𝔒𝔫𝔷𝔢 - ℭ𝔬𝔪𝔬 𝔬 𝔗𝔢𝔪𝔭𝔬 𝔡𝔢𝔦𝔵𝔬𝔲 𝔡𝔢 𝔰𝔢𝔯 𝔦𝔪𝔬𝔯𝔱𝔞𝔩.

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A guerra entre os reinos estava travada, de um lado Galahad tentava conter os ataques direcionados para Tellus, pelo reino de Flos enquanto os outros buscavam unirem-se para com a soberana Fleury que estava cega pela fúria de descobrir o destino trágico de seu único filho e primogênito. Do outro estava Amis, tinha passado por todos os testes essenciais para se tornar o sucessor do Tempo.

Suas mãos estavam transpirando, e sentia o corpo frio com o nervosismo que lhe consumia a cada entranha. Estava atrasado, estupidamente atrasado e perguntava-se onde estava o responsável para levá-lo a Vitam e poder ajudar naquele conflito que perdurou por meses.

Suspirou esfregando o rosto, abatido, não dormia por muitas noites criando e recriando universos que poderiam dar um fim para a batalha sem que muitos sofressem. Escutou um chiado e o barulho de passos rentes ao porcelanato da torre de Aeon. Seu soberano havia deixado em sua responsabilidade cuidar do local para que não houvesse mais uma invasão sem propósito.

A figura feminina tomou sua visão ao cruzar a porta de ouro, a personificação da morte estava diante de si com uma expressão de escárnio e fúria. Ele deu um passo para trás sentindo seu quadril bater contra a mesa de mármore e o sorriso da sacerdotisa aumentar.

— Vim buscá-lo. — Sentenciou, sua voz transmitia ferocidade, as asas negras estavam evidentes em suas costas e os cabelos negros flamejavam com a falta de paciência da deusa. — Você não me escutou? — Rosnou, as janelas tremeram ao seu redor.

— Eu não irei com você! — Amis proferiu intimidado, não tinha recebido notificação a respeito de que a soberana do reino da morte o buscaria e não daria o braço a torcer para saber se ela falava a verdade ou não.

De seus braços o brilho alaranjado se tornou esplêndido, as figuras douradas contornaram os braços do possuidor projetando a barreira entre ele e a sacerdotisa. Morrígan arqueou a sobrancelha, rindo.

— Você acha mesmo que isso irá me impedir de levá-lo? — Zombou — eu sou a soberana das Almas Perdidas há anos, antes mesmo de você cogitar a hipótese de se tornar algo para nós. — Debochou, seus olhos negros tomaram o tom avermelhado, escorrendo lágrimas de sangue por sua face. As asas balançavam com firmeza e um chiado agudo despontou na audição do rapaz que tentou não se curvar com a dor latente que sentiu ao tomá-lo.

Os corvos adentraram o salão aprisionando Amis em um círculo, um passo para fora os animais lhe atacaram sem qualquer resquício de piedade.

— Eu te levarei nem que para isso tenha que morrer e ser ressuscitado por Galahad. — Declarou a sacerdotisa voraz.

— Tente. — O possuidor rebateu recebendo a atenção dela para si.

A ventania o acertou, e a poeira cegou momentaneamente sua vista. As sombras contornaram o chão aproximando-se do rapaz que inspirou fundo tentando manter o controle e focar nas sensações ao seu redor de maneira que pudesse captar a movimentação dela.

As garras cravaram em seu pescoço, fechando-o em seu contorno, o nevoeiro tomou seus olhos e como um solavanco seu corpo foi atirado no meio das trevas junto com o de Morrígan.

Amis levou a mão com dificuldade pelo aperto forte em sua garganta, tocando o centro de seu coração e redirecionando os ponteiros do relógio de forma que fosse para trás. A atmosfera repuxou ambos os corpos e o grito enfurecido de Morrígan gritando para que ele parasse reverberou por toda a vastidão das sombras.

A luminosidade tomou sua visão, os jogando contra a imensidão que dava lugar para a completa insignificância. Não havia vida, ou qualquer rastro de vivência naquele local, estavam apenas os dois impelidos no Vazio de Quenvi.

— Eu não acredito que você fez isso! — Ela berrou, ecoando sua voz repetidamente por seus ouvidos. — Qual o seu problema? — Inquiriu, aproximando-se com irritação do possuidor.

— Eu não iria para Damnato com você! — Argumentou, tão bravo quanto a sacerdotisa.

— Não estávamos indo para lá! — Sua mão rasgou o rosto — você é um mimado. — Proferiu com furor — eu disse para Galahad que não deveria ser eu a buscar um parasita como você! Aeon sempre será um Senhor do Tempo melhor do que você possa vir a pensar e se tornar! — Gritou com intensidade, demonstrando toda a sua irritação por estar com ele.

Amis se calou.

O gosto amargo que sentiu, afundou seu estômago, aquelas palavras atingiram ele com veracidade ao escutar a opinião da protetora e ver o quão frívolo poderia ser para os outros possuidores e guardiões. Não foi como se ele de fato quisesse tomar o lugar de seu mestre, mas era inevitável que a mudança viesse a ocorrer. De acordo com Aeon, aquela transição acabaria apenas quando o Senhor do Tempo absoluto aparecesse e nem mesmo Amis tinha certeza de que dessa vez ele era o escolhido.

Comprimiu os lábios, para evitar suspirar e demonstrar toda a sua fraqueza diante daquelas palavras. Com o olhar desviado começou a andar por entre o vazio tateando o ambiente em busca de algo que pudesse ajudá-lo a sair.

— O que você está fazendo? — Questionou Morrígan, sua voz parecia mais suave, mas aquela pequena observação o deixou desconfiado.

— Procurando um jeito de sairmos, não aguento ficar mais um segundo ao seu lado. — Falou com desprezo.

— Acha mesmo que vamos escapar no meio dessa escuridão?

— Não me diga que está com medo, não foi você que me consumiu com as suas trevas, use isso a nosso favor. — Debochou, ignorando-a sempre quando ela tentava se aproximar.

Fazia horas que estava procurando algo, mas o nada parecia querer abraçá-lo desanimando Amis de suas tentativas falhas de encontrar uma saída. Seus dons não pareciam funcionar, como os de Morrígan estavam na mesma situação.

O mesmo aconteceu no dia seguinte e no próximo, estavam presos e perdidos naquele infinito de sombras, sua vista acostumou-se com o escuro captando apenas o flamejar dos cabelos da deusa sentada a metros de si. Amis recostou a cabeça na parede, fechando os olhos, sua barriga começava a dar sinais de sua fome contorcendo por dentro.

Estava exausto de continuar ali, queria saber o que se passava pelos reinos e acima de tudo como estava a guerra. Precisava estar ao lado de Aeon e Galahad. O silêncio era perturbador, ainda mais quando nenhum dos dois habitantes ousava proferir uma palavra para com o outro. O único som audível era de suas respirações.

Uma baixa risada se fez presente entre o escuro, despertando Amis no mesmo segundo que se levantou atento.

— Você escutou isso? — Sussurrou para Morrígan.

— Sim. — Sua voz parecia aflita, ele buscou com o olhar estreitando a vista a fim de encontrar a localização de onde tinha vindo tal som.

Sentiu o corpo esbarrar ao seu e virou-se bruscamente, encontrando a sacerdotisa que tinha temor em seu olhar. Ao tocar seu braço, percebeu o quão fria ela estava, rapidamente retirou o sobretudo que trajava vestindo-a e aquecendo com suas mãos.

— Você está gelada, porque não me disse. — Falou temeroso. Os olhos dela ergueram-se aos seus, disparando seu coração. Amis afastou-se de súbito, voltando a atenção para a estranheza daquele lugar. — Precisamos sair daqui. — Decidiu, segurando as mãos da possuidora, arrastando ela consigo.

Estavam andando em círculos, Amis sentia seus pés clamarem para que parasse, porém recusava a ceder. Precisavam dele e não desistiria facilmente. Levantou uma das mãos, tentando emanar o brilho dourado para que pudesse enxergar melhor o ambiente, contudo nada aconteceu.

— Droga! — Praguejou.

— Deixe-me te ajudar. — Morrígan tocou a mão dele entrelaçando ambos os dedos e indicando para a imensidão do vazio. — Use toda sua força para que seu dom te guie. — Sussurrou baixo, ela fechou os olhos, instaurando a energia que emanava de si para Amis.

Um feixe incandescente despontou das suas mãos, dominando todo o local, o romper de luzes iluminou o vazio que deixava a escuridão ficando em branco. A figura de uma menina estava ao longe, escorada na parede, observando-os com um riso zombeteiro.

— Parece que finalmente aprenderam a trabalhar em equipe. — A voz aguda reverberou, aproximando-se lentamente dos dois. Seus cabelos eram curtos na tonalidade preta, seus olhos vermelhos cercados de profundas olheiras com dentes pontiagudos e a pele extremamente pálida. — Estava começando a duvidar que eram mesmo possuidores pela demora de acharem uma maneira de ligarem as luzes.

A menina gargalhou ao ver a expressão de confusão no semblante dos dois, as sombras dançavam em seus braços acalentando-os.

— Vocês só poderão sair daqui, após suas sinceridades despertarem dentro de si. — Anunciou — só assim a pedra de Funesta aparecerá para guiá-los para o lugar onde deveriam estar. — Um sorriso pomposo tomou seus lábios — comecem. — Enunciou, sumindo novamente em meio a escuridão.

O local continuou na coloração clara, permitindo que ambos se vissem, Amis estava receoso. Sobre que sinceridade ele deveria falar?

Morrígan não se encontrava diferente, ela pouco deu atenção para o rapaz a sua frente, como se Amis não estivesse ali.

— Precisamos fazer isso juntos Morrígan. — Declarou, sentando-se no chão esperando que ela se juntasse a ele, contudo a sacerdotisa continuou petrificada em seu lugar.

Ele olhou para as mãos, o que seria mais um dia preso naquele lugar, pelo menos não estava mais na completa escuridão. Mas, aqueles tons totalmente brancos lhe eram incômodos, relembrando de sua antiga moradia no qual ficou preso durante anos trancafiado dentro do quarto porque a mãe o considerava louco.

Foi o primeiro momento que seus dons resolveram se manifestar, porém diante da mais velha que não recebeu aquilo de bom agrado, ficou trancafiado no quarto à prova de sons e se não fosse por Aeon duvidava que conseguiria sair de lá ainda mais com vida.

Apoiou o queixo na mão, repensando sobre todos aqueles anos de treinamento, não se considerava aceitável e muito menos digno para receber tal cargo tão importante como o de controlar o próprio tempo.

— Você tinha razão, sabe. — Começou recebendo a concentração da sacerdotisa — talvez eu seja mesmo um parasita. — Confidenciou com certo nó em sua garganta. — Por que um miserável como eu mereço ser o Senhor do Tempo? — Questionou, seus olhos fitaram os escurecidos dela que pareciam brilhar.

— Isso não é verdade. — Ela afirmou, negando com a cabeça — você é o escolhido de Aeon. — Ele gargalhou, levando as mãos aos olhos tirando resquícios de lágrimas.

— Você está entrando em contradição, minha deusa. — Falou em tom zombeteiro, recebendo um revirar de olhos.

— Eu apenas estava com raiva quando disse aquilo, não leve a sério. — Morrígan caminhou para perto dele, sentando-se em sua frente. Analisando-o. — Me desculpe se eu fui rude com você. — Ele franziu o cenho, surpreso por tal pedido. — Essa guerra, não deveria estar acontecendo e precisei ir buscá-lo porque Galahad precisa colocar Tellus em exílio, mas não estava nos meus planos, eu tinha de estar com o meu povo e não ir até você. — Explicou incerta, a frustração ficou nítida em seu olhar ao mesmo tempo que a preocupação da falta de informações tomava sua fisionomia.

— Eu entendo. — Amis falou, não sentia mais aquela raiva pela sacerdotisa, pois sabia como era ter aquela inquietação e se auto questionar, temendo pela vida de outros que dependiam da sua ordem e decisão. — Peço perdão também, pela minha hostilidade. — Morrígan sorriu, concordando.

— Acho que começamos errado, mas podemos mudar isso. — Manifestou-se, levantou e estendeu a mão para Amis. — Nunca se deixe abalar pelas palavras de outrem, apenas você pode definir o que é e o que quer vir a ser, não permita que ninguém imponha nada sobre você. — Relutante, ele segurou a mão dela, erguendo seu corpo ficando a centímetros da deusa.

— O mesmo vale para você, Mor. — Sorriu ladino, escutando a risada dela ao pronunciar o apelido com divertimento.

— Amigos? — Perguntou curiosa.

— Amigos. — Ambos apertaram as mãos, selando um novo recomeço, mas não imaginaram que o destino os guiaria para outro caminho para além daquela amizade.

O brilho lilás tomou suas visões e a pedra surgiu em meio ao chão, Amis abaixou-se pegando tal objeto que estava preso a um cordão.

— Ela os mostrará a saída, e não esqueçam, a sinceridade de seus corações te mostrarão a sua verdadeira razão, impedindo o medo de guiá-los para a escuridão. — A voz ressoou pelo vazio, ecoando cada vez mais distante dos dois que seguiam a claridade em direção a saída.

A barreira luminosa ficou diante deles, Amis segurou a mão de Morrígan e sem receio do que lhes esperava do outro lado ultrapassaram de volta para os reinos que aguardavam o retorno de ambos para uma nova era que estava prestes a se iniciar com aquele simples encontro. E por mais desastroso que viesse a ter sido no início desencadearia todas as próximas ações das futuras gerações que estavam predestinadas a irem de encontro com seu futuro.

A guerra chegou ao seu fim com a morte do primogênito de Fleury, levando os reinos ao período de luto. No qual todos foram direcionados para Damnato ficando hospedados durante o tempo de quinze dias até que fossem realizadas todas as preparações para a partida de um dos futuros possuidores.

O que resultou no acúmulo de tarefas para a soberana de Damnato, Morrígan sentia-se exausta a cada novo serviço e com o tanto de hóspedes que precisou alojar em seu reino. As horas pareciam segundos e o dia passava tão rapidamente que não possuía sequer algum minuto de descanso.

Amis observava ao longe a figura feminina subir e descer as escadas do enorme salão, conversando e resolvendo as leis que deveriam ser preparadas para o enterro do corpo de Fagundes. Reparou nas olheiras que se formaram logo abaixo em sua pele, ou na forma como o humor da deusa mudava a cada dia enquanto tinha que escutar os diversos palpites de como deveria governar. Ele queria ajudá-la, mas não sabia se ela aceitaria de bom agrado.

Então, decidiu que com pequenos gestos ajudaria aos poucos a sacerdotisa a resolver seus diversos problemas sem que esta percebesse, o tempo parecia agora passar lentamente. O dia durava mais do que a noite e as pessoas pareciam não se lembrar do que estavam prestes a falar como se em segundos ficassem congeladas a ponto de que pequenas lembranças se perdessem em meio aos pensamentos.

Sorria ao ver Morrígan parecer mais leve e principalmente quando a via sorrindo, parecia refletir instantaneamente em seus lábios. Ao retornarem do Vazio de Quenvi após passarem tantos dias presos a soberana começou a ser mais gentil com o escolhido até mesmo aconselhando Amis nos momentos em que via o rapaz repleto de dúvidas e incertezas.

Morrígan não sabia, mas estava sendo o porto que iluminava a escuridão em alto mar e que o futuro possuidor criou com o medo de fracassar.

Ele estava encostado ao batente da porta esperando vê-la como todos os dias, mas isso não aconteceu o que causou certo estranhamento nele. Até escutar a tosse baixa ao seu lado e virar-se assustado.

— Perdeu alguma coisa aqui? — a voz feminina ressoou e ele conteve um sorriso ao ver Morrígan.

— Estou apenas entediado. — Ela arqueou a sobrancelha e sorriu.

— Venha, vou te mostrar um lugar que poucos conhecem de Damnato. — A sacerdotisa segurou a mão de Amis e puxou ele, os guiando em meio a floresta.

O barulho de água aumentava, mas ainda pareciam distantes, quando sentiu os braços dela envolverem sua cintura e as asas erguerem-se levantando-os em meio ao breu da noite. Amis buscou não olhar para baixo, ao observar o enorme precipício, engolindo em seco.

— Não me diga que tem medo de altura, reloginho. — Morrígan zombou sorrindo, mas este sumiu ao ver o pavor no olhar dele. — Não precisa entrar em pânico, nós já estamos chegando e eu te seguro se algo acontecer. — Sussurrou as últimas palavras próximas a orelha de Amis que sentiu seu coração acelerar.

Seus olhares estavam firmes um no outro, as respirações próximas e os lábios cada vez mais pertos. Contudo, Amis sentiu seus pés tocarem o chão e ao virar-se seu olhar contemplou a cascata que reluzia em meio ao breu com suas águas cristalinas. Cogitou aproximar-se e tocar o líquido, mas foi impedido pelas mãos de Morrígan.

— Não deve beber da água de Zuko. — Informou a possuidora, criando confusão nas íris castanhas dele — se fizer isso terá que dar algo em troca e ficará para sempre no reino das Almas Perdidas.

— Por que me trouxe até aqui? — questionou confuso, prendeu a respiração ao ver a deusa se aproximar dele, praticamente o prendendo entre as rochas ao sentir as costas colidirem contra algo gélido.

— Você achou mesmo que eu não perceberia tudo o que fez para me ajudar durante esses dias difíceis, achei que você era mais inteligente que isso Amis. — Murmurou inclinando o rosto em direção ao dele que mordeu os lábios e sorriu com culpa.

— Me desculpe, eu só queria ajudar.

— E você ajudou e muito, mas sabe que não pode fazer isso — constatou fitando-o com intensidade recebendo o franzir de cenho dele em completa confusão, Amis estava prestes a responder quando sentiu o dedo da sacerdotisa pousar sobre seus lábios. — Eu sei que aquele que controla o tempo não tem ninguém ao lado na pedra da afeição, então por que você está fazendo com que eu me apaixone por você? — Amis ergueu os olhos, surpreso.

Morrígan não deu tempo para que ele respondesse, aproximou seus lábios e beijou o escolhido, como uma dança suave seus corpos uniram-se em perfeita combinação, Amis levou as mãos de encontro a cintura da sacerdotisa puxando ela para mais perto de si e correspondendo intensamente aquele sentimento que vinha crescendo em seu peito.

As respirações se misturaram em uma só e os sorrisos alargaram-se ao se separarem minimamente por alguns segundos. Amis entrelaçou seus dedos segurando a mão dela e inspirou fortemente erguendo o olhar para ela.

— Eu não sei no que isso pode resultar, mas não quero que acabe.

— Talvez exista um jeito de ficarmos juntos. — Morrígan proferiu, criando esperança no coração dos dois.

Conforme os dias passavam seus nomes continuavam sozinhos e a frustração apenas crescia, Galahad deixou claro a respeito das regras de que o tempo não estava destinado a ter um amor em sua vida, mas para Amis aquilo não fazia sentido.

Foi quando ele decidiu intervir em seu próprio destino, o maior erro que poderia ter cometido, ao retornar ao passado e tentar impedir Aeon de levá-lo como seu escolhido. Utilizando de sua graça para modificar a sua vida, contudo, ele não pensou que aquilo interferiria em sua própria existência sendo amaldiçoado por tentar burlar as próprias leis e então os seus dias de vida passaram a ser contados e quanto mais tempo demorava para encontrar o seu sucessor mais cedo chegaria a sua morte.

Quando retornou para Vitam sentia-se fraco, seus dons não eram mais os mesmos, tentou esconder de todos, porém ela descobriu. Morrígan ficou furiosa com a imprudência de Amis, Galahad foi até o oráculo para tentar buscar uma maneira de reverter a situação, mas era tarde demais para o senhor do tempo apenas com o sucessor ele poderia ter uma nova chance.

O possuidor nunca entendeu quando Morrígan se afastou dele, a culpa pesou em seu coração ao pensar que poderia tê-la magoado e no fim, o amor que ele tanto lutou para poder ter ao seu lado ao ponto de perder sua imortalidade virou-lhe as costas sem ao menos se despedir. Mas uma coisa era certa, a deusa ficaria eternizada em todo o seu ser.

Amis fechou o livro, enquanto Nathanael mantinha o olhar fixo nele. Algo dentro do rapaz queimava com a revelação dos sentimentos do homem à sua frente pela protetora que havia levado Mabel.

Aquilo mudava tudo.

— Agora você sabe a verdade Nathan, a minha verdade e o porquê de você ter que se tornar quem é, eu usei de todos meus dons para ficar com Morrígan e no segundo que retornei para Tellus e ocultei a minha localização para Aeon isso interferiu no destino de muitas pessoas, afinal não podemos ficar sem alguém que controle o tempo. Agora o que me resta é aceitar que meu legado está ao fim e passá-lo para você. — Manifestou, aproximando-se do rapaz. — Precisamos ir para a Ponte de Vitral, o quanto antes, não podemos mais perder nosso tempo aqui. — Declamou.

Nathanael levantou-se seguindo o possuidor para fora, ficando em completo silêncio e retornaram para a sala principal encontrando os outros. Despediram-se de Grannus e os guardiões, com breves abraços e um até breve no qual anunciavam seu possível retorno para a cidade. Ele podia ter muito a perder, mas se fracasse sabia que Amis poderia nunca mais retornar a vida.

Voltaram para a sua trajetória, regressando para a ponte de Vitral, onde Durk aguardava a chegada deles.

Amis abriu o portal, retirando a esfera do sopro de Mervin, estendendo-a para o guardião que a segurou entre suas mãos, analisando minuciosamente o objeto abrindo um amistoso sorriso.

— Vocês cumpriram sua missão, agora dou a passagem para a Caverna de Glord, mas fiquem atentos lá é onde habitam os seus maiores medos. — Expôs sumindo pela neblina, abrindo o caminho de pedras para o outro lado.

Ao fundo era possível ver as árvores ressecadas, cobertas por espinhos permitindo a entrada para o breu da caverna. Os gritos de agonia se tornaram audíveis a cada passo dado em direção à escuridão.

O pavor evidenciava-se entre o peito de Nathan que apertava a cada ação, não sabia se estava preparado para enfrentar aquela imensidão em meio ao véu da noite que despontava. O tempo na caverna era diferente de qualquer outro Reino e os sussurros de perturbação os chamavam para adentrar em sua tenebrosidade.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

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