Capítulo 46: Em Nome de Deus
*ALERTA DE GATILHOS: ANSIEDADE, TRAUMAS PSICOLÓGICOS, RELIGIÃO, CATOLICISMO E FIGURAS SAGRADAS.
*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: Bird - Billie Marten
— Ninguém lhe viu chegar? — olhou para os cantos e não avistou movimentações. — Meus vizinhos às vezes são curiosos até o extremo.
A noite principiou a chover e as gotas caíam sobre o rapaz que mal se importava e se fazia presente na casa da Demdike.
— Sou feito uma sombra que passa despercebida, Srta. Basil.
Adentrou a residência a primeira vez e aparentava estar cansado. Seus pés foram enxutos no tapete e ela correu disposta a entregar uma toalha de mão, de modo a secar os cabelos do homem quando ele retirou a jaqueta e pendurou no gancho da parede do hall.
— Linda casa — se admirou. — Percebo agora que não posso lhe convidar para conhecer a minha. É uma bagunça.
— Não acredito em suas palavras, investigador. Acho que exagera nelas.
O ambiente era perfumado em incenso, petricor do jardim e agradável de se ficar um tempo. Ainda mais na companhia da bruxa.
— Mas agradeço. É apenas a casa de alguém que ama plantas.
O clima estava meramente frio e também ventava lá fora como se as árvores saíssem do solo e Gaya se aquecia num pulôver bege, calça jeans e pantufas de pompom vermelho cereja.
A camisa do detetive colava em seu corpo levemente úmido logo que ela se notou desconcertada. Não foi proibida de agir assim, visto ser uma mulher solteira e permitida a seguir seu rumo após a rejeição de um futuro padre.
Franco bem se mantinha focado em Deus.
— Incenso de... — suas narinas aspiraram tudo.
— Cravo. É ótimo para a casa — gesticulou. — Se espera que seu apartamento se torne uma atmosfera afável, recomendo comprar incensos.
— Obrigado pela dica — com uma das mãos, a toalha secava o excesso de umidade.
Ele reparou em vasos de plantas espalhados pela casa, um varal com lamparinas amarelas, discos de vinil nas paredes e empilhados no canto da sala, além de alguns livros na estante com plantas em recipientes coloridos.
Não era muito sua personalidade, mas o ambiente se evidenciava aconchegante.
— Aceita alguma bebida? Tenho limonada, melancia e laranja — parecia animada em recebê-lo.
— Aceito de laranja — simpático, sorriu amável e seus espasmos estavam leves na presença da jovem.
Gaya concordou com seu pedido e seguiu com destino à cozinha.
Ele também carregava uma mochila marrom pendurada, removeu os últimos pingos de chuva, apoiou a bolsa no chão, ao lado dos discos, sentou-se na extremidade do sofá e aguardou por ela.
— Hoje você me ajudará bastante com a investigação. Incluindo os lírios! — exclamou de longe para a jovem.
— Geralmente minha avó quem consegue explicar acerca das flores com experiência, mas uma das minhas mães pode repassar a informação — conversava da cozinha enquanto ele retirava os arquivos da bolsa e organizava acima da mesinha.
Estava concentrado em descobrir mais coisas.
Demorou segundos para Gaya retornar ao cômodo com dois copos gelados de suco e entregou um deles ao Dante que cheirou a bebida.
Era fruta natural pelo cheiro forte e cítrico da laranja.
Gaya cerrou as pálpebras, colocou o copo sobre a mobília e apoiou os punhos na cintura.
— Quem me garante que não está envenenado? — brincou e revidou. — Até porque não estou em local público, não é?
— Veio reclamar do meu suco ou pedir ajuda na investigação? — brincava.
— Acho interessante lhe ver na defensiva, Srta. Basil — levantou o copo ao cumprimentá-la.
Mesmo assim, deu um gole, riu ao beber e somente evidenciou os olhos acinzentados borrados em delineado que encararam a jovem de baixo.
Da última vez que lhe olharam daquela maneira, Gaya jurou que se perderia por inteiro entre as coxas de um futuro sacerdote.
Dante era o estereótipo de um escorpiano.
— Enfim, o que descobriu?
Apanhou o copo de volta, sentou-se ao lado do rapaz e impôs uma mera distância.
Ele abriu, em seguida ligou o notebook e quando tudo estava preparado, acessou a aba de pesquisas confiáveis para inteirar na sua investigação.
— Algumas coisas importantes que vão facilitar na pesquisa.
Bebeu mais um gole e esfregou as mãos no intuito de se aquecer.
— Seu amigo enviou o broche pela caixa de correios e me guiou até uma joalheira que me passou informações relevantes. O que me fez questionar se os padres assassinados descumpriram alguma ordem na igreja — mostrou uma foto tirada na visita da joalheria. — O protótipo do brasão é o mesmo possuído por nós, apenas com um adicional, a cobra.
Acessou o navegador de mapas e digitou o endereço da joalheria que a moça salientou e levou ao site da loja. Parecia simples.
— Se eu fizer uma pesquisa rápida — clicou na aba da loja virtual — podemos encontrar sobre os clientes. A joalheira me repassou essa nova joalheria responsável pela confecção do broche.
Aparentava ser sofisticado.
— Clientes — no rodapé da página, existia a seção que indicou os compradores fiéis. — Veremos.
A página era extensa, contudo, os mais notáveis se posicionavam no início.
— Hotel Manchester, Gabrielle McNeill... — ela lia enquanto ele rolava a lista — Catedral de Westminster. Aqui.
Apontou entre as numerações.
— Na loja indica sobre abotoaduras em meio aos produtos oferecidos — ela completou e parecia tudo muito fácil.
Ambos rolaram a sessão de abotoaduras e escondida, entre muitas, estava lá o broche de Oliveira.
— Olha só! — não acreditou e as mãos espalmadas apontaram para o monitor. — Srta. Basil, não sei se comemoro ou temo.
— Abotoadura de ouro amarelo, dezoito quilates e oitenta mil libras?! Isso é um absurdo caro, Deangelo! Se trata do broche que temos!
O objeto valia uma vida inteira de trabalho e mesmo assim não aproveitariam do dinheiro.
— Não é por mal, mas se não contar ao seu cliente, podemos vendê-lo para um comprador e dividirmos entre nós — brincou ao cotovelar.
— Não é uma simples joia, Srta. Basil — tomou o copo dela e juntou com o dele na mesa de centro. — É uma pista valiosa.
Rolou mais para baixo, concentrado no que a loja exibia sobre a peça.
— Segundo o que consta aqui como descrição e confirma, é que a árvore se trata de uma Oliveira. Se pegarmos a imagem do protótipo, bate com o da loja. Além de que, na biografia da joalheria, a empresa foi concebida pelo próprio Vaticano, um dos clientes famosos. O broche sofreu modificações e pelo que penso, o item estava em processo de testes.
— Então é como se fosse um distintivo para integrantes da igreja?
— Não todos — as íris acinzentadas reluziam.
Dante abriu mais uma aba ao lado da loja, pesquisou seu objetivo no navegador e acessou outro site.
— Notícias sobre o Vaticano? É tão óbvio assim? — o viu digitar ligeiro as teclas.
— Sempre aparece qualquer informação — seus olhos pestanejaram entre lacunas com reportagens do dia e da semana. — Olhe aqui: O novo Papa se reúne com membros para a criação do futuro Conselho do Vaticano. Publicado em sete de abril de 2005. Não é uma notícia atual.
— Mas ainda é recente se parte do ano 2000 — o encarou.
Ao clicar no atalho, a página redirecionou até a manchete numa faixa vermelha e letras brancas que estouraram a visão. Abaixo havia uma foto com vários homens de meia-idade se ladeando, uma fileira por cima e no ponto central o pontífice da época. Todos estavam em vestes clericais, porém, cada uma seguia uma posição hierárquica diferente na igreja.
— Papa assustador — Gaya tremeu ao observar a fotografia. — Não sinto nada bom vindo dele.
— De nenhum deles — sorriu de soslaio sem observá-la.
Mal esperou salvar a imagem em seus arquivos para reunir com as demais provas. Talvez utilizasse na intenção de assegurar suas desconfianças.
Conselho em nome de Deus e a sociedade
Na primeira reunião convocada pela Vossa Santidade durante a manhã desta quinta-feira, dia sete de abril de 2005, o Pontífice discutiu a importância acerca da família, valores e igreja ao lado de homens escolhidos a dedo por designação de Deus e o Espírito Santo.
Estampou em sequência a chamada como título.
— Lembro que em oito de abril do mesmo ano, um dos cardeais de confiança do Papa, substituído pelo atual — era membro de sua família —, morreu durante um incêndio na biblioteca do Vaticano. Eu ainda era jovem quando soube. Minha família sempre cochichava pelas paredes sobre ele ter descoberto quem sequestrou uma criança levada à Itália. Não é a primeira vez que as coisas andam cabulosas.
— Sobre a biblioteca, isso não cheira a incêndio acidental, não é? — estava tensa.
— Numa das áreas de maior relevância no Vaticano? — sorriu com os lábios selados e cerrou as pálpebras.
Ao saírem da página, ele se arriscou a acessar outra que lhe chamou atenção.
— "Se conclui mais uma assembleia do Conselho" — enunciou —, olhe a data!
— Dez de agosto do mesmo ano. As fotos foram atualizadas e...
Alguns dos antigos membros ainda existiam, exceto a adição de uns.
— Dante, É ELE!
Apontou insistente para um sacerdote em específico e espalhado entre uma fileira de padres e bispos que acompanhavam o papa.
Daquela vez os cardeais não estavam presentes.
— Foi ele quem esbarrou em mim na floricultura e... — apontou para outros. — Dante, o padre que estava com a Ivone e mais dois na sala secreta.
— Isso fede a algo muito pior — umedeceu os lábios com a língua e se evidenciou tenso.
No similar instante o rapaz salvou as imagens. Buscava imprimi-las ao chegar em casa.
— Sol — apanhou as mãos da moça assustada. Previa que sua investigação seria concluída em breve tempo. — Precisamos ligar para sua família e nos informar sobre a flor que mencionou.
— Eu... — o olhar vago entregou medo
— Por favor, me escute — se aproximou dela, que estava nervosa e sem conseguir fixar em seus olhos. — Me escute. Se for confortável para você, por gratidão, não frequente mais o Vaughan. Corre mais risco do que se imagina e não posso perdê-la de vista — Eles seriam incapazes, Dante!
— Eles são capazes, Ga... — quase libertou seu verdadeiro nome — Sol.
Tentou mantê-la sob controle.
— Precisa evitar se aproximar de lá. Sei que soa horrível por privar sua liberdade, mas falamos sobre vidas. A sua vida também. Por enquanto recolherei tudo para enviar todas as informações ao meu cliente. Isso tudo unirá provas para ao menos fazermos justiça pela Ivone Castrell. Por isso que preciso que fique por essa região. Ou se precisar sair, estarei aqui, tudo bem?
— É complicado, Deangelo. Já lhe disse.
— Por favor — segurou firme as mãos da bruxa. — Me ouça. Confie em mim. Você não pode ser mais alvo do que já é.
Parecia se importar demais com ela. Como se importava ao perder sua amiga de profissão para Elisabeth Moul.
— Mãe?
Seu tom medroso assustou Delphine disposta no sofá com a esposa e na companhia da sogra a descansar na poltrona. Como de costume.
Aproveitavam uma conversa aprazível da noite em meio ao canto dos grilos.
Tudo transitava entre fofocas sobre os hipócritas da cidade e lembranças do passado que a idosa tratava de recordar com suas parentes.
— Gaya! — gritou animada. — Gente, é a Gaya! — se afastou do telefone e repassou a surpresa para as familiares que amaram ser contactadas.
A família adorava escutar a jovem bruxa se comunicar.
— Sol! Te amamos! — Anya quase chorou. — Espero que esteja bem em Londres!
— Minha querida neta — Anika sorriu, cruzou as pernas e sentiu imensas saudades.
— Houve alguma coisa? — Delphine se preocupou. — Nem disse um "Oi, mãe! Tudo bem?".
— Me perdoe por agir assim, mas não houve nada, mãe. Só uma curiosidade que eu gostaria de sanar com vocês. Por isso me comuniquei.
— Tudo bem...
A chamada foi posta em alto-falante para Dante ouvir, gravar e talvez anotar.
— Sei que será embaraçoso questionar, mas queria me informar mais acerca dos lírios-do-vale — estava receosa.
Parecia um assunto delicado para bruxas experientes.
— LÍRIOS DO VALE?! — Delphine berrou e as demais temeram. — Não está considerando plantar, não é? Diga que não.
— Com quem essa menina anda? — Anya estava furiosa do outro lado. — GAYA! Te suplico, não me decepcione.
A jovem exprimiu dor ao sentir os ouvidos racharem com os gritos das mães e o detetive conteve a risada sem jeito.
— Mãe, se acalme. É apenas uma pergunta genuína. Visitei uma floricultura que acidentalmente a vendedora comercializava e...
— Lírios do Vale são venenosos, Gaya Demdike. Quer dizer, em mãos erradas. Mas de toda maneira se afaste — seu tom fora ameaçador.
— Eu sei, eu sei. Mas por favor, seja mais específica, mãe — revirou as escleras.
Delphine acariciou as têmporas de modo a se controlar. Temia que a filha se envenenasse.
— Sabe que nas convenções de bruxa algumas cultivam e transformam em medicação para tratamento de doenças, e repassam com prescrição médica, certo?
— Sim?... — enquanto conversava, olhava para Dante, apreensiva.
— Mas outras pessoas não utilizam disso para tratamento. Recorda que a Madame Abby morreu após manusear ao cultivar, lembra?
Anika, na poltrona, ergueu as sobrancelhas ao voltar no dia da morte de sua amiga bruxa.
— Ela era uma bruxa sem limites, mãe — riu. — Não conte isso à vovó. Ela amava Madame Abby feito irmãs.
— Claro que não — riu de soslaio e soprou. — Encontraram o corpo dela no jardim, havia tido uma convulsão. Coitada — lamentou e as demais também. — Por isso que deve ficar afastada da flor, Gaya. E avise para esta moça que ela morrerá se manejar errado.
— Esqueceu que fui bem-criada por vocês? — brincou entre a tensão. — Não sei por que de tanto alarde.
— Nunca esqueceremos o quão foi bem-criada. Só não quero que passe por algum problema distante de nós.
— Você está bem? — Delphine desejou prosseguir com a conversa. — Se cuidando, vivendo melhor...
— Tudo em ordem, mamãe — se encostou no sofá e notou o rapaz apanhar o copo de suco que restava.
— Anda bem nos estudos, na jardinagem...
A bruxa ouviu uma tosse masculina ao fundo. Dante se engasgou com o resto do líquido.
— Quem está aí?
Delphine até pensou ser o seminarista, mas a voz era oposta ao Franco e ele não teria a coragem de escapar com destino à Londres.
— É um amigo, dos estudos, mãe. Só um amigo.
Dante conteve o sorriso, apontou para o cordão de prata que sustentava o distintivo e meramente aparecia num dos bolsos da mochila. Queria certificar que ambos se juntaram em prol de uma investigação.
— Fala a verdade? — persistia em desconfiar.
— Só amigos, mãe.
Dante sorriu tímido para a jovem, que expressou chateação.
— Deixe que eu falo com sua mãe para informar que somos amigos — tentou agarrar o telefone que ela escondia.
Soou muito esperto e perverso por instantes.
— Ela não pode saber de nada. Foi o que disse quando pediu que me afastasse da minha família — cochichou irritada no ouvido do rapaz que mal se importou.
— Bem, só se cuide, querida — insinuava outra coisa. Conhecia a própria filha depois do flagra na cozinha. — Lembre-se daquelas cápsulas preventivas... ainda falava no alto-falante.
— Não, mãe. Não. Só não. Ele não é nada meu. Somente um amigo.
Nesse instante, Gaya desativou o viva voz e evitou que o detetive escutasse a conversação mais pessoal.
— Franco dizia o mesmo enquanto estava aqui. Começou com uma amizade e terminou sujando minha cozinha, Gaya Demdike.
— Dessa vez será diferente, Sra. Delphine.
Apenas falava o nome da mãe logo que se mostrava impaciente até os céus.
— Tudo bem. Me desculpe — não desejava discutir com a filha distante. — E fique longe dos lírios-do-vale.
Continuava a chover quando Dante avistou um dos relógios da casa acima da lareira e determinou estar além da madrugada.
— Amanhã... aliás, hoje, visitarei o apartamento do primeiro padre — já recolhia suas coisas e a chuva bradava forte lá fora entre a ventania. — Recolhi boas informações e fizemos progresso, Srta. Basil. Agradeço muito por me auxiliar.
— Sem formalidades. Minha vida está por um fio e seria maluca em não querer ajudar — enlaçou os braços, se aqueceu e notou ser tarde. — Deveria dormir por aqui. Hoje.
Bocejou logo que levantou com o intuito de acompanhá-lo até a porta. A mesinha de centro foi bagunçada e talvez no dia seguinte retomasse as forças para organizar.
— Não posso aceitar — negou a cabeça e sorriu cabisbaixo. — Acho melhor encarar a chuva.
— O apartamento do falecido padre é mais próximo da minha casa e se eu fosse você, aproveitaria desse ponto positivo — o analisou, pedinte. — Vamos lá. Pode cochilar no sofá, não me importo.
Ele ficou em silêncio e a encarou num sorriso fechado até transportar uma das mãos ao cabelo, disposto a arrumar os fios caídos.
Dante permitiu a mochila despencar no chão e ponderou pedir uma toalha para ao menos se banhar antes de deitar-se, mas ela tomou a iniciativa.
— Buscarei uma toalha para você. O banheiro é rente ao meu quarto, mas não se sinta tímido ao usá-lo — subia os degraus enquanto falava. — Fiz uma limpeza espetacular num dia desses e se quiser usar a banheira, pode levar o tempo que precisar!
— Não é necessário! — andou até a cozinha, voltou à sala na intenção de apanhar os copos usados e principiou a lavar as louças sujas, feito um intrometido. — Tomarei uma ducha rápida.
Ao descer os degraus e retomar para se achegar no detetive, portando uma toalha seca e limpa no braço, a bruxa se surpreendeu com o rapaz prestes a concluir a higienização.
Fora rápido.
— O que está fazendo? — encostou na entrada da cozinha.
— Aplicando a educação que minha mãe me concedeu, Srta. Basil.
Enxugou as mãos em um pano de prato ao lado, apanhou a toalha dela e se evidenciou satisfeito por cooperar.
— Quando tudo for solucionado e se encerrar, ainda vai desejar estar perto? — o olhava de baixo por ser mais alto e reparou seus espasmos com precisão.
Parecia nervoso, mas ele sorriu tímido entre os dentes meio escondidos, pôs a toalha seca sobre o ombro e passou por ela, propenso a subir a escada.
Os olhos pestanejaram nele, sem entender por que merecia ser tão bem tratada por alguém que mal conhecia. Era o que ela pensava.
Ela o avistou sumir em direção à toalete e sua audição focou na porta que foi trancada.
Em breve minutos, não tão ligeiros e nem longos, assim que a bruxa subiu ao dormitório e se prostrou diante da janela, foi pega num susto repentino ao notá-lo sair do cômodo com os cabelos molhados, descalço, mas com as roupas que ainda vestia anteriormente.
A bruxa admirava a rua silente naquele horário gélido antes de tomar seu curto banho e relaxar.
— Fiquei receoso de molhar as plantas ao redor da banheira e as que estão presas na parede.
Se aproximou um pouco da moça que sorriu encostada na janela fechada.
— É meu costume.
Ela caminhou até um dos armários do quarto, se desvencilhou dele e entregou um cobertor, além de um travesseiro.
— Obrigado — o rapaz agradeceu, constrangido.
— Disponha — retribuiu e seguiu até o banheiro usado.
Mas antes, parou por um momento entre a passagem da porta, direcionada a ele.
— Você não me respondeu se quando tudo acabar, ainda estará por perto?
Dante respirou carregado como se aquela pergunta se tratasse de um grande desafio.
— Uma vez — mirou o piso de madeira enquanto falava e seu ombro teve um espasmo — uma vez fiquei com alguém que criei um vínculo profundo. Até que, um dia, assim que ela partiu, na hora que mais precisou, não estive junto. Não pude agarrar a mão para puxar e trazê-la de volta daquele túmulo. E ao mesmo instante não daria. Foi tarde demais — seus pulmões pesaram. — Então quando tudo terminar, espero não estar por perto. Só ofereço maus agouros. Me recuso a pensar que você, uma pessoa iluminada, continue próximo de uma carga tão densa feito eu.
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