𝔑𝔬𝔳𝔢 - 𝔄 𝔣𝔬𝔫𝔱𝔢 𝔡𝔢 𝔢𝔫𝔢𝔯𝔤𝔦𝔞.
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A alvorada despontou no mais alto de seu pico, difundindo os raios solares pela pacata cidade de Meminisse. Os moradores se retiravam no despertar do dia, transitando e aproveitando o clima ameno que se instalava, deleitando-o.
Amis esticou os braços acima de sua cabeça soltando um demorado bocejo e preparando-se para acordar o restante do grupo.
Seria uma prolongada jornada para chegarem à ponte de Vitral e não possuía ideia do que esperar após ingressarem diante do protetor Durk. Conhecia histórias a respeito dele e que poucos conseguiram realizar tal ato para adentrar a caverna de Glord.
— Acorde Eru, não temos o dia todo! — Exclamou sacudindo o demônio pela terceira vez, em um resmungo ele se virou e sentou na ponta da cama esfregando os olhos, estava esgotado.
— Para que tão cedo? O sol nem sequer apareceu direito. — Comentou ao reparar na gradativa escuridão que se dissipou aos poucos com a aparição do crepúsculo.
— Não podemos demorar aqui, temo que Morrígan já esteja planejando tornar Mabel a nova protetora e logo iniciará o ritual para isto. — Um longo sopro de ar saiu dos pulmões de Eru que se reclinou sobre a cama erguendo o tronco em desgosto.
— Você sabe o real motivo dela estar fazendo isso. — Disse caminhando despreocupadamente para a porta que levaria ao lavabo.
— Não discutiremos a respeito disso. — Sentenciou, sua voz transparecia aflição enquanto o demônio balançava a cabeça em negação.
Amis se retirou do quarto deixando audível o barulho da porta, a fechando de maneira estrondosa. Não gostava de pensar que estava associado aos motivos que fizeram a possuidora ir atrás de um sucessor, sabia que tinha uma parcela de culpa e ao mesmo tempo seu coração agitava com a mera ideia de que ele tinha influência a respeito da decisão da sacerdotisa.
Os minutos se seguiram com o possuidor batendo nos quartos de forma a despertar todos que agora se encontravam estirados em um único quarto entre bocejos.
— Partiremos para Vitral, então estejam bem alimentados para que não ocorra imprevistos. — Uma mesa foi teletransportada para o centro do local, Amis estendeu o dedo formando um círculo no meio da madeira esculpida abrindo uma brecha pelo qual os alimentos percorreram e se agruparam.
Canecas foram depositadas na frente de cada um, o bule levitava os servindo enquanto as frutas eram cortadas e colocadas em potes de vidro. Diversos pães e geleias surgiram através da pequena esfera sendo colocados em uma ampla cesta.
— Sirvam-se! — O possuidor falou animado ao ver os olhares extasiados dos colegas.
Brendan deliciou-se com as iguarias, diferente de Nathanael que buscou comer o mínimo possível, por mais que tivesse tido uma boa noite de sono, sentia-se extremamente cansado.
— Isso está divino! — Carin se esbanjou abocanhando o pão deixando suas presas à mostra.
Após a breve refeição se puseram a partir despedindo-se do senhor Dimen que os lançou um caloroso sorriso os convidando a retornar futuramente.
Caminhavam pelas ruas em direção a ponte, Nathan mantinha os olhos fixos em cada morador que via pelas ruas quietas. Queria marcar em sua memória cada lugar extraordinário pelo qual passava.
Ao se aproximarem de seu destino, continuaram o trajeto até metade da ponte, contudo um nevoeiro tomou sua visão impedindo-os de continuarem. As mãos de Nathanael foram aos olhos, cobrindo os globos.
A monstruosa figura apareceu no centro do arco, seu corpo coberto por fumaça balançava com o vento. Em sua cabeça despontava dois largos chifres curvados acima de seus olhos enquanto uma capa transparente recaia por seu tronco chegando ao lugar onde deveria estar seus pés, mas existia apenas a neblina que mantinha a criatura flutuando diante dos pedregulhos.
Em sua mão direita ele segurava um cetro dourado que reluzia, atrás de suas costas um total de seis asas colossais despontavam firmes em tom áureo, duas cobriam parte do rosto, enquanto as outras duas tomavam os seus pés e as últimas dispunha para voar. Brilhando demasiadamente, resplandecida por sombras acobreadas que as circundavam.
Durk os examinou com seus olhos de lavanda. Fixando-os em Nathan.
— Como ousam ultrapassar Vitral sem antes me chamar? — A voz harmoniosa repercutiu pelo local.
— Estamos apenas de passagem, nosso desejo é chegar à caverna de Glord somente. — A criatura direcionou seu olhar para Amis.
— Apenas aqueles que trouxerem o que eu ordenar assim conseguirão passar, porém nenhum deles ousou arriscar. — Proferiu aferrado.
— O que deseja? — Nathanael perguntou recebendo a atenção do guardião.
— Anseio pelo sopro de Mervin, nosso depositário. O dragão branco que nos possibilita a fonte de energia para Meminisse, sem ela os moradores que aqui habitam não poderão se locomover.
— E onde ele está? — Indagou.
Durk abriu um sorriso de escárnio para o rapaz.
— No jardim de Aita, lá é o local onde ele descansará por seu próximo milênio até então retornar.
— Você sabe onde fica? — Virou-se para Amis que afirmou — ótimo iremos para lá. — Decretou decidido.
— No caminho sorte irei desejar, para que assim possam ultrapassar. — Proclamou inclinando o tronco em reverência, um tornado tomou o corpo de Durk o levando para longe de suas vistas.
— Eru? — Amis chamou o companheiro que se colocou ao lado do mestre — quero que fique aqui com Carin e Brendan até retornarmos. — O demônio concordou.
Brendan trocou um olhar com Kay que sorriu o confortando.
— Não se preocupe Brendan, ficaremos bem. — O amigo acenou se permitindo ser guiado por Carin para uma parte recoberta da ponte onde ninguém os veria.
— Vamos. — Amis puxou Nathanael os jogando na imensidão dos portais para chegar a Aita.
Um vasto jardim tomou a paisagem, a trilha estava repleta de flores. Grandes girassóis despontavam em sua imensidão ao lado dos dentes-de-leão, marcharam pelas diversas cores que embelezavam o cenário. O cheiro floral impregnava suas narinas, trazendo uma sensação de paz. Ele sentia-se no paraíso.
Um grupo de beija-flores aproximou-se circulando Nathanael, ateando voo para a simples cabana que se amparava no final do caminho.
Ao aproximarem-se pode ter o vislumbre da simplicidade do lugar, na varanda uma rede tomou metade da entrada recoberta por mais plantas, estás em vasos, animais corriam pela madeira de modo despreocupado. Esquilos subiam o topo de árvores, enquanto cervos alimentavam-se da grama excepcionalmente verde.
Seus olhos captaram a garota de cabelos brancos que estava sentada na cadeira de balanço inclinando o corpo de maneira a fazer o objeto se mover. Em sua cabeça uma coroa de flores se fazia presente, amarrada em uma longa trança com um laço amarelo fixo em seus fios. Ela ergueu os olhos retirando a atenção da leitura que mantivera até a chegada dos forasteiros.
Em um único movimento levantou-se revelando o glamouroso vestido azul-bebê que recaiu até seus tornozelos cobertos por flores em um tom mais escuro. Suas bochechas estavam levemente rosadas com algumas sardas espalhadas na pele extremamente pálida, contrastando com seus olhos violeta. Um singelo sorriso tomou os lábios dela.
— Sejam Bem-vindos a Aita, o que procuram? — Como um canto melodioso a voz estrugiu pelos ouvidos de Nathan.
— Mervin, mais precisamente precisamos do sopro do dragão branco. — O sorriso da menina se alargou.
— Estava esperando por você querido Nathanael. — Revelou, virou-se dando as costas para ambos caminhando pelo vasto jardim — sigam-me. — Ordenou.
Os dois se olharam, andando receosos em direção a ela.
— Como se chama? — Amis perguntou, aproximando-se lentamente da menina.
— Logo saberá, senhor do Tempo. — Sorriu amistosa.
Pararam em frente ao centro do gramado, as flores balançavam conforme o vento se fortalecia diante de seus corpos aumentando gradativamente.
— Será algo bem indubitável. — Exclamou, suas mãos tocaram delicadamente o pulso dedilhando a pequena tatuagem — você deverá caro Nathan pegar o sopro do dragão, mas para isso terá que passar por ele. — Nathanael a fitou confuso. — Para que consigam o que desejam deverão capturar a esfera pura onde contém o sopro. — De suas mãos o pequeno globo se moldou, em seu interior foi possível identificar a orbe completamente vazia.
A garota aproximou seus lábios do vidro e com seu sopro, a esfera se preencheu com a expiração. Seu aspecto tornou-se um feixe esbranquiçado, a ventania dançava por dentro do globo tocando cada canto de sua extremidade.
— Você é Mervin. — Amis afirmou, admirando a menina que sorriu em harmonia para os dois.
— Darei dez minutos para que decidam como irão pegá-la. — Estendeu a mesma diante dos dois, erguendo as mãos ao céu. A esfera flutuou para longes dos três. — Boa sorte, escolhido. — Proferiu olhando diretamente para Nathanael, Mervin afastou-se revirando o desenho em seu pulso que reluziu quando a menina tocou sua ponta com a unha que havia se transformado em uma grandiosa garra a circundando e movendo em direção ao cotovelo, ampliando-a em seu braço.
O corpo da garota esticou-se e de suas costas amplas asas brancas se romperam, suspendendo-as. Suas pernas e braços foram rasgados revelando a pelugem alva, seu corpo se assemelhava como escamas as garras projetaram em suas quatro patas que aparentavam as de águia, no qual cada uma possuía quatro dedos para frente e um para trás, conforme a cauda alongava-se pelo chão com espinhos em sua ponta arrastando em meios as flores. Seus olhos tornaram-se felinos, como de tigres, atentos aos dois. Um longo bigode de carpa tomou a lateral de seu focinho e chifres cresceram no topo de sua cabeça, suas orelhas alongaram-se e sua boca se rasgou revelando os dentes afiados e dela o líquido de sua saliva gotejou pela grama e o ácido destruiu as plantas que se mantinham ao redor, as apodrecendo imediatamente.
A esfera aproximou-se da pata dianteira, alinhando-se à criatura. Com um olhar feroz, Mervin apoiou o corpo firmando-os contra o chão e reclinando aos céus indo em direção a parte rochosa de sua moradia, afastando-se completamente de ambos. Aquela havia sido o sinal para que eles colocassem seu plano em prática para enfim irem atrás dela.
— O que vamos fazer? — Nathanael questionou aflito ao ver Mervin tornar-se cada vez mais distante de ambos.
— Daremos um jeito. — Amis levou as mãos ao cabelo, aspirando. — Seu ensinamento começará agora, não temos tempo e precisamos daquela esfera o quanto antes ou não chegaremos a Damnato no momento certo.
Nathan comprimiu os lábios apreensivo, sentia-se nervoso e ansioso para o que estava prestes a aprender.
— Usaremos o colar? — Amis negou o deixando perplexo.
— Você não depende do amuleto para usar seu dom Nate, ele é apenas um suporte para que você consiga controlar sua magia sem que a mesma fique fora de controle. — O possuidor esticou os braços a frente de seu corpo e de seus dedos surgiu uma pequena claridade mágica, a luz alaranjada esvoaçou pelos dois fazendo com que a roupa de Nathanael mudasse tornando-se mais resistente. A armadura firmou em seus braços e pernas, prendendo-os de maneira a deixá-los completamente recobertos pelo aço sólido.
A única parte nítida de sua pele era a região próxima a seu pescoço.
Amis retirou o cetro de dentro do portal, apontando-o para o chão desenhando círculos ao redor de ambos. Seus lábios fecharam-se ficando apenas uma linha fina entreaberta conforme os sussurros das palavras ressoavam por sua boca. A neblina percorreu toda extensão de seus físicos, Nathanael sentiu uma ardência em sua pele.
— Isso nos manterá protegidos, em hipótese alguma deixe que ela te morda a força das mandíbulas são extremamente sobrenaturais, capaz de penetrar qualquer aço e não toque em sua saliva, qualquer contato exposto em questão de segundos irá se corroer. — Nathan escutava cada palavra com cautela, buscando o máximo de informações necessárias. — Agora eu preciso que você me escute com atenção Nathan. — Amis tocou o ombro do rapaz, fixando ambos os olhares — Para que isso dê certo, é necessário que você mentalize e deixe que a magia se interiorize dentro de si para que enfim ela se liberte em sua forma mais pura e verdadeira, assumindo quem deverá se tornar.
Um rugido irrompeu os céus, as nuvens tornaram-se cinzentas enegrecendo o dia. Os trovões esbravejavam, cortando-o em uma linha ampla e iluminando-os em meio às rajadas.
— Imobilize o tempo Nathanael, impeça que o que está a sua volta aconteça. Se liberte. — Completou segurando os ombros dele. — Chegou a hora, devemos ir de encontro a Mervin.
Segurando o braço de Nathanael, Amis os teletransportou para o enorme penhasco recoberto por rochas e ao fundo era notável as imensas montanhas que recobriam o local. Antes que pudessem dar um passo para procurarem a criatura, o caminho de fogo seguiu em ambas as direções obrigando eles a se afastarem de forma ágil.
Mervin apareceu em meio aos pedregulhos, um grunhido saiu de sua garganta alçando a cabeça. Sua boca se abriu e o fogo se alastrou ao seu redor, a esfera balançava em seu contorno sempre rente a criatura.
— Eu irei distraí-la, pegue a esfera. — Amis sentenciou, recebendo um concordar do outro que fixou o olhar no dragão.
Com o cetro em mãos o possuidor levantou-o, seu braço segurou o objeto fortemente recolocando com afinco ao chão. A claridade ganhou força cegando a visão de Mervin por segundos dando tempo para que Nathan se aproximasse sorrateiramente da criatura. Precisava alcançar a esfera que agora encontrava-se acima da cabeça do dragão, levitando por seus chifres, porém estava alto demais para que o rapaz conseguisse pegá-la em suas mãos.
Seus olhos esquadrinharam o local, pousando na enorme pedra que tinha ao lado de Mervin. Precisaria escalá-la se quisesse alcançar o globo.
O brado repercutiu por seus ouvidos, o solo tremeu com a magnitude de sua força, enquanto o olhar dela o buscava. Nathanael escondeu-se atrás de uma pedra, baixando ligeiramente.
— Rápido Nate! — Amis gritou ao fundo, ele encontrou o protetor que mantinha as mãos elevadas projetando um escudo que impossibilitava que o fogo o atingisse.
O clarão se tornou firme novamente, possibilitando que Nathanael corresse para a rocha, suas mãos seguraram firmes a fraga escalando-a. Seus pés foram rentes aos buracos que encontrava, buscando manter o equilíbrio.
Seus olhos captaram o momento exato com magnitude quando Mervin ergueu as patas dianteiras abrindo a boca cuspindo fogo em direção a Amis, contudo o possuidor não percebeu o movimento veloz da cauda do dragão que elevou prestes a acertá-lo. Nathan buscou gritar tentando avisá-lo, mas o romper das trovoadas abafou sua voz.
Sentiu seu peito se comprimir ao imaginar o que viria a acontecer, seus olhos fecharam-se com força, a respiração pesada e o ardor crescente por cada partícula de seu ser, precisava deixar a magia se libertar. Em sua mente mentalizou as palavras que Amis havia declarado, focando somente naquilo que desejava, interiorizando-a dentro de si. Faíscas saíram como raios enormes em dias de tempestade por suas mãos, em sua pele os traços negros subiram por seu pescoço o rodeando e ao abrir os olhos o lampejo de cores explodiram em sua íris clara.
Os braços dele soltaram as pedras que segurava, seu corpo caiu com lentidão ao chão e seus pés tocaram o solo com firmeza. Sua mão estendeu-se apontando em direção a Mervin, e naquele instante foi como se o tempo parasse. Os raios tornaram-se fracos, demorando a eclodirem contra a atmosfera, a rajada de fogo estava parada a poucos metros do escudo de Amis, conforme a cauda a centímetros de suas costas manteve-se erguida sem movimentar.
Com passadas rápidas Nathanael aproximou-se de Amis o retirando da mira do dragão, buscou a esfera com os olhos encontrando-a na mesma posição no topo da cabeça de Mervin. Correu para a rocha escalando-a e erguendo o braço a fim de pegar o globo, sentia suas mãos derraparem pelos pedregulhos enquanto o corpo inclinava cada vez mais. Seus dedos tocaram o material, porém seus pés escorregaram e pode ver o impacto que aconteceria forçando o braço para pegar o que precisava.
Sua mão envolveu a esfera segurando-a frente a si, fechando os olhos ao imaginar o colidir contra as rochas que estavam abaixo e o resultado catastrófico que viria ao chegar ao chão, contudo ele não veio. Ao reabri-los estava em cima de algo escamoso e de textura gélida. Ao olhar para frente a visão felina o observava com admiração.
O trovão cortou os céus e as nuvens dissiparam-se dando lugar para a aurora que se instalara novamente. Em um alçar de asas o dragão suspendeu levando-os para longe daquele local, voltando para o jardim de Aita. Após pousarem Nathan desceu das costas de Mervin, que graciosamente retornou para sua forma humana abrindo um angelical sorriso para o escolhido, Amis surgiu ao seu lado após atravessar o portal.
— Parece que estava realmente certa sobre você. — A menina declarou com entusiasmo. — O sopro agora está destinado a você, o escolhido. Espero que faça bom proveito do mesmo. — Enunciou, inclinando o tronco em uma breve reverência.
— Oh! — Ele exclamou surpreso. — Sem formalidades, por favor. — Pediu, mexendo as mãos para que ela se levantasse, suas bochechas tornaram-se róseas com tal atitude para com ele.
— Você está ensinando bem seu discípulo, Amis. — Comentou.
— Eu sabia que ele se sairia bem. — Sorriu venturoso, tocou os ombros de Nathanael em conforto — ele não me deixaria morrer, acredito eu. — Arqueou a sobrancelha para Nathan, que inclinou a cabeça rindo. — Agora precisamos ir, afinal nos esperam na ponte de Vitral. — Mervin acenou positivamente e em um movimento rápido abraçou ambos em despedida.
— Espero podermos nos ver novamente, foi uma honra conhecê-lo. — Nathan sorriu extasiado.
— O prazer foi imensamente meu.
Com um último aceno, ambos entraram no portal mágico sumindo das vistas da garota e sendo levados para a ponte Vitral, porém antes de se aproximarem novamente e se encontrarem com Durk. Duas figuras tomaram as vistas dos dois.
O rapaz alto e esbelto possuía cabelos brancos que chegavam aos seus ombros, seus olhos cristalinos quase translúcidos escondiam toda sua pupila em seu tom alvo. As vestimentas eram leves, uma camiseta solta que chegava ao seu quadril com a calça que se entendia até seus tornozelos estando descalço. Sua pele parecia reluzir com o tempo ensolarado, ao seu lado estava uma mulher seus cabelos azuis caiam até o meio de suas costas, trançados, sua pele bronzeada destacava com os olhos acinzentados, trajando um longo vestido cinza.
Amis parou, seu corpo enrijeceu ao fixar o olhar em ambos.
— Precisamos conversar. — A voz masculina murmurou, parando em frente aos dois. Seu olhar recaiu em Nathanael, analisando-o.
Barulhos de passos se fizeram presentes, revelando Eru que saia por detrás das árvores ao lado de Carin e Brendan, aproximando-se deles.
— Não tenho tempo para conversas Grannus. — Amis proferiu decidido a não parar, sua trajetória no reino estava terminada.
— Arranje. — A mulher bradou, olhando com fúria.
— Temos um problema Amis. — Grannus fitou Brendan — um imenso problema.
— O que aconteceu dessa vez? — Questionou impaciente, Grannus olhou para a mulher que grunhiu,
— Houve um erro no destino de um morador de Tellus. — Ela proferiu receosa.
— Quem? — Amis inquiriu, seu olhar tornava-se furioso.
— Brendan Levy. — Ao escutar o nome do melhor amigo ser pronunciado Nathan olhou em direção a ele que mantinha o semblante em choque.
— Como? — O possuidor perguntou, aproximando-se com fúria, ficando apenas alguns passos dela. Seus olhos deixaram o tom alaranjado tornando-se escuros, ressaltando as marcas em seus braços que pareciam reluzir.
— Acalme-se meu amigo. — Grannus disse preocupado, pondo-se entre ambos — acredito que há uma boa explicação para isso.
— Espero que tenha, porque esse erro custou muito mais do que apenas uma vida. — Proferiu com repulsa. — Você sabe que uma guerra pode acontecer a qualquer momento.
— Vamos para o meu palácio, lá poderemos conversar e resolver este problema.
— Eu não tenho tempo para isso, Grannus! — Vociferou Amis — estou correndo para impedir uma catástrofe!
— Eu tenho como descobrir o que Morrígan está tramando, apenas vamos conversar com calma. — Pediu o protetor — escute Ametista.
Amis inspirou e expirou fortemente levando as mãos aos cabelos castanhos, frustrado.
— Farei isso, mas pretendo partir ainda hoje. — Sentenciou, um sorriso saiu dos lábios de Grannus.
— Não demoremos então. — Disse, sua mão elevou-se desenhando o contorno com os dedos que deram forma para uma porta branca, girando a maçaneta dourada. — Entrem, por favor e sejam bem-vindos a minha residência. — Declarou, dando um passo para a lateral possibilitando que todos adentrassem, fechando a mesma atrás de si ao passá-la.
— Vocês demoraram, estava começando a me preocupar já. — Uma voz ecoou pelo imenso salão. Nathanael focou o olhar no rapaz de cabelos rosas que tinha um sorriso cativante em seus lábios, seus olhos brilhavam de um vermelho escarlate com o contorno de sua pupila em formato de um coração.
— O que faz aqui Roman? — Inqueriu Grannus, aproximando-se do guardião.
— Estava entediado em meus aposentos, parece que aqui as coisas estão mais divertidas. — Comentou passando o olhar pelos presentes, focando em Nathan. Seu cenho franziu, com seus olhos tornando-se ásperos ao encarar o rapaz.
— Acredito que queiram descansar após irem atrás de Mervin. — Grannus falou analisando as vestimentas e os rostos sujos de Nathanael e Amis. — Espero que ela não tenha sido bronca com vocês.
— Sem enrolações, já basta termos que estar aqui o quanto mais rápido conversarmos, enfim poderemos retornar ao nosso trajeto.
— Não seja grosseiro, Amis. — Ametista pronunciou recebendo um revirar de olhos do possuidor.
— Você não me viu ser grosso, Ametista, se bem que como guardiã pelo simples equívoco de arruinar o destino e a vida de alguém o levando a morte deveria escutar uma formosa reprimenda. Vou aguardar com veemência o discurso que lhe aguarda de Galahad. — A guardiã o fuzilou, cruzando os braços em desgosto.
— Parem com isso. — Grannus sentenciou, exausto — não estamos aqui para discutir e sim acharmos uma solução plausível para o que aconteceu.
— Como? — Amis inquiriu analisando o protetor.
— Acredito que há algo além de que nossas visões possam nos mostrar, uma camada está sendo escondida de nossos dons e nos impedindo de ver a verdade da morte precoce de Brendan. — Ametista revelou, inquieta, suas mãos mexiam-se nervosamente sobre o tecido de seu vestido.
— Não há erros, não pode haver. — Bradou Amis.
— Mas ocorreu e agora cabe a nós resolvermos. — Ela inspirou fixando o olhar em Brendan. — Pelo menos ele está entre nós novamente.
— Graças a você que não foi. — Rebateu o possuidor.
— Amis! — Grannus grunhiu revoltoso.
Nathanael sentia-se perdido em meio à confusão ocasionada, sua cabeça parecia um turbilhão de pensamentos e seu corpo pesado. Recostando-se contra a parede de mármore.
— Acredito que por hora o que precisam agora é descansar. — O protetor de Meminisse declamou fitando Nathan. — Levarei vocês para os quartos e lá poderão se trocar e relaxar em meio às águas para repor as energias.
Em passos largos apressou-se para se retirar da sala e os guiar em meio aos aposentos evitando que Amis pudesse contestar suas ações. Ao serem deixados em seus respectivos quartos Nathanael permitiu-se descansar, enchendo a banheira com os aromatizantes, o cheiro doce o invadiu. O calor da água contra o corpo relaxou seus músculos tensos, e repousando a cabeça contra a borda fechou os olhos deixando-se aproveitar aquele pequeno momento de paz.
Seus pensamentos levaram ele até Celine, a imagem da mulher estava sempre presente em sua mente, torturava-se recordando da última vez que estiveram juntos - antes do acidente afastá-los completamente - havia levado a namorada para sua casa, odiava o lugar em específico não tendo boas recordações de sua infância ou adolescência, contudo Celine queria fazer parte de cada detalhe da vida de Nathanael e por mais que ele não gostasse de falar sobre seu passado queria a garota em seu futuro e para isso permitiu que ela conhecesse um lado que ele não permitia que ninguém visse.
Por mais que a residência pudesse ser considerada grande, o rapaz mal cuidava da área interna e tão pouco da externa, deixando o jardim completamente morto. A poeira impregnava cada móvel, principalmente pelo fato de Nathanael passar mais tempo na casa de Brendan e Celine, e quando precisava retornar para a sua, passava um tempo sentado na escada de entrada evitando ao máximo adentrar.
As lembranças machucavam e não pareciam cicatrizar, não quando ele continuava naquele lugar mesmo que sozinho sem seus pais por perto. Mas, quando Celine resolveu ir até lá tudo mudou.
Ela decidiu que ele não poderia viver em meio aquela solidão e passou a tarde organizando e planejando uma lista do que deveriam fazer para que Nathanael pudesse ao menos sentir que ali era seu lar.
O sorriso dela ainda estava firme em sua memória, conforme eles pintavam as paredes e a risada dela ecoava por seu ouvido quando Celine sujou todo o rosto do rapaz com tinta, o que resultou em ambos completamente coloridos e jogados no chão enquanto observavam o sol entrar pela enorme janela de vidro.
Os braços dele mantiveram-se ao redor do corpo dela, abraçando-a firmemente, não queria que aquele momento acabasse e tinha medo de que algum dia ficasse sozinho novamente.
Estar ao lado dela, fazia ele se sentir vivo e completo.
Abriu os olhos lentamente – suspirando – no fim suas inseguranças gritavam que ele sempre soube que continuaria sozinho. Ensaboou-se e se retirou a custo da água agora morna, retornando para o quarto buscando alguma roupa que lhe servisse. Pegou a túnica bege, porém antes de vesti-la focou sua atenção nas marcas excêntricas em seus braços que subiam até seus cotovelos. Um arrepio transcorreu por sua coluna ao lembrar de como tinha se sentido ao parar o próprio tempo diante de seus olhos, relembrando o ardor contra a pele, como se algo lhe queimasse.
Hesitou por alguns segundos, colocando o tecido decidido a se retirar do quarto e poder perguntar a Amis a respeito de tais marcas, contudo ao fazê-lo seus olhos focaram nas esferas vermelhas do guardião que observava ele do outro lado da porta.
— Gostaria que me acompanhasse. — A voz aveludada estalou, o olhar de Roman focou nos celestes do rapaz a sua frente, analisando-o.
Nathanael arqueou a sobrancelha contestável.
— Será rápido. — A voz feminina adentrou seus ouvidos, encontrando Ametista parada um pouco afastada dos dois. — É do seu interesse Nathan.
— E o que seria do meu interesse? — Questionou, desconfiado da repentina aparição.
— Celine. — Roman bradou, seu olhar chamuscou fitando-o, havia fúria em seu reflexo. — Siga-nos. — Ordenou, dando as costas para ele e seguindo em direção oposta ao qual havia entrado, indo para os fundos daquele corredor.
Incerto, o rapaz olhou para a mulher que abriu um sorriso reconfortante acenando para que ele a seguisse. Nathanael mordeu os lábios, inseguro, acompanhando os dois guardiões, mas algo em seu interior não confiava no que estava lhe esperando do outro lado daquela porta vinho.
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
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