𝔔𝔲𝔞𝔱𝔯𝔬 - 𝔄𝔪𝔦𝔤𝔬, 𝔢𝔲 𝔢𝔰𝔮𝔲𝔢𝔠𝔦 𝔡𝔢 𝔡𝔦𝔷𝔢𝔯 𝔮𝔲𝔢 𝔱𝔢 𝔞𝔪𝔬.
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Os pés tocaram o chão duro, mantendo-se firme, passou o olhar a sua volta atento e notou o aglomerado de pessoas em torno de uma casa. As risadas e a música alta indicavam a festa que acontecia do outro lado da rua. Havia conseguido.
— É aqui? — Eru manteve a atenção fixa na diversidade que aquele lugar apresentava, seus olhos focaram em todos os tipos diferentes de vida, os cabelos variados entre tons claros, escuros e até mesmo coloridos. A pele que mudava entre cada um, os formatos dos corpos que nunca eram o mesmo, reparou em cada diferença que aquele reino trazia consigo.
Todos possuíam tantas diferenças, então qual seria o motivo para não aceitarem uns aos outros? Era o forte questionamento que criava em sua mente.
— Sim... — Nathanael respondeu em um sussurro, sentia a garganta fechar ao focar na figura de Brendan com os amigos, sentado em frente à casa, gargalhando. Seus olhos tornaram-se pesados e as lágrimas grossas contornaram seus globos, contudo recusava-se a deixar que escorressem por seu rosto.
— E onde você está?
Passou o olhar pelo local, mirando no carro preto que se aproximava da casa, era ele.
— Logo ali! — Apontou em direção ao veículo.
— Escute bem o que eu direi! Não deixe que o seu eu do passado encontre com o seu eu do futuro, isso poderia desencadear problemas ainda maiores para nós e não queremos isso!
— Então o que iremos fazer? — Perguntou ansioso, seus olhos mantinham-se fixos nas figuras masculinas, observando ele próprio se juntar aos amigos. Uma sensação estranha tomou seu interior, como se a euforia o contemplasse por estar diante daqueles três.
— Me diga qual era o horário que aconteceu o acidente!
— Eram uma e meia, estávamos voltando para a casa. Eu dirigia quando um caminhão veio em alta velocidade na nossa direção e acertou o carro em cheio. — Comentou com os flashes da noite em sua cabeça.
Eru segurou o pulso de Nathan, o erguendo na altura de seus olhos para verificar o horário no relógio que este usava.
— Não podemos deixar eles irem embora até que chegue a manhã, eu já volto, não saia daqui de jeito nenhum! — O olhar voraz lançado na direção de Nathanael o fez engolir em seco, meneando a cabeça em concordância.
Atento observou a criatura se afastar lentamente, passando por entre as pessoas distribuindo sorrisos amistosos. Ele parou ao lado do carro, analisando a sua volta. Eru abaixou o corpo e ergueu a palma da mão tornando a nascer as garras novamente por seus dedos e as cravou contra os pneus que se esvaziaram em segundos. Levantou-se naturalmente e retornou para o lado de Nathan com um sorriso animado e triunfante entre os lábios.
— Agora nos resta esperar! — Eru falou agitado, sentando-se no chão gélido e puxou o braço do outro para que ficasse ao seu lado. Escondidos em meio aos outros carros.
Ambos observaram quando os quatro saíram de dentro da casa prestes a entrarem no carro, mas ao ver os pneus furados Nathanael pode sentir a própria frustração estampada em seu rosto a metros de distância.
— Não se preocupe com isso! — Eru tocou seu ombro levemente. — É natural que sinta o mesmo que ele, afinal é você que está bem ali. É a ligação que sempre terá com o seu eu do passado, ele tem uma parte significante dentro de você para que te molde para o seu eu do futuro e a decisão é somente sua de escolher o que quer para o seu amanhã.
Virou o rosto para o demônio, surpreso, contudo palavras não foram proferidas – porque naquele momento Nathan não conseguia visualizar um futuro em sua vida e se questionava se de fato queria ter um. Ninguém, além de Celine – que agora estava morta – perguntou o que ele queria para o seu futuro. Sentia-se insignificante ao ponto de não imaginar uma perspectiva onde realizaria seus sonhos e encontraria a sua felicidade.
— O que eles estão falando? — Perguntou curioso, analisando Gael mexer as mãos freneticamente.
— Eu vou escutar! — As orelhas tomaram formas pontiagudas, Eru virou o rosto para tentar ouvi-los. — Estão falando algo sobre chamar um guincho, o que é isso? — Perguntou curioso. — Mas o rapaz de cabelos claros disse que ele só vai aparecer de manhã — referiu-se a Lorenzo que mantinha uma careta em sua fisionomia — estão decidindo ficar na casa até o amanhecer! Isso é ótimo!
Nathanael sentiu o alívio preencher seu peito, como se um peso deixasse suas costas. Apoiou a cabeça nas mãos e fechou os olhos por segundos, inspirando fortemente. Pela primeira vez em dias sentiu-se em paz.
— O que aconteceu com o motorista do caminhão? — Virou-se para Eru que parecia perdido em pensamentos.
— Eu não sei, talvez atinja outro veículo. — Deu de ombros e a mera ideia da possibilidade de aquilo acontecer embrulhou o estômago de Nathan.
Retirou o celular do bolso, sentiu o olhar fixo do demônio em suas ações e discou os números de emergência, escutando a voz feminina ressoar.
— Tem um homem dirigindo em alta velocidade perto da Browson, ele parece estar bêbado quase atingiu o meu carro! — Com a voz firme passava todas as instruções para a mulher do outro lado.
— Obrigada, mandaremos uma viatura o quanto antes. — A ligação caiu e sentiu a necessidade de saber o que aconteceria.
— Por que fez isso? — A voz de Eru despertou seus pensamentos.
— Não quero que ninguém se machuque por minha causa. — Evidenciou, temeroso. Não queria cogitar a ideia de ferir outra pessoa que não teria qualquer relação com seus atos.
— Nós não podemos mudar o que está predestinado a acontecer. — O demônio arqueou a sobrancelha, curioso.
— Mas, nós mudamos e isso poderia acontecer com outra família... — Eru o olhou interessado, talvez Nathanael fosse diferente dos outros escolhidos. Podia sentir algo especial emanando do rapaz.
Ele observou os amigos adentrarem a casa, restando apenas aguardar. O relógio apontou às uma e meia, esperava que aquela sensação pesada sumisse. A dor latente em seu braço esquerdo fez Nathan se curvar, sentiu os ossos estalando e a pele esticando, comprimiu os lábios tentando evitar gritar. Seus dedos prenderam-se em seu pulso e seus lábios morderam violentamente a gola da blusa engolindo a voz que clamava para sair em um berro agonizante.
— O que é isso? — Perguntou estridente, fitando as esferas castanhas.
— A prova de que nosso plano funcionou! — Eru falou afobado, levantando-se alegre.
— O que? — A confusão nos olhos cristalinos fez o demônio rir.
— Seu braço! Você adquiriu essa cicatriz após o acidente e agora ela não está mais aí! — A empolgação fez Nathanael abaixar o olhar para o ferimento do braço que simplesmente havia desaparecido e levando toda a dor consigo.
— Então quer dizer que deu certo? — Piscou atônito, o sorriso cresceu em sua face preenchendo-o com a euforia que aquela informação lhe trazia. Brendan agora estava vivo.
— Sim! Deu certo! Quer dizer que agora poderemos encontrar Amis e trazer a garota de volta! — Eru falava de forma rápida, enquanto Nathan tentava processar aquelas informações.
Em um movimento inesperado ele abraçou Eru, a felicidade crescia dentro de si. O demônio sentiu o corpo tencionar, surpreso, pelo carinho. Esticou os braços correspondendo ao gesto amável e desfrutando daquele pequeno momento de tranquilidade.
A noite passava em uma lentidão pesarosa, ambos cansados e suas vistas piscavam durante prolongados segundos para que não adormecesse, não poderiam se dar ao luxo de descansar – não naquele instante. Os primeiros feixes de luz refletiram em seus rostos, incomodando suas pupilas e dando lugar ao dia que amanhecia despertando o crepúsculo. O céu tornou-se claro, a coloração violeta mesclava com o azul completamente límpido de nuvens e o sol passou a brilhar intensamente por entre as cabeças dos dois.
O guincho chegou, levando o carro e os garotos consigo.
— Precisamos segui-los para ter certeza que tudo está certo! — Eru puxou os braços de Nathanael.
— Mas... Como? Eles são mais rápidos do que nós! — Exclamou preocupado, enquanto observava o veículo se afastar cada vez mais.
As mãos de Eru tornaram-se douradas e por entre seus dedos uma poeira amarelada saiu para frente dos dois, erguendo uma porta na mesma coloração.
— Vamos! — Exclamou.
Ultrapassaram a madeira, Nathan mantinha o olhar atento tentando entender o que estava acontecendo, novas portas se firmavam para eles e conforme adentravam por elas reparou na figura do automóvel ao seu lado. Estavam acompanhando o carro por cada porta traçada.
Finalmente o veículo parou em frente à casa de Brendan, deixando-o sozinho.
— Me certificarei para saber se você e seus amigos chegaram bem em suas casas — em um movimento rápido com os dedos de Eru, telões se formaram em frente aos olhos de Nathan, refletindo o caminho realizado por ele, deixando Gael e Lorenzo e por fim chegando na sua casa, a sensação avassaladora de solidão lhe atingiu ao ver as enormes grades de ferro que circulavam a residência e que sumiram com o estalar de Eru.
Após ter certeza de que todos estavam bem, Eru colocou as mãos no bolso da mochila que retirou através de um dos portais e pegou um pequeno frasco coberto por um pó brilhante, colocando-a em suas costas. Nathan fechou os olhos instintivamente ao sentir o sopro contra o rosto, tossindo algumas vezes tentando tirar o excesso de seus olhos com as mãos.
— Isso ajudará para que ninguém nos veja! — Eru murmurou e virou o frasco sobre sua cabeça deixando o restante da purpurina cair por seus cachos.
O crepitar de dedos levaram-nos para dentro da casa, os móveis perfeitamente alinhados com o quadro dos três moradores espalhados pelas paredes cinzas, a estante preta destacava os objetos de cada conquista realizada pelos gêmeos durante o período acadêmico e o sofá bordô – onde conseguia visualizar claramente sua figura e a de Celine sorrindo durante uma tarde de filmes – além do barulho alto vindo da televisão ligada. O cômodo estava completamente vazio, sem ninguém. Focou os olhos na tela, no qual mostrava a reportagem, sentiu seu coração bater forte contra o peito ao ler a matéria tratada.
"Homem é preso após dirigir caminhão alcoolizado, felizmente não tendo vítimas. "
Seu olhar fixou na foto da pessoa, reconhecendo-o instantaneamente, como um fleche passando pela sua cabeça. Era o homem que havia batido no carro dele.
— Onde está Celine, tia? — A voz de Brendan ecoou pela sala, aparecendo a silhueta masculina que mantinha a toalha em torno de seus ombros e secava os cabelos castanhos.
— Ela foi dormir na casa de algumas amigas, só retornará após o fim de semana! Me pediu para avisá-lo. — Brendan arqueou a sobrancelha.
— Isso é verdade? — Nathanael sussurrou baixo encarando Eru, sentiu a cotovelada em sua barriga fazendo-o comprimir os lábios e curvar levemente o corpo.
— Estamos invisíveis, mas isso não impede eles de nos escutarem! — Ralhou.
— Eu vou no mercado querido, qualquer coisa só me ligar! — Margo saiu pela porta, enquanto Brendan retornou para o quarto, deixando-os sozinhos.
— Celine não está aqui! Ela não reside mais nesse reino, mas isso é o que teria acontecido caso o acidente não viesse a ocorrer, por isso, eles pensam que ela está com as amigas. — Justificou, podendo notar a compreensão se firmar no olhar de Nathan.
— O que vamos fazer?
— Vamos falar com o seu amigo e ir atrás de Amis! Agora vá! — o empurrão de Eru fez ele cair para frente se desequilibrando. Ao erguer o corpo, seu olhar encontrou com o do amigo que o encarava confuso.
— Você não tinha ido para casa? Isso tudo é saudade? — Brendan o questionou divertido, mas sua fisionomia mudou ao notar o olhar triste do amigo. Nathanael sentiu a garganta arder e os olhos inundaram em lágrimas. — Está tudo bem Nate? — Em um movimento rápido ele envolveu Brendan em um forte abraço, agarrando-o contra si, precisava daquilo para ter certeza de que seus olhos não lhe traiam e que sua mente não abandonou sua sanidade transformando aquele momento em uma ilusão.
Os braços de Brendan o apertaram contra o próprio corpo, confuso.
— Eu não acredito que você esteja realmente aqui... — Sussurrou baixo.
— E onde mais eu estaria? — Brendan perguntou brincalhão.
Nathanael afastou-se brevemente, passou as mãos pelo rosto molhado, sorrindo verdadeiramente após todos aqueles dias. O sorriso rasgava sua face e suas pupilas irradiavam em completa alegria ao ver – Brendan Levy – vivo, salvo e sorridente como todos os dias, exalando luz por seu caminho.
— Eu odeio ter que interromper a emoção do momento, mas estamos ficando sem tempo! — A voz de Eru assustou Brendan que deu um passo para trás trombando na mesa.
— Como entrou aqui? E de onde você saiu? — O rapaz perguntou alarmado, colocando-se na frente de Nathan com a mão erguida em modo de defesa.
— Eu sei que isso é confuso, mas você precisa vir conosco, só assim conseguiremos trazer Celine de volta! — A voz esganiçada do melhor amigo fez Brendan encará-lo, preocupado, ao escutar a menção do nome da irmã.
— O que tem Celine?
— Eu te contarei no caminho, agora por favor, confie em mim! — Nathan pediu.
Brendan levou as mãos ao cabelo atordoado, respirando fundo e meneou a cabeça em concordância. Se era para proteger a irmã faria de tudo.
— Ótimo! Agora precisamos encontrar Amis, deixe isso comigo! — Eru falou animado.
O demônio fechou as mãos em punhos diante do corpo, abrindo-as à sua frente, linhas saíram por entre suas palmas contornando o chão e começaram a tomar formas. Foi possível distinguir as figuras que erguerem-se do piso amadeirado virando prédios e casas, montando a cidade inteira diante de seus olhos – ficaram diante da maquete de todo o local onde moravam. Brendan observava aquilo assustado, mantendo-se o mais afastado possível enquanto Nathanael sentia a ansiedade correr por suas veias.
— Ali está ele! — Eru falou empolgado, ao ver a figura masculina do mestre. — Onde é esse lugar? Precisamos chegar até lá!
Nathan ergueu os olhos para Brendan que analisava o local.
— É a Unreal, um bar famoso, mas por que o seu mestre estaria lá? — Brendan encarou o garoto perplexo.
— Deve ter algo naquele lugar que nos ajude a voltar para casa. — Eru murmurou, levou as mãos ao queixo, pensando — você já foi lá? — Perguntou, virando-se para Nathanael.
— Uma vez, fui com Celine. — O olhar do demônio se arregalou, mas nada disse.
— Faça igual da última vez, materialize ele e nos leve para lá, mas dessa vez apenas segure o colar entre os dedos, não o gire — Nathan balançou a cabeça em concordância e segurou o pingente. — Segure o braço dele! — Brendan fez o que foi mandado e apertou firme o pulso do amigo.
O nervosismo tomou todo o corpo do rapaz que se sentia nervoso caso não trouxesse Celine de volta.
— Nós iremos conseguir Nate! — A voz sussurrada de Brendan fez ele fitar os olhos verdes do amigo que lhe encorajava.
Um pequeno sorriso tomou seus lábios, antes dele fechar os olhos e as imagens de Unreal tomarem sua mente. Sentindo novamente o corpo ser jogado na infinidade daquela realidade.
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