CAPÍTULO 09

OLIVER

Carlo fez uma refeição rápida. Estava decidido em terminar a última carta, digitar mais páginas e sair daquele pesadelo todo. Pegou a folha e começou a ler:

FOLHA DOIS, CARTA QUARTA

"Na saída da faculdade, resolvi pegar um caminho diferente naquele dia. Entrei por um bairro que até então, não conhecia e desagradou saber que quase todas as casas tinham câmeras de segurança. Logo pensei que deveria ser um bairro perigoso com moradores desconfiados e cachorros nos quintais.

Percebi que alguns olhares me seguiam através das cortinas e fiquei muito bravo comigo mesmo por decidir entrar naquele bairro. A última coisa que desejava era chamar a atenção das pessoas para mim! Acelerei o passo, saindo por uma trilha, que daria num caminho asfaltado e beirando um lago. Logo lembrei que este caminho ia até o parque.

Segui por ali, olhando os detalhes. Não queria esquecer nenhuma pedra sequer, pois poderia me auxiliar, caso precisasse.

- Oi! Você está perdido??

Olhei na direção da voz e, um rapaz loiro me sorria. Notei pelo seu porte que era atleta ou simpatizante de exercícios físicos. Logo, vaidoso ao ponto de se exibir para alguém como eu, sem nenhum atrativo neste sentido.

- Mais ou menos, amigo. Eu acabei de sair do Cornell, na intenção de conhecer um caminho novo e.... cá estou! – Abri os braços, fingindo resignação.

Ele me olhou demoradamente e percebi que era gay.

- Poderia me ajudar? – Falei de forma inocente.

- Por que não? Qual é seu nome, perdido?

- Me chamo Thomas. Prazer – Estendi a mão.

Ele sorriu mais e apertou a minha demoradamente.

- Me chamo Oliver. Venha! Vou mostrar o caminho certo! Para onde quer ir, Thomas?

- Hum.... Algum que tenha comida! Estou faminto! - Ri discretamente, para ele não me achar enfadonho.

Caminhamos por uns quinze minutos, chegando próximo a um quiosque. Pedimos tacos e suco, sentando mais afastado que as pessoas que ali estavam.

- De onde você é, Thomas?

-Sou de Tampa- Menti.

Ele me olhou, como se soubesse que estava mentindo e isto me fez ter muita raiva dele. Tinha que pensar em alguma desculpa, caso ele me desmentisse. Mas ele nada falou. Ficou comendo seu lanche, olhando o lago. Ele sabia que eu tinha mentindo. Achei melhor contornar e falar algo.

- Ok! Eu não vim de Tampa. Sou do interior do Kansas e odeio ter que dizer isto. Infelizmente me aconselharam a não falar porque o pessoal daqui poderia ter algum tipo de preconceito e....

- Ei! Respira, Thom! - Me interrompeu. - Eu não teria nenhum tipo de preconceito. Não eu! Relaxa, ok?

Ficamos conversando sobre a universidade, sobre meu estágio e meu sonho de ser um biólogo famoso. Por sua vez, ele confidenciou a vontade de ir para a Itália, me convidando para visita-lo, caso eu realmente fosse para a Europa.

- Quer ir no cinema comigo, hoje à noite? – Falou, de repente.

Me peguei dizendo sim. Ele era agradável e poderia ser uma porta de entrada pra mim, quando eu fosse embora. Eu não tinha nenhuma experiência homossexual até aquele momento, mas não me era desagradável a ideia de tentar. Caso me sentisse desconfortável, acabava com ele, simples!

Nos despedimos, após ele me explicar que tinha um ponto de táxi logo alguns metros dali e me deu seu telefone, beijando meu rosto.

Ao chegar em casa, me masturbei no chuveiro. Isto criou um ódio cego por Oliver e decidi acabar com aquilo, na próxima vez que nos encontrássemos. Deitei, pensando em como poderia me aproveitar da situação, sem machuca-lo muito. Levantei da cama e disquei para o número dele.

- Oliver? Estava dormindo?

- Quem é? Thomas? É você?

- Como assim quem é? Nos falamos hoje!

- Bobo! Eu sabia que era você! –Riu.-Estava assistindo tv.

Fiquei roendo as unhas. Era a primeira vez que não sabia bem o que dizer.

- Thomas? Está aí?

- Estou, sim. É que eu não sei bem o que dizer. Você foi a primeira pessoa mais perto de ser um amigo que eu conheci.

- Quer vir aqui, agora?

Não esperava aquele convite. Não podia aceitar. Ainda era cedo demais. Ainda não.

- Eu acho que é cedo demais para dar este passo...

- Sem pressão!

- Isto aí! – Ri nervoso.

- Independente de qualquer coisa, considere-me um amigo. Se desejar, claro!

- Eu já o tenho como amigo.

- Então, que acha de almoçar comigo neste domingo? Ainda tens quatro dias para se decidir, sem nenhuma pressão!

Rimos juntos. A risada dele era perfeita.

- Está bem! Obrigado, Oliver

- Não me agradeça, Thom. Repito, independente da sua decisão, me ligue. Promete?

- Prometo. Agora, vou dormir. Preciso acordar cedo, amanhã.

- Durma bem, meu amigo. Estarei torcendo por você, no exame.

Ele lembrou! Eu falei de forma descompromissada e ele não esqueceu! Um ponto a seu favor, Oliver! Me despedi dele e fui dormir, como nunca havia dormido antes. Seria triste mata-lo, mas não posso me envolver com ninguém.

Por conta dos exames, não tive nem tempo de me divertir. Então, não fique zangado se esta folha terminar tão insalubre. Prometo compensar nas próximas, meu escritor predileto"


Carlo terminou se consolando que ninguém tinha morrido nas mãos daquele psicopata. Pelo menos naquele dia.

Levantou da rede, indo tomar uma ducha e prosseguir com mais alguns capítulos. Ficou pensando se Thomas iria matar Oliver e se aquele era realmente seu nome verdadeiro.

"Preciso fazer algumas anotações! " – Pensou, tirando sua bermuda e entrando debaixo do chuveiro.

Passou o resto do dia, fazendo anotações valiosas num bloco sobre detalhes que "Thom" ia lhe oferecendo.

" Vou usar sua mesma arma contra você, seu bastardo!"

Naquela mesma noite, fez uma ligação para Otaviano, seu empresário.

[- E como vai o meu escritor favorito? ]

A voz gutural do outro lado, tão conhecida de Carlo, estava mais baixa que o habitual

[- Otaviano! Como estás? Olha só, estou bem adiantado com mais uns três ou quatro capítulos e logo já terei terminado e mandarei pra você, assim que avaliar o final. Não entre em desespero! Combinado?]

[- Mais que perfeito. E em que pé está a história?]

[- Digamos que no ápice! Preciso que tenha um pouco mais de paciência e lhe darei uma joia rara.]

[- Combinado, então! Agora, vá descansar essa cabecinha valiosa, ok? Boa noite!]

Desligou, antes que Carlo pudesse se despedir. Mas como era de costume, Carlo não se importou. Desligou, subiu até o estúdio e estava se preparando para preparar mais quatro dos dez capítulos, quando ouviu o telefone da parte térrea da casa. Só podia ser sua esposa. Carlo pegou a extensão ali mesmo e atendeu. A última coisa que desejava era a casa de praia cheia. Respirou fundo, na tentativa de controlar a ansiedade.

[- Oi, amor? Eu estava agorinha mesmo falando com Otaviano. Ele está me cobrando o livro. Espero que entenda os motivos de não ter ligado ainda.]

[- Tudo bem, querido. Eu sei bem como funciona. Eu soube que seu irmão esteve por aí. Ele me ligou de um motel, dizendo que teve aí e até comeram hambúrguer com queijo e eu quero saber o porquê de Paul ter ido aí. Não foi para fazer um almoço. O que ele aprontou desta vez?]

[- Ele só veio me pedir alguns conselhos, fazer o jantar e foi embora.]

Não estava com disposição para discutir sobre seu irmão, com sua esposa.

[- Você sabe muito bem que ele é sinônimo de confusão. Você foi para a casa de praia se isolar e escrever e não servir de babá do irmão!]

[- Pelo amor de Deus, Lauren! É sério que estamos tendo uma conversa a essa hora? Ele já foi, ok?]

[- Eu só acho injusto você ficar longe da sua família, para poder escrever e seu irmão usufruir da sua presença, da sua casa, do seu carro e da sua comida!]

[- Vou fingir que não ouvi esta merda toda! Boa noite, amor. Diga para as crianças que deixei um beijo pra cada uma e que estou com saudades. Te amo e até amanhã!]

[- Não ouse desligar, Carlo!]

[- Também te amo, querida! Beijo!]

Desligou, sem largar o fone da mão. Apertava com tanta força que os nós da mão saltavam da pele.

" Tem horas que dá vontade de ser um dos personagens de meus livros! "

Assim que acabou de pensar isto, se arrependeu, indo para o jardim, até que se sentisse calmo e equilibrado, outra vez.

"Que loucura, Carlo. Não deixe que estes pensamentos tomem vida própria! "

- Quantos envelopes mais terei de ler ainda, Meu Deus? Quando tudo isto vai acabar, realmente? – Pensou em voz alta, sentindo o peso daquilo tudo.

Fechou a casa, apagou as luzes e foi dormir, sem ter sonho algum, naquela noite.

(1474 palavras)

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