Capítulo 26: Euforia e Mel
*ALERTA DE GATILHOS: AFEFOBIA, INSINUAÇÃO SEXUAL MODERADA E EXPLÍCITA.
*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: Strange - Celeste e Mr. Sandman - Piano and Violin Version - SYML
Numa breve interrupção, a fim de escapar da presença do rapaz, decepcionada, Gaya redirecionou o rosto.
Recuou do contato visual, prensou os lábios carnudos após não receber respostas, voltou ao que realizava e se colocou de costas para ele.
Pretendeu se esquivar do silêncio constrangedor.
Porém, em segundos, ao desviar de Franco, ela notara um ar abafado, quente como o sol da manhã chocar contra sua nuca. Podia-se notar a energia caótica daquele rapaz por trás.
Ele a queria próximo pela decisiva vez.
Ela experimentou seu corpo gelar e não aguardava pela atitude oriunda do amado e brevemente um seminarista católico.
O amaldiçoado decidira se aproximar sem tocá-la. Desejava mostrar que, embora não a tateasse, estava disposto a manter explícito suas vontades impuras.
Franco, imóvel, à procura de entender acerca de não conseguir tocá-la na primeira possibilidade em toda a sua vida, a proibiu de recusar sua presença e comprimiu os olhos para se acalmar mediante a um sofrimento de anos.
E agora ao menos entendia em paz, como agiria bem antes de partir.
A bruxa representava a última pessoa em que ele confiava de corpo e alma.
Resolvera determinar mais proximidade para mostrar que se saía melhor, ao contrário dos tempos passados e isso arrancaria um sorriso do Dr. Kai, também de seu falecido pai.
Agia por vontade própria. Sem pressões da outra parte.
Gaya falhou em mover seus músculos de tão petrificada por efeito da respiração arrepiante em sua pele.
Caso explicasse a sensação, simbolizava a ausência da gravidade no semelhante espaço compartilhado entre ambos.
Sentia levitar.
Seu corpo paralisado flutuava de uma maneira extraordinária — como um astronauta a vagar pelo espaço, almejando tocar estrelas — e o peito explodia devido às sensações inexplicáveis dos dois amantes proibidos pelo passado.
Daquela forma, ao passar meros minutos inspirando o perfume dos cachos crespos, fora o cheiro da massa perfumada que transitou no ambiente, Franco estava preparado para retomar suas palavras:
— Posso passar horas apreciando seu perfume estando de costas para mim, sem te tocar — ofegou. — Mas preciso, de toda a minha alma, que olhe para mim. Imploro que me deixe te ver, mesmo que entre a escuridão deles, eu não consiga enxergar suas pupilas dilatadas. Pois sinto que compartilhamos do mesmo sentimento.
Jurou inexistir ar em seus pulmões, visto haver se libertado com as sinceras palavras.
— Por favor, Gaya — implorou em sofrimento. — Olhe. Para. Mim — o sentiu dominante. — Preciso recordar de seus olhos quando eu partir.
A bruxa, arrepiada até o último fio de cabelo, orientou lentamente seu corpo de volta ao encontro de Franco e se pôs sentada na bancada, de coxas afastadas e aquecidas.
Ao permitir chamar a atenção do rapaz que correspondeu pregando as pálpebras numa pressão torturante até retomar a visão.
— És tão linda, Demdike. Sua beleza me fere.
Os olhos azuis brilharam encantados. Franco registrava a face da amada para quando estivesse distante.
— Desde o momento que te conheci, entendi que estava mais próximo do paraíso.
Ambos sabiam que não se tratava apenas de paixão.
Oposta a ele, concordante a uma vítima das emoções, ela o sentiu devoto, firme em não mover nenhum dedo em sua pele.
Franco era resistente, mesmo confiando na moça que permitia seu coração barulhento ser ouvido naquele silêncio rompido pelos passarinhos e brisa conservada no jardim.
Resultou num comportamento comedido, equivalente a uma fera presa na carne de um homem disposto a se converter num seminarista.
Precisava se conservar imaculado até se formar num padre.
Preservar sua promessa familiar.
— O que mais declarará neste instante, diante de mim? — seu hálito quente soprou nas narinas do rapaz que sofreu para partir. — Considere ser nossa última vez — resultava num ultimato.
Não queria se ver presa num amor distante.
Suas mãos nas luvas foram postas para trás, enlaçou os dedos contidos no tecido, logo que decidiu determinar um afastamento do toque e corpo da amada.
Contudo, estava a poucos centímetros dela, encarando-a entre os óculos embaçados pelo anterior sopro da mulher, fora suas bochechas coradas e olhos preenchidos pelo brilho incompreendido e pupilas num gigante buraco que a engolia em desejos.
Gaya desacreditava em reencontrá-lo. Se mantinha desesperançosa, abatida e continha as lágrimas em ausência antecipada do amado descendente rival.
— Sou apaixonado como um artista que ama sua pintura, um escultor que aprecia as silhuetas de sua escultura, os planetas que giram em torno do sol.
As palavras dançaram em seus lábios que tremeram relutantes num "não guarde seus segredos apenas para Deus" como um mantra.
— A angústia de partir sem possuir no mínimo uma oportunidade em minha existência, consiste como um inexperiente e imaculado, à margem do abismo.
Apertou os lábios e inspirou com pesar até o perfume das silentes flores do jardim.
— Por isso, antes de trilhar o meu percurso ao lado de Deus e todos os santos, permita-me te admirar, amar cada detalhe seu, antes que eu desapareça próximo de ti. Pois será possivelmente a última vez na qual verei o amor de toda a minha vida.
Gaya engoliu seco até recuperar os sentidos. Fora entorpecida pela confissão.
Seu peito apertou, a língua que tocava o céu da boca despencou e suas escleras arderam por prevalecerem inertes.
Franco se declarava por inteiro diante de sua presença.
Esperava que seus sentimentos fossem expostos antes dele, mas havia se surpreendido pela atitude do rapaz que movia o peito numa respiração torturante, o barulho do couro das luvas se evidenciaram e mostraram que o próprio as apertava por trás.
— O-o que me disse? — seu semblante de anjo caído desatou nós na consciência do amaldiçoado. — O que acabou de admitir? — as escleras correram pela face do rapaz.
— Sempre esteve tão explícito o que se passa entre nós, Gaya Demdike — seus olhos brilhantes cruzaram incansáveis com os dela.
Pensava em se casar com ela naquele instante, embora fosse novo e planejasse viajar o mundo antes de cumprir o que almejava.
— Eu me sinto anestesiada. Não esperava tanto — murmurou desconcertada. — Você, eu... — os olhos tocaram os pés do Gregori se achegando comedido.
Ainda duvidava se o homem amaldiçoado apenas era devoto carnalmente.
Ansiava pela devoção amorosa. Gaya se sentia merecedora de ser amada.
— Escapei do internato para estar próximo de ti, tracei conflitos com minha avó... não percebe a maneira como eu te olho? Ando me contendo demais quando se aproxima de mim. É morrer em vida.
Retornou para próximo dela e calmamente encostou a ponta do nariz quente no lábio superior da Demdike que suspirou emocionada.
Resultou no ato mais próximo que ele permitia e conservou as mãos entrelaçadas para trás
— Não entende a maneira que reajo diante da sua presença? Eu nunca estive tão lúcido em meus sentimentos. E-eu nem sei mais se nossa amizade continuará a mesma.
Confuso, contornou o olhar nas mãos, coxas, ombros e regressou ao rosto dela.
— Um dia desses éramos crianças puras, inocentes no ínterim de uma rivalidade desprezível. E hoje, te desejo incansável e me sufoco com declarações ainda não ditas.
— Por que não abandona a ideia de ser padre? Podemos partir para Londres, conhecer belíssimos lugares no mundo, fugir daqui, de onde sofremos perseguições. Me verás brilhando nos palcos, você estará na primeira fileira, te acompanharei em qualquer museu na qual suas obras serão expostas. Pense, Franco. Pense... ainda dá tempo — quase se beijaram visto estarem sem fôlego pelo momento.
— Tudo já foi combinado. Não posso me esforçar para reverter a situação e isso me machuca. Mas prometo que retornarei, Gaya. Eu juro — afirmou incontáveis vezes com a cabeça e engoliu salivas.
— Não, não... — ao contrário dela que negou com a sua.
— Meus olhos, minhas palavras, meu corpo, minha alma, juram que voltarei por você. Deus sabe o quanto imploro pela chegada desse dia, Gaya. Você me verá finalmente melhor, por mim. Por nós. Será apenas uma fase.
Selou os lábios na ponta do nariz da amada que pregou as pálpebras, consolada pelo carinho até permitir a queda da primeira gota pelo canto do olho.
Franco principiou a chorar sofrido junto a ela e engasgou as palavras em meio às lágrimas maçantes na face. Era tudo transmitido como um grito ecoado na escuridão, contudo, no fundo, podia-se ver uma luz.
A divina bruxa representava um amparo entre as sombras de seu passado, ele introduziu seu choro silencioso e soluçou feito uma criança indefesa num mundo, em partes, impiedoso.
Quando o sol tépido se inclinou para as flores do jardim, incluindo os lírios, Franco, ainda próximo de Gaya, se preencheu de tenacidade ao persistir no carinho com a ponta do nariz e prosseguiu com um mero selinho na testa da moça.
"Minha fraqueza é te amar".
Ainda demonstrava mera insegurança.
Ele havia se consumido no tempo com ela e ocupado o espaço de lamentações com vontades transmitidas em olhares vorazes que se cruzaram turbulentos.
O olfato de ambos se saciava na proximidade, as bocas necessitavam de sabor e lubricidade, visto estarem secas e insípidas com a chegada do amaldiçoado.
A consciência se misturou com os tranquilos sons externos e ainda mal se tocaram os dedos pela primeira vez, embora aguardassem pela chegada do momento:
— Passarinhos cantam em árvores melodiosas que, para o primeiro voo, o medo precisa ser manipulado. Não se abrem asas quando se permite temer.
Havia tomado inspiração nas palavras com os pássaros a cantar lá fora.
— E temer, embora seja inevitável, nos leva à queda. Mas cair, apesar de machucar, faz com que possamos lidar melhor que na primeira tentativa.
— Não me sinto pronto para utilizar minhas mãos. Ainda considero impuras pelo passado para tocar sua pele tão abençoada. Seria como tocar uma obra de arte privada do contato com digitais — estava receoso, mas buscava por alternativas. — Porém, se não for muito, seria ideal partir de você. Creio que saiba como ser cautelosa. E-eu confio em ti.
— Até onde considerar suficiente e se me prometer continuar se cuidando.
— Em nome dos meus falecidos familiares, eu prometo. E em meu nome também — sorriu tímido.
— Também me prometa que se não aguentar, peça-me para interromper, Franco.
Ao autorizá-la, nervosa e ofegante por saber que Franco conservava em seu íntimo um tremendo desejo similar ao seu, o testemunhou fechar os olhos serenos e vivenciou as impressões afirmativas.
— Prometo e sei que não suportarei se interromper — arfou num riso anasalado.
Comedida, após esperar alguns poucos minutos, na companhia das duas mãos levemente trêmulas e macias, principiou com as pontas dos dedos se encostando gradualmente nas laterais da mandíbula do Gregori que tencionou e moveu o pomo e engoliu salivas contidas na garganta.
Sua face se tornara o princípio da aproximação mais íntima entre ambos. Ela ainda se sentia cuidadosa em expandir além do rosto. Já considerava demais.
Pôde-se ouvir o baforar de sua respiração pesada contra o queixo exposto da moça que o apreciava em silêncio, entre a música que prevalecia a tocar na vitrola junto aos momentos finais e os pássaros cantarolando nas árvores da vizinhança.
O ambiente lhe concedia breve quietude mental.
A moça contornou seus dedos, mapeou cada detalhe do Gregori que suspirou inquieto até tranquilizar sua mente ao visualizar estrelas na escuridão, no vazio, a dançar com a melodia dissipar no espaço, num eco distante.
Porém, ele sabia o que ocorria e não permitia que outra pessoa agisse como ela.
Sua pele misturava entre a maciez e os pequenos pelos acobreados raspados da barba que ele recusava aceitar. Algo como manter o semblante de bom e jovem moço.
Seus poucos sinais minúsculos marcavam a face e indicavam que pelo seu corpo ainda havia mais na pele alva e corada pelo carinho.
Os olhos de Gaya brilharam ao experienciar descobertas, a atmosfera se rendeu num comedido calor e a iluminação alaranjada daquele ambiente abençoado pela visão externa das plantas suspensas em muros, acalentou os dois jovens rendidos por extrema emoção.
A maneira que ela o acariciava e incitava leves cócegas, transmitia carinho, cuidado, paz, fora os repentinos sentimentos mais proibidos que o fizera enrijecer, instigado pelas carícias.
E bem observadora, Gaya notara o detalhe específico em sua calça, pontuado.
Franco ainda se mantinha com as mãos para trás, sem ligar para o notável volume contido na peça inferior.
— Me perdoe — sussurrou e tocou o hálito nos lábios dela. — Meu corpo não acata minhas ordens — sorriu anasalado e conversou sem enxergá-la.
Reflexos coloridos na escuridão da sua visão dispararam como raios em todas as direções, quase semelhante às sinapses neurais, enquanto seus olhos mexeram-se abaixo das pálpebras.
— Se você me quer, o corpo apenas evidencia. Não há como disfarçar, Franco — beijou o queixo do rapaz que gemeu baixinho, aquecido e ausente da timidez.
Referia-se a um beijo mais quente, porém, comedido.
— Palavras imperdoáveis motivam sérias consequências, Gaya — suas mãos relutaram para tocá-la. — Não devo. Não posso. Embora eu queira — sua voz manhosa se esvaiu fraca, suas sobrancelhas caíram padecidas e suplicaram que ela não insistisse.
Logo ele, tratava de situações mais íntimas.
Se escondia mais perverso.
— Você será padre, não é? Esta é nossa última oportunidade. Seu Deus não se importaria com isso, visto que há problemas piores neste mundo para se ocupar.
Suas bochechas pularam de tão vermelhas em não conseguir disfarçar que a queria intimamente e sua cabeça a idealizava despida, sem aquele vestido.
Reagiria pior caso o tecido evidenciasse umidade pela excitação, mas até aquele momento tudo se encaminhava controlável.
Após as ações anteriores, de olhos vendados pelas pálpebras, Franco encostou-se na quina da mesa de madeira, à medida que ela pedia um afastamento e planejava surpreendê-lo.
— Padres não devem quebrar votos — estava rouco. Precisava umedecer a garganta. — Eu iria contra Deus.
— Então foi seu Deus quem ditou esta regra? — com voz manhosa, Gaya dançou com o dedo indicador numa de suas mechas caídas, enquanto o devorava com os olhos. — Uma regra que deve estar sendo rompida agora em algum lugar que desconhecemos.
— Não, foi a igreja — ofegou enquanto sua audição fixou na respiração dela em sincronia com a sua.
Queria defender seus "princípios"
— Então, se foi a igreja quem ditou, Deus nem deve se importar com seus pensamentos impróprios. Sei que nessa sua cabeça ruiva a minha imagem despida toca em sua pele, intimamente, Franco. É assim que me enxerga vendado.
Ele apenas sustentou uma face piedosa, interpretou como ela agia sem poder visualizá-la, contudo, sua imaginação destruiria gerações de famílias que fingiam bons costumes.
Gaya estava certa.
— Diga como me vê. Diga...
— E-eu te ve-vejo... — arfou.
Pausou para organizar as palavras entre os lábios, suas sobrancelhas se uniram e ofegava como um mero gemido.
— Te vejo diante de mim, seus seios se entregam em meus lábios que te sugam, lambuzam, enquanto te enxergo de baixo, à medida que sua cabeça pende para trás e seus dedos escorregam em meus cabelos, acariciando meu couro cabeludo. E minhas mãos...
Respirou cansado e Gaya mordeu o lábio inferior, atenta no corpo de Franco.
— Meu Deus — gemeu baixinho e soube que se saciava mentalmente. — Minhas mãos escorregam em suas costas até o fim, testemunham sua pele quente, até que suas coxas pesam por cima das minhas ao lhe pôr sobre mim. E eu sinto, Gaya. Sinto que nos tocamos. Não é apenas tocar. É... como posso dizer, nos esfregamos e tudo é escorregadio, fácil, quente, sem me adentrar. Sem ser necessário te penetrar. Tudo é sensorial, uma experiência fora do comum.
Franco pôde ouvir o som das mãos macias de Gaya percorrer a própria pele, apreciando o gracioso perfume proveniente do ambiente, dela, entre sua respiração pesada e em controle.
— Está me fazendo delirar distante da minha visão. Uma tremenda maldade sua, Gaya — resmungou após coçar a mandíbula e percorrer com a mão até a clavícula.
— Por favor, não se faça de bobo. Ouça bem sobre o que admitiu.
Sua voz lasciva o arrepiou, esquentou sua espinha e sua barriga.
— Já apanhei seus olhos passeando pelo meu corpo, minha boca. Nunca foi segredo... — o coração se rompeu no peito e palpitou pela situação.
— Por isso que caio em tentação com esta conversa.
Os pelos do corpo da Demdike se elevaram perto de desprenderem-se da pele.
— Você me faz perder um espaço ao lado de Deus e eu rezo para não abandonar minha promessa.
Gaya sorriu de novo, mordeu o lábio inferior e ele suspirou aliviado ao atingir o ápice de sua mente, como se divertir na queda de uma montanha-russa.
— Tenho sede e sempre estarei faminto por sua presença — a recordou do sonho no museu.
A Demdike se notou meramente úmida ao olhar sua peça íntima, num ponto específico que palpitou por culpa do que ele havia admitido.
Não precisava circular as pontas dos dedos para principiar a se excitar. Franco instigara com sua voz sedenta. Ela queria mostrar o resultado de suas palavras:
— Caso sinta segurança, se permita abrir os olhos, Franco. Há algo que quero mostrar — sussurrou e estremeceu toda a espinha do Gregori.
— E-eu continuarei sem sombra de dúvidas. Necessito sentir pelo menos o mínimo do seu corpo, antes de abandonar o pecado. Tenho que experienciar — ofegante, transpareceu excitação.
Não eram mais inocentes como em 1999.
— Não se abandona o pecado dessa maneira. Apenas o fortalece consigo. Incomodará seu Deus quando recordar que me desejou sob o império de suas tentações — sorriu devassa. — Suas memórias lhe perturbarão e lhe trarão de volta a mim. Se recusará a passar por este constrangimento.
Franco se mostrou ansioso demais para avivar seu olhar na direção dela. Preferia que tudo fosse visto antes que ele se tornasse seminarista.
— Prefiro percorrer caminhos tortuosos ao invés de fantasiar situações que no atual passado recusei. Estamos a sós, Gaya. Quer que eu lhe implore de joelhos? — arrancou um sorriso tímido da bruxa.
Vagaroso, Franco prosseguiu na ação, lentamente desatou os olhos, cravou os dentes no lábio inferior e à medida que recuperava a visão, seu olhar fora atraído pelas coxas afastadas que exibiram o centro do que ele almejava beijar, encostar os lábios com cuidado entre seus olhos famintos, chupar e esfregar a ponta de seus dedos aquecidos até vê-la gemer, se umedecer e estremecer na sua presença.
Era irresistível testemunhá-la acariciar as coxas numa dança súbita, à medida que o arrebatou com o olhar fatal.
Franco sabia que dali em diante estava jurado a queimar no vazio e quente inferno.
Assim, enquanto os dedos demarcaram segredos em revelação, surpreendeu-se em notar algo sigiloso se acentuar mais ainda sem escrúpulos no interior de sua calça.
Almejou ser liberto e o fez entreabrir os lábios em lascívia, além de temer molhar e manchar o tecido como havia ocorrido tempos atrás.
Não era como antes, em leve destaque. Naquele instante, insistia para ser exposto e tateado pelas mãos dela.
O sangue fluiu através de suas veias e o alucinou para tê-la.
Expressou numa intensa devassidão que alimentava variados momentos íntimos com ela, cultivados em seu imaginário.
E ao aproximar da Demdike que sorriu mordiscando os lábios, Franco respirou arquejante, desatou a boca, cerrou os dentes e demonstrou frenesi ao erguer o queixo e enxergá-la por cima.
Notava-se meramente preparado para enterrar os melhores beijos que nunca foram entregues.
Contudo, antes de emanar coragem...
— Há algo de errado comigo? — percebeu que ele fixara os olhos próximos de sua boca, hipnotizado.
A música se encontrava nos últimos segundos.
— "Pensava ser veneno, visto compreender e morrer por culpa dos desejos. Mas era apenas mel contido em seus lábios que aniquilaram minha normalidade após somente um beijo" — sua voz inebriante aguçou a audição fixada em desejos.
Formara as palavras de imediato, pretendeu anotá-las e registrá-las na memória.
— A quem pertence? — a jovem focou em seus lábios entreabertos e rosados. — Tão sombrio como... — sorriu e o notara focado em seu rosto — ... você.
— Não é óbvio? — replicou e se conservou também atento nos lábios da amada.
— De você? Não creio.
— És inspiração para mim. Pensava que já havia notado — sorriu de lado ao vê-la negar. — No inverno de 1999 não existia mel no canto de sua boca, o ambiente não cheirava a cerejas — nem seu perfume de canela tomava conta do forte aroma de cerejas presente por todo o ambiente — era frio e eu juntava as sobras da minha família.
Tocou as bochechas dela com um selinho. Havia percebido mel próximo de seus lábios.
— Creio que hoje merecemos experienciar o que aguardávamos naquele dia. Não há nada que me impeça de prender meus lábios nos seus. Não mais.
Os lábios levemente entreabertos dele se aproximaram do canto que havia mel e limpou.
E ao surpreendê-la, Franco lhe apanhou num repentino beijo intenso, atraído por desejos.
O ato caloroso o motivou a querer realizar obscenidades.
Suas bocas uniram-se úmidas, adocicadas pelo fulgor e se alinharam.
As mãos que estavam atadas se ergueram em punhos fechados no ar, relutaram almejar se apoiarem na coxa direita, e desejaram afundar os dedos na carne para ter o mais próximo de um toque.
Contudo, se conteve insano em seus pecados.
Aparentava esmurrar o vazio de tanto ódio em não conseguir tocá-la.
E suas pálpebras se apertaram e não suportaram o excesso de emoção, pois a paixão o torturava.
Gaya às vezes sorria realizada por se permitir experienciar o momento.
Existia euforia no beijo molhado, o que a fez perder o fôlego e se controlar para não o tatear além do que fora aceito.
Ela amava notá-lo transitar entre a excitação das mordidas e o cuidado ao sugar os lábios. Parecia ambicionar sugar seus seios ou algo contido entre suas pernas.
Seu beijo era como memórias que jamais serão esquecidas. Traçadas em seus lábios grossos e macios.
Ele a queria muito além de um beijo, mas sabia que não poderia ultrapassar aquilo.
Não desejava seguir o mesmo destino que seu pai, nem tão cedo e pensava nas consequências que sua amada sofreria.
Havia responsabilidade numa imprudência daquela situação.
Contudo, ainda era permitido o superficial.
Entretanto, sucedeu no estopim para o que no futuro ultrapassaria o limite do que era considerado profano.
Não havia o Altíssimo e nem o universo que pudesse afastar duas almas seladas pelo destino e desejo.
A derme de ambos queimava de feitio proibido enquanto agiam.
Franco sonhava com Gaya acima do seu corpo suado e nu, chocando as peles com força e euforia, escorregando as mãos nos lençóis contorcidos, ouvi-la implorar pelo seu nome, gemer em seu ouvido ao vê-la em ritmo íntimo.
Prender seus dedos na nuca cacheada, deslizar entre os fluidos pós-clímax e libertar o inferno disfarçado em céus.
Igualava-se conforme a deusa de sua realidade, também habitada em seus devaneios. A mulher que lhe faria delirar e gritar perdido no limbo.
Ela consistia no motivo dele perder a razão e ainda se questionar ser digno de perdão ou julgamento celestial.
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