Falando no diabo

CAPÍTULO QUINZE

"Você está horrível."

♡♡

"É, bem, você pode culpar seu gerente de equipe por isso."

Embora nada tenha mudado muito em Jumadeong nos últimos dias, para Kim Chae-yeong parecia que algo estava errado. Ela não tinha ideia da causa, mas sua intuição lhe dizia que algo estava prestes a acontecer. Algo grande.

Parecia que toda a organização estava lentamente se preparando para aquele algo. Os ceifadores que ela encontrou nos corredores estavam mais tensos do que o normal. Até o ar parecia diferente.

Kim Chae-yeong tinha certeza de que as coisas estavam prestes a mudar. A única questão era quando isso aconteceria.

◇◇

A primeira coisa que Chae-yeong notou foi o comportamento estranho de Jun-woong. Desde aquele dia em que ela pegou Jun-woong saindo da estufa da Diretora parecendo todo preocupado, seu comportamento mudou.

Ele era mais reservado com Chae-yeong. Evitava chegar muito perto dela. No começo, ela pensou que era por causa do incidente que aconteceu entre eles. Chae-yeong pensou que ele se sentiu ofendido por ela ter ido embora daquele jeito sem nenhuma explicação. Mas depois de perguntar sobre isso, Jun-woong garantiu à mulher que não guarda rancor.

"Você não tem nada com que se preocupar, Srta. Kim, está tudo bem. Todos nós temos nossos momentos."

Chae-yeong ficou confusa, mas não o questionou mais. Embora parecesse estranho. A maneira como ele disse isso, suas ações. Todos esses detalhes confundiram tanto sua mente que tudo o que Chae-yeong tinha a fazer era deixar assim.

Agora a única coisa que ficou sem solução foi sua discussão com Joong-gil. E por algumas razões Chae-yeong suspeitou que não seria tão tranquilo quanto foi com Jun-woong.

◇◇

E ela estava certa.

O dia todo Chae-yeong não teve a chance de falar com o ceifador. Sempre que tinha um tempo livre, Joong-gil estava em algum lugar coletando almas. E quando estava livre, Chae-yeong tinha uma carga de trabalho a fazer.

Ela não perdeu os olhares passageiros que o ceifador lhe enviava sempre que tinham a chance de estar na mesma sala, fazendo seus trabalhos respeitosos. Mas sempre que Chae-yeong pretendia se aproximar do Gerente da Equipe de Escolta, ele de alguma forma desaparecia de sua linha de visão, fazendo com que a mulher respirasse irritada todas as vezes.

Sim, Kim Chae-yeong não estava muito a fim da atmosfera aqui em Jumadeong ultimamente. E só piorou.

◇◇

Já era tarde, mas no vocabulário de Kim Chae-yeong tal palavra não existia. Portanto, ela estava sentada no sofá no escritório da Diretora, fazendo o que faz de melhor.

Lendo relatórios e gerenciando a papelada.

A própria Diretora estava em sua mesa, fazendo Deus sabe o que quando Chae-yeong sentiu uma sensação estranha. Ela estava dentro dela há um tempo. Pensando bem, estava lá desde que a mulher sentiu a mudança repentina em Jumadeong.

Como se essa sensação fosse um aviso.

E apenas alguns minutos depois, Kim Chae-yeong descobriu sobre o que a sensação dentro dela a estava alertando.

A assistente nem conseguiu perceber quando Park Joong-gil invadiu o escritório da Diretora. Ela estava tão absorta no relatório que estava lendo que só o notou quando ele falou.

"Eu vim perguntar sobre a coisa que você sabe, e eu não sei." Chae-yeong levantou a cabeça. Ela primeiro olhou para as costas do ceifador, então seus olhos caíram sobre a Diretora.

Isso não era bom.

Chae-yeong reconheceu o tom de Joong-gil. Ele não pedia respostas. Ele exigia respostas.

Por um momento, a morena apenas ouviu o que Joong-gil tinha a dizer. Ela ficou surpresa com o quanto ele havia descoberto. Ele sabia até sobre Koo Ryeon e o fato de que ela se matou em sua vida anterior. Cada revelação levava Joong-gil cada vez mais perto de suas respostas.

Um pouco mais de ignorância da Diretora e ele descobriria tudo sozinho. Sem a ajuda dela ou da Diretora.

"Se você não pode me responder, solte o cadeado do meu Livro dos Mortos."

A cabeça de Chae-yeong se levantou instantaneamente.

Então, foi assim que ele descobriu sobre o fato de que ela sabia seu segredo. Se ele foi procurar a resposta nos arquivos onde todos os livros estavam, o ceifador que trabalhava lá deve ter dito a ele que os únicos que podem acessar seu Livro dos Mortos são ela e a Diretora.

Merda.

Deveria ter avisado aquele ceifador para ficar de boca fechada. Mas, por outro lado, como Chae-yeong poderia saber que Joong-gil iria bisbilhotar os arquivos? Nem mesmo Chae-yeong vai lá.

O lugar a assusta. Lembra um pouco o Inferno.

Um barulho alto tirou a mulher de seus pensamentos. Ela olhou para cima. A Imperatriz de Jade fechou a pasta que estava lendo e agora estava olhando para o ceifador diante dela.

A cada minuto, Chae-yeong notava que a Diretora estava ficando cada vez mais cansada da importunação constante.

"Eu fiz uma promessa a alguém." Ela olhou para Joong-gil, mas então baixou os olhos. "Ele pediu que você nunca tivesse permissão para ver sua vida passada."

"O que você prometeu e para quem enquanto usava a vida de outra pessoa?" Chae-yeong tinha uma suspeita de que a Diretora não diria mais nada. Que ela deixaria assim. "Foi com Koo Ryeon?"

A mulher sentada atrás de sua mesa olhou para sua assistente. Se a Diretora escolher ficar em silêncio, Chae-yeong terminará o que começou.

Kim Chae-yeong notou o olhar que a Diretora estava dando a ela. Parecia terrivelmente como não ouse dizer mais nada. Mas a morena estava cansada disso.

"Foi com você."

Ela se levantou do sofá onde estava sentada o tempo todo. Joong-gil se virou e olhou para Chae-yeong como se só agora tivesse notado que ela estava na sala (o que provavelmente ele percebeu, a julgar pelo fato de quão rápido ele invadiu o escritório).

"Você pediu a Diretora para afastá-lo da verdade se chegasse um momento em que você quisesse saber mais tarde." Chae-yeong continuou, sem tirar os olhos de Joong-gil. "Você prometeu o Voto dos Ceifadores a ela. Você pediu a ela para fazer você esquecer suas memórias."

Joong-gil virou a cabeça em direção à mulher mais velha antes de olhar de volta para Chae-yeong.

"Então você me diz." Ele deu um passo mais perto dela. Por algum motivo, quando ele estava falando com ela, toda a raiva parecia desaparecer. "Se ela não pode me dizer, você faz."

Oh, se ao menos isso fosse tão fácil.

"Ela não pode."

Joong-gil estava agora a apenas um passo de Chae-yeong, quando a voz da Diretora o fez parar. "Ela também prometeu o Voto dos Ceifadores para mim que ela não lhe contaria nada."

Chae-yeong só esperava que ele pudesse ver em seu rosto o quanto ela estava arrependida. Porque ela realmente estava.

Agora, Chae-yeong desejava mais do que tudo poder contar a Joong-gil tudo o que ele queria saber. Ela queria acabar com seu sofrimento. Por algum motivo, Kim Chae-yeong sentiu o quão infeliz Joong-gil estava. Ela sentiu sua confusão e frustração, e doía que ela não pudesse fazer nada para impedir isso.

Assim como Chae-yeong suspeitou que essa nova informação não aliviou a sede de Joong-gil por respostas, logo depois, ele saiu furioso. Deixando a mulher parada ali.

E então veio a raiva.

Ela virou a cabeça para ver que a Diretora já estava olhando para ela. Expressão ilegível em seu rosto. Chae-yeong não sabia se estava com raiva por contar tudo isso para Joong-gil ou não, mas, francamente, Chae-yeong não se importava. Ela estava cansada dos segredos.

Sem dizer nada, a mulher saiu do escritório esperando conseguir pegar Joong-gil e ter uma conversa adequada com ele.

Só quando chegou ao salão principal, Chae-yeong desejou não ter feito isso. Ela conseguiu correr bem a tempo de testemunhar Joong-gil socando um dos ceifadores enquanto o segurava. Ao olhar ao redor, a mulher viu os outros dois ceifadores já caídos no chão.

Não importa o quanto ela quisesse, Chae-yeong não conseguia tirar nada dos lábios, ela apenas observou como Joong-gil socava o terceiro ceifador até que ele não se mexesse mais. Ele se levantou e olhou ao redor quando seus olhos pararam em Chae-yeong. Parada no meio do corredor.

Nenhuma palavra foi dita. Havia apenas olhares. Olhares que expressavam muito mais do que palavras poderiam fazer. Chae-yeong sabia que Joong-gil estava com raiva. Ela podia sentir isso. Se ao menos houvesse uma maneira de fazê-lo acreditar que não havia nada que ela pudesse fazer.

Mas parecia que essa informação não chegou a Joong-gil, ou talvez sua mente não quisesse aceitá-la. Sem poupar outro olhar em seu caminho, Park Joong-gil se virou e foi embora. Deixando a mulher parada no meio do corredor com uma dor no peito que parecia ficar ainda mais forte quanto mais tempo ela ficava ali.

E mais uma vez o puxão familiar em seu pulso retornou. A corda vermelha ficando mais forte do que nunca, maior o espaço entre eles ficava.

◇◇

Chae-yeong estava em seu escritório sentada na cadeira e olhando para Seul. Ela tinha um copo de uísque em uma mão, a outra estava apoiada no braço da cadeira.

Ela estava certa quando sentiu que as coisas em Jumadeong estavam começando a mudar. Não é como era antes. Longe disso.

Mas agora, não há nada que ela possa fazer além de observar como as coisas se desenrolam. Uma vez que a árvore foi cortada, não há como voltar atrás, mas observar como ela cai. Se ela vai cair onde deveria cair ou esmagar algo em seu caminho, isso é o destino que decide. Eles não têm nada a dizer sobre isso.

Os pensamentos de Chae-yeong foram interrompidos por seu telefone. Ao ouvir o som, a mulher soube instantaneamente qual era o problema.

"Não tenho tempo para lidar com isso."

No entanto, ela virou a cadeira e pegou o telefone de qualquer maneira.

Veja, esse barulho específico veio de um aplicativo no telefone de Chae-yeong. Depois da última vez que Koo Ryeon quebrou a regra que proibia os ceifadores de usar seus poderes na frente de pessoas vivas, a Diretora pediu à Equipe de Tecnologia para fazer um aplicativo para Chae-yeong que alertaria quando um ceifador estivesse usando seus poderes na frente das almas vivas.

Chae-yeong não ficou nem um pouco surpresa quando pegou o telefone e a foto familiar da ceifadora de cabelo rosa a encarou. A mulher levantou uma sobrancelha enquanto tomava um gole de uísque, os olhos grudados no telefone.

Quando terminou, Kim Chae-yeong suspirou. Então ela se levantou, vestiu o blazer e saiu do escritório.

"Koo Ryeon, você vai ser a minha morte."

Kim Chae-yeong se teletransportou para o lugar onde ela supôs que encontraria a gerente da equipe GR, mas o que ela não esperava era encontrar Joong-gil lá. Ela observou do lado de fora como Joong-gil usou a Garantia de Responsabilidade do Ceifador, proibindo Ryeon de salvar a garota que ela deveria salvar.

O que mais surpreendeu Chae-yeong foi que ela não conseguiu se forçar a fazer nada. Ela apenas ficou lá e observou como Joong-gil desfez o feitiço e o carro atingiu a jovem. Bem, tecnicamente, não havia nada que Chae-yeong pudesse fazer. Era a Garantia de Responsabilidade do Ceifador. Isso estava fora de suas mãos. Nem mesmo a Diretora poderia se envolver se quisesse.

Mas ela poderia ter impedido Joong-gil de interferir. Então por que ela não fez isso?

Uma parte dela pensou que talvez fosse porque no fundo Chae-yeong compartilhava a opinião de Joong-gil sobre a Equipe GR e não conseguia deixar de concordar com ele. Mas então uma voz dentro dela falou.

É Park Joong-gil falando ou você?

Poderia realmente ser que Chae-yeong se tornou tão infiltrada com o homem que agora compartilha todas as opiniões dele? Mesmo que não seja a certa.

Enquanto Chae-yeong lutava com seus pensamentos, Joong-gil foi embora, deixando Ryeon lá sozinha. Logo apareceram Jun-woong e Lim Ryung-Gu. Chae-yeong ficou surpresa com sua própria ação quando decidiu poupar Koo Ryeon. A mulher de cabelo rosa já tinha o suficiente para fazer agora e Chae-yeong suspeitou que sua bronca só pioraria as coisas.

Ah, se ao menos Kim Chae-yeong tivesse feito o que devia e levado Koo Ryeon com ela. Ela teria se poupado de muitos problemas.

◇◇

A assistente apareceu no escritório da Equipe de Gerenciamento de Riscos e encontrou Choi Jun-woong e Lim Ryung-Gu já lá. Jun-woong falou primeiro.

"Sra. Kim, você está horrível."

"É, bem, você pode culpar sua Gerente de Equipe por isso."

Ambos os homens estremeceram com o comentário de Chae-yeong. Era verdade, Chae-yeong parecia horrível, por horas a mulher estava tentando caçar Koo Ryeon, mas sem sorte. Ela tentou de tudo, perguntou a todos que podia. Mas era como um beco sem saída.

A mulher suspirou e puxou uma cadeira de baixo da mesa e sentou-se com um grunhido pesado.

"Vocês dois têm que fazer alguma coisa." Chae-yeong olhou para os dois homens com uma expressão séria, embora eles pudessem ver uma ponta de preocupação em seus olhos. "Koo Ryeon já quebrou uma regra. Não tenho certeza, mas há um boato circulando sobre prisão."

"É verdade." Ryung-Gu assentiu com a cabeça.

Chae-yeong estremeceu. "Quão horrível eu sou quando ceifadores como você sabem informações tão importantes antes de mim." Ela então acrescentou instantaneamente. "Sem ofensa."

"Eu já tentei pará-la." Ryung-Gu ignorou o comentário de Chae-yeong e olhou para Jun-woong e depois para Chae-yeong. "Eu não sou páreo para ela. Eu nem sei se há alguém que possa pará-la."

"O quê?" Chae-yeong ergueu as sobrancelhas para a exclamação de Jun-woong. "E a Srta. Kim Chae-yeong é apenas um espaço em branco?"

A mulher imediatamente entendeu o que Jun-woong estava tentando dizer.

"Eu gostaria muito de ser um espaço em branco agora, Sr. Choi." A mulher murmurou, mas então ela acrescentou. "No entanto, obrigada por ter tantas expectativas sobre mim."

Ela soltou um suspiro pesado.

"É verdade, se há uma pessoa que pode encontrar Koo Ryeon, sou eu. Embora eu já tenha gasto muita força, então vocês terão que esperar." Chae-yeong se levantou e olhou para os dois homens. "Enquanto isso, vocês devem fazer tudo que estiver ao seu alcance para procurá-la. Quando fizerem isso, me procurem imediatamente." Ela apontou um dedo enluvado para os dois.

"Entendido?"

Ao receber acenos deles, Chae-yeong soltou outro suspiro.

"Bem, então, boa sorte."

E com isso ela se foi.

◇◇

Kim Chae-yeong estava a caminho de seu escritório. Ela estava no andar superior do salão principal quando as portas de entrada foram abertas de repente, e um grupo de ceifadores entrou valsando como se fossem donos do lugar.

Chae-yeong conhecia essas pessoas muito bem. No momento em que seu líder caminhou para frente, o sangue da mulher gelou em suas veias e ela não conseguiu se forçar a se mover.

Ha Dae-Su. O único e exclusivo líder do Inferno.

A última vez que Chae-yeong o viu cara a cara foi no dia em que a Diretora levou Chae-yeong para Jumadeong. Assim como foi ontem, ela se lembrou de quão insatisfeito Dae-Su estava por ela estar indo embora. Kim Chae-yeong era seu ceifador favorito. O Dia do Julgamento. Única.

Chae-yeong tinha quase certeza de que Ha Dae-Su não estava ali por ela, embora não pudesse deixar de deixar uma ponta de dúvida se infiltrar dentro dela. A Diretora teria contado a ela, certo? Foi por causa daquela informação que ela contou a Joong-gil? Chae-yeong teve que admitir, ultimamente ela começou a desobedecer um pouco às ordens da Imperatriz de Jade.

Mas poderia ser esse realmente o motivo para mandá-la de volta para o Inferno?

A mulher balançou a cabeça, tentando tirar os pensamentos obsessivos de sua mente. Ele não estava ali por ela. Ela está segura.

Mas então por que ele estava ali?

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