SUSPEITAS


Suspeitas

Amanda

- Então que horas eu busco você no domingo, minha fofucha?

Ben estava absurdamente animado enquanto esperavam seu voo para NY num café do aeroporto. Arqueou a sobrancelha para ele. Suspeita por sua alegria e pelo apelido novo.

- Está me chamando de gorda?

- Se não gostou de fofucha, vou te chamar de minhoquinha. Pode ser? Porque elas são magrinhas. – disse se aproximando de sua boca.

- O que está armando, Ben? Estou te achando animado demais com esses dois dias sozinho em casa.

- Pode parar Amanda. Eu não estou animado, eu sou.

Ele lhe deu vários beijos estalados descendo da sua bochecha até o pescoço.

Ouviram a voz feminina anunciar no microfone:

- Voo 1418 com destino a Nova Iorque, última chamada para o embarque.

Andaram até o corredor da plataforma, Amanda deu um beijo de despedida em Ben e ele abriu seu sorriso de quem vai aprontar alguma, antes de deixar sua vista.

- Juízo hein, Ben! – gritou para suas costas, ele se virou e piscou.

Não sabia expressar o quão absurdamente aliviada se sentia por Ben não ir a festa de noivado. Essa era a prova de que o terror anunciado na Casa do Mago não se concretizaria. Mas seu comportamento misterioso a deixou suspeita.

Definitivamente ele escondia alguma coisa.

***

Liza

Eu esperava ansiosa na área do desembarque. Faltava um dia para o terror previsto na Casa do Mago. O dia em que todos estaríamos no mesmo lugar. O arrepio me embrulhava o .

Uma vida, pela outra.

O terror seria impedido apenas se uma vida fosse interrompida antes de sua hora. Uma vida, pela outra. Mas eu não faria isso, nunca. Não havia absolutamente nada nesse mundo que pudesse me levar a concluir a previsão de Noah.

Adrian ficou sentado de braços cruzados, vinha me dando gelo nesses últimos três dias. Como se eu, após ser praticamente jogada do topo do Rockefeller Center, é quem devesse algum pedido de desculpas.

Ele agora só falava comigo, quando para dar ordens em minha mente e se comportava como um segurança contratado.

Andava atrás de mim mantendo os braços cruzados no peito inflado, adorava sua pose de: Estou no comando.

Pelo canto dos olhos, vi uma silhueta loira, meio desengonçada derrubar uma mala enorme no chão, onde a esteira fazia um semicírculo, ela teria que pular no centro para conseguir pegar a mala. Era Amanda. Sozinha. Onde estaria Ben?

- Oi, Amanda! – falei quando parei ao seu lado.

- Ai, que susto Liza! – ela botou a mão no peito – Oi! – falou mais animada após se recompor e me abraçou.

- Olá, Amanda! – ouvi a voz de Adrian pela primeira vez em três dias – Deixe que eu pego sua mala.

Sem o menor indício de esforço, Adrian passou suas longas pernas até o centro vazio entre as esteiras, pegou a enorme mala com um dedo e a pousou no chão.

- Ooo..brigada. Adrian, não é? – gaguejou Amanda boquiaberta.

- Isso! – ele respondeu com uma piscadela e abriu um sorriso encantador. Eu sabia exatamente onde ele queria chegar com isso.

- Onde está o Ben? – passei os olhos por trás de Amanda, procurando por ele. Tentei esconder o medo por trás da pergunta.

- Ele...Não pôde vir. Ficou preso com um trabalho que precisou terminar. Mandou um beijo pra você. – ela limpou a garganta. O assunto parecia incomodá-la tanto quanto a mim.

- Ah, que pena. – me esforcei para soar verdadeira mas o sorriso fugiu na voz. Amanda estreitou o olhar parecendo suspeita, mas não disse nada.

Pegamos um táxi até o apartamento, Adrian foi sentado no banco ao lado do motorista e Amanda, atrás dele, me cutucou de lado e o indicou com o olhar subindo e descendo as sobrancelhas freneticamente, moveu apenas os lábios:

- O que está rolando?

- Nada. É meu cão de guarda. – diferente dela, falei em voz alta para provocá-lo. Amanda riu, percebendo a minha intenção.

Após deixar a mala no hotel eu queria ficar sozinha com ela, mas Adrian mantinha a promessa de não me deixar desprotegida. Nessa última hora tive um vislumbre do que seria ter uma vida normal. Sem visões estranhas, sem vozes gritando no escuro, sem espectros tentando me sufocar. Mas isso acabava durando muito pouco. Eu precisava ficar a sós com ela, para lhe perguntar do ocorrido na Casa do Mago. Não nos falávamos desde aquele dia, exceto alguns e-mails curtos que .

Chegamos no apartamento e fomos ao meu quarto com Adrian as nossas costas.

- O que acha de irmos às compras, Amanda? Ainda não tenho vestido para amanhã. – lhe perguntei animada com a ideia. Eu realmente precisava de um vestido e Adrian detestaria esse tipo de programa.

- Sabe que eu não resisto né, Liza? Mas acho que compras em NY estão fora do limite do meu cartão de crédito.

- Isso não será um problema. Que tal estourar o cartão de crédito de Ethan? – ergui no ar o cartão que acabava de tirar do bolso.

- Quem é você, e o que você fez com a Liza que eu conheço?

- Digamos que não sou mais tão boazinha – pisquei e fiz questão de olhar para Adrian quando o disse. Ela sorriu parecendo orgulhosa de mim.

- Então vamos! Você sabe que terei um duplo prazer ao fazer isso.

- Ótimo! Quer tomar um banho, ou comer antes de sair?

- Pensei que o objetivo fosse estourar o cartão.

Sorri em resposta ao entender o que ela quis dizer.

- Você vai, né Adrian? – Diz que não. Reforcei em seguida em meus pensamentos.

- Não Liza, acho que esse programa será mais interessante se estiverem sozinhas.

"Tente, não fazer nenhuma burrice e esteja de volta à noite." – rosnou em resposta no meu ouvido.

"Tente, me deixar em paz. Pelo menos até o final do dia." – respondi com raiva.

"Infantil."

"Eu? A última coisa que me lembro é de ser praticamente jogada de um prédio e ser ignorada por três dias em seguida."

"Estarei por perto se precisar de mim." – afirmou ignorando o que eu disse.

- Até logo, Amanda. – disse em seu tom camarada antes de deixar o quarto.

- Até mais, Adrian. – ela sorriu, visivelmente derretendo com seu charme.

Revirei os olhos.

Amanda abanou as mãos afastando um calor inexistente depois que Adrian saiu.

- Não sei como você resiste. – disse enquanto pegava uma bolsa de mão de dentro da mala.

- Não sei do que você está falando. – dei de ombros sabendo exatamente qual era a questão.

- Ah, para Liza. – bufou risonha.

- Tenho pensado em olhos verdes, como esmeraldas. – soltei sem pensar.

Ela sorriu, mas de repente sua feição entristeceu ao concluir seu pensamento:

- Você ainda não soube notícias dele, não é?

Meneei a cabeça em resposta. Nada que eu dissesse a ela poderia se aproximar da verdade. E pensar em Nathaniel fazia doer a saudade imensa do algo que eu desconhecia.

- O que lhe disseram na Casa do Mago? – desviei o assunto rápida como uma bala e perguntei o que martelava na minha cabeça. Nenhuma conversa me daria a deixa para esse tópico mesmo.

- Que mudança brusca hein, Liza? Prefiro não falar sobre isso. Quer dizer, agora que passou o perigo, não vejo mesmo porque. – Ela pareceu ter se arrependido de soltar a última afirmação.

- Então foi sobre algo que trazia algum perigo?

- Sabe, você pode não lembrar, mas continua a mesma Liza inquisidora de sempre. – falou relaxada, confiante de que eu não conseguiria arrancar a informação. – Vamos? Sua promessa de estourar cartões de crédito me deixou muito animada.

Desisti e aceitei a derrota do momento. Ela não iria me contar o que aconteceu.

Apesar da ausência de Ben anular a previsão da Casa do Mago, o medo continuava a me arranhar a garganta.

Eu sabia que alguma coisa ruim aconteceria. E não demorei para descobrir que estava certa.

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Aguenta coraçãooooo, está chegando o momento tão esperado! =O

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