O MAGO
O Mago
Liza
- Olha Liza! Podemos ir? – Amanda apontou para o cartaz colado no muro atrás de mim, me virei e li o que dizia:
"Volto ao passado e desvendo os mistérios de seu futuro. O Mago."
Apesar do péssimo pressentimento, acabei aceitando.
- O Ben vai me matar se souber. Vamos manter segredo, ok Liza?
- Claro Amanda, só estou preocupada com esse endereço. Não conheço nada no Brooklyn e todos dizem que é perigoso.
- Sempre cautelosa, vamos de táxi e pedimos para o motorista nos esperar.
Ignorei a intuição que gritava comigo como uma criança desesperada me puxando pelas pernas, implorando para não ir.
Fizemos sinal para um carro amarelo e sentamos, o taxista era estranho, antipático e ignorou todas as perguntas de Amanda durante o trajeto. Quando chegamos, eu não queria descer do carro.
Estávamos em um beco escuro, de casas abandonadas e eu duvidei que tivesse uma viva alma ali além de nós duas. E para piorar a situação, já anoitecia.
Quando olhei, Amanda já havia descido do carro, parecia vidrada em alguma coisa. Indo contra todas as minhas células, paguei o táxi e fui atrás dela. O motorista mal me esperou fechar a porta para correr dali. E assim, contra o planejado, ficamos sozinhas.
- Amanda! – gritei quando ela pousou a mão na maçaneta de uma casa e corri para tentar impedi-la – O que você está fazendo?
- Shhhhhh – ela me pediu silêncio apontando para dentro da casa e entrou.
Tentei puxá-la pelo braço, mas ela me arrastou para dentro. No segundo que entrei, a porta se fechou atrás de mim. Pânico era pouco para descrever o que eu sentia naquele momento.
Fiquei cega enquanto meus olhos se acostumavam à escuridão da casa.
- Cadê você, Amanda? Que saco, vamos embora daqui!
Tateei pelas paredes e ouvi o assoalho de madeira ranger aos meus pés, meu corpo tremia de medo.
Respira Liza, respira, respira, respira. É só uma casa abandonada.
O cheiro doce do ar, me sufocava. Enjoei tão rapidamente, pensei que fosse vomitar.
- Amanda! – gritei e minha única resposta foi o eco trazendo de volta minha própria voz.
Meus dedos tocaram em alguma coisa na parede, soltei o ar aliviada e apertei o botão. Fiquei cega mais uma vez quando a luz acendeu.
Era uma casa antiga, haviam teias de aranha em todos os cantos, o tapete cobrindo todo o chão, estava esbranquiçado de poeira.
Acima de mim, um enorme candelabro tilintava quando suas partes de vidro batiam conforme o vento frio entrava pelas frestas das janelas. Fitei uma escada em espiral a frente, ladeada por duas estátuas de gárgulas negras. Até onde meus olhos conseguiam enxergar, a escada levava a um andar de puro breu.
- Amanda! – gritei mais uma vez. – Por favor não me faça subir essa escada atrás de você.
Falei já temendo o que poderia me aguardar no segundo andar. Respirei fundo e coloquei o pé no primeiro degrau.
- Seja bem vinda de volta, Liza – cochichou uma voz masculina. O arrepio em minha nuca me alertava para correr dali.
- Quem é você? – perguntei para o nada, a voz soava como se viesse de mim.
- Eu? Eu sou você, Liza.
- Que maluquice é essa?
- A questão não é, quem sou eu, mas quem é você Liza. Você sabe? Alguém já lhe contou a verdade? – disse a voz calmamente.
- Onde está Amanda?
- Não está curiosa, Liza? Você não pode mentir para mim, porque eu estou em você.
- O que fez com ela?
- Eu mostrei a Amanda, o futuro. E agora que ela descobriu, vai precisar de um tempo para se refazer antes de voltar a si.
- Amanda! – chamei mais uma vez, o medo gelava meus ossos.
- Vá Liza, vá até ela. Continue buscando essa verdade que você nunca irá encontrar fora de você. Busque-a, mas busque-a em mim.
Estiquei meu braço a frente, inspirei fundo e subi os dois primeiros degraus. Posso jurar que ouvi o som das gárgulas negras respirando.
Cheguei ao segundo andar e a mesma voz masculina dominou meus pensamentos.
Depois de ouvir tudo que ele sentenciou, minha consciência caiu numa espécia de abismo e perdi os sentidos.
Não sei quanto tempo se passou. Acordei tonta, com as pernas bambas e não conseguia manter os olhos abertos, mas percebi que me movia.
Ou alguma coisa me carregava, ou eu havia enlouquecido de vez. O braço da coisa que me segurava, me lembrou a textura de uma pena macia. Tentei me soltar, mas seu abraço se fechou com mais força e desisti.
- Eu vou cuidar de você – ouvi uma voz diferente dizer.
- Adrian? – perguntei mole.
- Shhhhh, descanse Liza.
- Onde está Amanda?
- Ela vai ficar bem.
- O que aconteceu com ela?
- Se acalme, Liza.
- Me ponha no chão Adrian.
- Não Liza. Fique quieta. Só quero levar você para casa.
Remexi-me e tentei me soltar de seus braços musculosos, ele era muito mais forte que eu, ainda me segurava nos braços quando notei onde estávamos. Na beira do telhado daquela casa amaldiçoada, era muito alto. Sem pensar, me agarrei mais ao seu pescoço.
- Quer mesmo que eu solte você? – perguntou com deboche.
Eu estava confusa, cansada, preocupada e ainda tinha que ouvir isso?
- Prefiro cair de qualquer lugar a ficar no seu colo.
Então ele me soltou. Perdi o ar enquanto caía, o frio que senti na barriga ao ver o chão se aproximando, me provocou náuseas. Um segundo antes que eu me estatelasse, Adrian me segurou, flutuando comigo em seu colo, a poucos centímetros do asfalto.
Levei um susto quando o vi pela primeira vez de verdade. A textura de pena que eu senti, era de duas enormes asas, beges com manchas marrons, que saíam de suas costas, tinham duas vezes o tamanho dele, e se moviam junto da sua respiração, ofegante. Ele ignorou a cara de pavor que eu devia estar naquele momento e sem a menor hesitação, passou seus dedos atrás da minha nuca, puxou meu rosto para mais perto e trouxe sua boca a milímetros da minha. Ficou assim alguns instantes e me beijou furiosamente. Eu estava entorpecida com aquela proximidade, com aquelas asas que me mantinham flutuando acima do chão e retribuí o beijo. Foi nesse momento que dois olhos esmeralda invadiram meus pensamentos com tanta raiva, que minha cabeça ardeu latejante. Soltei-me de Adrian e o encarei furiosa por ter me agarrado.
- O que você pensa que está fazendo? - Sentia-me dominada pela dor, mas a dor não vinha de mim, ela me atingia de uma outra maneira, me rasgava de dentro para fora. Foi quando compreendi, era ele. Nathaniel. Lágrimas escorriam enquanto eu gritava de dor.
- O que está acontecendo com você Liza? – Adrian perguntou preocupado, dando um passo em minha direção.
- Fique longe de mim, você e suas asas – rosnei esticando o braço a minha frente para afastá-lo. Eu estava agonizando, precisava gritar, quebrar alguma coisa para tirar aquele veneno de dentro de mim.
- Você consegue vê-las? – ele agora parecia realmente assustado – Liza?
Ele deu mais um passo a frente enquanto eu me contorcia de dor como se facas me perfurassem. Arrastei-me para um dos carros parados na esquina e apoiei meus dois braços no capô. Baixei a cabeça para respirar fundo numa tentativa de controlar a dor e o que aconteceu depois, ainda estou tentando entender. Foi tudo muito rápido. Adrian me alcançou e nos tirou dali antes que eu me machucasse.
Eu estava agora na cama de meu quarto, olhando atordoada para as minhas mãos, que tinham acabado de explodir um carro, simplesmente com um toque. Eu teria morrido se não fosse por ele ou pior, eu poderia tê-lo matado.
Adrian me olhava mudo, estaria com medo de mim? A dor que me sufocava havia passado, no entanto eu continuava com raiva, era leve se comparado ao que senti há pouco, a vontade de quebrar, de destruir, me perturbava como uma fome no início, que se não saciada logo, me traria problemas, isso foi fácil de pressentir.
Levantei-me da cama e segurei o despertador na cabeceira, o relógio se desfez em pó. Não pude conter um pequeno sorriso do alívio que o ato de quebrar me trouxe.
- Pare com isso, Liza. – disse ele sério e segurou o meu braço, quando estiquei minha mão para pegar outro objeto.
- Tire as mãos e essas asas de mim – falei entredentes.
- Ou você vai fazer o que? Explodir a casa?
Inspirei o ar com força e me deitei na cama encarando o teto.
- Você vai me explicar o que aconteceu, ou vai ficar parado aí com esse ar acusador?
- Eu não sei o que aconteceu Liza. Se você conseguir se acalmar e me explicar, posso tentar entender. Mas antes de qualquer coisa, o que você pensa que está fazendo? Entrando em casas abandonadas no meio da noite? Você tem algum interesse em continuar viva? Ou só está afim de me sacanear?
- Eu é que pergunto, o que você acha que está fazendo? Me jogando do telhado daquele jeito, me salvando depois e me agarrando. Eu não sou seu brinquedinho.
- Tem razão quanto a isso, me desculpe – de repente ele estava de joelhos na minha cama, segurando minhas mãos. Desviei meu olhar do teto e o encarei, seus olhos, a cor do mel que eu tanto gostava, estavam púrpura.
- Adrian, porque seus olhos estão púrpura?
- Você não deveria conseguir ver isso, Liza.
- Por que não?
- Porque você é humana.
- Então a voz estava certa. Ninguém me contou a verdade sobre mim e pelo visto, você também não está disposto a me mostrar.
- Que voz, Liza?
- A voz que falou comigo na casa. Ele me disse que estava em mim. Antes de acordar no seu colo, eu sonhei com a voz e descobri a verdade sobre mim Adrian, porque ele me contou.
- O que ele fez com você, Liza? Deixe-me ver! – Adrian pediu parecendo desesperado.
- Veja o que quiser Adrian, aproveite e traga minha memória de volta.
- Sua mente está bloqueada, não consigo mais vê-la. – dizendo isso, ele se sentou na cama e esfregou a cabeça nervoso.
Pedi que Adrian fosse embora, com a desculpa de ficar sozinha e descansar, ele
concordou, saiu pela porta e reapareceu no segundo seguinte a minha frente. Provavelmente usava algum poder para que eu não o visse, mas não funcionava.
Eu fingi que não o via, pensativo recostado na parede ele não parava de murmurar para si mesmo, incrédulo: - São três. Como nós fomos, eles são três.
A verdade é que eu menti. Lembro exatamente do que a voz me falou na escuridão. Mas não me sentia pronta para encarar isso agora. Se a previsão do Mago se concretizasse, eu não teria outra escolha. Uma morte, em troca de outra, ele disse. E eu o faria quando chegasse a hora. Não havia outra maneira.
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Gennnnte, quanto babado num capítulo só! Adrian, Liza, previsão... =O
O que acharam?
Beijosss e até amanhã!!!
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