𝔒𝔦𝔱𝔬 - 𝔄𝔭𝔯𝔢𝔫𝔡𝔞 𝔠𝔬𝔪 𝔬𝔰 𝔰𝔢𝔲𝔰 𝔢𝔯𝔯𝔬𝔰, 𝔭𝔞𝔯𝔞 𝔫𝔞̃𝔬 𝔯𝔢𝔭𝔢𝔱𝔦-𝔩𝔬𝔰.
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Nathanal mantinha o olhar fixo em Brendan, enquanto observava o melhor amigo sorrir para Carin e Eru, os três andavam mais a frente e pareciam conversar, como se nada acontecesse. Amis se manteve um pouco atrás perto do escolhido, analisando se Fleury não daria um jeito de impedi-los de ir embora.
A mente de Nathan parecia um furacão, sentia-se sufocado e confuso, inseguro a respeito de que toda aquela loucura pudesse dar certo e sua maior preocupação era fracassar, assim como havia feito com a família.
Passou a se questionar a respeito dos últimos acontecimentos, ele havia se tornado sucessor do tempo e descoberto que suas escolhas poderiam interferir na vida de todos ao seu redor a ponto de matá-las. Sua cabeça latejava com a mera ideia de que talvez, só minimamente, poderia ter relação na morte do pai e na insanidade de sua mãe.
Talvez, devesse ter continuado a morar naquele enorme casarão sozinho, sem se permitir conhecer novas pessoas, sem que pudesse amar alguém sabendo que no fim acabaria machucando aqueles que estivessem próximos de si.
Por mais que não estivesse mais atrás das grades de sua casa, elas permaneciam firmes em seus sentimentos, trancafiando sua coragem e despertando os seus medos. A insegurança de seguir em frente barrava seus passos e crescimento.
Seus olhos ardiam em meios as lágrimas que segurava, e seu coração parecia pesar cada vez mais ao imaginar o que aconteceria se não chegasse até Celine, desviou novamente a atenção para Brendan, perguntando se o rapaz também o odiaria como a irmã e a mera ideia fez seu peito doer.
Sentiu a mão tocar seu ombro e fitou Amis que apenas apertou levemente em conforto.
— Não se preocupe, nós chegaremos até ela. — O jovem engoliu em seco e concordou, virando para frente, por um instante lembrou-se do que Avalon proferiu a respeito de não querer intervir nas escolhas do oráculo. Voltou-se para Amis, precisava começar a ter respostas do protetor.
— O que Avalon quis dizer com oráculo? — Perguntou Nathan, após Amis pronuncia para todos que não estavam sendo seguidos pelos moradores de Flos.
Encontravam-se na floresta de Marden, indo para a próxima cidade onde iriam se recolher em algum aposento para descansarem e partirem para Damnato. Amis precisava analisar o mapa com cuidado e procurar o melhor caminho sem que ninguém os prejudicasse ou atrasasse seus planos.
Quanto mais demoravam menos tempo possuía para ensinar Nathanael do seu real propósito de ter recebido o amuleto, o colar que o rapaz mantinha fixo em seu pescoço.
Eru trocou um olhar significativo com o mestre que meneou a cabeça em afirmação.
— O oráculo é a nossa profeta, quem tudo sabe, Melione é uma senhora muito sábia. Ela quem nos disse sobre o sucessor de Amis e que este estaria em Tellus, por isso, fomos até você. — Eru concluiu sentindo o olhar confuso do jovem.
— Tellus? — Nathanael perguntou perplexo.
— Sim, é o reino onde você e Brendan moram, os humanos não sabem da existência dos seres mágicos graças a Galahad o governante do seu mundo. Diferente de nós, vocês nasceram sem dons, há algumas exceções como no seu caso, mas quem explicará isso é Amis. — Eru falou direcionando o olhar para frente. — A questão é, que por não possuírem magia acabam se tornando mais frágeis aos ataques, por isso Galahad criou o domo para impedir que os outros reinos interajam com Tellus e só poderemos fazê-lo caso ele permita a nossa entrada.
— O que raramente acontece. — Amis proferiu — Galad é muito cuidadoso.
— Ele sabe o que Morrígan fez? — Nathan indagou.
— Sim, ele sabe, por isso precisamos chegar até Damnato. Por mais que Galahad seja calmo, ele odeia que interfiram em seu legado.
— Provavelmente ele também deve estar a caminho de Damnato. — Eru complementou.
— O que acontece com Celine se ela continuar lá? — Brendan questionou, estava curioso para saber mais a respeito e ter noção do que sua irmã enfrentaria.
— A alma dela nunca mais retornará, ela se tornará alguém fadado a viver nas sombras, há dois caminhos para se tornar a soberana das Almas Perdidas. Um deles é permitir que a escuridão governe dentro de si e o outro aprender a viver entre a luz e as trevas. — Amis murmurou, avistando a cidade próxima. — Para Morrígan existe apenas a escuridão, se Celine beber do cálice da morte perderá qualquer resquício da pessoa que um dia foi.
Ele virou-se para Carin que parou.
— Verifique à nossa volta, veja se há algum perigo. — Ordenou, o corpo da garota se curvou rasgando suas costas ao meio revelando as enormes asas, sua pele começou a descascar dando lugar para o dragão. Sua boca deu formato para o focinho, alargando com os dentes afiados que romperam seu rosto e as garras apareceram perfurando seus dedos.
Suas patas apoiaram-se no chão erguendo aos céus para sobrevoar pela cidade, em meio às nuvens seu corpo mudou a coloração igualando ao azul do céu, escondendo-se das vistas de curiosos.
Estavam em Meminisse, o Reino dos Lembrados.
Carin rugiu despertando a atenção deles.
— Está tudo bem, vamos. — Amis declarou, seguindo a trilha para a cidade. Ele não queria chamar atenção.
Seus dedos soltaram uma névoa branca intercalando entre eles o que mudou suas vestimentas e aparência. Suas orelhas agora estavam pontiagudas como dos outros moradores, os olhos completamente brancos sem coloração alguma, engolindo suas pupilas. Mantendo os tons de suas túnicas neutros variando entre o bege e branco. A pele adquiriu uma textura leve, como se sumisse com o simples toque, pareciam estar envoltos de fumaça e que a qualquer sopro fariam eles desaparecerem em meio às árvores.
— Como você fez isso? — Brendan arregalou os olhos espantado ao ver Nathanael com os cabelos mais longos caídos por seus ombros e loiro, o que para ele era extremamente estranho.
— Precisamos ficar parecidos com eles, ou saberão que não somos daqui e não quero interrupções em minha viagem. — Amis disse firme.
Carin se juntou a eles, parando em frente à estalagem.
Ao adentrarem foram recepcionados por um senhor cujos cabelos brancos estavam presos no topo de sua cabeça, os olhos brancos analisaram eles cuidadosamente. Estava atrás do balcão segurando uma prancheta em mãos, no crachá pendurado na camiseta branca estava o nome Dimen, ao lado possuía um rádio repercutindo música pelo local que estava bem iluminado, coberto por luzes.
O olhar de Nathan recaiu nas crianças que corriam pelos corredores, desaparecendo em meio a névoa acinzentada e aparecendo segundos depois do lado oposto.
— Em que posso ajudá-los? — A voz aveludada o despertou.
— Queremos três aposentos, por favor. — Amis sorriu, erguendo o saco com moedas pratas e estendendo-o para o homem à sua frente.
— Um momento. — Proferiu, sumindo da vista deles engolido pela névoa, segundos depois o senhor apareceu segurando as chaves em mãos. — Aqui há o suficiente para uma noite.
— É o bastante, obrigado. — Ele acenou com a cabeça voltando sua atenção para o jornal que agora tinha em mãos.
Eles se afastaram, Nathanael sabia que o lugar possuía dois andares, contudo não tinha escadas para subirem.
— Como iremos para o quarto? — Sussurrou confuso.
Amis ao perceber que estavam afastados de modo que Dimen não os visse mais, levou a mão à madeira tocando a maçaneta de uma das portas, surrando o feitiço de teletransporte e ao girá-la revelou um enorme corredor do outro lado.
— Assim. — Disse sorrindo e adentrando o recinto.
— Por que não há escadas? — Brendan perguntou, enquanto andavam pelo corredor até seus quartos.
A parede era completamente branca e o chão coberto por fumaça, impedindo-os de verem seus pés.
— Conversaremos sobre isso quando estivermos no quarto, onde é mais seguro. — Amis proferiu abrindo uma das portas, possibilitando a entrada de todos. — Iremos dividir os quartos, eu e Eru ficaremos com um, Brendan ficará com Nathanael e Carin terá um apenas para ela.
— Por que eu não posso ficar sozinho? — Eru resmungou recebendo um sorriso zombeteiro de Carin.
Amis se sentou na poltrona esticando a perna na cama analisando divertidamente a discussão de Eru e Carin sobre o quarto.
— Tenho algumas recomendações. — Declarou tendo a atenção de todos. — Não saiam em hipótese alguma sem mim, esperem até eu voltar para o quarto caso queiram sair, em Meminisse eles não usam escadas, elevadores, ou qualquer meio de transporte. — Disse firme – eles se locomovem através das lembranças por cada lugar que passaram na cidade e quando não se recordam caminham, por isso eu repito não saiam daqui ou eles irão notar que não somos como eles.
— Como assim, através das lembranças? — Nathan olhou o protetor abismado, sua cabeça parecia ferver com o emaranhado de novas informações.
— O Reino dos Lembrados, aqui é o local destinado para as lembranças daqueles que partiram, cada pensamento e memória fica guardado e trancafiado na casa de Grannus, o protetor da cidade.
— Mas para que serve isso? Por que guardar algo de alguém que nem mais está vivo? — Brendan rebateu analisando Amis que tinha os dedos cruzados rente ao corpo e o olhar fixo no teto.
— Isso acontece para que as histórias e acontecimentos fiquem marcados, que sejam lembrados e mantidos por todas as gerações e para as próximas. De modo a impedir que desastres passados aconteçam novamente, devemos sempre aprender com os nossos erros e buscar melhorar, porém, como iremos realizar isso se não nos lembrarmos deles?
Um silêncio se seguiu pelo quarto, nada foi proferido, os dois rapazes estavam perplexos refletindo sobre as palavras ditas de Amis.
— Precisamos decidir qual caminho iremos usar para chegar a Damnato. — Eru murmurou, recebendo um concordar e mudando o rumo do assunto.
Amis pegou o pergaminho que tinha colocado dentro do portal, estendendo-o sobre a mesa de mármore dando ampla visão para eles. Ele olhou para o demônio que se levantou e levou a mão ao chão projetando o Reino no piso para que pudessem visualizá-lo melhor.
Logo o mesmo foi dividido em seis partes, dando lugar para pequenas cidades que eram divididas por um rio que lhe cortava em toda a sua extensão.
— Como chegaremos a Damnato? — Nathanael perguntou analisando minuciosamente todo o local, seus olhos captaram diversas florestas e até mesmo um pântano, contendo uma careta de desgosto.
— Para chegarmos lá precisamos atravessar a ponte de Vitral, ela é quem liga o Reino de Meminisse à Damnato e temos que contornar a caverna de Glord, só assim conseguiremos encontrar Celine. — Amis respondeu, seus olhos focaram em cada cidade que o reino possuía. Sabia que os guardiões não permitiriam a sua entrada e muito menos a sua protetora.
— Mas para chegar a caverna, temos que convencer Durk, o protetor da ponte de que somos dignos ou não de sua travessia. — Completou Eru, de suas mãos as linhas contornavam o restante das casas e edifícios que analisava do pergaminho de forma a não deixar nenhum trajeto de fora.
— Por que isso parece não ser fácil? — Nathan questionou esfregando o rosto, frustrado.
— Porque nunca é meu caro. — Carín falou divertida, piscando um olho para o rapaz que riu meneando a cabeça em negação.
— Pronto! — Eru exclamou animado — está completo, agora podemos ver como que devemos passar.
Eru sentou-se próximo ao reino que havia construído, cruzando as pernas, Amis mantinha a expressão passível.
— Acredito que essas sejam as cidades. — Brendan apontou para cada divisor, recebendo um concordar do mais velho.
— Sim, são seis ao total. — Amis levou o dedo tocando a primeira — a terra dos Espíritos. — Parou a palma sobre o cemitério que se ampliou — é o local onde os fantasmas coabitam entre nós, são pessoas que não foram esquecidas, mas optaram por não renascer. Tendo suas almas puras e intocáveis, fadadas a viverem no cemitério de Durin.
Brendan engoliu em seco, enquanto Nathanael mantinha o olhar fixo na imagem do lugar. Coberto por tumbas e túmulos diversificados.
— Essa é a mais próxima para chegarmos onde Celine está, que é a terra das almas perdidas, governada por Morrígan e Azrael, seu braço direito. Nas almas perdidas é o primeiro lugar para onde as pessoas irão após morrerem, passando pelo processo de adaptação e aceitação da morte.
Puderam ver o amplo castelo que tomava grande parte da cidade que era circulada por árvores e um imenso rio com a cascata ao fundo recoberta por montanhas.
— Para cada cidade há um processo? — Brendan perguntou curioso.
— Sim, todos os reinos possuem uma importante missão e graças a Tellus que eles continuam às seguindo. — Eru falou tocando a próxima cidade, essa que agora era coberta por um imenso pântano que era dividido em duas partes. De um lado era possível ver dois vilarejos, porém de modos distintos, enquanto um estava coberto por plantas, ervas e flores, no outro a única coisa visível era a fumaça que cobria grande parte do chão. — Aqui há duas terras, a dos Abandonados e a dos Feitiços — murmurou, sua palma ampliou a primeira — a terra dos Abandonados é protegida por Kylo, ele é quem cuida das pessoas que morreram de forma trágica e precoce, ou que já não possuem mais nenhum vínculo familiar sendo esquecidas por aqueles que um dia vieram a ter contato e conforme os anos passam elas somem se ninguém recordar delas. Enquanto na terra dos Feitiços, Nesrin é quem comanda, uma bruxa de grande dom e magia, ela é a responsável por fazer o chá do esquecimento para aqueles que desejam reencarnar em sua próxima vida. Ambas ficam no mesmo local, no pântano de Brejo, o que facilitará para irmos para Durin.
— Há muitos obstáculos para passarmos até chegar em Damnato, como conseguiremos isso em tão pouco tempo? — Nathanael estava frustrado, ainda faltavam mais duas cidades.
— Não desanime, meu mestre dará um jeito de ultrapassarmos cada cidade. — Eru proferiu firme olhando para a companhia de Amis ao seu lado.
— Nunca chegaremos lá a tempo. — Nathan falou com desprezo, apoiando a cabeça nas mãos.
— Largue de drama garoto! — O demônio falou em um rugido, fazendo o chão tremer sob seus pés.
— Não vamos começar uma discussão, eu prometi a você que iremos encontrar Celine e costumo manter minha palavra. Nós temos um acordo Nathan. — Amis declarou firme e confiante, recebendo a atenção do moreno que o fitou por alguns segundos encontrando a certeza que precisava.
— Ele tem razão Nate, nós vamos conseguir encontrar Mabel, não vamos ser pessimistas! — Brendan apertou o ombro do amigo, abraçando-o de lado.
— Vamos continuar! — Eru exclamou, apontando para a última cidade. — Essa é a terra da Reencarnação, o local para onde os espíritos são levados. Aqueles que desejam ter uma nova vida e buscam esquecer o seu passado para iniciar um novo ciclo, não teremos tantos problemas arrisco dizer que será fácil sua travessia, visto que Viorica é a mais calma de todos os guardiões e concordar com as leis de Galahad, diferente de Cozen que comanda a terra dos Demônios. — Proferiu com raiva.
Nathanael pode perceber o incômodo na voz de Eru ao dizer o nome do guardião.
— De todas, a dos demônios certamente será nosso maior obstáculo. — Amis suspirou, seus olhos pareciam perdidos e sua mente absorta.
— Por que?
— Cozen é incongruente, ele não respeita as leis impostas e não é maduro, ou possui senso para ser guardião de uma cidade tão maçante como a dos demônios. — Eru desviou os olhos do local que era coberto por cinzas.
— O que há de tão horrendo lá? — Brendan analisou o demônio que mantinha as garras afiadas firmes contra a perna, podendo notar o sangue que se formava em torno delas. Seu olhar era severo deixando suas presas à mostra, Eru passou a língua entre os caninos de modo lento recebendo a atenção dos outros que olhavam para Brendan apreensivos por ele ousar perguntar.
— A terra dos demônios não é um lugar habitável, eu morei lá durante milênios sendo seu governante. É a pior cidade onde um dia já ousei pisar, ela pode levar qualquer pessoa ou ser mágico a sua própria ruína. — Disse seco — lá é o local onde são levados aqueles que cometeram seus piores crimes e tem seu destino traçado, tornando-se criaturas das sombras que não possuem alma, guiadas apenas pela escuridão e as trevas. — Completou, havia fúria em seu olhar que se tornou escuro.
— Você não está mais lá. — Amis falou com compaixão segurando a mão do demônio que retraiu o corpo, seus pulmões pareciam comprimidos, o ar lhe era escasso naquele momento. O rosto do demônio foi virado para a frente de seu mestre que contornou os dedos nas lágrimas que se formavam no canto de seus olhos, limpando-as — eles não chegarão mais perto de você, isso é uma promessa. — Sentenciou.
— Obrigado. — Eru pronunciou, recebendo um sorriso de Amis que afagou seus cabelos — vamos continuar. — Retornou sua atenção para o pergaminho.
Nathanael e Brendan trocaram um breve olhar, voltando a encararem o mapa à sua frente.
— Partiremos amanhã para a ponte de Vitral, antes do alvorecer. — Amis relatou fechando o pergaminho, sua mão ergueu ao alto com seu dedo desenhou um símbolo no formato de um dois deitado no qual revelou o portal onde foi depositado o mapa.
— Você está muito quieta. — Eru cutucou Carin que ergueu o olhar focalizando no demônio.
— Estava pensando.
— No que? — Arqueou a sobrancelha de modo curioso.
— O motivo de Avalon ter nos ajudado, claramente sua esposa não tinha vontade alguma em nos auxiliar, ou realizar uma troca e vindo de uma fada isso é realmente estranho. — Ela virou para Amis de forma inquisitória — eu sei que você sabe o motivo. — Afirmou reparando na falta de reação do mesmo.
— É apenas uma história antiga. — Comentou, desviando o olhar, incomodado.
— Conte para nós, tenho certeza que irá saciar nossa curiosidade a respeito do comportamento deplorável da protetora. — Rebateu.
Amis suspirou e inclinou o tronco para ajustar sua postura, seus braços se cruzaram à frente das pernas intercalando o olhar entre os presentes.
— Tudo bem, irei contar. Acredito que devo algumas explicações. — Todos acenaram positivamente, ansiosos para o que estava prestes a ocorrer.
Amis pigarreou, seus dedos foram em direção a mochila que tinha levado consigo retirando a garrafa de água tomando um longo gole. Estava apreensivo, sentia um peso em suas vestes e o calor tomá-lo como se o quarto estivesse abafado.
— Há alguns anos atrás Fleury foi atrás de Melione após ter um sonho no qual mostrava a morte de seu primogênito Fagundes, ela queria respostas. — Disse recebendo o olhar atento da maioria — Melione usou suas esferas mágicas para ter a certeza de que o sonho se tornaria realidade e com isso descobriu que ele seria morto durante a guerra entre os Reinos pela separação de Tellus. — Respirou fundo, descruzando os dedos que doíam pela força excessiva que os apertava. — Após a comprovação Fleury ficou enfurecida e foi atrás de Galahad exigindo a extinção de Tellus, ela sempre considerou o reino inferior aos outros, contudo isso desencadeou revoltas nas outras cidades e fizeram uma convenção para concordarem com o fim do lugar.
Todos mantinham o semblante boquiaberto pelas novas descobertas, nem mesmo Eru ou Carin imaginariam que há anos teriam tido tal desentendimento entre os reinos que para eles eram pacíficos na maioria das vezes.
— Com a guerra em seu ápice e a grande sobrecarga que todos os reinos estavam passando, Galahad decidiu criar o domo, pois ele percebeu que se Tellus fosse extinto não existiria mais funções para as outras cidades e isso as levaria para sua própria extinção, pois dependemos dos habitantes de Tellus para sobrevivermos. — Amis umedeceu os lábios — eu disse que era uma história grande. — Murmurou.
— Continua! — Eru clamou enérgico.
— Certo, após a decisão de Galahad e o pronunciamento do soberano, todos decidiram que era o melhor a se fazer, afinal o protetor além de cuidar do reino de Tellus também é o guardião da vida sendo respeitado por todos por ser o possuidor mais antigo de nós. Mas, Fleury discordou dessa iniciativa e tentou chantageá-lo, além de gerar um golpe contra ele o que resultou em mais desavenças. — O olhar horrorizado que recebeu fez certa apreensão crescer em seu peito, sabia que estava falando mais do que deveria, porém precisava dizer a verdade. — Ela tentou atacar Galahad, entretanto Fagundes, seu filho, entrou em sua frente evitando que o possuidor da vida se machucasse. Se isso viesse a acontecer seria um desastre para toda a ordem dos Reinos, caso o protetor primordial ficasse incapacitado afetaria em escala e acabaria com toda a vida existente nos mundos. Com isso, Fagundes morreu diante dos olhos de Fleury após o veneno de Nambique impregnar suas veias e após isso ela passou a se culpar amargamente pelo que aconteceu.
— Eu não tenho nem palavras para isso. — Carin sussurrou, seu olhar era de compaixão para com a história contada e em seu peito sentia um vazio avassalador.
— O que é veneno de Nambique? Não tinha cura? — Nathanael questionou, sua respiração se sobressaiu de seus lábios, após perceber que havia prendido ela por tempo demais.
— É considerada a erva mais mortal entre todos os reinos, nascendo a cada duzentos anos no reino de Flos. Não há cura para quem é atingido pelo veneno e no caso de Fagundes a espada atravessou seu peito espalhando-o em questão de segundos por seu sangue, sem tempo de recuperar qualquer resquício que pudesse mantê-lo vivo mesmo que por algumas horas. — Amis levantou-se alongando os braços, respirou fundo encarando os quatro — mas isso é passado e como eu disse devemos aprender com ele para que erros futuros não voltem a se repetir, por isso Avalon nos ajudou.
Nathan mordeu o interior da bochecha, estava tentado a perguntar mais, contudo, não sabia se o mais velho responderia. Tinha noção de que havia um motivo para ele estar ali, só não conseguia imaginar qual seria.
— Por quanto tempo teremos que ficar com esse visual? — Eru perguntou, erguendo-se e analisando sua fisionomia, aquelas cores claras definitivamente não faziam jus a personalidade do demônio.
— Será temporário, amanhã já poderemos ser quem realmente somos, apenas precisamos manter a rotina das pessoas que aqui vivem para passarmos despercebidos.
— O que faremos agora? — Brendan indagou ao perceber que não tinha muitas coisas que pudesse fazer para acabar com o tédio que se instalava aos poucos.
Em um ato inesperado Amis ergueu as mãos e feixes de luz tomaram o quarto e no segundo seguinte estavam fora das redondezas do lugar, parados de frente para uma enorme porta de vidro onde do outro lado era possível ver as diversas mesas e pessoas comendo em harmonia.
— Vamos usufruir da boa culinária que Meminisse nos dispõe. — Falou entre risos ao ver o olhar de confusão e desnorteado dos colegas.
Ao adentrarem precisaram se colocar em uma fileira para manter a ordem do local, não poderiam encostar em nada ou em alguém caso contrário iriam perceber que eram forasteiros. Suas ações estavam regradas e centradas, buscavam manter a descrição e causar o menor impacto possível no ambiente.
O aspecto do restaurante era completamente diferente do que Nathan e Brendan estavam acostumados a irem, em Meminisse as pessoas não andavam elas praticamente flutuavam por entre os cômodos que estavam sempre cobertos por uma densa neblina o que possibilitava de que ninguém os visse com os pés no chão, andando. O local repleto de paredes brancas, intercalando com o bege e tons pastéis, os moradores não possuíam característica físicas distintas como se fossem iguais a única coisa que se destacava era a marca forte que cada um possuía na região de sua nuca formando um contorno assemelhado a pássaros de diferentes espécies. Como se cada morador possuísse o seu próprio.
Esbanjaram-se de todos os alimentos obtidos, suas barrigas clamavam em satisfação. Trocaram algumas conversas, arriscando até mesmo risadas entre o grupo que parecia começar a se entender, estavam felizes naquele pequeno espaço de tempo apenas aproveitando os últimos minutos que teriam antes de enfrentar a avassaladora realidade que os esperavam do outro lado da porta. Sabendo que o destino não estava favorável para a trajetória deles.
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
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