FRAQUEZAS
Fraquezas
Nathaniel
"Desculpe se afetei você Liza, não sabia que tínhamos essa ligação".
Disse a mim mesmo agora que me acalmava.
De alguma maneira, fomos um só naquele instante. O ódio que me percorreu também a machucou. Eu vi o que ela fez, apesar de não fazer a menor ideia de como, mas Liza explodiu um carro, após ser beijada por aquele crápula que deveria estar protegendo-a e eu perdi totalmente a cabeça. Tenho a impressão de que me viu também.
Eu só queria que esse pesadelo terminasse. Essas descobertas não lhe traziam de volta até mim e tudo seria inútil se não me levasse até ela.
A tempestade de areia que eu provocava havia partido, junto da minha raiva. Os gêiseres ao redor subiam nuvens de vapor de tempo em tempo.
Optei por assumir meu desejo egoísta. Sim, eu a amo, quero que fiquemos juntos e quero ser feliz ao seu lado. Seria isso tão egoísta assim? Não sei, mas se existe algo que aprendi no Templo, é que não adianta se esconder de si mesmo, quanto menos nos aceitamos, mais nos tornamos pessoas do mundo.
Meus devaneios foram interrompidos pelo som forjado de tosse, que Gaia fazia irritantemente atrás de mim.
Dessa vez pelo menos, não liberei nenhuma ruína.
- Ah, que pena. Pensei que iria lhe saborear mais um pouquinho – falou com a voz melosa no meu ouvido.
Ignorei seu comentário e a olhei de esguelha.
- Vamos direto ao ponto, Gaia? Me disse que poderia me ensinar a me fortalecer das fraquezas de Olaf.
- Hummm, sabe, tenho um fraco enorme por homens assim, determinados – Gaia alisou meu braço enquanto falava, os quais estiquei para baixo me desvencilhando enquanto ela terminava a sua volta teatral em torno de mim.
- Caso também não seja uma fraqueza de Olaf, não estou interessado.
- Nate, Nate. Você não está sendo muito amigável. Não se esqueça do que já lhe falei: Vai preferir me ter como aliada.
- O que você quer de mim, Gaia? Me desculpe, mas só fiquei aqui porque disse que ajudaria. Tenho um propósito, uma razão. Não posso desperdiçar tempo.
- Eu sei que só pensa na garota. Eu também vi o babaca do Haniel a beijando.
- Então esse é o verdadeiro nome do panaca.
- Agora ele prefere ser chamado de Adrian. Não sei exatamente qual foi a história que Johan lhe contou, mas é ele o culpado, sabia? Desde o início, ele é a principal causa.
- E isso faz de você o que? Inocente? – A encarei, cético. Incapaz de acreditar em qualquer coisa vindo dela.
- Bom, se não está disposto a acreditar em mim, por que iria querer ouvir alguma coisa a respeito de Olaf?
- Tem razão Gaia, desculpe. A maneira como você agiu quando nos conhecemos e o seu jeito às vezes, me confundem, só isso.
- Isso faz parte de estar perto de mim Nate. Quer ouvir sobre Haniel ou não? – disse se sentando no chão e batendo ao lado indicando que eu fizesse o mesmo.
- Sim eu quero, mas o que isso tem haver com Olaf?
- Eu vou chegar lá - falou batendo novamente no chão ao seu lado, havia um Gêiser subindo do chão muito perto dela, o que me forçaria sentar quase colado a seu corpo. Claro que ela o fez de propósito, mas ao invés de ir para o seu lado, sentei-me de frente.
- Pronto Gaia, sou todo ouvidos – forjei um sorriso e a encorajei a continuar, pelo visto, a fraqueza dela era a vaidade.
- Meu Deus, Nate. Já lhe disseram que seus olhos parecem esmeraldas? – Ela ajeitou o vestido tomara que caia de couro vermelho que descia a toda hora e exibia grande parte de seus seios volumosos – Espero que também não se tornem púrpuras, seria uma pena.
- Como se tornariam púrpuras? Foi isso que aconteceu com você?
- Calma garoto, uma história de cada vez. E primeiro quero falar da minha:
Eu, Haniel e Ivanka, fomos as primeiras almas "santas" digamos assim. Criados pelo Conselho. Cobaias para satisfazer sua curiosidade, é como eu vejo pelo menos.
Fomos três almas gêmeas, vivemos em paz e felizes por um longo tempo. Eu não me importava de viver ali, éramos somente nós três e muito tempo já havia se passado. Cultivávamos nossos dons, passeávamos pelos jardins, cuidávamos da terra, nos banhávamos no lago... Ivanka era a mais disciplinada, se aprimorava a cada dia, sempre foi muito talentosa.
Apesar de todos os dons que recebemos, Haniel queria sair dali, conhecer novos lugares, e andar entre os humanos. Logo a única coisa proibida, era a que ele mais desejava.
Os anjos nos criaram em semelhança aos que viviam na terra e Haniel os cobiçava.
Tentei convencê-lo do contrário, mas quando ele botava alguma coisa na cabeça, ninguém era capaz de remover. Um dia, ele me beijou e tentou me convencer a partir com ele. Me entreguei por um segundo àquela sensação e quando dei por mim, Ivanka já havia nos visto e o elo das almas gêmeas estava quebrado.
Assim nós que éramos um só, fomos divididos. E tudo que há hoje na humanidade, veio de nós três. Fui condenada ao Vício, Haniel à Virtude e Ivanka, ficou com o pior de tudo, herdou o Vazio, tornando-se assim, a Morte.
Injusto não acha? Que ele tenha herdado a melhor parte?
- Todas os vícios e virtudes dos homens, são controlados por vocês?
- Não exatamente. Nós possuímos todos os vícios e todas as virtudes e a cada um foi dado o dever apenas de equilibrá-las na Terra. Na verdade não é um dever, é nossa condenação.
- E quanto a Ivanka?
- Herdou o vazio. Por ela passariam todas as almas que morressem e seria dela o dever de atravessá-las, deixando-as no lugar que lhes coubesse. Assim é como deveria ter acontecido pelo menos.
Gaia deu uma longa pausa e suspirou fitando o deserto de areia ao nosso redor. Foi a primeira vez que vi algum sentimento real nela, demonstrava pesar pela lembrança.
- E o que aconteceu? – perguntei trazendo-a de volta.
- Garoto curioso – ela riu – Olaf aconteceu. Após ser entregue a Morte como oferenda para validar o tratado feito com o conselho, Olaf então como servo da Morte, deveria extrair as almas daqueles que se recusavam a partir e levá-las ao seu destino. Esse seria seu único dever e deveria ter durado por toda a eternidade.
Não sei como ele conseguiu, mas Olaf nunca seguiu as regras, ele se aproveitou delas, sugou as almas para si.
Ele não passa de um ladrão de almas. E aposto que Ivanka sempre soube que ele o faria, ela simplesmente é perspicaz demais para deixar algo assim passar.
Descobri quem era ele, porque posso ouvir suas milhares de vozes quando me aproximo. Almas pedindo por socorro. A dele, eu nunca escutei.
- Mas qual é a fraqueza de alguém que não tem corpo?
- Ele só pode hospedar o corpo, de quem tenha a alma corrompida. Eu não me preocuparia muito com ele agora, Nate. Esse corpo que ele está habitando, não vai aguentar muito mais.
- Como você sabe de tudo isso?
- Ivanka amaldiçoou a mim, a Haniel e aos homens quando flagrou nosso beijo. Eu ouço as vozes de todas as almas quando morrem. Haniel sente suas dores, e os humanos, jamais serão felizes ao lado de sua verdadeira alma gêmea. Alguém sempre irá morrer. E eu irei ouvir e Haniel irá sentir.
Refleti suas palavras. Aquilo era horrível. Me senti mal por Gaia, até por Haniel tive certa empatia.
- Não há como livrar você disso?
- Você é uma fofura não é? – apertou minha bochecha e sorriu falsamente - Todos tem sua própria maldição Nate. Alguns de nós só aprenderam a esconder melhor a tormenta.
- E os humanos? Eles não merecem sofrer por isso.
- Somos almas perdidas e eles cavaram a própria cova. Se entregaram aos vícios, se corromperam. Isso é tudo o que existe meu bem. E é o que sempre irá existir entre os homens: o Vício, a Virtude e o Vazio.
Era muito pior do que eu imaginava. Despedi-me de Gaia com a falsa promessa de que voltaria em breve.
Agora me livrarei de Johan.
Fechei os olhos e inspirei com força.
Verei você em breve, Miosótis.
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UUUUUU, e aí? O que acharam? ^^
Amoresss, não sei se vocês viram, mas postei sobre um sorteio que farei lá no facebook de um kit do Templo! Um livro, uma almofada, marcadores e um chaveiro!
Pra quem ainda não me adicionou no facebook, eu pergunto: Como assim? =O rsrs
Beijosss e até amanhã!
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