TRISCLE


Triscle

Liza

Apesar de revigorada após o meu jantar gorduroso, seguido do sono envolto por asas macias, havia uma ânsia crescente em meu peito. Eu precisava, necessitava, desesperadamente falar com ele, o homem dos olhos esmeraldas. Após o meu esforço gigantesco de mantê-lo distante por medo de Ethan, a falta dele me dominava, por mais que eu ainda não tivesse recordações sequer de um segundo de nós juntos.

Fiquei grata pelo presente de Adrian. Ele me devolveu a memória das noites que passei presa na cela. Por mais aterrorizada que estivesse, ao menos eu guardava certeza do fingimento de Ethan, e faria algo para livrar minha irmã de seus feitiços. Tentei não ficar paranoica. Se ele possuía o poder de assumir a aparência de qualquer pessoa, o que só acreditei depois de Adrian me explicar que quem me libertou da cela foi Ethan se passando por irmã Daiana, ele poderia ser qualquer um. Minha irmã. Adrian. Ben. Amanda. Nathaniel?

A paranoia me dominava sorrateiramente, percebi ao machucar meu dedo após tanto roer a unha enquanto refletia e insisti:

- Vamos Adrian, até minhas olheiras já começaram a sumir.

- Por que está tão animada, Liza? Você não está tramando alguma coisa, está?

Revirei os olhos em resposta, ele me encarou desconfiado.

Adrian insistiu que eu ficasse em casa para concluir a recuperação, mas meu corpo já doía de tanta inércia. Após muita insistência, saímos do apartamento. Infelizmente levou pouco tempo até que nos arrependêssemos.

Fomos tomar café da manhã numa lanchonete de aspecto familiar, no final da calçada do meu prédio. Adrian quis que ficássemos por perto.

Reguei minha pilha de panquecas com syrup e ele riu do meu comportamento de filhote de rinoceronte.

- O que? – perguntei enquanto ele sorria para mim. A suavidade do seu olhar foi substituída por algo mais íntimo, a cor tinha voltado ao caramelo que eu tanto gostava. Suspeitei que Adrian estivesse camuflando a cor púrpura, ele enrugou sutilmente o canto dos olhos e esses me insinuaram coisas que eu não estava pronta para lidar.

Mãos invisíveis acariciaram minha nuca e desceram pelas costas, fechei os olhos contra a minha vontade e fui preenchida por aquela sensação de calmaria. Quando os abri, o ar de presunçoso havia voltado. Adrian parecia muito satisfeito com as mãos apoiadas atrás dos cachos caramelo.

- Pare com isso. – Voltei a sentir a raiva borbulhar. Ia de meu peito até as mãos. Coloquei-as no tórax numa tentativa de me acalmar e prender o sentimento no seu local de origem.

- Ei, calma – ele afagou minhas mãos – Desculpe, não quero que exploda a lanchonete.

Respirei fundo e com seu pedido de desculpas a raiva se dissipou. Fiquei contente ao ver que ganhava mais controle sobre o poder. Adrian acariciou minha bochecha e notei um desenho em seu pulso quando ele afastou o braço.

- Por que você não usou esse poder para se livrar de Ethan? – perguntou de repente curioso.

- Já me perguntei a mesma coisa, mas acho que no medo ele se esconde. As vezes desconfio que é você quem desperta isso em mim.

Seu sorriso se iluminou com o que eu disse e eu li seus pensamentos.

- Adrian – alertei sentindo-me nervosa outra vez.

- Eu não fiz nada agora.

Bufei e dei de ombros.

- O que é esse desenho no seu pulso? – Era estranho, me lembrou a letra V retorcida em ângulos formando um círculo, se uniam no centro.

- É um triscle – falou como se fosse algo banal. Mas eu o conhecia o suficiente para saber que existia algo por trás daquilo, seus ombros estavam duros e suas feições de repente se .

E minha mente deu um estalo. A voz de Noah me invadiu os pensamentos e perdi o ar. A marca. Adrian possuía a marca! Apoiei as mãos na mesa e inalei com força para afastar o pânico. Por sorte, Adrian observava compenetrado um homem sentado no balcão. Esse se levantou e esqueceu o jornal na bancada.

Adrian foi até o balcão e sentou ao meu lado com o jornal. Parecia muito interessado na matéria de capa. Arregalei os olhos quando li a matéria de capa:

OS ASSASSINATOS DO EYEKILLER JÁ SOMAM

Foram descobertos na última noite, os corpos de mais doze jovens inocentes. As vítimas de 17 anos de idade, foram todas encontradas mantendo o padrão do assassino. Seguravam a orquídea púrpura, também conhecida por orquídea negra e tinham os olhos abertos, arregalados em medo.

A investigação continua em busca da ligação desta planta com os crimes.

A polícia já identificou todas as vítimas e confirmou as suas datas de nascimento: 06/06.

As jovens faleceram de enfarto súbito do miocárdio. Dessa vez, os corpos foram empilhados com total descuido, no meio da Beaver Street de esquina com o colégio Millenium, o que foi interpretado por especialistas como um aviso de onde virão suas próximas vítimas.

O prefeito de Nova Iorque decretou férias escolares e reforçou seu apelo:

"Não saiam sozinhos a noite e não deixem suas filhas sem companhia em nenhum horário do dia. Ajudem a polícia de NY."

Foi o que declarou à mídia televisiva sendo vaiado pelos presentes no local.

"Uma nuvem negra paira sob Nova Iorque, fiquem alertas." – Disse um dos pais em meio as lágrimas ao identificar sua filha entre as vítimas.

Nenhum suspeito foi identificado até o momento. As autoridades trabalham em busca de digitais.

Se você possui qualquer informação, ligue diretamente para: 212 - 789-4661

Adrian parecia enojado, balançava a cabeça de um lado para o outro.

- E eu pensando que ele desejava apenas uma... – falou para si mesmo.

- Do que você está falando?

- Você não entendeu, Liza? O eyekiller, é Ethan. – disse exasperado

Levei as mãos a boca e refleti. Se há dias atrás eu não tivesse passado pela experiência de ser enjaulada e agredida por ele, eu duvidaria. E quanto a orquídea negra, eu também recebi uma. Continuava lá, ao lado de fora da janela de meu quarto, escondida pela cortina. Um calafrio me percorreu quando lembrei da tarde em que ganhei a flor. Mas não foi Ethan quem me deu de presente. Foi aquele garotinho, a mando de alguém muito pior.

- Mas por que doze meninas? O que isso quer dizer, Adrian?

- Ainda não sei. Mas irei descobrir e se ele está agindo dessa forma, significa que está desesperado. Isso é demais, até para ele.

Voltamos para casa absortos. Meus pensamentos borbulhavam e os de Adrian pareciam ferver.

Ele me disse que sairia um instante mas que eu não me preocupasse, pois não estaria sozinha. Não compreendi exatamente o que isso significava, mas mesmo assim tive medo que algo aparecesse.

Antes de me perder nas próprias deduções, liguei o computador e fui pesquisar os significados de Triscle, a palavra que ele usou para descrever a tatuagem em seu pulso. Fui lendo vários resultados que apareceram no google:

"...é um símbolo formado por três espirais entrelaçadas, por três pernas humanas flexionadas ou por qualquer desenho similar que contenham a ideia de simetria rotacional..."

"O tríscele é um símbolo que aparece em muitas culturas da Antiguidade, como a dos Celtas ou a micênios ou dos lícios..."

"Na cultura celta é dedicado à Manannán Mac Lir, o Senhor dos Portais entre os mundos. Tudo indica que o número três era considerado sagrado pelos Celtas, reforçando o conceito da triplicidade e da cosmologia celta de: Submundo, Mundo Intermediário e Mundo Superior..."

Continuei lendo as diversas informações, mas nenhuma descrevia o desenho sendo o mesmo que vi no pulso de Adrian. Digitei a palavra três no Google e abri o link do Wikipedia:

"O número 3 tem uma grande importância simbólica de união e equilíbrio, aparecendo na Santíssima Trindade, nos três poderes (jurídico, executivo, legislativo) etc, sendo recorrente sua presença na literatura e nas artes. O três também é um número muito citado na Bíblia, como é o número da Santíssima Trindade..."

A cada leitura que eu fazia, acumulava mais uma suspeita. Todos aqueles significados, teria ele algo a ver com criação de tudo que conheço desse mundo?

Adrian as vezes parecia humano demais para isso. Mas ainda não havia explicado o porque de suas asas, seus dons de ler minha mente, de se materializar, se transformar em um animal. Anjos faziam isso? Pelo visto eu desvendava muito mais sobre o mundo do que sobre .

Continuei a ler os outros resultados e tive a mente dominada por visões de uma árvore. 

Um penhasco. Um par de olhos esmeraldas me olhando do escuro. 

Elas se repetiram. 

Uma, duas, três vezes. 

Senti o mundo rodar e perdi o controle do corpo

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Ainnnn meu coraçaummmm! Estão preparados para o próximo capítulo?

Beijosss e até amanhã!

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