CAPÍTULO 25
Uma Noite de Sono Eterno
Carlo teve que dar muitas explicações tanto para a polícia, quanto para seus sogros. Mesmo que no final fosse preso ou odiado por Elaine e Renato, pela vida toda. Mas, se conformava que ao menos Lauren e a pequena Anna estavam bem e fora de perigo. Seu irmão veio até ele, dizendo que nunca ouviu uma história tão estapafúrdia, já que o ela não poderia ter ligado pra ele, pois o celular estava com Paul. Depois do breve depoimento da própria Lauren e que realmente o carro dele fora encontrado próximo ao local, não tinha o que ser investigado.
No dia seguinte, Carlo estava exausto tanto físico como emocionalmente. Não tinha mais motivos ou vontade de continuar com aquilo, mas sua esposa o fez prometer em nome da segurança de todos, inclusive os pais de ambos e até de Paul, já que o facínora sabia bem onde este trabalhava.
Estava sentado em frente ao seu notebook, sem conseguir digitar uma linha sequer, mas lembrava-se do que Lauren havia lhe dito. "Faça como aquele livro..."
Olhou o envelope nas suas mãos e suspirou. Abriu o nono envelope, tirando a primeira folha:
FOLHA UM, CARTA NOVE:
" Depois de chegar cansado e com a cabeça cheia de problemas da universidade, ainda tinha que suportar aquela velha horrorosa. Entrei pela porta da frente, pois queria surpreende-la e no final das contas, eu fui surpreendido e da pior forma possível! Lá estava ela, olhando o noticiário da noite. Falavam do desaparecimento do filho de uma funcionária do tribunal judiciário Oliver Breston, estudante, jovem conhecido pela sua generosa participação no hospital infantil contra o câncer, pelo seu maravilhoso desempenho nas maratonas municipais.... Blá, blá...
Eu fiquei lá, parado.
Ela olhou para a foto de Oliver e foi virando o rosto em minha direção
- Boa noite, Thomas?
- Boa-noite, Doroty
Ela olhou a mãe de Oliver pedindo desesperadamente, para quem soubesse de algo ou tivesse alguma notícia do filho dela, que entrasse em contato com a polícia e falando de uma recompensa.
- Thomas?
Olhei para ela, sem falar nada. Acho que o tempo dela estava se esgotando. Que pena! Gostava muito do rosbife que ela preparava com esmero
- Sim, querida Doroty?
- Este jovem... é o mesmo que veio aquele dia.
- Creio que eu me lembraria dele, não é mesmo?
- Eu tenho certeza que era ele! E foi no mesmo dia que desapareceu!
- Não tenho amigos da estirpe dele, minha querida Doroty.
Ela se levantou devagar e sorriu, indecisa. Cerrei os punhos, tentando não enfiar na boca enrugada dela
Sorri de volta
- Então, não há o que esconder, não é mesmo?
- Em absoluto! O que eu poderia esconder em meu quarto, afinal?
Ela apontou para a televisão.
- Ele? Talvez?
Sorri ainda mais.
- E você quer ir até para ver se Oliver se encontra em meu quarto? Quem sabe amordaçado e machucado? Quem sabe eu seja um psicopata e tenha corpos escondidos em minha banheira?
Ela piscava os olhos, confusa com meu tom de voz suave e controlado.
- Ora, Doroty! És a senhoria! Queres ir comigo até meu quarto e verificar?
Falei, estendendo o braço em direção as escadas que davam para meu dormitório
Ela ficou um pequeno tempo me olhando no fundo dos olhos e, em uma fração de segundos, percebeu todo o mal que havia por trás dos meus, levando a mão a boca.
- Não. Eu não quero ir, obrigada, meu jovem! Eu acredito em você
- Tem certeza, Doroty? – Sorri, tocando em seu ombro de leve
Ela estremeceu ao toque, se afastando de mim, dando dois passos pra trás
- Vamos tomar um chá! Estamos tensos com tanta violência lá fora, não? Não sou um criminoso, Doroty! Não crie suposições em sua cabecinha! Que tempo eu teria para sair matando?
Ela tremia, tentando sorrir
- Sim, sim. Claro! E você é tão frágil! Como carregaria um jovem com aquele porte? Não.... Você não mataria uma mosca!
"Não tenha tanta certeza, sua bruxa"
- Viu? Eu mal consigo carregar meus livros! Você não deveria ver estes noticiários, querida! Só trazem coisas negativas e nos fazem paranoicos, não é mesmo?
-Sim...
Pegando-a pelo cotovelo, fui guiando-a até o sofá da sala, fui contando meu dia no estágio e a nova administração, que provavelmente iria diminuir as verbas.
- E como ficará seu estágio? Continuará por aqui ou tens ideia de se mudar?
- Isto só dependerá da senhora, não? Quer tomar uma xícara de chá comigo, antes de ir se deitar?
- Adoraria, se não for incomodo.
Levantei, sorrindo e indo até a cozinha. Preparei duas xícaras de chá de camomila, indo me sentar a sua frente em outra poltrona, cruzando os braços no colo e observando-a
Ela foi se sentindo mais calma e segura, pegando sua xícara de chá, dando um gole apenas, peguei a minha e fui bebendo devagar.
- Como foi seu dia, Doroty?
Ela largou a xícara em silêncio, pegando um pequeno bordado ao seu lado e me alcançando.
- Veja. Comecei hoje!
Peguei a pequena peça, ricamente bordada com meu nome nela. Olhei-a com falsa emoção
- Para mim? Doroty! É maravilhoso!
Fui até ela, abraçando-a. Suportei aquele cheiro horrível de alfazema e naftalina. Beijei seu rosto, agradecendo mais uma vez
Nem Judas beijaria melhor que eu.
Nossos olhos se cruzaram e senti ela ter um calafrio. Ela sabia que era a morte, beijando sua face enrugada
- Aaacho que vou me deitar, querido...
-Claro! Vou ajuda-la. Venha, Doroty
- Não, meu filho. Não precisa sim? Eu consigo ir sozinha. Você já jantou? Não deite sem fazer um lanchinho.
- Eu faço questão de acompanha-la. Já tomou seus remédios?
Fui ajudando-a a subir os degraus, devagar. Ela se apoiava em mim, como quem se apoia em um cacto e isto quase me fez cair na gargalhada.
Ao chegar no quarto, ajudei-a a se deitar e cobri com a colcha rendada, até seu peito. Fechei a janela, deixando apenas uma fresta, como ela gostava e trouxe em seguida um copo d'água fresca para que ela pudesse tomar durante a noite, cobri, delicadamente com o véu circular bordado, destinado para esta finalidade. Liguei a luz do abajur da cômoda ao lado oposto ao dela e fui me despedir, quando ela me chamou e disse:
- Obrigado por me tratar bem, até o último minuto.
- Não machucaria você, mesmo que desejasse
Ela sorriu e em seguida, apontou para seus remédios, pedindo que eu a desse o suficiente para dormir bem.
Olhei para ela e sorri
- Não vai doer nada
- Promete, meu filho?
Beijei sua testa demoradamente, alisando seu rosto. Levantei e preparei os comprimidos para que ela dormisse profundamente. Alcancei-os para ela, que prontamente me impediu de pegar no copo.
-Digitais. – Me disse, pegando e engolindo todos de uma vez, bebendo a água.
Sentei do lado dela, lendo um trecho na página do livro que estava marcado, até que ela adormecesse de vez. Me levantei e iniciei a minha limpeza minuciosa, recolhendo qualquer vestígio que eu estive ali dentro.
- Foi mais fácil que eu esperava, Doroty. Não acredito que você facilitou tanto minha vida. Mas, não foi nada divertido! Até pra morrer você foi estúpida! Merda!
Após tudo devidamente limpo, precisava ter uma longa conversa com Oliver sobre as últimas notícias.
Desci as escadas, rapidamente. Não sabia bem o que fazer, agora. Iam investigar, saber o que houve com ela, se foi mesmo natural...
Não poderia mais ficar com Oliver em meu quarto, pois com certeza, eles iam querer ver e fuçar os cantos como ratinhos insuportáveis! A velha não deveria ter morrido agora. Mas, eu tinha um plano B e teria de colocá-lo em prática. O livro também não seria eterno, não é? Enfim! Vamos resolver o que fazer com Oliver, agora
Cheguei lá e ele estava encolhido, na cama.
- Boa noite, Oli! É assim seu apelido, não é mesmo?
Ele não mexia um músculo sequer.
- Odeio seu silêncio! Vem cá! Vou tirar esta merda da sua boca e quero ouvir sua voz.
Tirei com todo cuidado, para não sangrar seus lábios ressequidos.
- Falta só um pedacinho aqui...só mais um pouquinho... pronto!
Trouxe água para ele, que bebeu com as mãos juntas, já que seus pulsos estavam presos pela fita. Resolvi solta-lo. Os pulsos e tornozelos
- Oliver, precisamos conversar. Sei que você poderia me enfrentar e fugir. Mas, antes que faça isto, quero conversa com você
- O que me impede de fazer exatamente isto, Thomas?
Enquanto falava, sem me encarar, alisava os pulsos e os tornozelos. Mesma bem mais magro e ferido, ainda era lindo. Eu tinha que dar a mão a palmatória. Oliver era realmente um homem muito bonito. Suas feições delicadas e ao mesmo tempo másculas. Prendiam meu olhar. Seria realmente uma pena me desfazer dele, mas necessário.
- Hum.... Nada. Só que estou com um probleminha e, terei demudar alguns planos. Espero que compreenda, Oli.
- Só meus amigos me chamam assim.
- E depois de tantas noites juntos, não sou considerado seu amigo? Isto em ofende profundamente, sabia?
- Você quer dizer tantos estupros, não?
- Vamos parar de fingir que não gostou, Oliver!
- Afinal! O que vai fazer comigo? Se for matar, mata logo!
- Quem disse que vou mata-lo, Oliver?
Como eu esperava. Ele me olhou totalmente desconcertado. Não sabia o que pensar ou como reagir. Esperava que eu explicasse.
Mas eu não o fiz. Só puxei seus cabelos, sem machucar e o beijei mesmo que ele se negasse e sentisse asco. É quando mais eu gosto.
- O que vai fazer comigo, Perdido?
- Não sei. O que eu deveria fazer com você, Oliver?
- Me soltar está fora de cogitação?
- Pra você mandar a polícia atrás de mim? Me caçar como se eu fosse um alce?
- E o que você está fazendo comigo não é bem pior? Estou sendo mantido aqui há...sei lá! Quanto tempo estou aqui?
- Que importa isto, Oliver? Se concentre no que estamos conversando!
Ele suspirou, se encolhendo todo e se deitando
- Está com fome?
Ele assentiu me olhando, agora nos olhos. Pensei em subir e pegar umas frutas, mas percebi que ele estava usando de psicologia pra cima de mim. Então, peguei a fita e prendi-o novamente, indo buscar as frutas e leite para ele.
Depois de um tempo, ele já tinha até tomado banho e vestido algo meu, se alimentado e com curativos dos ferimentos. Se sentou na cama, totalmente domesticado.
Perfeito
- O que vai fazer comigo, irá doer muito?
- Sinceramente?
Ele me olhou e as lágrimas iam descendo pelo rosto
- Por que eu?
- Porque que quero que você seja o ápice do meu livro!
- Que livro, Perdido?
- Não importa. Serás minha obra prima, Oliver
Ele baixou os olhos em silêncio e falou, sem me olhar:
- E o que você ganhará com tudo isto, vale minha vida?
- Não sei te responder. Acho que não me importo com sua vida, Oliver. Que se vale realmente a pena nessa vida? Nada! É tudo um monte de besteira! Agora, entrar pra história é ser imortal! É ser lembrado bem depois da sua carne apodrecer! Pensa bem, Oliver! Ninguém esquecerá de você, depois de tudo!
- Então no fundo, de nada valerá tanto esforço. Viver vai muito além de respirar e você, no fundo, nunca teve uma vida. És ainda só um perdido, que só respira e nada vive.
- É isto que pensa de mim? Se prova que és igual a todos os outros e não vale minha piedade.
- Quem merece e é digno de pena é você. Não eu
- Preciso tirar você daqui.
Foi só o que disse, antes de sair pra noite escura. "
(1981 palavras)
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