CAPÍTULO 28

Dando Um Basta na Dor

Carlo chegou em casa, olhando em volta. A sensação que o trauma se apossou dele, não o deixava relaxa nunca. Trancou o carro e entrou em casa, passando a chave por dentro. Repetiu o gesto em todas as portas e janelas da casa e foi tomar um banho, para comer algo, antes de reiniciar de onde parou e acabar logo com aquele tormento.

No banho, relembrou a imagem da esposa machucada, sangrando e agarrando a filha nos braços, entre o que ainda restava das suas roupas.

Sentou-se, derrotada, no box do banheiro. Deixando suas lágrimas se misturar com a água impassível do chuveiro. Ficou assim, por um bom tempo, até que se sentiu recuperado e fechou a torneira, resoluto que precisava agir ao invés de sentir pena de si mesmo.

Bem depois, já vestido e alimentado, entrou no estúdio e juntou tudo que havia anotado, todas as cartas, envelopes e embrulhos e socou tudo na caixa de onde vieram. Olhou a carta vermelha ainda intacta e deixou-a sobre a mesa. Ainda iria ler e saber, afinal o que tinha no seu interior. Ligou para Régis, seu editor:

- Carlito! Fiquei sabendo do nascimento da sua terceira pequena! Parabéns, amigo!

- Obrigado, cara!

- E como está o livro? Sei que precisará de uns dias de folga pra curtir a recém chegada, mas sabe como é.... o prazo. Não quero que pense que estou pressionando você, mas preciso de uma data, meu amigão!

- É sobre exatamente sobre o livro que eu liguei. Precisamos conversar, com calma. Mas não quero falar por telefone. Mandarei um e-mail na sua conta pessoal, ok?

Silêncio.

- Régis? Está me ouvindo?

- Sim, sim! Claro! Eu só fiquei preocupado. Você está estranho demais e já faz um tempo. Desde que resolveu escrever este livro. Mas, está indo tudo bem, não?

- Eu mandarei um e-mail pra você, meu amigo. Realmente não ando no meu estado normal, mas é apenas a pressão e estresse. Vai passar!

- Compreendo...

- Então é isto! Eu liguei porque precisava dar uma explicação pra você de tanta demora

- Não quero que se sinta pressionado, cara! Relaxa! Precisa de umas férias!

- Exatamente isto que pretendo fazer, depois de todo este inferno acabar.

- Inferno? É sério, Carlo! Termine e vá viajar com sua família pra uma ilha paradisíaca!

- Obrigado, Régis. Você me conhece e sabe que nunca deixei você na mão. Mas, preciso de um stop.

- Claro!

- Então é isto, meu amigo. Vou lá para o estúdio. Mais uma vez, obrigado por tudo!

- Não agradeça. Se precisar é só me ligar! Até mais e boa sorte!

Carlo olhou telefone, antes de desligar. Ficou pensativo, mas determinado.

"É isto mesmo que você quer, Carlo? É sem volta, cara! " – Pensou

Respondendo ao seu próprio pensamento, subiu em direção ao estúdio e se trancou lá. Estava decidido ir até o fim, antes de colocar seu plano em prática.

Pegou a caixa que continha tudo que recebera de Thomas, deixando apenas o envelope vermelho imaculado sobre o notebook. Hesitou por um momento se deveria ou não colocar também na caixa de papelão junto com as demais. Mas, sua curiosidade de escritor não o deixava. Resolveu deixa-la lá. Abriria quando tivesse tempo e além disso, já não lhe interessava mais o que continha nela.

Saiu em direção ao quintal e depositou a caia sobre a mesa de madeira e foi até a geladeira, pegou um fardo de cerveja gelada, escolheu uma música da sua playlist especial e aumentou o volume, até que a melodia chegasse onde ele estaria.

Largou o fardo na mesa e se sentou, olhando a pit fire¹ apagada. Sorriu, imaginando que poderia acende-la e curtir a noite. Pegou uma das cervejas e sorveu o liquido gelado em um folego. A imagem da esposa sangrando não saia da cabeça.

Ao terminar a primeira, esticou o braço e pegou a segunda em seguida.

- Esta é pra você, grandíssimo filho da pu***!

Gritou, esticando o braço como se estivesse brindando algo. Neste momento o celular tocou e Carlo fingiu não ouvir. Sabia quem era e não parou de beber a segunda garrafinha:

- Sei que é você, Thom. Agora é a sua vez de me esperar! – Riu, imaginando o outro esperando ele atender

O celular cessou.

Carlo, tirou o dispositivo móvel do bolso e olhou quem poderia ter sido e confirmou suas suspeitas. Número desconhecido

Se levantou e foi até a cozinha, abrindo a geladeira. Preparou dois sanduiches e, seus olhos pousaram no vidro de mel, sobre o balcão. Foi até ele, pegou o vidro e jogou na lixeira da cozinha, saindo com o prato de sanduiches de mostarda e queijo.

Sentou, dando uma mordida e um gole generoso na bebida que já não estava tão gelada assim. O celular vibrou, tocando novamente. Carlo tirou do bolso, ligou no viva-voz:

- Fala, Thom!

- Já abriu o último envelope?

- Ainda, não. Por que?

- Ótimo! Estamos chegando no epilogo, não é mesmo? Vou deixar pra você as honras, Carlo

- Quanta generosidade!

- É a minha natureza modesta.

- Mais alguma coisa? Uma ameaça? Algum truquezinho barato na manga?

- Não. Apenas termine.

- Pode deixar, que vou terminar, sim. Mas do meu jeito

- Vou deixa-lo em paz, esta noite.

- Quanta consideração, Thomas! Era você a recepção da universidade, não é mesmo?

- Vou responder depois que você acabar de fazer o que pretende fazer, Carlo.

Carlo levantou-se rapidamente, olhando para em todas as direções.

- O que foi, Carlo? Perdeu o autocontrole? Já não se sente assim, tão seguro do que deve fazer? Faça. Vá em frente! Mas saiba que estarei sempre ao um passo a frente de você! Não importa o que faça, o que pense em fazer, para quem conversar! Eu vou saber qual a peça que devo avançar!

- Seu desgraçado! Onde você está?

- Não me procure. Não estou vigiando você. Não mais! Não estou pedindo nada demais pra você! Por que complicou tanto, imbecil? Era só ter sentado sua bunda em frente ao teclado e digitar A PORRA DO MEU LIVRO!!

- Vou acabar com você...

- Controle-se! Vá em frente! Faça o que quiser. Apenas, termine e vou desaparecer da sua vida!

- E Oliver? Ainda está vivo?

- Por que se importa com ele?

- Está ou não?

- Está, sim. Termine e darei o endereço pra você. Daí você pode salvar a vida do rapaz e ficar famoso por encontrar um jovem estudante desaparecido. Que tal? É uma boa troca, não?

- Ok! Ok! Eu aceito, seu vermezinho de merda!

Desligou.

Carlo ficou ouvindo o som do vazio do outro lado da linha. Guardou o celular, pegando mais um sanduiche, devorando-o calmamente. Ficou lá, sentando escutando música e bebendo, parando apenas quando percebeu que havia acabado com fardo e com os sanduiches.

Levantou-se, indo até o balcão que havia no quintal, onde havia uma pia e armário. Ele e a família sempre faziam lanches da tarde, fora da casa e assim, aproveitavam mais o verão. Abriu uma das gavetas e pegou o acendedor automático, indo até o pit fire. Acendeu e ficou olhando as chamas azuis. Sorriu, satisfeito.

Foi até a mesa, de onde estava e se apossou da caixa de papelão, indo em direção a lareira circular. Sentou numa das poltronas e foi jogando folha, por folha. Cada envelope, embrulho e tudo que se referia ao livro maldito. Quando mais as chamas aumentavam, mais frenético era seu gesto de jogar, até que a caixa se esvaziou. A fumaça subia alto e o cheiro de papel queimado se intensificou, fazendo-o tossir.

- Está aí seu livro, Thomas! – Ria alto

Carlo não só jogara as cartas, como todos os capítulos que havia terminado.

As chamas altas, aumentaram a temperatura quase num nível insuportável e o cheiro de queimado invadiam suas narinas, sufocando e arranhando sua garganta. Mas Carlo ria alto. Se sentindo livre.

Carlo olhava o fogo era tão forte e alto, que ele imaginava como se assemelhava ao inferno.

O inferno de Thomas...

Entrou para dentro, se jogando no sofá, sentindo os efeitos da bebida e cansaço emocional dominando-o totalmente. Apagou no mesmo momento, sem nem sentir

(1383 palavras)

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