A HISTÓRIA DO LAGO



A história do lago

Nathaniel

Era Johan quem me seguia. Para manter o hábito de me irritar, ele apareceu de súbito ao meu lado.

- Desculpe Nathaniel.

- Gostaria de ficar um pouco sozinho, se não se incomodar Johan. E poderia, por favor, parar de aparecer assim?

- O tempo se encarregou de levar minhas boas maneiras, rapaz. Não sei mais a arte da convivência. Faziam anos que não conversava com ninguém.

Parei de caminhar e me virei para ele. Seus olhos púrpura, carregavam súplica.

- Tudo bem Johan. Já consegui organizar meus pensamentos.

- E? Qual é a sua conclusão?

- O fato é que já sei o que fazer. Estava com problemas é para aceitar.

- E o que você vai fazer, Nathaniel?

- Acho que você já sabe Johan. A única maneira, de encontrar a Morte, é morrendo.

Johan riu pelo nariz e conteve um engasgo. Quando voltou a respirar, se dobrou de rir, deitou na areia e se sacudiu de um lado para o outro.

Antes que eu o chutasse no chão, o deixei onde estava, e segui andando na frente.

- Espere, espere Nathaniel! Me desculpe! – gritou ainda rindo.

- Não estou com paciência, Johan. Deixe-me.

Eu andava a passos largos, quando ele surgiu a minha frente e bloqueou o caminho.

- Pare e ouça.

Fiquei imóvel por não ter opção. Ele usou seus poderes, o que fez meu sangue ferver, mas fui obrigado a ouvir.

- Nathaniel, ouça. Desculpe por usar meus poderes em você. Mas essas lembranças são muito dolorosas, portanto, vou cuspi-las em você e deixar que faça o que julgar melhor. Meu trabalho está quase acabando.

Um imenso alívio me tomou, por saber que chegava quase no fim.

- Conhece a historia do lago Nayuko? Imagino que não - disse ele quando arqueei as sobrancelhas em resposta ao nome estranho - é uma de muitas das historias tristes que posso lhe contar, a respeito daqueles que tentaram ir além de seus dons, espíritos ou até mesmo anjos.

Em um vilarejo chamado Epifania, vivia um casal. Aos olhos de tolos um casal normal. Veja, para nós, anjos, existem algumas regras essenciais a nossa existência, digo existência e não sobrevivência, porque somos imortais, o que faz de nós condenados. Quando você descobre que nada dura pra sempre mas você sim, as coisas perdem o valor.

Em primeiro lugar devemos manter a discrição, e em segundo não devemos nos envolver com humanos. Se envolver com humanos é assinar a própria desgraça. Mas voltando a história, o filho dos céus e a filha dos homens, eram pais de um casal. Maya e Moisés brincavam no lago desde pequeninos. Maya, a mais velha, sempre cuidava de seu irmão. Eram inseparáveis.

Seus pais, os observavam de longe, se consideravam abençoados por tamanho amor e por filhos tão graciosos.

No aniversário de oito anos de Moisés, ele resolveu ir sozinho até Nayuko, o lago era próximo e ele estava ansioso para testar o barco de madeira que ganhou de presente. Maya acordou após um pesadelo, e notou que Moisés não estava no quarto. Como conhecia bem o irmão, deduziu que ele estivesse no lago e foi atrás dele sozinha, o sol sequer tinha nascido aquela hora.

Maya chegou a tempo de vê-lo se debruçar para alcancar o barco que se distanciava da margem e o viu afundar. Mergulhou sem pensar mas não conseguiu trazê-lo de volta à superfície. Deitou-se a beira do lago e falou com Morte: - Prometo servi-la e honrá-la pela eternidade, se me levar em seu lugar.

E assim foi feito, Moises voltou à vida e assim que viu sua irmã afundar na terra como areia movediça, refez a promessa de Maya. Partiram então juntos, para servir Morte, àquela que os traiu, por toda a eternidade.

Entende onde quero chegar, Nathaniel? A morte não pode ser vista ou tocada. Ela não tem consciência. Ela não tem voz. Ela é o que ela é. Má por um ponto de vista. Boa por outro. Necessária a todos. Acima de tudo colecionadora. Então, não pense que poderia voltar se fosse a seu encontro. Almas humanas não ficam presas a Morte. Nós, ficamos.

E nunca se esqueça: você não encontra a morte, é ela que esta a sua espera, ela encontra você, no menor deslize.

O sacrifício de Maya condenou a alma de Moisés, que era livre porque havia partido da vida, na hora em que estava destinada.

No final das contas, é o amor que nos pune, vez atrás da outra.

E quanto ao casal, ouvi dizer que a mulher se matou e o pai ficou condenado a vagar livremente pela Terra.

Você é o único filho que sobreviveu dessa união, até hoje eu acreditava que você era apenas um boato dos ventos, mas posso dizer que a Morte espera por você e se desejar encontrá-la, nunca mais voltará.

E assim, Morte, após saborear a presença de Moisés e Maya, fez um pacto com o conselho. Garantiria que almas negras não vivessem na terra, contanto que os anjos não se envolvessem com humanos. Aqueles que se unissem a humanos morreriam, e seus filhos os seguiriam. Os que cumpriram sua palavra, se livraram da escravidão de servi-la. Mas ainda assim, até onde sei, o Conselho desapareceu, e o guardiao da Morte está na terra, em busca da alma dourada. Somente ela, lhe daria um corpo, e o poder de vencer Morte.

E era esse o Tratado que o Conselho tanto queria. Não é lindo?

Johan desapareceu após finalizar a história. Fiquei grato por isso.

Ambos precisávamos ficar sozinhos. E eu não sabia ainda como dizer a ele que obviamente percebi que aquela era a sua história. Maya e Moisés deviam ser os seus filhos.

Retomei minha caminhada pelo deserto. 

E dessa vez, havia mesmo algo atrás de mim.

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=O =O =O 

Algo me diz que esse deserto vai ficar cada vez mas perigoso...

beijossss e até amanhã!

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