Capítulo 49: O Fim do Amaldiçoado
*ALERTA DE GATILHOS: ANSIEDADE, CATOLICISMO, RELIGIÃO, MENÇÃO À MORTE, VIOLÊNCIA FÍSICA, SANGUE, BRUTALIDADE, INVASÃO DOMICILIAR, TENTATIVA DE HOMICÍDIO, OBJETOS CORTANTES, PERFURAÇÃO FÍSICA E TORTURA FÍSICA.
*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: Daylight - Instrumental - David Kushner e Die Alone - FINNEAS
Era crepúsculo assim que Dante Deangelo iluminou os portões do Seminário Católico de São João com o farol.
Seu semblante irredutível e áspero encarou dois padres de idade que vieram-no receber sem muita animação.
— O que deseja? — um deles posicionou as mãos para trás, divididos pelas grades.
Pensaram ser um novo seminarista disposto a ingressar.
O barulho do motor e o uivo do vento aprazível incomodou o diálogo meramente azedo.
— Vim à procura do Padre Kansas. Digam que sou um amigo de "cartas manchadas" — mentiu ser uma localidade na Inglaterra.
— Nome? — um deles suspeitou.
— Só na presença de quem busco — relutou e o sacerdotes desistiram de insistir.
Os padres eram um pouco bobos e se renderam ao papo do jovem.
— Padre William, avise ao Kansas sobre a visita. — soprou. — Fale para não haver demora.
— Sim, padre — acatou e os deixou sozinhos, em meio aos olhares desconfiados do investigador.
O acompanhante que consentiu com a cabeça adentrou ligeiro na imensidão do lugar.
— Estacione perto daqueles carros — apontou enquanto abria os cadeados e desvencilhou as correntes na intenção do estranho adentrar. — Melhor ao lado daquele fusca preto.
— Com toda licença — até aquele momento ainda permanecia com o capacete e passou do portão, sem agradecer ao sacerdote.
A moto fora posta onde o indicou e ladeou o fusca que possuía um terço de metal pendurado no espelho do retrovisor.
Tudo era muito católico para ele.
O detetive revirou as escleras ao remover o capacete, o guardou no compartimento após apanhar a caixa que pretendia mostrar e até considerou o veículo de bom gosto entre os mais modernos no estacionamento.
Apesar de odiar uma parcela da estética católica, o corvo se encantou com a beleza apreciativa do majestoso salão principal. De fato, era inebriante.
Destoava do estilo daqueles padres em vestes simples, mas não recusaria o olhar estupefato em cada particularidade que complementava do chão até o teto.
O ambiente cheirava a coisa antiga, os grilos já começaram a cantar entre os arbustos e as folhas das árvores secas distantes dançavam no além.
Poucos seminaristas passaram ao lado e o encaravam feito um bicho esquisito. Sabiam que não fazia parte dali e ele mal se importava ao revidar com desdém.
Os enxergava como idiotas ao ponto de negar as melhores experiências da vida por uma rotina de privações e devoção a Deus.
Preferia ser trancado numa prisão ao invés de viver conforme um padre.
À medida que esperava solitário, prestes a roer as unhas, entre o eco no piso que seguia uma frequência, alguém se aproximou na vontade de justificar a demora de Kansas.
— Com toda minha licença, senhor — outro sacerdote interveio e tomou a atenção do investigador. — O que deseja?
Sorriu fingido e Deangelo odiava pessoas reagirem assim.
— Aguardo pelo Padre Kansas. Se trata de uma urgência — o observou de queixo erguido.
A ponta de seu nariz quase tocou o teto.
Sua voz se impôs com impaciência. Parecia não conceder tanta importância ao padre em sua frente, pois havia explicado sua intenção naquele lugar logo que chegou.
— Suponho que esteja ocupado com a biblioteca como de costume — sorriu meigo e não obteve o mesmo do desconhecido. — O chamarei agora.
— Esperarei bem aqui e sairei se ele vier — plantou seus pés no chão enquanto segurava a caixa num dos braços.
Dante não suportava estar lá, mas precisava. Coisas aconteciam na capital e necessitava saber do Kansas sobre o motivo de se sentir enganado.
Se tratava de alguém.
Os longos minutos de espera o fizeram andar pelo salão com a caixa e analisar cada fragmento que complementava o recinto.
De tão focado, fora surpreendido por alguns passos cautelosos por detrás.
Sua face curiosa visou compreender e enxergou dois homens se aproximarem: Padre Kansas e um desconhecido.
Kansas exprimiu felicidade ao vê-lo. Civilizado, concedeu a mão disposto a saudá-lo e não foi atendido de maneira similar. Dante o apurou com repúdio e negou seu cumprimento.
O clérigo compreendeu que algo de errado ocorreu.
Após rejeitá-lo, suas escleras sanguíneas analisaram um seminarista que ladeava o padre, mas sem muita proximidade.
Deangelo estranhou e analisou as mãos em luvas postas à frente, sua altura não muito inferior, mas parecia ser um pouco mais atlético que ele.
Sua postura elegante distanciava dos rapazes que cruzou.
As vestes de seminarista e os óculos de grau no rosto sereno do jovem ruivo, emanaram a sensação de bom moço.
Porém, o detetive entendia como todo padre ocultava um segredo ou uma história.
E aquele ruivo transpassava uma áurea sombria.
— O que deseja, jovem? — fingiu não o conhecer, pois queria manter o sigilo e Deangelo entendeu.
— Preciso falar com o senhor — suspeitou ao redor e rejeitou a comparência do seminarista.
— É sobre algo que discutimos? — sussurrou ao se aproximar do rapaz.
— É mais além que isso. Já sei de tudo — respondeu e estremeceu o sacerdote em medo.
Kansas concordou com a cabeça, se deslocou lento e desconfiou haver curiosos por perto.
— Me siga — gesticulou e se afastou do seminarista. — Franco, feche a biblioteca e não me espere para jantar.
Todos os jovens em formação aguardavam no refeitório.
Dante ondulou as sobrancelhas na direção do sujeito e cismou com o nome. Pareceu engolir agulhas por culpa do sentimento odioso. Torceu que não fosse a mesma pessoa que detinha noção.
— Padre, precisará de auxílio? — insistiu ao vê-los se distanciar e puxou os dedos nas luvas, de modo a folgar.
Pareciam suar no couro.
O detetive comprimiu os punhos e sequer olhou nos olhos do ruivo, a fingir que o rapaz de cabelos escuros não existia.
Desentendia o motivo de ser tratado daquele jeito.
— A sós — Dante enfatizou rumo ao seminarista que entortou os lábios e odiou a presença do homem. — Se for um indivíduo educado, entenderá.
O corvo notou o seminarista debochar num sorriso desgostoso. Aparentou sugar a própria língua ao conter a raiva pelo investigador que o tratava daquela forma.
— Os deixarei a sós — afirmou ríspido.
Franco se retirou do salão, mas antes fez questão de fitá-lo com atenção. Ambos se marcaram para nunca esquecerem de cada face.
Na mente de Deangelo, era um pobre seminarista qualquer, feito todos os católicos que odiava. E caso se referisse ao mesmo que passou a ter conhecimento, o rapaz acreditava que o amaldiçoado merecia todas as más coisas.
Para Franco Gregori, se tratava de um estranho metido e cheio de direitos. Seria melhor se afastar no intuito de evitar contendas.
Dante foi guiado até o escritório enquanto os demais presentes se recolhiam dispostos a jantar. Exceto alguns que escolheram pernoitar em jejum nos dormitórios, a rezar diante das camas e estudar o que faltava para completar o dia.
Ao passar do corredor e entrada, Kansas trancou a porta com cuidado para não emitir barulhos e cauteloso, seguiu até seu assento de frente à mesa preenchida por papéis, santinhos e outros objetos que gostava de manter.
Pelo menos acendeu algumas velas para iluminar o espaço escuro.
O detetive não quis se acomodar na cadeira defronte à escrivaninha e permaneceu de pé, tendente a interrogar o sacerdote que o notou furioso.
— Antes de qualquer coisa, deixe-me apresentar melhor, Sr. Kansas.
O padre cerrou as sobrancelhas e os olhos. Parecia aflito. Tudo o que sabia acerca dele, envolvia sua função como investigador particular de confiança.
— Dane Dawson, o bastardo como preferem falar — reverenciou num deboche perante o clérigo incrédulo com seu queixo despencado. — Ou o corvo, se negar a chamar meu nome.
Assim que virou de costas, e abaixou a gola da camisa, a cicatriz fora evidenciada com auxílio da pouca luz no ambiente.
— Não acredito... — agarrou o crucifixo preso no pescoço.
Havia a fama e uma mera lenda sobre os Dawson, a linhagem que ao mesmo instante foi banida da árvore genealógica dos Gregori e acolhida pela casa de Deus, de modo a exercer um ofício planejado e impuro.
Kansas, como integrante da instituição, entendeu com destreza que após a traição contra os Dawson, pelos ares, os ventos confidenciaram a respeito da vingança promovida pela família em relação aos membros da igreja.
As peças minúsculas se encaixavam.
E por um segundo pensou que morreria naquela altura, pois, um Dawson detinha o talento de cessar vidas num sopro.
Foram aliados que se tornaram inimigos perigosos.
— Sinto o medo na sua respiração, mas não estou disposto a atentar contra sua vida, padre. Prometi que traria informações quanto ao trabalho designado a mim.
Jogou tudo o que trouxe sobre a mesa do sacerdote que olhou confuso enquanto ele andou pelo gabinete, checou o movimento afora através da janela e regressou sua atenção ao homem que tateou a caixa, a abriu e retirou cada coisa presente.
— Sabia que um Gregori será o próximo a morrer? Sabia?
Apontou o indicador ao clérigo, assim que disparou em sua direção a fim de intimidá-lo.
— Olhe bem o último arquivo — indicou o fichário.
— Franco Gregori... — sibilou ao apanhar o documento correspondente ao indivíduo que tratava como um amigo.
Junto, havia as mesmas papeladas que repassou no dia que Franco assinou. De fato, não conhecia o propósito daquele registro.
Pelo que repassaram, o explicaram ser apenas repartições da herança do rapaz com destino à catedral.
— Sabia ou não sabia, padre?! — seu tom se agravou. — Sem rodeios — torcia que fosse sincero.
— Eu detinha conhecimento que os bens dele foram repassados pela igreja, Sr. Deangelo — levantou-se e seguiu até a janela.
O candelabro era belo entre a escuridão da sala um pouco fria.
— Mas nunca pensei que ele seria o ponto final — o observou atento.
— Entende que não posso continuar, não é? Já lhe repassei o que precisa — respirou imersivo. — Agora pode agir sozinho se cogita executar a sua justiça.
Os espasmos se evidenciaram por razão da ansiedade por aquela ocasião. Tudo parecia denso por dias, semanas, desde que aceitou o trabalho.
— Não deveria fazer isso, Sr. Dawson — o referiu pelo próprio nome.
— Padre, é o destino dele! — fora contido, mas seu tom se mostrou ameaçador.
— Há outros envolvidos. Você viu. Sua família será acusada e as bruxas de Pendle também levarão a culpa por tudo. Estou a par das movimentações para exercer minha parte e queria muito contar com sua ajuda.
Dane se colocou no âmago do fogo cruzado. Preferia que lhe matassem para não se martirizar tanto.
— Já começaram a realizar o mesmo que em Whitby? — se aproximou do sacerdote.
— Pretendem tomar Rye. As bruxas serão cercadas. Iniciaram com singelas mudanças no centro e depois, só Deus sabe o que acontecerá.
O detetive bufou furioso e quase esmurrou a mesa, disposto a rachar. Entendia que Gaya estava resguardada na sua presença, mas as Demdike não imaginavam o que ocorria.
Eram puramente inocentes. Ao contrário dos demais naquela cidade.
— Ainda existe a Srta. Basil — Kansas não compreendia que Gaya Demdike e Sol Basil concerniam na mesma pessoa. — A deixará sozinha? Abandonará essa situação devido a um amaldiçoado, visto que há outras vítimas que mal entendem a gravidade da conjunção?
— De modo algum imaginei que ajudaria ou pouparia a existência de um Gregori. Por um tempo pensei que eu cortaria a garganta de um por conta própria e aos poucos estou deixando meu legado familiar com o propósito de amparar alguém já morto em vida.
— É como eu disse, não há somente o Gregori. Há outros indivíduos. Deixaria de salvar pessoas por causa de um passado e um pacto sem qualquer coerência?
— Para você não há lógica, padre — se evidenciou na defensiva. — Mas seu protegido — enfatizou saber que o ruivo condizia ao próximo a completar a Santíssima Trindade —, tem no sangue toda imundícia de uma igreja. Se fosse diferente, não estaria aqui. Mas ele está.
Cuspiu suas verdades contra o padre.
— Sua raiva decerto não faz mais sentido. Você não é sua parentela. A partir do momento que se recusou a me desamparar naquele clube de jazz ao saber que sou um padre, fez uma escolha — as íris acinzentadas queimaram em fúria. — Compreendo sua revolta de anos, seu passado doloroso, a traição, mas sei que não és assim. No fundo, quer ajudar. É uma cabeça pensante fora da linhagem. Já tomou sua decisão e o enxergo justo. Sr. Dawson, você segue a sua verdade e isso o levou até aqui.
Dane guardava um rancor com algumas percepções e razões. Tal como Kansas que se posicionava ao lado de ambos.
Os dois não estavam errados em partes, mas precisavam entrar num consenso.
— O que fará agora?
O detetive ofegou, selou as pálpebras trêmulas e quase sumiu com as escleras. As mãos passearam nas madeixas escuras bagunçadas e se escoraram na cintura ao analisar o chão e voltar o olhar ao padre aflito por uma resposta.
— Não me espere ser aliado dele — entortou a boca ao exprimir. — Contudo, acerca de Ivone Castrell, ajudarei no que for necessário. E a respeito da Srta. Basil...
Vedou os olhos ao imaginá-la sorrir com os cachos crespos logo que se apoiaram no parapeito do anfiteatro em meio aos barulhos. Também retomou à memória de quando estudavam juntos e como o apoiou, mesmo que o mínimo num ambiente que lhe causava inseguranças. Todas as lembranças junto a ela, resgataram seus sentidos.
— ... Ela não morrerá — completou. — Se for para mantê-la segura, manterei. Mas ela não morrerá. Tampouco próxima de mim.
Kansas, abismado, temia aquele homem seguro de suas convicções e entre os lábios selados, rezava em silêncio para nunca falhar diante dele. Jamais testemunhou um detetive inclinado a sacrificar sua vida e profissão, por uma testemunha.
— E se descobrirem sobre você? — suou por dentro das vestes simples de um clérigo.
— Sabem quem sou. Sabem onde a Srta. Basil se encontra. Estamos a um passo de sermos apanhados no susto. Porém, planejei tudo. Não será a última vez que me verá aqui, Padre Kansas.
As pálpebras tremeram entre o ódio e seus espasmos de costume. Dawson sabia que a nova temporada de caça às bruxas se principiou.
Ambos saíram ligeiros do recinto, atentos em qualquer movimentação. Sem cerimônias, Kansas se despediu num aceno do detetive que evidenciou poucas palavras e sumiu de sua vista. Nunca torceu tanto para escapar de um lugar.
Desconfiado, numa sensação esquisita, Dante notou ser observado por alguém no silêncio daquele ambiente. Cabisbaixo, logo que atravessou o salão com pressa, se encontrou fortuitamente com Franco Gregori mais uma vez.
O seminarista andava concentrado em muitas coisas e parecia bisbilhotar.
O investigador buscou se afastar do rapaz parado num dos corredores laterais que segurava um livro consigo. Entre as sobrancelhas unidas, enxergou algo parecido com um exemplar de obra fantástica nas mãos ocultas pelas luvas de couro.
Os dois se encararam por breve segundos e relutante, por influência de sua impulsividade, Deangelo resolveu emitir algumas palavras.
— Se eu fosse você, ficaria atento em cada passo dentro desse lugar — o sentiu se distanciar assim que sussurrou e apontou o indicador ao indivíduo de expressão corajosa.
— Nem sei quem és — o enfrentou na companhia da feição arrogante e riu anasalado.
O Gregori desdenhou do Dawson que apertou os lábios, desacreditado na audácia do seminarista ao replicar.
— Não precisa me conhecer — as narinas expandiram furiosas. — Necessita ficar em atenção, se desejar guardar um pouco da maldita vida que lhe resta.
No tom de Dante existia uma preocupação e ao mesmo instante um ódio a consumir seu ser.
O Gregori testemunhou o rapaz seguir para fora do salão e partir apressado com sua motocicleta logo que um padre lhe permitiu sair. O conselho emitido, não foi descartado.
O mistério sondava sua vivência naquele seminário e mais um aviso estranho na direção dele, certificou que deveria se conservar em alerta.
Em meio à chuva que molhava seu capacete e o visor que refletia os semáforos da rua inabitável, Dante ponderou estar próximo das nove horas da noite quando retornou à Londres.
Após tudo, não deixaria Gaya sozinha e sem suporte na cidade.
Os arquivos que guardava foram deixados com Kansas que deteve num local seguro, propenso a contactar com alguém de confiança que de fato findasse aquela sequência de assassinatos, ao seu lado.
Logo que a motocicleta foi estacionada na frente do edifício, o rapaz parecia tranquilo em se molhar nos ínfimos pingos que prevaleciam a cair.
Sem muita pressa, ao subir os degraus, buscou cauteloso as chaves da casa, disposto a adentrar silencioso, limpou os sapatos no tapete peludo da entrada, girou a maçaneta e assim que acionou o interruptor rente à porta de modo a iluminar o ambiente, percebeu aflito que a lâmpada fora removida.
De imediato, enquanto um rápido barulho surgiu do seu quarto, segurou firme a chave do veículo entre os dedos anelar e médio, e improvisou na intenção de utilizar como arma.
Ao conceder passos imperceptíveis e silentes no assoalho, foi surpreendido pela silhueta de um homem com altura similar à sua, que notou a presença do detetive e suas características se evidenciaram logo que a luz do poste adentrou pela janela guilhotina ausente de cortinas fechadas.
Não demorou segundos para o estranho avançar feito uma besta sobre Deangelo, tendente a enforcá-lo contra a parede do interruptor.
O corvo desviou do ataque ao contornar seus braços, bateu de encontro às articulações internas do antebraço do assassino e movimentou de baixo para cima.
Logo que o estranho abriu os cotovelos e largou o pescoço tensionado, Dante o presenteou com uma cabeçada no nariz do homem que foi incapacitado, o finalizou com uma joelhada, lançou sobre o chão e o imobilizou por cima com suas pernas.
Relutante e com o nariz quebrado a sangrar, o desconhecido ainda se empenhou em agarrar novamente a garganta do investigador, contudo, fraco, não resistiu à força depositada pelo braço do bastardo, que se propôs a furar o olho do invasor com a chave posicionada entre os dedos.
E assim fez.
Foi de imediato quando perfurou com o metal, o removeu e assistiu ao sujeito gemer e se esgoelar de dor ao ter seu olho esquerdo lesionado.
Até aquele momento, o vizinho não se fazia presente para ouvir, pois havia viajado e os demais, mal se intrometiam em confusões na vizinhança.
— MEU OLHO, SEU DESGRAÇADO! — gritava de dor enquanto o detetive o imobilizava por cima. — MEU OLHO! — cuspia sangue e a dor agora se misturava entre o globo ocular e nariz fraturado.
Dawson se dispôs a matá-lo, mas precisava deixá-lo vivo no intuito de retornar com uma mensagem.
— Quem lhe mandou aqui?! Quem é você?! — esmurrou a fuça do estranho que cuspiu mais sangue no assoalho e chorava o mesmo líquido vermelho feito nunca. Chorar naquele instante, era doloroso pelo que o corvo fez. — Fala!
Notou um colarinho evidenciado abaixo da camisa social do homem e arrancou a clérgima¹ branca com ira.
— Não precisa mais falar quem é — riu de feitio monstruoso entre o suor de sua testa e cabelos úmidos.
Os olhos acinzentados eram enérgicos por suas decisões contra o tal padre invasor.
Dessa forma, desenfreado, entregou mais um soco na cara do sujeito que se tornou irreconhecível. Estava disposto a efetuar uma mudança na aparência do incumbido pela igreja.
— Só... — esmurrou mais uma vez e o homem principiou a tremer em razão da algia ao ser torturado — ... me fale o que veio fazer aqui e o que quer.
O rapaz agredido gargalhou num deboche, gargarejou sangue e quase se sufocou.
— V-você está ferrado, Dawson — expeliu sangue no rosto do jovem, que limpou sem remorso e o enxergou com os dentes manchados.
Fora de fato descoberto.
Enérgico, entre as escleras expandidas e por culpa da adrenalina, o bastardo mordeu o lábio inferior e sorriu sem emitir sons. Concedeu dois tapinhas na bochecha do padre que respirava com dificuldade, num ruído cortado e fino.
— Te deixarei fugir, para saberem o que esperam de mim — debochou ao produzir um sinal da cruz na testa do indivíduo abatido que não queria resistir à força do jovem. — Avise aos seus amiguinhos e à "cabeça da serpente" que, se me desejam como um assassino, então serei.
Alertou assim que puxou o cabelo do invasor por trás e ergueu o queixo dele, no propósito de confessar próximo do ouvido.
O homem machucado foi solto e disparou medroso para fora do apartamento, quase tropeçando nos degraus. Um carro escuro, distante da rua e de faróis acesos, aguardava o sobrevivente das mãos do Dawson e observava cada passo do corvo.
Ao descobrirem a ameaça que o rapaz proporcionava, não agiriam mais uma vez com pressa. Necessitavam planejar melhor numa próxima oportunidade.
¹Clérgima: Gola branca, geralmente fechada na parte de trás e formando um quadrado na frente, usada por sacerdotes de diferentes Igrejas cristãs; colarinho clerical
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