NEW YORK, NEW YORK...

New York, New York

Liza

Ethan me abraçou ao entrar na sala, exalando alegria por me ver. Precisei controlar o enjoo, agora que eu sabia o que ele era de verdade:

- Temos ótimas notícias, Liza!

- Oi, Liza – falou Raquel e sem dizer mais nada, subiu as escadas para o quarto, aparentava estar desmaiando de sono.

- Está tudo bem com Raquel?

- Deve ser o efeito do remédio que ela tomou para o enjoo.

- Ah, sim. E qual é a notícia? – fingi interesse.

- A boa notícia é que conseguimos reservar o local perfeito para a festa de noivado. Será no Plaza, Raquel ficou estonteante com a novidade.

Estonteante não seria uma boa escolha de adjetivo para o semblante de morto vivo que vi na minha irmã.

- Fico feliz Ethan, vejo então que já tem tudo planejado, não precisarão de minha ajuda na organização?

- Não, não. Queremos apenas que desfrute da festa como nossa convidada especial.

- Claro, irei adorar.

Meu estômago embrulhou com a falsidade de Ethan. Agora que eu me lembrava do episódio horrível em que me prendeu na cela, passei a sentir repugnância ao invés da simpatia que nutria por ele.

"Adrian, podemos sair de casa por favor? Não vou aguentar muito tempo disso."

Pensei sabendo que ele estaria me ouvindo. Ouvi sua risada em resposta.

"Shh Liza, ele pode te ouvir se estiver atento. Espere alguns minutos e suba até seu quarto."

Congelei um falso sorriso nos lábios, mantive uma conversa vazia e educada com Ethan por mais alguns instantes e subi as escadas desesperada para me ver longe dele.

- Ai, estou enjoada! – abri a porta e Adrian se materializou sorridente alguns segundos depois.

- Você é uma comédia. – ele fechou suas asas nas costas.

- Como eu suportava isso antes? E a propósito, por que ele está tão feliz com essa festa? Acha que pode estar armando alguma coisa?

- Sua hipnose está chegando ao fim, é por isso que você o suportava antes. Também cogitei algum plano por trás Liza, vou investigar.

- Vamos sair Adrian, estou aflita aqui. Três dias dentro desse apartamento está me sufocando.

- Vejo que você está bem melhor – ele colocou as mãos em meus ombros e os massageou levemente.

- O que acha de um musical da Broadway? Sempre quis assistir o Fantasma da Ópera.

- Qualquer coisa que te deixe assim, feliz – respondeu gentil – Vou me vestir mais apropriadamente e já volto.

A minha intimidade com Adrian já ultrapassava alguns níveis de amizade. Será que eu inconscientemente alimentava alguma coisa? Ele com certeza demonstrava estar a espera de algum sinal meu, um mero deslize. Será que eu queria alguma coisa a mais?

Não. Só estou confusa com esse turbilhão de coisas acontecendo. Não há nada, nem ninguém nesse universo capaz de me fazer sentir como Nathaniel, mesmo que eu não me lembre ainda, mesmo que eu não entenda.

Minha vida agora fazia sentido porque eu sabia que ele fazia parte dela.

***

Adrian reapareceu e deixaria qualquer garota de queixos caídos. Usava uma blusa social azul clarinho por dentro de calças marfim, tinha os cabelos caramelo presos em um pequeno rabo e a barba por fazer.

Suspirei contra a vontade. Ele sorriu de um jeito absurdamente sexy.

"Você também está linda."

"Convencido." – respondi dando de ombros e ele riu alto.

Coloquei o sobretudo, as luvas, o gorro e o cachecol por cima do vestido azul marinho que usava e saímos.

Nevava na rua, as calçadas cobertas de neve me fizeram reparar algo que não havia notado antes:

- Você não sente frio?

Como resposta, ele pôs uma mão em minha nuca e tamborilou os dedos ali. A temperatura fez com que arrepios subissem e descessem por todo o meu corpo.

- Isso é por conta da sua condição homem com asas/cão? Adrian riu fungando pelo nariz.

- Pode-se dizer que sim.

- Pretende me contar algum dia? – me perguntei por que tanto suspense, visto que eu já tinha o conhecimento de coisas muito piores

- Pensei que nossa saída noturna fosse para espairecer – retrucou impaciente.

- Eu só preciso espairecer, daquilo que me trás problemas. A sua verdade poderia me causar alguma coisa ruim?

- Digamos que sim. Por enquanto Liza, trabalhe assimilando o que já sabe. Acho que você está com informações demais, não concorda?

- Se eu tivesse memória, talvez concordasse com você.

- Como você é insistente. – Ele soltou meu braço e foi até o guichê comprar nossos ingressos sem esperar por resposta.

- Como você é vago! – gritei aflita para suas costas.

Entramos no teatro Broadway. Duas portas de vidro nos levavam ao elegante Hall cujo piso era todo forrado de tapete vermelho. Nas paredes haviam posteres exibindo em displays de vidro luminosos os musicais em cartaz.

Descemos pelo suntuoso corredor e penetramos no anfiteatro. O lugar era lindo, digno de sua fama. O palco, mesmo ainda vazio transmitia um frenesi com a expectativa que deixava no ar do que estava por vir.

Dirigi-me ao centro do teatro para subir os degraus e Adrian me tomou pelo cotovelo:

- Onde está indo?

- Nossos lugares, não são por aqui?

Adrian exibiu um sorriso galanteador, e abriu os braços em um gesto exagerado:

- Concederia a este cavalheiro, à honra de sua companhia no camarote?

Ao concluir a pergunta, roçou o dorso da mão carinhosamente em mim. Seu olhar caramelo transbordava ternura. Senti o corpo amolecer.

- Como poderia uma dama negar tal pedido? – sorri timidamente.

Senti-me quase uma estrela Hollywoodiana, quando sentamos no camarote em formato de semi círculo na lateral do palco, acima dos assentos lá embaixo. A vista dali era perfeita. E foi observando o lugar, com a companhia de Adrian que senti pela primeira vez a excitação por algo alheio a descobrir o meu passado ou desvendar o que acontecia comigo. Eu estava de fato apreciando o momento.

Esse gesto parecia um esforço para me impressionar. Mas por que ele faria isso se não acreditasse que existia alguma chance entre nós? Adrian via isso como um encontro? Eu precisava por um fim aquilo, mas não desejava decepcioná-lo. E em minha maneira egoísta, não quis estragar nosso clima amigável. Ele já havia se tornado parte da minha vida.

- Gostou?

- É perfeito Adrian. Mas não precisava ter se preocupado.

- Você merece, Liza. E está mesmo precisando se distrair – ele baixou os olhos para o chão e sua tristeza comprimiu meu peito.

- Nós dois merecemos – completei pegando sua mão em um gesto automático para confortá-lo, ele sorriu cheio de esperança.

As luzes do teatro tremeluziram nos deixando em uma suave penumbra e as primeiras notas musicais preencheram o ambiente. Ajeitei-me na cadeira, agitada para o início do musical.

Eu estava maravilhada com toda a produção.

Fui levada rapidamente para dentro da história. Até que de repente, uma das cenas da peça provocou uma reação estranha em meu corpo.

Os pensamentos se desviaram da cena no palco e minha cabeça latejou. Uma lembrança lutava para vir a tona, imagens desconexas margearam o lado escuro de minha mente. Foi como se meu corpo tentasse libertá-la, enquanto as garras escuras do meu consciente as puxassem de volta para o fundo. Então, tive um vislumbre.

Flashes de Nathaniel me beijando me inundaram a mente, ao fundo passava o filme do Fantasma da Ópera, vi seus dois olhos verdes muito próximos dos meus e o ar me faltou. Arquejei tentando respirar e naquele instante um buraco se abriu abaixo de mim, meu corpo percebia a saudade que o dominava e minha mente lutava para escondê-la.

Meus olhos queimavam com lágrimas quando disse a Adrian que precisava ir ao banheiro e corri sem esperar sua resposta, pude ouvir seus passos atrás de mim.

Molhei o rosto, a nuca e os braços com a água fria da torneira e fiz um exercício de respiração para me acalmar, inspirei e expirei.

Passados alguns minutos, me senti normal outra vez e fui até a porta onde Adrian me esperava, mas a maçaneta travou. A sacudi freneticamente até sentir dois braços me abraçarem por trás. Tentei arranhá-los para me soltar, mas meus dedos os atravessaram, pareciam feitos de névoa. Olhei sob meu ombro e vi a pele do que me segurava. Escura e esparsa, como fumaça.

Um líquido gélido e sufocante desceu por minha garganta antes de se instalar em meu corpo.

Eu não soube dizer o que era aquilo atrás de mim, mas não conseguia me desvencilhar. Além do sufoco que me desesperava, o toque do ser feito de sombras queimava minha pele.

O que quer que fosse aquilo, apertou meu pescoço por trás e eu caí no chão do banheiro engasgada. Senti que desmaiaria em segundos e tive medo de onde poderia despertar.

Conte até três Liza.

Mexi-me novamente, tentei escapar, mas o aperto se intensificou.

Respire fundo e conte até três Miosótis. Estremeci ao reconhecer a sua voz. Fui tomada por medo e alívio ao ouvi-lo sussurrando nervosamente em meus pensamentos.

Não Nathaniel, Ethan prometeu se vingar. - Pensei em resposta.

Lutei para afastá-lo, era mais difícil do que parar de respirar por conta própria. Além do desespero de me ver livre, a saudade que sua voz me provocava doía fundo em mim. Eu só queria ouvi-lo e olhar seus olhos a cada segundo que eu pudesse para acalentar minhas feridas.

Liza, não me afaste! Eu não deixarei dessa vez! – Ele gritou e eu cedi.

Sua aura morna me envolveu e dentro daquela brisa de paz a dor abandonou meu corpo e o ar voltou aos pulmões.

Inspirei e não vi mais nada.

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Gente, que angússsstia!! O que acharam?

Beijosss e até amanhã!

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