CAPÍTULO 15
PÁSSARO EM RATOEIRA
Carlo pegou o sexto envelope, abriu com cuidado e pela primeira vez, cheirou dentro dele. Um leve aroma de adocicado encheu suas narinas. "Mel? Será? " – Pensou, enquanto anotava em seu bloco inseparável.
Abriu a folha que dizia: FOLHA UM, CARTA SEIS:
"Depois de jantar com Doroty, tomamos um chá e tive o cuidado de colocar um comprimido no dela; assim eu poderia sair ou me divertir com Oliver, sem interrupções. Ainda estava enfurecido com a falha dela ter visto ele chegar.
A polícia já estava investigando e era bem provável que eles iriam me procurar, para saber do paradeiro do rapaz. Eu estive pensando o que exatamente o que dizer e é claro que usaria Doroty como álibi.
Assim que a velha apagou no sofá, ajeitei-a, cobri com a manta e desci até o meu apartamento, salivando com as mil possibilidades. Estava excitado com meus pensamentos.
Fui até o banheiro e vi que ele estava acordado. Sorri. Era assim mesmo que eu queria vê-lo. Desperto e assustado
- Olá, meu querido? Está com fome? Sede? Olha só, eu trouxe uns bolinhos de peixe e água. Você quer?
Ele assentiu, enfraquecido.
- Ótimo! Mas, com uma condição. Não pode gritar, nem espernear, nem tentar fugir, nem me atacar. Estamos combinados?
Ele me olhou de um jeito entristecido, mas não vi um fio de desespero naqueles olhos.
- Eu fiz uma pergunta!
Assentiu com a cabeça.
-Vou tirar a mordaça da sua boca, com carinho.
Tirei, devagar, para que ele sentisse um pouco da dor, mas ele não reagiu. Apenas me olhava e isto me irritou um pouco. Odeio ser contrariado!
- Posso sair da banheira, pra comer?
A voz dele estava fraca e isto me preocupou um pouco. Não queria que ele morresse por hipotermia. Não ia me perdoar nunca! Se tivesse que morrer, que fosse através das minhas mãos e com alguns requintes. Hesitei um pouco. E se ele tentasse algo? Ele era mais forte que eu
- Por favor...
Ao terminar a frase, senti que ele iria desmaiar. Dei umas batidas no rosto dele, pra reanima-lo.
- Oliver! Acorda! Oliver! Vou tira-lo daí e leva-lo para a poltrona, certo? Vai se comportar? Claro que vai!
Ajeitei –o e puxei para fora da banheira. Segurei-o pela cintura e como deu, fui levando Oliver até a poltrona e cobri seu corpo com um cobertor.
- Quer que desligue o ar?
- Por favor, Perdido.
- Meu nome não é Perdido, porra*!
- Não sei o seu nome...
-Você sabe meu nome, Oliver.
- Não sei seu nome verdadeiro...
- Não importa pra você o meu nome!
- Se vais me matar, ao menos me diga o seu nome.
Me aproximei de seu rosto e tive ímpeto de beija-lo, mas não combinava com a situação atual
- E para que quer saber?
- Pra repetir a você, como meu último suspiro...
Ele estava querendo usar de psicologia pra cima de mim, mas estava gostando do joguinho dele.
- Meu nome é Thomas. Eu acho que já disse isto.
- Sim... Thomas.... Acho que gemi seu nome, quando estávamos na cama, transando...
Ele realmente me irritou.
Dei um soco no seu nariz, espirrando sangue na parede. Na hora, eu não havia reparado. Mas, ele pediu por aquilo.
- Nunca mais! Entendeu? Nunca mais diga isto!!
Joguei uma toalha de rosto na direção dele, pra estancar o sangue.
- Por que? Vou morrer mesmo! Que diferença vai fazer para você?
- A diferença está em morrer lenta e dolorosamente ou não.
Ele baixou a cabeça, em rendição total. Ótimo assim.
- Vou servir água pra você com um canudo. Assim, irá facilitar pra você.
Ele concordou com a cabeça, sem me olhar. Pegou um copo com canudo, que bebeu rapidamente, sem tomar folego. Ele realmente estava sedento.
- Olha que ironia! Deixei você dois dias na banheira com toda aquela água e você está com sede! Ei! Devagar! Quer morrer engasgado?
- Não vou morrer igual? Que diferença faz, pra você?
- Não quero que morra. Ainda!
Fiquei segurando o copo, até que ele terminasse e larguei no chão, assim que ficou vazio. Levantei e peguei um pequeno embrulho e abri, tirando de lá, um bolinho doce. Cortei com as mãos um pedacinho e aproximei de seus lábios.
- Mastigue devagar!
Ele obedeceu, sem mostrar estar contrariado. Apenas me pediu mais água, mas eu não dei. Fui lhe dando pedacinhos pequenos de bolo.
- Vou pegar água, mas se você se mexer, eu mato você.
Ele fechou os olhos e se recostou.
Fiquei olhando para ele, sem compreender. Eu ainda não tive esta experiência de uma presa tão resignado e submissa. Elas sempre são tão barulhentas, desesperadas e fracas.
Peguei uma garrafa de água, enchi o copo e sacudi seu ombro. Ele tentou se ajeitar, mas as fitas estavam muito apertadas. Mas eu não seria idiota de solta-lo.
Depois que ele bebeu e comeu, cobri seus ombros e observei ele adormecer. Eu podia corta-lo naquele instante, mas a sujeira que ia deixar, não era nada agradável, por mais tentador que fosse. Fo quando vi o respingo de sangue na parede. Um micro ponto de sangue de Oliver! Uma ponta vermelha maculando a minha parede! Como me odiei naquele instante! Tudo culpa dele!!
Fui até ele e coloquei outra fita em sua boca, com muita força, jogando-o no chão. Chutei suas costelas e costas tantas vezes que já não sabia se ele ainda estava morto! Me ajoelhei próximo a ele e puxei-o pelos cabelos até que seu rosto retorcido de dor e molhado de lágrimas e suor estivesse perto do meu.
- Olha só o que você me fez fazer!! A minha parede suja de sangue! O seu sangue, Oliver!
Ele me encarava, como se não tivesse medo algum de mim.
- Oliver, você parece um passarinho frágil na minha ratoeira. Está com medo.
Ele me encarou, desafiadoramente.
- Eu devia mata-lo! Abrir sua barriga e arrancar suas entranhas!
Nada.
Ele estava ofegante de dor, mas seus olhos me encaravam.
Arranquei a fita com violência e joguei-o no chão de volta.
- Me dê um motivo para não o matar, agora.
-Você já me matou há muito tempo, Perdido. Pode me bater, esfolar a minha pele. Não me importo mais.
- Cala a boca! Cala esta porra de boca!
Controlei a voz. Eu não podia simplesmente berrar, ali. Eu queria muito arrasta-lo de volta para a banheira, mas estava cansado demais e precisando de um banho. Puxei ele até o aquecedor de ferro e prendi Oliver pelo pulso direito. Coloquei a mordaça e olhei para ele, beijando sua testa:
- Comporte-se, ok? Eu já volto.
Fui tomar meu banho demoradamente e escovei meus dentes. Subi, para verificar se Doroty ainda estava respirando. E, sim. Ótimo! Se um dia eu precisar, já sei o que usar nela. Desci e me aproximei de Oliver. Ele adormecera, encolhido.
- Melhor assim. Amanhã, verei o que fazer.
Fui para a cama e fiquei vigiando-o até que o sono me venceu. "
"Mas vejam só! Eu só espero que Oliver aguente firme! Que ainda esteja vivo. Que Deus permita! Espero, realmente! Porque ele poderá ser a sua única salvação, daquele desgraçado! Se é que algo como Thom ainda tenha algum tipo de salvação! "
Carlo desceu as escadas e foi para o quintal. Se sentia sufocado e emocionalmente exausto.
Chovia muito, mas mesmo assim ele decidir sair, deixando com que as águas lavassem sua alma e aplacasse o ódio que estava sentindo por um estranho.
Com o rosto virado para o céu, recebia os fortes pingos como se fossem tapas e assim ficou, por um certo tempo.
(1287 palavras)
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