Capítulo 01
O cheiro de podre fez Mina levar sua mão até seu rosto e enrugar o nariz, tentando tapar o terrível odor. O barulho das moscas fez ela constatar o que já suspeitava: Havia alguém morto na cabana abandonada ao Oeste do Texas, que é onde estava.
— Tem certeza de que deixará nossos trailers aqui, Mina? — Sana, sua melhor amiga, perguntou com a voz nasalada, afinal também prendia sua respiração. — É o terceiro corpo só hoje.
— Não reclame, aqui é deserto, precisamos realizar experimentos e não podemos correr o risco de explodir tudo em lugares frequentados por outras pessoas. — Disse, retirando um isqueiro de seu bolso. — Ande, pegue o álcool.
E assim Sana o fez, espalhando álcool pelo corpo já bastante devorado pelos vermes. Mina se afastou um pouco e travou o isqueiro, o jogando logo em seguida no corpo.
— Já chequei o banheiro, tudo limpo por aqui. Nenhum sinal de cadáver. — Momo, uma linda japonesa que participava de sua equipe, avisou.
— Os fundos também estão limpos. — Jeongyeon, mais uma integrante do bando, informou se aproximando de Mina.
— Bom trabalho. — Mina disse, sentindo os lábios da mulher relarem suavemente nos seus.
— Obrigada, bem. — A mulher respondeu sorrindo.
— Se continuarmos assim, logo a região estará completamente limpa para iniciarmos os experimentos. — Sana disse animada.
— Agora vamos, deixamos Nayeon sozinha no trailer há tempo demais já. Ela deve estar entediada. — Mina disse, sentindo Jeongyeon entrelaçar seus dedos nos dela. Ela soltou disfarçadamente, fingindo arrumar o cabelo, mas a verdade é que não gostava daquele afeto todo.
Depois que os homens foram extinguidos por um vírus desconhecido, as mulheres foram pareadas com outras, tratando de tentar progredir em suas pesquisas, em busca de conseguirem recriar o cromossomo Y na parte da sexualização, já que as mulheres possuíam apenas cromossomos XX. Precisavam do cromossomo XY para procriarem, porém temiam que isso levaria muitos anos e não tinham muito tempo. Eram a última linhagem de humanos existentes.
Algumas delas mantiveram o casal, outras rejeitaram a proposta e outras romperam com o tempo. Mina mantivera a sua, apenas pelo desejo carnal, afinal Jeongyeon era tudo o que Mina achava entediante, porém era uma boa mulher e incrivelmente gostosa.
— Está tudo bem? — Jeongyeon sussurrou para Mina assim que a viu olhando para a mata do lado de fora da cabana. Os olhos castanhos analisaram o perímetro meticulosamente, jurava ter ouvido algo, porém balançou a cabeça.
— Achei ter ouvido um barulho. — Mina confessou. — Mas deve ter sido o vento. — Mina disse, dando uma última olhada no lugar antes de seguir seu caminho para o trailer.
Sana se sentia de mãos completamente atadas naquele momento, o pavor lhe dominava, porém não conseguiu impedir Mina de realizar o que tinha em sua mente.
— Mimi, você tem certeza? — Perguntou aflita.
— Esse barulho está me incomodando, Sana. Preciso ver o que é isso.
— Deve ser algum animal, pare de frescura. — Sana pediu.
— Vá para seu trailer com sua namorada e se divirta, tudo bem? Eu só vou dar uma olhada pelo perímetro.
— Já está escuro, Minari. — Sana insistiu.
— Eu sei, não é como se eu corresse algum perigo, não acha? Todos os homens estão mortos.
— Acho. Não é só homens que proporcionam perigo. — Mina suspirou e lhe fitou.
— Estou armada. — Disse convicta. — Só tenho essa impressão há uma semana, desde que chegamos aqui, de que estou sendo observada. Não gosto disso. — Informou. — Seja lá o que for isso, está roubando nossa comida.
— Por que não vai para o seu trailer? Transe bastante com a Jeongyeon e amanhã estará calma como nunca. — Mina suspirou.
— Não tenho relações com ela há três semanas. — Informou. — Não me sinto cômoda perto dela. Ela é muito... — Mina tentou encontrar alguma palavra para descrever o que pensava, porém não achou. — Ela não é para mim.
— Mas o sexo não é bom? — Sana indagou.
— Sinto mais prazer me masturbando, se for para ser sincera. — Mina disse, olhando em volta. — Ela é uma garota bacana, só não é para mim.
— Mina, não temos muitas opções hoje em dia. — Sana afirmou. — Todo mundo foi pareado. Só não ficou junto as que realmente são heterossexuais, igual a Nayeon.
— Ou as que não deram certo. — Mina completou. — E eu não dou certo com ela.
— Está disposta a passar o resto de seus dias se masturbando? — Sana perguntou e Mina assentiu.
— Já pensei nisso. É um risco que correrei. Talvez eu encontre outra que não quis ficar com seu par. — Mina disse, abrindo a porta do trailer científico, que é onde realizavam seus experimentos.
— Boa sorte, então. — Sana disse, dando-se por vencida. — Por sorte Momo e eu nos apaixonamos.
— É, por sorte. — Mina disse, feliz por suas amigas. — Nos vemos amanhã. — Finalizou, começando a caminhar, entrando na mata alguns segundos depois. O mais engraçado era que onde seus trailers estavam era uma área seca, cheia de raxaduras, porém, ao redor era repleto de matos compridos, que alcançavam quase dois metros de altura.
Ela não levou lanterna, sentia que isso despistaria qualquer coisa que a estivesse seguindo, contudo, seus olhos e ouvidos estavam bem atentos a qualquer ruído.
Foi exatamente por isso que viu o mato começar a fazer barulho, como se algo corresse por ele para longe dela. Mina começou a correr atrás do ruído, percebendo que não era algo, senão alguém.
— Heey, pare! — Gritou, correndo na direção da garota. A única coisa que conseguia ver era os longos cabelos lisos e pretos ou castanhos escuros, não sabia distinguir diante da escuridão. — Estou armada, pare agora ou eu atiro. — Berrou, vendo o corpo parar e erguer as mãos ao alto.
— Por favor, não atire. — Ouviu a voz suplicar e a garota se virar para ela. Ela pôde ver que era uma garota, dona de uma vez grave e rouca.
A única coisa que pensava enquanto se aproximava era: O que alguém fazia ali, no meio do nada?
Mina se aproximou temerosa, porém valente o suficiente para ter sua arma apontada para a garota. Conforme chegava mais perto, via que ela vestia roupas femininas, porém bem largas nas peças de baixo. Mina não entendeu, no entanto, não achava que tinha algo a ver com isso.
— Por que está roubando nossa comida? — Mina questionou firmemente, sentindo a brisa fria da noite acariciar seu rosto e o vento fazer seus cabelos esvoaçarem.
— Eu sentia fome, perdão. — A garota proferiu. — Antes de vocês chegarem eu tinha que andar vários e vários quilômetros por dia para achar comida. — Confessou, encarando Mina. Estava escuro, todavia, Mina era capaz de enxergar as orbes castanhas lhe encararem.
— Por que não pediu ajuda?
— Eu... não podia. — A mulher voltou a repetir, fazendo Mina assentir, embora não houvesse entendido a razão.
— Está sozinha? — Indagou mais uma vez.
— Sim. Há muitos anos. — Ela disse, fazendo Mina morder o lábio inferior.
— Se eu abaixar esta arma, promete não fazer nada estúpido? Estou em um grupo de mulheres armadas, qualquer estupidez e não hesitarão em atirar em você.
— Eu não quero machucar ninguém, senhorita. Perdoe-me se assim fiz parecer. — A garota alegou, passando segurança para Mina através de seu tom de voz.
— Tem onde dormir? — Mina questionou, vendo a garota negar.
— Durmo em árvores por aí.
— Me acompanhe, você dormirá em uma cama macia hoje. — Mina pediu, vendo o medo transparecer nos olhos castanhos.
— Não quero que ninguém saiba da minha existência. — Mina franziu o cenho.
— E por quê? — Perguntou curiosamente.
— Só... não quero.
— Não vamos te machucar, prometo. — Mina disse, vendo a morena franzir a boca em uma visível dúvida. — Você precisa comer algo concreto, há quanto tempo não come algo direito?
— Não sei. — A garota respondeu seriamente e Mina deu um passo lento a frente.
— Como se chama?
— Você primeiro. — A garota disse na defensiva e Mina riu.
— Certo. Me chamo Mina. — Se apresentou. — E você?
— Chaeyoung. — A garota finalmente disse seu nome.
— Então Chaeyoung, vem comigo? Você estará segura conosco. — A garota nada respondeu e Mina deu mais um passo a frente. — Do que tem medo?
— Tem... — Ela começou hesitante. — Muitas de vocês aí? — Perguntou e Mina pensou um pouco.
— Somos cinco, contando comigo. — Replicou. — Você poderá tomar um banho, comer e dormir em uma cama esta noite, não há razão para temer.
— Certo. — Ela respondeu assustada e Mina abriu um sorriso, acenando com a cabeça para a moça segui-la.
Convidar uma estranha para dentro de seu trailer seria estúpido? Não quando ela não apresenta perigo algum, mas mesmo assim Mina se perguntava o que havia dado nela para realizar tal convite.
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