12. O som do silêncio

Capítulo 12 | O Som do Silêncio

Zoey voltou no dia seguinte pela manhã. Não para estudar ou para conversar com Lana - a garota mal havia dormido à noite preocupada com Liam. O fato deixou o garoto surpreso e, ao mesmo tempo, com uma sensação agradável no peito. Aquilo significava que Zoey se importava com ele tanto quanto Liam se importava com ela.

Ele estava assistindo uma série na sala de cinema quando ouviu os passos leves vindos do corredor. Liam virou o pescoço e sorriu quando viu Zoey atravessar a porta. A garota usava uma blusa de manga longa azul marinho e calças jeans. Os cabelos, como sempre, estavam presos e uma longa franja cobria parte de seu rosto. Às vezes, Liam tinha vontade de colocar aqueles fios cor de caramelo atrás de sua orelha; só para poder ver seu pálido rosto por completo.

Zoey tirou as sandálias e sentou-se no extenso sofá. Liam fez o mesmo, deixando com que a coberto amarelo caísse de seus ombros. Ela olhava para ele um pouco envergonhada; mas Liam pôde ver determinação em seus olhos. A garota ergueu o polegar e apontou para ele. A pergunta era óbvia: Você está bem?

- Estou um pouco melhor. - o garoto respondeu. - Desculpe-me por ontem. Às vezes eu não consigo controlar. É horrível.

Liam viu uma expressão de dúvida no rosto da garota. É claro que ela não entendia o que estava acontecendo. Então, ele contou tudo. Sobre suas crises e sua personalidade ansiosa; apesar de parecer tão calmo às vezes. Zoey podia não verbalizar, mas Liam admirava a sua capacidade de demonstrar emoções com o olhar e com gestos - que também parecia ser tão difícil para ela. O simples fato de olhá-lo nos olhos daquela forma já era um passo e tanto para a garota; ele sabia.

A expressão triste no rosto de Zoey após Liam contar sobre o que se passava dentro dele deixou-o apreensivo. Ela era uma garota sensível e empática demais.

- Eu sei o que você sente - Liam continuou. Estendeu o braço e pousou sua mão sobre a dela sem pensar muito. Ela não recuou. - Ansiedade. Toda vez que precisa ou quer falar com alguém, mas não consegue. Você fica nervosa e seu coração dispara. Suas mãos suam e você quer fugir.

Zoey assentiu, reconhecendo aquelas sensações em si mesma. Liam puxou a manga de sua blusa e expôs suas cicatrizes. Não me orgulho disso, ele murmurou quase para si mesmo. A garota não pareceu se surpreender ao fitar aqueles machucados quase invisíveis agora. Ela curvou o corpo e tocou no antebraço dele, e Liam gostou da sensação. Ele não gostava de olhar aquelas marcas e muito menos tocá-las. Naquele momento, Zoey havia atravessado uma barreira ao fazer aquilo - e sua reação foi um misto de tristeza e compreensão. Zoey não parecia ter ficado indignada ou com raiva; mas não significava que aprovava as atitudes dele. Ela apenas sabia que não podia julgá-lo.

As tímidas carícias de Zoey fez com que Liam quisesse contar tudo. Não apenas a parte do presente, mas de seu passado. Então, foi isso que ele fez. O garoto contou, pela primeira vez em anos, que fora adotado; e o quanto aquilo o fez questionar sobre si mesmo durante a infância. Contou sobre o irmão, a separação dos pais e a mudança para a casa de Lana. Zoey, como sempre, estava atenta a cada palavra dele.

Liam ficou em silêncio após expor sua história de forma tão íntima. A garota estava atônita. O garoto não esperava uma resposta, é claro - escutá-lo já bastava. Mas Zoey nunca parava de surpreendê-lo.

- Eu... - ela começou a dizer, e Liam olhou para ela involuntariamente. Depois, percebendo que aquilo só a deixaria mais nervosa, rapidamente desviou a atenção para as almofadas cinzentas na sua frente. - Sinto muito.

Liam tentou não demonstrar nenhuma reação. Sabia que aquilo poderia fazer Zoey recuar e chorar de vergonha e ansiedade, e não era isso que ele queria. Ela apenas tinha falado.

Mas Zoey havia falado com ele. Liam segurou-se para não abraçá-la.

- Às vezes - Liam disse em um tom neutro. - as mudanças vêm e não há nada que possamos fazer a não ser aceitar... E eu amo morar com Lana e minha irmã. Elas me ajudam muito. Eu só odeio ficar tão exausto e sentir tanto medo o tempo todo.

- Sinto medo também - Zoey respondeu baixinho, olhando para as próprias mãos agitadas. Sua voz saiu mais clara e menos trêmula.- O tempo todo.

- Eu sei. Sinto muito.

Liam não conseguiu evitar de se sentir feliz por aquilo. Não porque queria escutar a voz dela a todo custo - pois ele de fato não se importava tanto em saber como era. Ele estava feliz por ela. Pois sabia, por mais que nunca tivesse passado por aquilo, o quanto era difícil dar aquele passo. E, se Zoey falou com ele; significava uma coisa: Ela confiava e sentia-se segura o suficiente com Liam.

O garoto a admirava por isso. Apreciava sua coragem e sua existência tanto quanto estimava Lana. Todos viviam suas lutas internas e as pessoas quase nunca se importavam de fato com o outro. Não se importavam com seu sofrimento. Não se importavam com o seu silêncio.

Liam aprendera algo valioso com Zoey: o silêncio falava. Bastava observar com atenção cada olhar, gesto ou expressão. O garoto muitas vezes havia gritado por ajuda; mesmo não usando a própria voz - e mesmo temendo as reações diante de suas dores. Ele via em Zoey o mesmo desde o primeiro dia que a viu. A moça gritava por ajuda, mas nem ela mesma sabia disso. O som de seu silêncio ecoava pelas paredes daquela escola, das cabines do banheiro, das portas e janelas de clínicas e casas que lhe eram desconhecidas. O som do silêncio de Liam ressoava de suas cicatrizes ocultas, de seu sorriso branco, de sua quietude e lágrimas noturnas.

Ele desejou que todas as vozes fossem ouvidas, independente dos conflitos internos e pessoais de cada pessoa que caminha pela Terra.

Às vezes, o silêncio é tudo o que precisamos para poder ouvir.


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Epílogo

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