação. -Respondeu ela calmamente.

-Obrigada. -Agradecemos em uníssono.

******

No final da manhã saímos da cabana com duas mochilas cheia de suprimentos e instrumentos para nos auxiliar na missão. Na minha mochila estava a minha bolsa com o mapa, a foto de Paloma e o meu celular, além de duas lanternas com pilhas extras e muita comida que Mayana nos cedeu. Na mochila de Gabriel iam outras coisas que poderiam ser úteis e uns cobertores caso precisássemos dormir ao relento.

-Desejo boa sorte a vocês. -Falou Mayana ao se despedir.

-Obrigada! -Respondemos.

Após pensar um pouco perguntei:

-Por que a cigana tem tanto medo da senhora?

Ela sorriu e respondeu:

-Talvez eu seja de outro mundo. -Respondeu ela me deixando confusa.

Quando já estávamos longe eu percebi que eu tinha feito uma pergunta muito pessoal e talvez o que ela tinha respondido fosse uma brincadeira.

Como eu estava enganada!

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Quando chegamos na cabana senti uma brisa estranha percorrer a minha espinha me causando uma sensação estranha. A dor de Paloma marcou aquela cabana. O meu avô não destruiu somente uma vida, ele destruiu cinco vidas inocentes: em primeiro lugar ele ceifou a vida de Diego; em segundo lugar destruiu a vida de Paloma no dia do seu casamento; em terceiro lugar ele estragou a vida da minha avó a trancafiando em um manicômio; em quarto lugar a vida da minha mãe, quando a expulsou de casa a tornando amarga; em quinto e último lugar ele estragou a minha vida, quando ele jogou nas minhas costas a responsabilidade de resolver a maldição que ele criou.
A cabana estava em ruínas, o interior dela cheirava a mofo, havia muito lixo espalhado e alguns restos de móveis quebrados.

-Tem certeza de que vamos encontrar alguma pista aqui? -Perguntei para Gabriel incerta.

-Sim, tenho certeza. -Respondeu ele com convicção. -Só precisamos procurar com atenção.

-Ok. -Respondi incerta do que estávamos fazendo.

Passamos alguns longos minutos revirando a cabana, mas não encontramos nada de importante, além de lixo e muita poeira. Gabriel já estava duvidando da sua intuição quando de repente ele tropeçou em uma madeira solta revelando um buraco no chão.

-Parece que e o meu avô estava sem ideias de onde esconder as pistas. -Ironizei.

Gabriel concordou. Nos ajoelhamos juntos perante o buraco, respirando fundo Gabriel colocou sua mão no buraco escuro do chão, para logo depois retirá-la trazendo um pequeno papel manchado e muitas aranhas inquietas.
Ignorado os insetos percorrendo a cabana perguntei:

-O que está escrito?

-Isso. -Respondeu ele me entregando o papel.

As almas se elevam do além...
A antiguidade se perde na história...
Lendas correm como lebres na memória...
Permanecem como monumentos das cidadelas...

-Ele pode não ter sido criativo para esconder a pista, mas criatividade para criar um enigma ele tem de sobra! -Exclamou Gabriel irônico.

Não respondi nada.

-O que vamos fazer agora? -Continuou ele preocupado.

-Eu sou boa em enigmas eu só preciso me concentrar. -Falei começando a ligar os fatos.

Gabriel ficou em silêncio esperando a minha fala.
Após alguns instantes pensando eu cheguei a uma conclusão convincente.

-A próxima pista está em algum cemitério importante da cidade. -Falei vendo as peças se encaixarem.

-Cemitério? -Perguntou Gabriel incrédulo.

-Monumento e antiguidade significa algum lugar que tem valor histórico para a nossa cidade ou seja Guadalajara, a parte que se refere a alma representa um cemitério e a parte que se refere a lenda significa que e um cemitério famoso e antigo da cidade que possui diversas lendas famosas ao redor dele. -Falei resolvendo o enigma.

-Ok. -Falou Gabriel concordando.

-Você conhece algum cemitério assim? -Perguntei esperançosa.

Após pensar um pouco Gabriel respondeu:

-Existe um, o cemitério Pantéon De Belén.

-Ótimo, precisamos ir para lá. -Falei indo em direção à saída.
-O cemitério é enorme, o que estamos buscando exatamente? -Perguntou Gabriel me encarando.

O encarei e após pensar um pouco respondi convicta das minhas palavras:

-Vamos procurar o túmulo de Paloma. -Falei saindo pela porta da cabana.

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O portão do cemitério e museu Panteon De Belén estava a nossa frente, Gabriel ainda estava receoso com a minha ideia e tentava me convencer de que estávamos no lugar errado. Respirei fundo e revisei o enigma na minha cabeça pela milésima vez e mais uma vez tudo terminava naquele cemitério.

-Precisamos entrar. -Falei indo em direção a entrada.

Gabriel bufou e me seguiu contrariado.

-Espero que você tenha um bom plano. -Falou ele contrariado.

Na realidade eu tinha um plano, um plano simples, mas que poderia dar certo se fizéssemos tudo certo.

-Confie em mim. -Respondi confiante.

O cemitério estava lotado de pessoas entusiasmadas de visitar o local. Um guarda vigiava o local de entrada com atenção.

Com o dinheiro de emergência comprei dois ingressos para visitarmos o local, entramos no cemitério junto com um grupo de turistas e um guia que parecia amar muito o seu trabalho.

-O que vamos fazer agora? -Perguntou Gabriel nervoso.

-Você precisa perguntar para o guia sobre o túmulo de Paloma. -Respondi avaliando o local, se a pista estivesse onde eu pensava teremos que ser cautelosos.

-Por que eu? -Retrucou ele desesperado.

-Você é o único que fala espanhol fluentemente. -Respondi me irritando.

-Ok, mas se você não sabe o corpo de Paloma nunca foi encontrado, então não há túmulo nenhum! -Exclamou ele chamando a atenção de uma turista.

-Fala baixo! -Exclamei dando um tapa nele. -Eu sei que o corpo de Paloma nunca foi encontrado, porém algumas famílias antigas fazem túmulos falsos e vazios que servem de memorial ao defunto, ou nesse caso a defunta. -Expliquei em voz baixa.

-Entendi. -Disse ele indo em direção ao guia.

Esperei ansiosa pela volta dele, vi de longe o guia apontando para a direita do cemitério, Gabriel retornou com um sorriso vitorioso no rosto.

-Realmente você é ótima em enigmas! -Exclamou ele me abraçando. -O túmulo memorial de Paloma fica a direita do cemitério, vamos! -Falou ele me puxando pela mão.

Após alguns minutos procurando encontramos o túmulo de Paloma, ele estava abandonado e muito sujo, com as minhas próprias mãos retirei todo tipo de sujeira do túmulo, ela não merecia ser esquecida desse jeito!

Uma foto antiga e muito gasta de Paloma indicava a identidade de quem descansava ou melhor de quem deveria descansar naquele túmulo.

Naquele instante eu prometi a Paloma e a mim mesmo que não deixaria o túmulo dela abandonado.

Cuidaria dele com o maior carinho e dedicação, era o mínimo que eu poderia fazer para compensar o que meu avô fez a ela e ao Diego.

-O que vamos fazer? -Perguntou Gabriel observando atentamente o túmulo. -Eu não vejo nada de diferente aqui.

Depois de pensar um pouco respondi:

-Ainda não olhamos dentro do túmulo.

-Você perdeu o juízo! -Exclamou Gabriel indignado. -Onde já se viu profanar o túmulo de uma defunta!

-Em primeiro lugar iremos profanar o túmulo para ajudar a defunta que por acaso não esta aí e em segundo lugar nós não temos escolha. -Falei expondo todos os meus argumentos.

-Você venceu. -Falou ele com uma expressão derrotada no rosto. -Fica de olho para ver se alguém vem vindo.

-Você não quer ajuda? -Perguntei.

-Não, eu preciso que você fique de vigia. - Falou ele contrariado.

-Ok. - Respondi me afastando para observar o movimento do cemitério.

Cada minuto que se passava o meu coração se apertava mais, minha cabeça rodava cheia de medo e de dúvidas, será que ele foi pego? será que algo deu errado?

Mil perguntas me martirizava.

-Tenho que admitir que você é muito inteligente. -Falou Gabriel me assustando. -Não é que a pista estava escondida lá! -Exclamou ele mostrando o papel.

-Você já leu a pista? -Perguntei pegando o papel.

-Não, preferi deixar você ler primeiro, como eu já falei eu sou péssimo com enigmas. -Falou ele animado. -A única coisa que eu sei é que quando o seu avô criou essas pistas a família da Paloma já havia desistido de encontra-la com vida.

Eu acenei com a cabeça confirmando a teoria dele, o meu avô era muito cínico. Em minha cabeça surgiu a imagem do meu avô consolando os pais de Paloma com todo o seu cinismo e covardia. Afastei da minha mente aquela imagem e voltei a minha atenção para o papel em minhas mãos, desdobrei e comecei a ler com muita atenção.

Na falsidade se encontra o início...
Na fundo se encontra o segundo...
Onde as delícias do além são preparadas...
Nos Hernandes se encontra as respostas...

-Creio que o segundo enigma aponta para sua casa. -Disse Gabriel pensativo.

-Sim, você tem razão. -Concordei relendo o enigma. -Mas onde? -Perguntei.

Gabriel pegou o papel e começou a ler bastante pensativo, após alguns instantes de silêncio ele perguntou:

-Onde você encontrou o mapa? -Perguntou ele sério.

-Em um fundo falso no chão do meu quarto. -Falei sem pensar, notei o sorriso dele e comecei a ligar o pontos. -A primeira estrofe. -Falei prestando mais atenção.

-Exatamente e de acordo com a segunda estrofe o nosso próximo enigma também vai estar escondido em um fundo falso. -Falou Gabriel completando o meu pensamento.

Após ler e reler a terceira estrofe uma luz surgiu na minha cabeça trazendo a resposta.

-Creio que e a terceira estrofe se refere a uma determinada cozinha. -Falei pensativa. -E essa cozinha é....

-A cozinha da sua casa. -Completou Gabriel surpreso.

-Exatamente. -Falei sorridente. -Mas temos que ser muitos cuidadosos para a minha mãe não nos pegar, tenho certeza que agora depois da minha fuga que ela tem todos motivos e razões para me internar.

-Ok, vamos. -Falou ele querendo sair o mais rápido possível do cemitério.

-Você se saiu muito bem para quem não sabe resolver enigmas. -Falei o abraçando.

-Ultimamente estou andando com uma expert em resolver em enigmas. -Falou ele me dando um leve empurrão.

O caminho até a saída do cemitério foi muito mais animada do que a nossa entrada. Porém quando estávamos na porta encontramos uma viatura de policia, no escondemos e esperamos o carro ir embora. Nervosa andei em direção ao mesmo guarda da entrada e perguntei:

-O que está acontecendo?

-Parece que a neta do falecido Hernandes está desaparecida, a polícia inteira está atrás dela, principalmente nos arredores da velha mansão. -Falou ele com uma expressão indignada. -Essas crianças de hoje em dia não são castigadas como merecem, você está bem? -Perguntou ele ao notar a preocupação estampada em rosto.

-Estou ótima e obrigada. -Falei indo em direção à Gabriel e o puxando para dentro do cemitério.

-O que aconteceu? -Perguntou ele atordoado.

-Vamos ter que dormir no cemitério. -Falei procurando uma área segura.

-Você ficou maluca! -Exclamou ele horrorizado.

-A minha mãe ligou para a polícia e tem diversos guardas rondando a casa, não podemos ir para lá agora. -Expliquei o arrastando para uma área de gramado.

-Ok, mas a gente tem que dormir logo aqui? -Perguntou ele incrédulo.

-Você conhece algum outro lugar seguro por acaso? -Perguntei irônica.

-Não, não conheço. -Reconheceu ele após pensar um pouco.

De repente eu notei uma coisa muito estranha no comportamento de Gabriel e perguntei:

-Gabriel o seus pais também devem estar preocupados com você, onde você mora?

Ele pareceu indeciso e triste, com um suspiro ele encarou por um minuto e respondeu:

-Eu sou órfão, eu moro junto com outras crianças em  um orfanato da cidade.

-Sinto muito. -Respondi arrependida da minha pergunta.

-Não se preocupe, tenho certeza que ninguém está sentido falta de mim. -Fiquei triste com a resposta dele. -Vamos nos esconder no banheiro até a hora do fechamento do cemitério. -Falou ele confiante esquecendo a sua vida triste.

********

Apesar das minhas duvidas o plano de Gabriel funcionou perfeitamente, a meia-noite o cemitério e o museu estava fechado, saímos do banheiro com cautela e ajeitamos as nossas duas camas improvisadas dentro um mausoléu do cemitério, dormi tranquilamente, mas Gabriel a qualquer barulho acordava atordoado e olha que quem viu o fantasma de Paloma fui eu.

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02 De Outubro De 2018

Era o dia de los muertos, hoje era o último dia para nos livrarmos e salvarmos Paloma. Nada podia dar errado.
Acordamos muito cedo e ficamos esperando o cemitério abrir. Quando finalmente abriu saímos apressados em direção à rua. Enquanto Gabriel roubava um pouco de comida para nos dois, eu comecei a investigar sobre a presença de policiais na minha casa.
Quando já era dez horas da manhã, nos apressamos em direção a minha casa com a plena certeza de que estávamos em total seguranças.

A minha casa estava totalmente silenciosa, com cuidado tentamos entrar pela porta da frente, mas como eu suspeitava estava trancada, por sorte uma das janelas da sala estava aberta. Entramos tomando muito cuidado para não quebrar nenhum objeto de decoração da casa.
A cozinha estava deserta e abandonada, louça suja estava sobre a pia e panelas esquecidas sobre o fogão.

-Temos que ser rápidos e cuidadosos para não chamarmos atenção. -Falei começando a observar o chão.

-Ok. -Falou Gabriel me ajudando.

Pouco tempo depois após perceber-mos que nenhum piso do chão estava oco, passamos a procurar nas paredes. Com leves batidas comecei a observar o som da parede onde ficava o microondas. Um azulejo após outro até encontrar o certo. Um som me chamou a atenção, chamei Gabriel e com a ajuda dele arrancamos o azulejo fora. Um papel caiu do esconderijo nos dando um sinal de esperança. Uma esperança que salvaria muitas vidas.

-Estamos cada vez mais perto. -Murmurou Gabriel satisfeito consigo mesmo.

Sorri em resposta, tremendo de emoção peguei o papel do chão, desdobrei e fiquei surpresa com o que encontrei.

O que você procura está no início de tudo!

-Como assim? -Perguntou Gabriel murchando o seu ego.

-Eu não acredito! -Exclamei entendendo tudo.

-O que? -Perguntou Gabriel confuso.

-Andamos tudo isso para nada, os ossos estavam praticamente em baixo dos nossos narizes! -Exclamei nervosa.

-Dá para você parar e me explicar. -Pediu Gabriel.

-Os ossos estão enterrados na cabana onde Diego foi assasinado. -Falei completando o mistério.

-Em qual parte da cabana? -Perguntou ele atônito.

Peguei o mapa na mochila e comecei a estudá-lo, ele tinha quer outro uso!
O "x" que marcava o local do tesouro não mostrava o local exato, era uma pegadinha para enganar que lesse o mapa, uma pequena letra, uma letra que eu tinha deixado passar despercebida marcava o verdadeiro local dos ossos, sobre a pequena estrutura da velha cabana estava desenhado a caneta um pequeno "p" precisamente na região onde ficava uma cama quebrada.

-Os ossos estão enterrados embaixo da cama. -Falei pegando a mochila e indo em direção à janela da sala.

Era a nossa única chance!

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Novamente estávamos dentro daquela cabana, a cama de frente para nós, com ansiedade retirados os pedaços quebrados da cama e por fim o velho colchão com respingos de sangue na parte de trás. Com nossas próprias mãos começamos a cavar o chão de terra, a madeira do chão estava podre não foi difícil a arrancá-la, senti a terra entrar debaixo das minhas unhas. Com força e sentindo o meu estômago embrulhar puxamos uma bolsa de pano cheia de ossos. Eu não quis olhar dentro para confirmar, Gabriel com coragem olhou e me confirmou com um aceno de cabeça.
Saímos da cabana com uma direção certa: o poço!

-Eu quero que você vá atrás da minha mãe e diga para ela o que está acontecendo. -Falei encarando Gabriel, ele tentou retrucar, mas eu o impedi. -Eu preciso fazer isso sozinha.

-Ok, mas se você não voltar eu venho atrás de você. -Falou ele me entregando a bolsa. -Boa sorte!

-Obrigada. -Falei com um meio sorriso.

Fiquei olhando Gabriel sumir em direção a minha casa, reuni minha coragem e fui em direção ao poço abandonado, hoje a meia-noite o portal irá se abrir e tudo isso irá acabar.

Era o que eu pensava!

******

Olhei no meu relógio de pulso, faltava dois segundos para meia-noite, me aproximei do poço e esperei dar a hora exata. Quando deu meia-noite em ponto joguei a bolsa dentro do poço rezando para o elo aceitasse libertar Paloma.
Esperei ansiosa, mas nada aconteceu, quando estava prestes a desistir, avistei Madame Mayana se aproximando de mim.

-Não aconteceu nada. -Falei desesperada.

-Você precisar fazer uma troca com elo do portal. -Falou ela calmamente.

-Eu sei, porém ele não apareceu. -Falei percebendo a hora passar.

-Apareceu, você só precisar olhar a sua frente. -Falou ela com um sorriso misterioso.

-Como...-Comecei a falar, mas de repente tudo pareceu se encaixar como um quebra-cabeça macabro, isso explicava o medo da cigana. -Você é o elo do portal. -Falei sentindo minha boca amargar.

-Sim e eu estou aqui para fazer uma troca. -Falou ela sorrindo. -Eu não queria fazer isso, mas é o meu trabalho.

Pensei em retrucar e a ofender, mas Paloma dependia de mim para ser livre. Eu precisava consertar os erros do meu avô.

-O que você quer? -Perguntei confiante.

-Eu quero uma alma em troca de outra. -Falou ela calmamente.

-Como assim? -Perguntei irritada.

-Uma alma viva desse mundo deve morrer para acompanhar Paloma no mundo dos mortos. -Explicou ela maquiavélica.

Eu não podia fazer isso!

-Sei que essa escolha é difícil, mas eu vou te ajudar, tenho certeza que a sua avó iria amar poder se ver livre daquele manicômio. -Falou ela se movendo ao meu redor.

-Não, a minha avó não! -Gritei nervosa, eu não podia fazer aquilo com ela.

-A escolha é sua, a sua avó pela libertação de Paloma ou nada. -Falou ela tocando os meus ombros.

Pensei e com uma enorme dor no coração respondi:

-Eu aceito a troca.

-Você é uma boa menina. -Falou ela no meu ouvido.

De repente Madame Mayana sumiu e uma brisa estranha tocou o meu corpo, Paloma surgiu ao meu lado e com um sorriso no rosto me agradeceu, ela pulou no poço e sumiu levando consigo os ossos de Diego. Um frio percorrer a minha espinha e senti o meu coração apertar, naquele momento eu soube que a minha avó havia morrido.

Tudo tinha acabado!

*******

Cheguei em casa e a minha mãe me abraçou chorando, beijou o meu rosto e sorriu ao perceber que eu não estava machucada.

-Você acredita em mim? -Perguntei.

-Agora eu acredito. -Falou ela me olhando.

-Gabriel te contou a verdade? -Perguntei.

-Não, a sua avó ligou do manicômio querendo falar com você, fui ver ela e ela me falou a verdade. -Ela respirou fundo. -E depois ela morreu.

Eu abracei forte e chorei amargamente, senti Gabriel nos abraçar. Choramos juntos por tudo o que havia acontecido.

Era o fim.

Mas nem todo final significa o fim de uma história.

Fim

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