SEMELHANÇAS
Semelhanças
Liza
Acordei com o plano para recuperar o diário já elaborado na cabeça. Eu fingiria para Adrian que treinaria minhas lembranças, e o pegaria de surpresa. Ele com certeza carregava as folhas com ele.
Ainda era cedo quando sai para caminhar. Enquanto andava, repetia mentalmente os exercícios de memória, era cansativo e desgastante ficar repetindo tudo o que se sabe sobre si mesmo até que algo novo apareça, mas eu tinha que tentar.
Minha lembrança quase chegava aos portões do cemitério, a noite em que perdi a memória, quando ouvi uma respiração arfante ao meu lado e tive os dedos molhados por uma lambida áspera.
Perdi a paciência em um segundo. Adrian não devia ter me seguido. Meu sangue ferveu e o poder já começava a queimar de dentro para fora.
Olhei para baixo e vi o Husky Siberiano me olhando suplicante, ele sentou sob as patas traseiras e chorou como um filhote abandonado.
"Gostaria de mais um dia de folga" – acariciei suas orelhas e respirei fundo para me acalmar. Ele fechou os olhos satisfeito.
"Não está com saudade de mim? Senti sua falta." – ele chorou como um filhote, ignorei sua pergunta porque me vi indefesa com seus sentimentos e pensei:
"Pare de me seguir, e não venha como Toffee, não é justo, não consigo me controlar.
"Acho que você gosta mais de mim, quando pareço com um Husky Siberiano, deve vir dessa sua mania de cuidar e proteger a todos antes de você."
"Acho que vou comprar um rotweiller."
"Você sabe que isso não será um desafio para mim e já te deixei um dia e meio sossegada."
"Quero ficar sozinha, Adrian." insisti apertando o passo.
"Eu estou respondendo ao chamado desde o dia do cemitério, Liza. As coisas não podem perder o equilibrio, ficarei aqui, até cumprir a missão."
"E qual é a sua missão além de me provocar, Adrian?"
Meu plano já ía por água abaixo. A irritação me consumia. Eu não conseguia entender, apesar de gostar de sua presença, algo nele despertava coisas boas em mim, mas ao mesmo tempo com sua postura de protetor e conhecedor da verdade ele me irritava profundamente, por mais que ao seu lado eu me sentisse segura.
"E pare de usar seus poderes em mim."
"Eu apenas ressalto o que você já possui Liza."
"Não sei, não."
"Pare Liza, você está sendo irritante e infantil e eu estou aqui para o seu bem."
Respondeu enquanto assumia bruscamente a forma de Adrian e me obrigou a interromper a caminhada.
- E por que você quer o meu bem? Eu sou uma página em branco, às vezes acho que nunca vou me lembrar e você em vez de ajudar, está me atrapalhando.
- Se você não fizer isso, se eu não fizer isso, estaremos todos condenados. – ele falou sério e me segurou pelos ombros. As pessoas que passavam pela rua começaram a se acumular a nossa volta e nos olhavam assustadas. Um policial fez menção em se aproximar, Adrian o afastou com um olhar.
Olhei para o lado e vi que bastaria atravessar a rua para chegar até o orfanato. Ali ele não poderia falar sobre o assunto. Adrian percebeu.
- Você não vai fazer isso, Liza – rosnou
- Como pretende impedir? Que tal me devolver as páginas do diário, seu dissimulado? – cuspi de maneira feroz.
Ele me olhou espantado com a forma que falei.
- Ainda não é a hora, Liza.
- Bom, então me avise quando ela chegar. Enquanto isso, me deixe em paz por favor – atravessei a rua.
- É uma pena – gritou inabalado enquanto eu me distanciava – hoje eu iria lhe contar o que aconteceu no cemitério, mas vou te deixar em paz, Liza!
E desapareceu, me deixando três vezes com mais raiva que antes. Se eu pudesse, deitaria na neve que cobria o chão, numa tentativa de esfriar meu sangue, que fervia borbulhando debaixo de minha pele.
Entrei no orfanato e de longe escutei as vozes do coral. As crianças praticavam, sorri com aquele som, relaxava meus nervos à flor da pele.
Andei até a capela e as vi, pequeninas e sorridentes cantando no altar. Meu trabalho no orfanato reforçava a minha convicção de que se pode tirar o bem das piores situações, não importa o quão ruim tudo possa parecer.
Se elas, tão jovens e já com tantas dificuldades conseguiam sorrir verdadeiramente, abrindo aquele sorriso que sentimos no coração, eu deveria ser capaz do mesmo ou pelo menos deveria tentar.
Sentei-me no banco de madeira e as observei, fechei os olhos por um instante, relaxando com o som do órgão tocando ao fundo e estremeci com a voz de súbito em meus ouvidos.
- Vejo que continua acreditando na inocência, Liza. Por que está tão desesperada para se decepcionar? Essas criancinhas que você tanto admira, não passam de pecadoras. Senão, por que mais estariam aqui?
Não o ouvi se aproximar, mas não precisaria abrir os olhos para reconhecer sua voz pois era a mesma da casa do Mago. Quase pulei do banco, ao ver que era Noah do meu lado.
- Eu não busco a inocência Noah, acredito em perdão. Acredito que as pessoas são capazes de mudar. Prefiro estar disposta a acreditar nas coisas boas.
- O que você imagina que tenha acontecido à seus pais? – ele esticou os pés a frente e cruzou suas mãos atrás da nuca – Será que eles foram perdoados?
- O que você sabe sobre eles? Por que precisariam ser perdoados? – não contive minha curiosidade, até então conversava com Noah fingindo indiferença quanto ao medo gélido em minhas veias.
- Ah, a curiosidade humana, ou amor como muitos gostam de chamar, é com certeza a minha fraqueza favorita. O mais importante Liza, é o que sei sobre você. E quanto a isso, já lhe fiz a gentileza de mostrar na casa do Mago. Cabe a você agora, abraçar sua verdade.
Notei que Noah estava com a mesma jaqueta de couro do museu quando se levantou. Novamente pensei em sua semelhança com Ethan, como algo questionável pela física mas ainda era ao mesmo tempo, como olhar para duas pessoas absolutamente iguais e ter a certeza absoluta, de que eram pessoas diferentes. Ao invés de andar até a porta, ele simplesmente evaporou ao meu lado. Noah conseguiu quebrar o encanto que eu sentia minutos atrás ouvindo o coral, a lembrança daquela noite me fazia esquecer todo o resto dos meus problemas, porque o futuro que me revelou era o maior de todos, e só eu poderia dar um fim àquilo.
Desisti de encontrar a paz e fui embora. Nevava muito quando saí do orfanato, apesar de estar vestindo botas, luvas, gorro, cachecol e jaqueta, estremeci com o vento frio.
Caminhei pesadamente e busquei olhando para os lados um táxi que me salvasse daquele gelo.
Escutei o barulho de uma buzina e logo em seguida alguém gritando meu nome:
- Liza! Venha! – Ethan me chamou do banco de trás de um carro. Suspirei agradecida quando entrei no aquecedor do carro.
- Está querendo congelar? O que fazia andando na neve?
- Eu...estava...no orfanato, a previsão...não mencionou neve para hoje – respondi entredentes.
Olhei para Ethan e por ironia do destino, ele usava uma jaqueta de couro preta, igual a de Noah. Havia alguém testando minha sanidade, foi o que pude concluir.
- Você não tem irmãos né, Ethan? – perguntei torcendo para que dissesse que sim. Ele procurava distraído alguma coisa em sua maleta.
- Hum? Não Liza, achei que tivesse lhe contado isso, mas por que o interesse?
- Nada não, curiosidade.
Me olhando intrigado e com um brilho estranho nos olhos, Ethan me entregou um copo térmico, ele parecia muito tenso.
- Beba esse chá, vai se sentir melhor.
- Obrigada – dei um gole e senti a bebida quente descer de maneira confortadora por minha garganta .
- Lindberg, leve-nos a rua 13, e deixe-nos na esquina daquele viaduto, que desabou há uns dias – disse ele ao motorista.
Eu estava prestes a protestar quanto ao endereço, pois queria ir para casa e não entendi porque Ethan queria me levar até lá. Mas meus membros de repente paralisaram e minha voz não obedeceu meus comandos.
Olhei para o chá que bebia e o deixei cair, em seguida meu corpo mole escorregou na poltrona do carro. Antes de perder a consciência, o observei alguns segundos e vi que Ethan sorria maliciosamente.
_______________________________________________________________________________
AMORESSS, não sei o que aconteceu ontem, mas o wattpad não notificou a postagem. Acabo de deletar e postar de novo. Me avisem por favor se funcionou.
E tem mais um a seguir! =)
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top