Capítulo 28: Silêncio de Deus

*ALERTA DE GATILHOS: AFEFOBIA, RELIGIÃO E TRAUMAS PASSADOS.

*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: The Awakening - Peter Gundry

Ausente de cerimônias, Franco entrou no fusca ao similar tempo que Gaya o observou mediante seu semblante melancólico e farto de emoções, mas de seus deslumbrantes olhos não surgiram lágrimas.

Apreciou o sutil e doce perfume de canela emanado pelo vento quando o rapaz se afastou, ligou o carro, contemplou a amada moça que se distanciava e sorriu mais uma vez, porém, guiado por seu coração partido.

Ao dar a partida no veículo, ele acenou para Gaya que retribuiu da mesma maneira.

E ao seguir o sol tênue, além da afetuosa melodia das árvores, partiu no fusca, rumo ao seminário em Rye, distante do centro da cidade, um pouco isolado de todos: o Seminário Católico de São João.

O seminário localiza-se afastado do convívio com os demais habitantes de Rye pelo propósito dos jovens seminaristas manterem o foco apenas em seu processo de santa formação.

Cercado por um magnífico e vívido arvoredo, composto por árvores também preenchidas em folhas e galhos secos quase envelhecidos, a paisagem atraiu Franco, rendido pela natureza viva e morta.

A estrutura gótica se revelou grandiosa, extensa, ocupava parte da ambiência e o próprio lugar igualmente carregava muita história.

Correspondia para onde o Sr. Callahan seguiu o destino imposto pela mãe, antes de se apaixonar por Guillerma.

O antigo mosteiro¹ de Santo Antônio, na qual monges acometidos pela peste bubônica aguardaram os últimos dias de existência junto a Deus.

O local se decompôs em ruínas até ser reconstruído pelos novos sacerdotes e sobreviventes da praga.

As grades das enormes janelas em formato de losango foram desenhadas em formas curvilíneas combinadas com uma simplicidade das linhas e agregados por vitrais sagrados que reproduziam imagens de santos católicos.

Além das portas em estilo medieval que transmitiam uma atmosfera sombria ao seminário, em especial a espaçosa entrada que encarava a rotatória, onde os automóveis pertencentes aos padres superiores e alunos passavam.

Por trás, havia um amplo jardim colorido por variadas flores de espécies distintas, perto de um estacionamento fornecido aos residentes, acompanhado de uma vasta piscina e quadra esportiva externa ao lado direito da instituição.

Diferente do que imaginavam sobre um seminário católico, embora fosse rígido, com normas a serem cumpridas mediante a promessa em prol do compromisso com Deus, os seminaristas eram autorizados a se divertirem em horários vagos.

O local oferecia uma descomunal biblioteca aos jovens rapazes, concedia distração, salão de jogos que influenciavam a competirem entre si em benefício do lazer e uma academia fornecida aos seminaristas dedicados com o bem-estar físico.

Após uma segunda reforma em 1969 na intenção de expandir a instituição, no mesmo período do lançamento histórico do Apollo 11 para a lua — um ano depois do Sr. Callahan nascer —, o seminário permitiu que seus formandos pudessem usufruir bem mais a liberdade, sem impor doutrinas limitantes como nos antigos institutos católicos.

Era início do entardecer, próximo do horário da refeição, quando ele chegou ao seminário e fora abordado ainda no veículo por um homem mais jovem de idade, vestido em trajes formais, humildes, que lhe indicou até o estacionamento.

Deveria ser um dos estudantes.

Ao posicionar o fusca ao lado dos demais automóveis que aparentavam serem baratos e opostos aos carros atuais de 2010, Franco retirou apressado os seus documentos e avançou até o interior do instituto.

Nervoso pela sua estreia num lugar maior que o internato, presenciou enquanto se dirigia para dentro, os olhares estranhos dos rapazes de sua faixa etária na direção das mãos guardadas nas luvas.

Ele atravessou a grande passagem aberta de cabeça abaixada, envergonhado pela reação dos outros e caminhou à procura de quem pudesse lhe direcionar na matrícula.

Mais simples que o exterior, simbolizando a transição do abandono aos bens materiais e o apego ao espiritual, o colossal salão era ladeado por duas vastas escadas e corredores extensos que levavam até as salas de aula e restantes áreas fundamentais para a construção dos jovens em preparação religiosa.

Os lustres eram modestos e também um tanto luxuosos, os cantos das paredes de tijolos vermelhos consistiam complementados por colunas cilíndricas de mármore riscado e transmitiam ponderada riqueza ao espaço.

No exato momento em que Franco admirava a grandeza do recinto, à medida que os outros homens mais jovens andavam segurando livros nos braços ou conversavam humorados, distraído com a beleza da arquitetura — na qual os olhos quase pularam para fora e sua boca se expandiu em admiração —, ele fora abordado por uma mão levemente enrugada apoiada em seu ombro.

Pertencente a um homem de nariz longo, curvado e pontudo.

Também possuía uma fisionomia severa com seu olhar de mel, sobrancelhas grossas que se completavam com as linhas de expressões, lábios finos e cabeça inteiramente ausente de cabelos, sendo careca.

Aparentou se incluir nos cinquenta anos.

Composto por vestes cordiais, mal parecia uma figura superior quando os demais seminaristas passaram ao seu lado para reverenciá-lo.

Muito menos algum membro católico.

Entretanto, Franco o interpretou como uma personalidade importante para a instituição.

— Boa tarde, Padre Kansas! Teremos sopa de crustáceos no jantar?

Um ruivo na companhia de três amigos, cumprimentou o sacerdote amigável numa leve tapinha nas costas.

— Não, crustáceos não. Já está chato demais — um dos amigos resmungou. — Sempre isso. Nos outros seminários comem pratos diversificados. Talvez amanhã comamos papa de ervilha. Eca! — mostrou a língua, enojado.

— Idem, Oren. Pergunte ao Padre Millo, pois ele se responsabilizará pela cozinha. Dessa vez me farei presente na celebração. E você, Sr. Willem, anda com muitas exigências. Sabia que há pessoas que lutam por um prato de comida? E reclama com o que tem — constrangeu. — Vou lhe ordenar a limpar as privadas já que não consegue limpar sua boca, rapazinho.

Os alunos correram rumo ao âmbito externo e o homem voltou sua atenção ao Franco, rindo.

— Boa tarde, caro jovem. Posso lhe ajudar em algo? — sua expressão tornou-se mais séria e o assustou.

Recentemente, o senhor recebera os rapazes com cordialidade.

Franco adiou sua resposta, ainda preso ao ambiente, no entanto, logo que percebeu o toque em seu ombro, despertou do transe e se retirou de imediato na presença do homem.

Levara um susto e intrigado o clérigo.

Contudo, ao recuperar a concentração no Padre Kansas, ele anulou a tocadela, recordou em conduzir as suas documentações essenciais na mão esquerda e reverenciou o discípulo de Deus.

O vigário o analisou estranho quando optou em oferecer sua mão direita de modo a cumprimentá-lo, Franco rejeitou a atitude com civilidade e fez o padre recolhê-la rente ao corpo.

— Ah, boa tarde. Chamo-me Franco... — fez uma silente pausa antes de completar seu nome — ... Franco Gregori Callahan II e compareço aqui para me matricular no seminário católico por indicação do Reverendo Gaspar, do Internato Católico de São Edmundo. E me perdoe, padre. Não costumo manter aproximação física com as pessoas. Por essa razão que infelizmente recusei seu ato de bondade. Espero que me compreenda.

Num sorriso embaraçoso, se empenhou em amenizar a situação desconfortante, todavia, o Padre Kansas o entendeu.

— Sem clemências, meu caro jovem. Respeitaremos seu espaço e repassarei aos demais a informação. Mas retornando ao que enunciou, esperávamos a sua chegada e ficamos felizes pela recomendação do Reverendo Gaspar. Significa que se encaixava conforme um dos brilhantes alunos do internato, estou correto?

Sua voz rasgada e imponente ofereceu segurança ao principiante integrante da instituição.

— Equivaleram a notáveis elogios, se tratando do Reverendo Gaspar.

— Não foi bem assim, senhor.

Sorriu desconcertado, desviou seu olhar para os sapatos polidos e voltou sua atenção ao sacerdote.

— Até conquistei boas notas e uma excelente avaliação durante meus tempos no internato, contudo, deve saber que todo adolescente já alcançou a rebeldia e experienciei a minha fase. Cheguei a escapar do colégio interno só uma vez, porém, retornei porque considerei ser a melhor escolha.

Franco conquistou uma risada sincera do Padre Kansas.

— Tudo bem. É como você falou: todo adolescente foi um pouco rebelde. Entretanto, se serviu como construção até lhe trazer para cá, um pouco mais perto de Deus, lhe considero um novo e bom seminarista. Resulta no primeiro ciclo de proximidade com o Criador, caso queira se tornar um padre. Porém, aqui se tornará um período de aprendizagem, onde nos aproximamos da sociedade necessitada do amor e caridade, a plenitude, tudo o que lhe transmitirá satisfação, tal qual nossos irmãos. Saiba que antes de qualquer coisa, a igreja habita em nós, o Pai, o Filho e Espírito Santo se incluem como a trindade que deverá habitar sempre conosco.

— Se encaixa ao que espero, Padre Kansas. Pretendo estar próximo de Deus.

— Isso é maravilhoso de se escutar! Se é de fato o destino que deseja trilhar, me acompanhe para finalizarmos seu registro. Há tantas coisas que ainda preciso lhe apresentar.

Os dois caminharam através do extenso corredor ao lado esquerdo e transitaram no meio de outros padres que andavam apressados até as determinadas classes na qual se responsabilizavam.

Franco acompanhou o Padre Kansas e também apreciou um pátio interno preenchido por um pequeno vergel, composto por um saliente chafariz acompanhado de bancos de mármore que o ladeavam.

Comparado ao Jardim Botânico de Padova, na Itália.

Quando chegaram na sala, Franco sentou-se refinado de frente ao Padre Kansas que trêmulo lhe entregou folhas diferentes das outras assinadas por outros seminaristas, contendo um brasão composto por uma oliveira seca no centro e enrolada por uma serpente.

Algo curioso para aquele jovem, mas ambos resolveram a matrícula.

O jovem assinou algumas papeladas essenciais sem ler com tanta atenção, notou um espaço em branco maior que as cláusulas na última folha, sentiu que o sacerdote estava inquieto na cadeira — balançando o pé ou em busca de falar sobre algo —, mas recebeu uma reverência de boas-vindas do clérigo que recuou ao se aproximar dele, em respeito.

Franco naquele instante detinha o direito de se considerar um seminarista. Se deparava curioso e apreensivo ao presumir como seria o futuro.

Equivalia a uma nova vida.

Ao saírem da classe, sucedeu na ocasião ideal para apresentar os essenciais locais da instituição ao Franco.

Na companhia do Padre Kansas, o ansioso seminarista deslocou-se tranquilo até uma das salas de aula que situava vazia, diferente das restantes.

Correspondia a uma sala tradicional, composta por paredes de tijolos vermelhos, conforme em toda a estrutura do internato e o ambiente cheirava a livros velhos, além do ar tórrido e abafado por preservarem fechada.

No momento, Franco tossiu ao aspirar o odor que lhe sufocou.

Nunca demonstrara alergia, pois convivia com o mofo impregnado nas paredes de sua casa.

— É uma das salas principais — a exibiu com uma das mãos estendidas. — Normalmente se mantém fechada porque alguns seminaristas alegaram terem presenciado fantasmas por aqui. — Franco se arrepiou ao ouvir. Se encontrava interessado no assunto.

— Fantasmas? — um frio trepidou sua espinha. Tudo o que envolvia a morte lhe causava incômodo. Perdurava no luto. — Assustador.

— Sim, fantasmas. Algumas sombras noturnas, vultos... Esses meninos fogem dos círculos de orações e mentem. Penso que deveriam passar mais tempo nos quartos em processo de santificação. Jamais acenderam uma vela em respeito aos espíritos e dizem que testemunham a presença de espectros. Óbvio! Como eu disse, não costumam se conservar em oração.

Kansas virou-se para Franco e riu quando o jovem demonstrou medo e desconforto.

— Mas isso é mais uma das peças pregadas pelos seminaristas, Sr. Gregori. Alguns deles ainda nutrem o "espírito" imaturo. Precisam evoluir e permitir que os mortos descansem em paz, certo? — falou com a pessoa mais inadequada nesta temática. — No entanto, deixemos este assunto para depois e vamos seguir com os demais espaços.

Prestes a empurrá-lo para fora da sala, o padre trancou a porta com uma das chaves caçadas no molho e prosseguiram até as áreas externas.

De início, ele apontou para o caminho de arbustos sendo aparado por um dos outros sacerdotes, explicou que cada um efetuava um serviço e vivia numa comunidade restrita.

— Assim que uma incumbência for destinada a você, sobretudo quando estiver desocupado, não hesite. Lembre-se que representa uma contribuição para Deus. Aqui vivemos em união e cada um se torna responsável pelo que for destinado a fazer. Portanto, caso um dos clérigos designe que se encarregará dos cuidados com os jardins ou da horta, qualquer tarefa que seja, cumprirá o serviço em horário marcado — Franco consentiu em silêncio e somente aceitou suas obrigações. — Caso contrário, dormirá no jardim.

— Isso é sério?!

— Claro que não, Sr. Gregori — riu desconcertado. — Vai ter que entender minhas brincadeiras, hein? — Franco suspirou aliviado.

— Terei mesmo — riu anasalado e envergonhado.

O Padre Kansas o guiou até o jardim principal situado nos fundos do seminário católico, onde se pôde presenciar outros rapazes acomodados no gramado apartado das verbenas, atentos ao novo integrante que chegara.

O clérigo contou sobre o passado do lugar, mas a atenção de Franco se fixou nas flores sendo beijadas pelas abelhas.

Recordou do mel e do momento íntimo com Gaya um pouco cedo, sorriu simplório, negou com a cabeça e fez o padre estranhar sua atitude:

— O que houve, Sr. Gregori? Achou engraçado ouvir a respeito das mortes dos falecidos monges durante a grande peste?

Enlaçou os braços, mostrou-se sóbrio e supôs que o jovem debochou da história na qual o instituto sustentava.

— Este assunto não é uma das minhas brincadeiras.

— Não, não! Padre Kansas não foi esse o motivo do riso. Aqueles rapazes sentados me fizeram lembrar de uma situação engraçada nos meus tempos do internato. Porém, me perdoe se interpretou como um afronte à memória. Porque eu realmente não ri disso.

— Menos mal. Já pensava em lhe mandar direto ao Padre Callum. Como um seminarista iria achar uma coisa dessas engraçadas?

— Mas não foi por maldade, Padre Kansas. Juro por minha vida — seus olhos correram para o céu e coçou a cabeça, confuso. — E quem é esse padre...

— Padre Callum? — suas sobrancelhas se atentaram.

— Sim, esse mesmo. Espero que não seja um carrasco que vai me punir por um equívoco — brincou.

— Não, nem pensar! — sacudiu as mãos e negou. — Padre Callum é nosso psicólogo da instituição. Muito distante de ser um carrasco.

Franco se abismou, dado que nunca ouvira falar dos psicólogos em instituições religiosas. Visto que a religião e a ciência nunca se aliaram.

— Que interessante! — levou os punhos à cintura. — Há psicólogos por aqui?

Ambos se atentaram ao vergel quando um padre idoso compareceu, convocou os seminaristas para a aula e deixou a entender que eles gazeavam.

Kansas respirou firme e em seguida observou o rapaz ao seu lado.

— Apenas o Padre Callum. Os demais rapazes não buscam por ele, acho que por timidez em expor suas questões pessoais e então ele aguarda na sala por quem se interessar. Embora não seja obrigatório, recomendamos passar por ele antes de encerrar os estudos, não é? Apesar de muitos desistirem ou se recusarem a ser padres.

— Realmente — tornou-se pensativo.

— E você, Sr. Gregori? Pretende seguir qual rumo? Não precisa ter certeza, pois com um tempo a cabeça muda.

— Verdade. Eu quero ser padre, como o senhor, mas é preciso passar pela questão psicológica, não é? Mesmo acostumado com isso desde pequeno, ainda não me adaptei com alguém me escutando e absorvendo meus problemas, sabendo que eu não vou superá-los nem tão cedo.

— Para ser padre você precisa. Lidará com experiências jamais vividas. Com situações e pessoas difíceis dentro da igreja. Digo isso por experiência própria. Embora nosso Deus nos ajude, me desculpe querido Pai por isso que falarei — dirigiu as palavras ao teto após sinalizar o sinal da cruz —, mas a mente é nossa fortaleza. E se caso sentir algo, talvez deprimido, sinta-se à vontade para me falar, pois te levarei até o Padre Callum.

Franco acatou seu conselho.

— Apesar de algumas comunidades eclesiásticas odiarem essa interferência da psicologia no nosso seminário, ao menos em muitos anos, não sabemos de qualquer caso problemático envolvendo a formação dos nossos seminaristas. Ainda que muitos sejam rebeldes, nenhum estampou a primeira folha dos jornais impressos.

— Tenebroso saber disso — Franco estremeceu. — Seria uma indireta para algum seminário ou algo semelhante?

Kansas o olhou de soslaio e se manteve calado.

O seminário se encontrava à frente dos demais na Europa, além, quem sabe, também dos outros espalhados no mundo.

Manifestavam conforme homens de Deus e humanos preenchidos pela sabedoria.

Padres compreensíveis, respeitados em toda a região europeia, que desaprovavam atitudes insipientes, repugnantes e maldosas.

Discípulos do Pai que seguiam de fato o que os caminhos santos determinavam.

— Padre — chamou a atenção do sacerdote.

— Sim? — sobrancelhas elevadas demonstraram se importar e suas mãos foram levadas para frente, unidas.

— Dentro do seminário, podemos fazer ligações? Manter contato com o mundo externo?

— Claro! Óbvio que com cautela para não influenciar no processo, porém, determinamos uma temporada de férias para visitar familiares. Então, alguns seminaristas costumam guardar ligações para vê-los pessoalmente.

— Ah, bem! Ótimo saber.

O padre o encarou estranho. Todos sabiam que Franco Gregori não tinha mais família. A sanguínea.

— Não é o que deve estar pensando, padre — o jovem era sabido. — Mas eu tenho uma família de consideração lá fora.

— Ehr... que bom saber disso, Sr. Gregori. Muito bom mesmo.

Por um momento, o sacerdote perdera o ar pelo susto.

Os dois continuaram a caminhar, se retiraram da área externa e retornaram ao interior do seminário católico, rumo aos dormitórios.

— Sentimos muito por toda situação que passou, Sr. Gregori. Sua família é muito importante para a história da nossa igreja — Franco não sentiu sinceridade em seus pêsames.

— Sinta pelo meu pai, padre.

Sisudo, lançou os braços para trás, de mãos atadas, caminhou e encarou o piso, enquanto o padre se mostrou boquiaberto.

— Nã-não entendi, Sr. Gregori — piscou os olhos tão rápido, sendo capaz de escutá-los.

— Entendeu muito bem, padre. Sinta pelo meu pai. Meu sangue tem motivos para ter sido amaldiçoado. Há pessoas injustiçadas nesse longo período e ser padre, talvez, mesmo me esforçando, possa motivar uma mudança para a família que me recebeu. Não é também por acaso que estou aqui. Embora compactue em fazer parte disso. Mas estou entre promessas e dívidas — sorriu irônico.

Eles passaram por algumas salas até Franco encarar um salão em que o teto se deparava feito de vitrais que permitiam a passagem da luz.

Se encontravam num ambiente que encaminhava até os dormitórios, subiram juntos numa grande escada espiral e pediram espaço aos outros seminaristas sentados em cada degrau.

Conversavam animados referente ao último jogo de futebol.

Até o momento, Kansas não dirigiu tantas palavras a Franco e no instante em que seguiram ao quarto final de um corredor integrado por similares portas de madeira, o padre se colocou de frente para a entrada e resolveu quebrar o silêncio.

Entre olhares desconfiados no corredor, ele sussurrou ao jovem sem grandes aproximações:

— Me perdoe pelo que lhe direi, mas seu pai foi poupado quando partiu pela maldição, Sr. Gregori.

Fixara seus olhos severos em Franco, contudo, alternava entre se manter atento a qualquer movimento naquele andar.

— No tempo as notícias correram rápido demais e me sensibilizo com seu luto — olhou de soslaio e mal piscou entre a conversa sigilosa. — Porém, seja cauteloso, pois as paredes ouvem e os ventos encaminham sussurros para lugares que nunca desejará tocar seus pés.

— O quê?! — se alarmou e desentendeu. — Como ousa? O-o que e-está dizendo?! — se mostrou furioso.

— Shhh... Silêncio, rapaz! — o calou, estressado, e uma das portas se trancou.

Parecia que o sacerdote temia algo desde o início que o recebera.

— Sr. Gregori, recomendo que durante sua estadia no seminário permaneça um pouco em silêncio. O lugar mais seguro, onde as paredes são revestidas por folhas, o que abafa qualquer palavra que lhe comprometa, é como a casa de Deus. Onde há paz. Fora dela, qualquer ambiente é hostil.

— O que o senhor quer dizer? — sentiu-se confuso e assustado.

— Minha mente está mais densa que as paredes deste seminário e um dia entenderá. Mas não é o seu ou meu momento para falar. Exceto no único lugar mais silencioso desta instituição.

— Por favor, Padre Kansas. Diga-me: há algo de estranho com minha chegada? — o clérigo engoliu seco.

Kansas se abaixou para levantar o tapete que correspondia ao quarto do novo seminarista e apanhou uma chave, disposto a entregá-lo.

— Sr. Gregori, esta é a sua chave — mudara o semblante de antes para uma face amigável. — Aproveite sua estadia e sinta-se convidado a me fazer companhia na limpeza dos livros. E não se esqueça: os vitrais observam tudo e os ventos que dançam entre os corredores, encaminham qualquer sussurro até ouvidos perigosos.

O padre pendurou a chave no indicador, Franco apanhou com cautela e encarou Kansas que prendia os lábios finos.

Ele o notara entre os olhos cerrados e desconfiava do homem severo.

Kansas engoliu seco, sumiu feito um espírito e deixou-o sozinho encarando a porta enquanto sua mão esquerda espremeu a chave por dentro.

Mal chegara e já estava rodeado de mistérios.

¹Mosteiro: Estabelecimento onde os monges vivem isolados do restante do mundo.

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