CAPÍTULO 16

O AMOR TAMBÉM ARDE:


Carlo acordou totalmente indisposto, nesse dia. Sua garganta arranhava e sentia-se febril, mas não queria ceder. Levantou-se, tomou um banho e abriu as janelas da casa, deixando que o sol invadisse os cômodos. Foi até a cozinha e preparou um chá e se acomodou em sua poltrona.

Olhou, sem animo para a caixa que jazia sob a mesa, entre bolas de papel, garrafinhas de água, xícara de café adormecido e seu caderno. Passou a língua pelos lábios ressequidos e dando um salto, indo lá até. Percebeu que havia um envelope dentro da caixa. Dentro dele uma folha, dobrada com esmero, como era de esperar, a letra era do assassino.

- Certo... vejamos o que nos espera, nesta manhã tranquila e pacífica, Thomas. Bom dia, pra você também! – Falou sem se importar mais em se achar louco.

Abriu e iniciou a leitura, enquanto se cobria com uma manta e bebia pequenos goles do chá reconfortante:

FOLHA DOIS, CARTA SEIS:

"Olá, meu escritor favorito? Espero que esteja gostando de tudo que estou te escrevendo, para mim, o importante é que você fique famoso! Mas vamos ao que interessa.
Naquele dia,eu estava preocupado com duas coisas; uma era Oliver estar em meus aposentos, dormindo tão profundamente, que mais parecia um cadáver. Não queria mata-lo, mas não tinha vontade alguma de me livrar dele. Ele já não reclamava em ir para a banheira, sempre que eu mandava e saia sempre que eu queria ele por perto

E tinha mais a Doroty, insuportavelmente metida!!

Mas... até quando?

Domingo chuvoso, Doroty foi com duas amigas para uma tarde de bingo. Eu tinha todo o dia para ficar com ele.

- Está com fome, Oliver?

Aquele olhar...

- OK! Vou aceitar como um sim! Vou preparar comida mexicana. Gosta de pimenta?

Oliver me tentando, tentando dizer algo inaudível.

-Nossa! Como estou distraído! Mil perdões, querido. Um momento que vou tirar a venda. Vou ser delicado, como sempre, certo? Sou delicado com você, Oliver?

Dei um puxão com violência e ele gemeu baixinho, caindo aos meus pés. Que cena mais maravilhosamente excitante!

- Deixe-me ajuda-lo a deitar na minha cama. Você se comportará, enquanto faço nosso almoço? Sim, você vai.

Falei, sorrindo pra ele. Prendi seus pulsos e beijei seus lábios ressequidos, como das outras vezes.

Quando estava cortando cebolas, tomate e outros ingredientes, lembrei-me de usar pimenta. E, veio-me a imagem da noite que fiquei com Oliver.

"Ardido como pimenta", foi o que ele me disse.

Continuei de onde parei e me concentrei nos temperos. Logo estava pronto meu chilli de carne. Limpe a cozinha e organizei tudo na bandeja. Os dois pratos, talheres e água gelada. Olhei e não estava satisfeito como resultado. Olhei em volta e peguei uma pimenta, para ornamentar a bandeja.

"Agora ficou bonito e...útil!"

Desci devagar e, lá estava ele, adorável. Seu corpo era bonito, apesar de algumas manchas roxas e amareladas e de parecer macilenta, devido a exposição a água por tanto tempo.

"Preciso resolver isto. Ele não pode morrer, ainda."

- Olivier! Acorde! Olha só o que eu trouxe, para nós dois! Fiz com esmero, então seja educado e me agradeça, sim? Vou ajudar-lo a se sentar. Um instante!

Larguei a bandeja na mesa auxiliar e fui até ele, tirar a mordaça. Olhei para ele de perto:

- Vou soltar suas mãos, mas se você tentar qualquer coisa, Oliver, qualquer coisa mesmo, eu mato você! Está me entendendo?

Ele fez que sim, rapidamente. Todos fazem a mesma coisa e isto é desgastante! Tirei as fitas que prendiam seus pulsos. Havia escaras nas duas e sorri, satisfeito.

- Acho que vamos tratar disto, Oliver.

- E você se importa? - Murmurou pra mim.

- Verdade? Não. Mas, ainda não é a sua hora, meu anjo.

- Por que, Perdido?

- THOMAS! É THOMAS, SEU VIADINHO DE MERDA!! AGORA, VENHA COMER!

-Eu gostaria de saber. Por que você está fazendo isto?

- Coma a porra da sua comida!

- Por que não me mata como as outras vítimas?

- Está se sentindo especial, não é mesmo? Está achando mesmo que eu me importo com você?

- Não, Thomas. Eu não acho isso. – Falou, tentando comer.

- Coma a droga da comida, quieto!

Ele mal tocava na comida. As feridas estavam infectadas e os belos olhos verdes já não tinham vida. Eu acho que logo, logo ele irá se desmanchar, como os outros.

Enquanto ele comia o que eu havia preparado, em silêncio, fiquei olhando cada gesto e pensando ao mesmo tempo que já estava na hora de me livrar dele, antes que a velha voltasse do maldito bingo.

"Você vai mesmo matar o rapaz, seu filho de uma pu**?" – Pensou Carlo.

Largou a leitura um pouco e foi pegar um antitérmico e um termômetro. Meia hora depois, voltava para o seu estúdio, pegou mais um envelope e a carta que havia pausado.

Se enrolou na manta e foi para a sala, deitando no sofá. Com o termômetro na axila, continuou de onde parou:

- Thomas, não estou conseguindo erguer a colher. Meu pulso doendo muito!

- Então, não coma. Simples!

- Estou com fome, Thomas...

- O que você quer que eu faça? Que lhe dê na boquinha?

Ele me olhou demoradamente, suplicando por ajuda.

- Não! Nem pense nisto! Foda-se!

Levantei de onde estava e peguei minha água, me afastando dele. Bebia devagar, olhando para na sua direção, observando-o. Era divertido magoar Oliver, muito mais que ferir fisicamente. Era claro que iria dar comida para ele. Não fazia sentido perde-lo daquele jeito. Porém, não tinha pressa alguma e, estava afim de comer tranquilamente, antes de ajudá-lo a comer.

Quando terminei meu almoço, fui realizar minha higiene, retornando em seguida, encontrando-o desacordado. Logo pensei que ele não iria resistir por mais tempo e morreria.

Seria uma lástima.

Toquei em seu ombro e o sacudi violentamente. Ele se mexeu, com um longo gemido, se contorcendo de dor. Pensei, já arrependido de ter demorado tanto. Mas que merda! Fui até o banheiro de Doroty e procurei pelos primeiros socorros dela e desci de volta. Passei pomada em suas feridas e enrolei com gaze, colando com esparadrapo. Com um algodão embebido em água morna, molhei de leve os lábios e lavei seu rosto. Dei uma injeção de antibiótico e ajeitei-o nos travesseiros, de modo que ele pudesse ficar com a cabeça inclinada.

- Oliver? Acorde, inferno! Isto não vai mais se repetir, ok?

Ele assentiu, ainda fraco.

- Agora abra a boca e coma!

Falei, enquanto aproximava a colher. Ele foi comendo devagar, sempre pedindo água e quando estava na metade do prato, agradeceu.

- Por que diabos está agradecendo ao seu algoz?

- Porque sou diferente de você.

- Se acha melhor que eu, não? Se acha o mais bonito, rico, todo trabalhado na bondade, amém?

- Tenho pena de você. Pode me cortar, pode me fazer sangrar, pode até me matar. A minha dor irá embora, Thomas. Mas e a sua?

Me levantei devagar. Tentei pensar em algo que o dizer jamais poderia esquecer. Falei, sem me virar na direção dele.

- Então, farei com que sinta vontade de morrer, Oliver.

Carlos, parou. Uma sensação terrível se apossou dele. "Não, Thomas...Não faça isso!"

- O que você vai fazer comigo, Perdido?

Me aproximei dele, devagar.

- O que você vai me fazer???

Fiz o sinal de silêncio com o dedo nos lábios e me aproximei dele. Tão perto que pude ouvir sua respiração ofegante e carregada de um pavor primitivo.

- Não!! Nãooo!! NÃO FAÇA ISTO, COMIGO!!!

Virei-o de bruços, com violência.

- POR FAVOR, THOMAS!!

- Nunca mais tenha pena de mim, entendeu?

Só ouvia os gemidos dilacerantes e as súplicas cheias de dor.
Não. Eu não queria que fosse aquela forma. Mas ele queria saber, na marra, antes de morrer, quem estava no controle.

Quem estava no controle. Eu.

Quando terminei, fui tomar um banho demorado e me arrumar. Por algum motivo, aquilo me deixou frustrado. Precisava pensar no que faria com ele, mas não hoje.

Estava irritado demais. Aquilo não foi tão divertido quanto imaginei que seria"


"Seu desgraçado... Eu espero do fundo da alma que você apodreça no inferno!!"

Carlo, olhou para a folha de carta, amassando -a.

"Não, Thomas. Não vou publicar este capítulo. Oliver não merece."

(1269 palavras)

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top