𝔇𝔬𝔦𝔰 - 𝔈𝔪 𝔪𝔢𝔦𝔬 𝔞 𝔣𝔩𝔬𝔯𝔢𝔰𝔱𝔞 𝔩𝔞́ 𝔢𝔰𝔱𝔞𝔳𝔞 𝔳𝔬𝔠𝔢̂.

𝔇𝔬𝔦𝔰 - 𝔈𝔪 𝔪𝔢𝔦𝔬 𝔞 𝔣𝔩𝔬𝔯𝔢𝔰𝔱𝔞 𝔩𝔞́ 𝔢𝔰𝔱𝔞𝔳𝔞 𝔳𝔬𝔠𝔢̂

✠•❀•✠

(1674 palavras)

O sol ardia no céu límpido de nuvens, refletindo sobre as águas, o barulho alto e ensurdecedor de algo caindo e chocando naquela imensidão fez os pássaros voarem pelas diversas árvores em grunhidos altos. O buraco formado na terra com o impacto foi avassalador deixando um gemido de dor escapar pelos lábios da criatura ao sentir seus ossos colidirem contra o chão que do alto parecia ser macio, mas ao atingi-lo lhe deu a sensação de estar entrando em contato rente a rochas duras, perfurando-o.

Eru ergueu o corpo sentindo suas entranhas dilaceradas queimarem por dentro de seu interior, respirou fundo antes de fechar os olhos e levar sua mão direita de encontro aos machucados, sussurrou as palavras mágicas.

Uma luz abundante brilhou de suas mãos tomando conta de todo o corpo, inundando-o, naquela magia intensa e exorbitante. A dor se dissipou aos poucos trazendo paz que durou apenas alguns segundos após lembrar-se da tortuosa viagem feita para o reino de Tellus, perguntou-se onde estaria o seu soberano, completamente perdido naquela vasta vegetação. Em todos os seus anos visitando diversos universos, aquele de fato foi o mais verde que pode vislumbrar com admiração.

Era a sua primeira vez em Tellus.

Observou as mãos avermelhadas com pequenos cortes ainda não cicatrizados e questionou-se qual era a aparência daquele povo desconhecido, tinha uma breve recordação a respeito de quando Amis era um simples mortal, porém faziam milênios desde a última vez que o viu em sua forma original. Caminhou tranquilamente ao escutar o barulho de água corrente e sentiu a euforia atingir o seu peito. Correu por entre as folhas e galhos quebrados, pulando entre as pedras e ao observar a abundância azul que tomou os seus olhos amarelos, sorriu animado com os lábios ressecados.

Preencheu sua palma com o líquido, levando aos lábios apressadamente e sentiu a garganta clamar por mais, parecia um animal sedento que não bebia há dias e talvez aquilo fosse verdade. Perdeu a noção de quanto tempo estava viajando ao lado de seu mestre quando seus corpos colidiram contra um meteoro.

— Maldito meteoro! — Bradou irritado, sentindo as veias pulsarem em fúria.

Precisaria tomar cuidado naquele novo mundo, estava imerso no completo desconhecido. Sua forma verdadeira não agradaria os olhos daqueles que habitavam aquele universo, nem todos sabiam lidar com o desconhecido principalmente ao ouvir as histórias de que em Tellus poucos conheciam sobre a amplitude dos outros reinos e seria provável que ao verem a criatura de pele avermelhada e escamas espalhadas, não seria diferente. Esse foi o preço que os tellunianos passaram a ter, habitados longe de qualquer ser mágico e os que conheciam não estavam mais entre os vivos. Visualizou sua fisionomia na água os dentes pontiagudos ficaram evidentes e os olhos amarelados brilharam como duas esferas douradas, em conjunto com as orelhas pontudas como de um elfo.

Levou o dorso da mão aos lábios secando o rosto, em seu dedos possuía garras e o par de asas negras se mantinha erguido, o que tentava ao máximo esconder, mas como deveria se transformar no desconhecido se não recordava com exatidão a aparência deles.

Respirou fundo e coçou os olhos, caminhou na vastidão ao encontrar uma ponte, andou em passos pequenos apenas esperando o momento que teria que correr para longe de qualquer monstro que pudesse machucá-lo. Quando ouviu um chiado alto ricochetear por aquele corredor.

Buscou o som por todo o local parando no indivíduo sentado com as pernas entre os ferros e as mãos apoiadas no rosto, sentiu a aura escura do rapaz dar calafrios em seu corpo, estremecendo-o e arrepiando os pelos. Andou vagarosamente observando a figura quieta, os cabelos negros como a noite e olhos tão vazios que refletiam a cor daquela imensidão azul, mas o olhar de Eru focou no objeto preso no pescoço do desconhecido, pendurado em torno da garganta.

Eru uivou fervoroso sentiu a raiva tomar o corpo ao perceber o amuleto de seu mestre nas mãos de um ser tão repugnante, correu na direção do rapaz que virou para ele com a expressão assustada de modo a levantar-se de modo ágil. A criatura pulou em cima de Natanael que se desequilibrou, levando os dois a caírem por entre a água corrente.

Debateram-se sobre as ondas que levou os dois corpos. Eru sentiu as asas pesadas demais para tentar chegar à margem, duas mãos fortes seguraram o corpo dele puxando-o para a direção oposta daquela correnteza. O ardor na garganta fez o mesmo engasgar com a água que batia contra sua face.

Suas costas colidiram contra algo fofo apertando a mão em torno da terra, sentiu o alívio em seus pulmões e o ar voltou a preenchê-los por completo repelindo a água para fora de seu corpo. Eru ergueu o tronco em defesa ao lembrar-se da criatura horrenda que o fez cair ao esquivar-se.

Curvou o corpo ficando firme diante das pernas e tocou as mãos ao chão abrindo as asas escuras, o seu rabo felpudo na ponta balançava de um lado para o outro apenas esperando o momento certo para atacar, mas o que encontrou foi um par de olhos observando-o, espantado.

— Quem é você homem repugnante? — Sua voz saiu como um rugido fazendo as árvores balançarem em meio à ventania que se formava entre os dois.

— E-eu sou Natanael. — A gagueira tomou a figura masculina a sua frente, fazendo o demônio rir pelo nervosismo transparente.

— O que faz com o colar do meu mestre? — A fúria em seus olhos fez o rapaz dar um passo vacilante para trás.

— Seu mestre? — Natanael perguntou incerto, levando as mãos ao colar tocou delicadamente o objeto por entre os dedos. O olhar dele pareceu brilhar. — O homem dourado é seu mestre?

A risada de Eru reverberou pelos ouvidos de Natanael que se encolheu em meio às folhas.

— É assim que o chamam aqui? — Eru encarou o rapaz divertido, ergueu seu tronco tentando segurar a gargalhada que saia dos lábios deixando à mostra as presas pontiagudas.

— E qual seria o nome dele? — A voz de Natan saiu mais confiante do que Eru esperava, as criaturas tinham medo ao estarem diante de si, mas nos olhos do rapaz a sua frente tudo que encontrou foi curiosidade.

— Amis ficará irado ao saber que é tão insignificante nesse reino. — Balançou a cabeça em negação pensando onde o soberano poderia estar.

Seus olhos focaram no colar no pescoço esguio do jovem, esticando as garras na direção dele.

— Me devolva. — Rosnou, deixando a raiva voltar para dentro de seu interior. — Um mero expurgo como você não merece segurar tal amuleto.

— Amuleto? — Natanael sussurrou baixo quase inaudível, segurando o pingente entre os dedos novamente. — O que ele faz?

A curiosidade no olhar do garoto não era boa, Eru sabia o que aquilo significava, podia sentir o interesse crescente tomar as veias do rapaz e tinha conhecimento que a sede de poder o rondaria como fazia com todos, exceto seu mestre.

— Não é da sua conta, agora me devolva! — Bradou, aproximando-se, porém Natanael não se encolheu como antes ficando firme diante do demônio.

— Apenas me diga. — Natan pediu mantendo o olhar celeste sobre o dele.

Um suspiro pesado saiu da boca de Eru levando as mãos aos cabelos acobreados, tinha conhecimento de que ao dizer sobre o colar estaria cavando a própria cova. Sem Amis ao seu lado não possuía certeza de que poderia falar sobre aquilo, eram regras de Galahad e não ousava descumpri-las.

— Todos os universos estão interligados, o passado, presente e futuro. Poucos conseguiram controlar o poder diante de suas mãos, quase ninguém voltou vivo para contar sua história, mas somente um único, o escolhido, possui a magia para andar entre a vastidão do tempo e torná-lo um só dentro de seu ser.

— Isso significa que esse colar pode controlar o tempo e o destino de alguém? — A voz alta do jovem ecoou estrondosa pela mata.

— Isso significa que você deve me devolver! — Eru bradou pulando em cima de Natan, mas seu corpo foi ricocheteado pela imensidão azul que o atingiu, fazendo-o bater contra uma árvore.

— Você está bem? — Escutou a preocupação transbordar da voz do garoto, notando Natanael correr em sua direção e tocar o corpo dele com o olhar atento em algum machucado, ajudando-o a se levantar.

— Isso não pode estar acontecendo. — Eru olhou hipnotizado para o pescoço de Natan que seguiu os olhos amarelos notando a cor abundante que exalava em torno do colar.

— O que é isso? — Natan perguntou vacilante.

— Ele te escolheu, mas como? — O demônio ergueu o corpo abismado.

Precisava encontrar Amis com urgência, pois se Natanael fosse a pessoa que procuravam deveria levá-lo de imediato até o possuidor.

— Vamos! — Eru gritou, puxando o braço de Natanael a força que tentava de todos os modos se soltar das garras apertadas. O que foi inútil.

— Para onde? — Natan perguntou assustado.

— Você verá! — Eru bradou irado com a curiosidade aguçada do jovem.

Levou a mão aos bolsos segurando a esfera vermelha contra os dedos, apertando-a, antes de jogá-la contra a mata e que ao atingir o chão se abriu em um círculo de luz ardente cegando a vista de Natanael por alguns segundos.

— O que é isso? — nos olhos do jovem refletiam a confusão que estava alojada dentro do peito.

— Isso meu caro Natanael é o poder supremo dos universos, o portal que te levará ao local onde o seu coração mais anseia estar!

Eru notou o vislumbre passar pelo olhar do rapaz em pura expectativa, sentiu um incômodo crescer no estômago, o demônio imaginava como aquilo terminaria. Seria apenas mais um possível escolhido que fracassaria por querer mais do que poderia ter, mas a única coisa que Eru se perguntava era:

O que Natanael tanto ansiava e que o faria adentrar o desconhecido em busca de suas próprias respostas?

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

Oie, deixa um comentário do que está achando da história, isso me ajuda a melhorá-la. 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top