Capítulo 22: Caminhos do Pai

*ALERTA DE GATILHOS: INSINUAÇÃO SEXUAL MODERADA.

*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: Apocalypse - Cigarettes After Sex e Letters Of A Traveller - Ólafur Arnalds, Alice Sara Ott

Quanto mais determinou a proximidade entre eles, Gaya se manteve focada apenas nos olhos de Franco que brilharam equivalente ao céu noturno e estrelado do outono.

O perfume dos cachos da jovem provocou o nariz dele, e o fez ansiar se afundar contra suas madeixas.

Cada detalhe era precioso, como um evento astronômico que se aprecia de anos em anos.

Para o Gregori hipnotizado na bela Demdike, nem a magnífica arquitetura gótica da Igreja de Maria de Cracóvia, na Polônia, além das demais que enaltecem opulência na qual sua matriarca ainda presente fazia questão de reforçar sobre os determinados lugares sagrados, conseguiam se igualar à Gaya.

Esculpida pelos céus, Franco desejou tocar os lábios carnudos dela sem as luvas, destinado a vivenciar a suavidade que sua avó assegurava fazer parte do que se considera pecado.

Sem tantas cerimônias, ela encostou suavemente os seus lábios no canto dos que pertencia ao Franco — com sua permissão —, instituiu o jovem Gregori a fechar os olhos, libertar um suspiro e ponderar a atitude torturante.

Porém, não de maneira negativa. Ele quase suplicou por mais.

O que sente?

Sussurrou meiga entre os lábios tocando a pele do jovem que sentiu seus pelos emergirem e sua mandíbula tensionar.

— Sinto que estou louco — selou os olhos, entreabriu a boca, evidenciou os dentes e a língua que mexia por dentro.

Apreciava a maciez da pele, o aroma do tecido aquecido pelo corpo, o calor exalado de sua presença. Concernia num ato delicado e também inocente. Não carregava nada que fosse julgado estranho.

Dois jovens apaixonados pela companhia que proporcionavam.

Embora permitisse o contato de modo cauteloso, Franco desistiu de aproximar as mãos.

As afastava ao máximo, escondia entre as pernas e impossibilitava que Gaya pudesse segurá-las.

Ao perceber que ele insistia inseguro, ela interrompeu o afeto com nada mais que um beijo na extremidade dos lábios — o frustrando.

Ele despertou os olhos, libertou suas mãos e com as luvas tocou o local em que ela entregara a graciosa ação, mesmo sem sentir junto ao toque dos dedos em seu rosto.

Após a situação, observou a garota com súplicas e implorou para cumprir novamente.

— Errei em algo? Te desagradei? — ela negou em silêncio. — Por favor, Gaya, me diga o que houve — ansioso, desentendeu o motivo dela ter interrompido o carinho e se preocupou até deixá-la ausente de reações. — Te suplico, não pare agora. Nunca mais.

— Não aconteceu nada — mirou para baixo. — É que... — respirou profundo. — Creio que não estamos preparados para isso. Quer dizer, um beijo tão íntimo. Olhe para nós, somos melhores amigos. Só amigos e desde a infância, além de seus traumas.

— Não diga isso — lamentou e rejeitou insistente com a cabeça.

— Julgo que precisamos compreender se em algum momento perderemos essa sensação estranha de amizade entre nós. Porque, afinal, me identifico com você — de fato, ainda não se sentia segura em declarar que se apresentava apaixonada.

Admitir tão cedo, prejudicaria o laço amigável que construíram.

— Não considero que abalará nossa relação amistosa. Ao menos confiamos um no outro para fazermos tal coisa. Mas se não deseja continuar, lhe respeito. Não preciso insistir tanto nesse assunto. Penso que ao decorrer do tempo, se passarmos pela semelhante circunstância, confio que teremos coragem de agir.

— Apesar de pensar atualmente desse jeito, talvez não aconteça ao retomar suas inseguranças. Portanto, prosseguirei comedida até determinar em vir até mim. Deixarei que tome a iniciativa quando estiver seguro consigo.

— Mas eu quero, acho que me sinto seguro — a ponta do seu nariz quase tocou o dela. — Talvez se acontecer algo entre nós, nossa amizade se fortaleça.

— Não, Franco. Me recuso a aceitar achismos. Nossos sentimentos e a carência confundem sua cabeça. Precisa estar totalmente consciente.

— Mas estou consciente! — sua feição desmanchou. — Bem mais que antes.

Levantando impaciente do sofá, Gaya caçou seu gorro e o deixou sem ação. Não havia se recuperado do "beijo".

Quando seus olhos percorreram ao encontro dela, ele despertou em segundos, ergueu-se de modo a acompanhá-la até a saída e desejou que ela ficasse.

No entanto, seu pedido barulhento ecoou por dentro de si e não permitiu que ela o escutasse.

— E ficarei com isso aqui — Gaya retornou ao interior, se aproximou da mesinha de centro, recolheu o recipiente de gelatina e sorriu direcionada a ele. — Como detesta gelatina de amora, levarei para degustar as sobras em casa.

— Pode levar. Mas não se afaste de mim por culpa disso. Quero estar mais perto de ti.

Seu sorriso meigo tocou a alma da bruxa que desejou correr até ele e pular em seus braços num abraço forte.

— Não se afaste de mim, Gaya. Eu suplico.

Voltando à porta, onde Franco a segurava e aguardava a ida da amável Demdike, ela fez uma leve pausa em seus passos, pôs a embalagem num dos bolsos maiores do casaco, testemunhou os flocos de gelo que caíram intensos, cravou-o com os olhos de novo e o encorajou a desejar encostar seus suaves lábios nos inesquecíveis de Gaya.

Ela inspirou a brisa gélida e surgiu um sereno sorriso entregue ao menino mais interessante que já conhecera, até falar o que determinou boa parte do que decorreria num futuro não tão distante:

— Sabe bem onde me encontrar. Logo que resolver suas lamentáveis questões do passado e se enxergar disposto a me encarar da forma em que estamos agora, não hesite em me procurar. Desconheço quando e o tempo não importa. Entretanto, assim que acontecer, se é que acontecerá, estarei disposta a tentar.

Sumindo no ínterim da névoa ocasionada pela constante neve, Franco contemplou a divina garota desaparecer através de seus olhos e partir para casa.

A residência Demdike se localizava depois de três casas anteriores e que se posicionavam de frente à vivenda dos Gregori. Quase e não tão próximo do início da rua.

Assim que retornou ao seu lar, subiu até o quarto e se esforçou em mirar da janela fechada preenchida pela neblina, Gaya sorriu ao lembrar da ocasião memorável.

Ao pular de alegria por cima da cama, a jovem Demdike soube o que sentia e essa emoção tratava-se em especial do Franco.

Aguardava não se decepcionar, caso fosse correspondida por ele, mas a vida é arquitetada por sentimentos incertos e situações inesperadas. Alternava entre a expectativa e a realidade, todavia, fluía a realidade.

Porventura ele desistiria de procurá-la ou aceitaria sua proposta. Conservava-se por enquanto indefinido.

No ano seguinte, o aniversário de Franco sucedeu num sábado de inverno, desigual à nevasca de 2009 quando os descendentes das linhagens rivais se aproximaram intimamente pela primeira vez.

Anteriormente, no mês de fevereiro, Gaya completou seus dezoito anos ao lado de sua família e amizade.

Depararam-se estranhos após o ocorrido, contudo, disfarçavam dentro do possível.

Fracassavam em se entreolhar como no momento do beijo no canto da boca e logo que um deles tentava manter conexão visual, o outro desviava a fim de evitar que o sangue fluísse diante das demais Demdike.

— Porque não fala com ele, filha? Franco te olha há mais de cinco minutos — Anya bebia uma batida de frutas cítricas junto à Gaya, encostadas no balcão da pia.

O Gregori por um momento tossiu constrangido ao ser pego fitando o decote da jovem.

— Não somos os mesmos que antes, mãe — correspondeu o olhar com fervor. — Prefiro me manter reservada.

Os jovens de hoje... — a mãe resmungou.

Gaya sentiu que o Gregori se alimentava daquela situação.

Franco, acompanhado de Delphine e Anika no sofá, conversava com as Demdike enquanto conservava seu olhar na jovem bruxa.

Seus olhos contornaram incansáveis pelas coxas exibidas por um vestido evasê, quadris marcados pelo tecido vinho, mãos, busto, pescoço, rosto e intimidou Gaya.

Chegava a ser inquietante notá-lo cobiçar a Demdike.

E sem imprevistos, havia posto um dos seus vestidos mais atraentes para aquela ocasião, disposta a inflamar.

— Franco, alguma pessoa na cidade já tomou seu interesse? Anda tão sozinho, não é Delphine?

A idosa roubou a atenção na neta.

— Anika, ele vai se sentir envergonhado — riu enquanto mordiscava uma bolacha de aveia.

— Não tenho problema com isso, Sra. Delphine — ruborizou.

— Na sua idade, eu cortejava quase toda a rua. Se essa palavra ainda existe atualmente, não é? — as mãos fracas quase derrubaram o copo.

— Na minha idade, Sra. Anika, não tenho mais tempo e disposição para me apaixonar por outras pessoas porque meus olhos seguem apenas uma.

Um sorriso malicioso saltou de seus lábios.

— Sou um rapaz de coração ocupado — tornou-se sério.

— Ocupado por quem? — Anika se animou enquanto as demais estavam constrangidas. — Nos conte. Amo histórias da juventude.

— Vovó — afastada, a bruxa sentiu a barriga borbulhar e alertou a matriarca.

— Por sua... — quase completou e todas aguardavam ansiosas.

Contudo, Gaya cuspiu a bebida, sujou o decote do vestido, todos olharam para a garota que correu disparada pelas escadas e seguiu ao banheiro.

— É jovem demais para manter sua paixão em apenas uma pessoa, Franco — a voz rouca da idosa era amorosa. — Onde está a Gaya? — somente notou naquele momento.

— Se atrapalhou com algo e seguiu para o banheiro — Anya respondeu.

Mas o Franco torceu para acompanhá-la até o cômodo. Só Deus sabia o que o Gregori pensava.

Sua imaginação era mais impura que a boca da falecida avó.

13 de Março de 2010: Dois dias antes da Lua Nova.

Enquanto o tempo prosseguia, o sentimento puro dos dois se misturavam intensos. Na qual a presença de ambos despertara uma face que nunca ousaram conhecer.

E quando Franco completou também os seus dezoito anos, Anya e Delphine resolveram preparar uma pequena comemoração de aniversário para o jovem rapaz, como de costume na residência da própria família — assim como na celebração da mais nova bruxa.

Gaya tremeu de ansiedade ao saber que ele estaria novamente presente em sua casa e só de imaginar em encará-lo outra vez, o tormento tornou-se contínuo. Temiam que o companheirismo fosse destruído por algo além.

Elas enfeitaram o cedro com minúsculas lâmpadas de Natal, pregaram poucas bexigas douradas de festa em espaços que não as estourassem e puseram uma mesa organizada com algumas folhas secas acima dela.

Como Franco sempre amou, Anika aprontou um bolo de chocolate coberto por creme de baunilha na preferência do garoto e Gaya arriscou em preparar um gellato com raspas de amendoim, como o saudoso e falecido Sr. Callahan costumava fazer.

Ao cair da noite, assim como os pequenos flocos de neve que complementaram a decoração da comemoração, Franco compareceu vestido num de seus pulôveres pretos, um gorro da semelhante cor que escondia o cabelo e limpou com o tecido da blusa os seus óculos embaçados pelos minúsculos cristais de gelo.

Quase tropeçou no batente que levava da sala até o jardim, antes de colocá-los de volta no rosto.

Havia sido convocado por Anya por meio de um telefonema e deparava-se despreparado para celebrar seu aniversário de dezoito anos:

— SURPRESA! — de braços abertos, todas exaltaram sua chegada e Gaya foi a única a soltar um pequeno canhão de confetes que espremeu com dificuldade.

Assim que conseguiu, repetiu o que exclamara e fez Franco sorrir.

— Isso tudo é para mim?!

— É apenas o início do que virá, Franco — Delphine entregou uma caixa média nas mãos ocultadas nas luvas. — Abra, é para você! A vendedora falou que esse modelo é tamanho único e ela se adapta facilmente em qualquer pessoa. Pensamos que adoraria receber uma nova e como entrará numa fase inédita de sua vida, elas estão prontinhas para participar de suas conquistas, querido.

— Muito obrigado Delphine, Anya e Sra. Anika — todas consentiram. — Também lhe agradeço, Gaya. Você é deveras importante para mim. Sempre — ela entrelaçou os dedos frios e se balançou de um lado ao outro, bastante tímida.

Ao abri-la, ele se vislumbrou com o presente.

Tratava-se de uma lembrança entregue em nome de todas as Demdike: um par de luvas pretas de couro sintético e flexível.

A peça se acomodava durante as estações do ano, desconforme ao frequente par de lã que Franco carregava desde a infância. Estava ciente que guardaria a antiga luva, símbolo de superação, além de uma recordação referente ao seu estimado pai.

O valor era um pouco salgado pela diferença do couro artificial que permite a pele respirar.

Aquele par de luvas equivalia ao sonho de consumo do então agora rapaz.

Enquanto a comemoração ocorria, Franco e Gaya permaneceram da mesma forma como nos últimos momentos que estiveram juntos.

Ainda indiferentes, mantiveram-se distantes para que pensamentos considerados pecaminosos desaparecessem.

Chegaram ao florescer dos sentimentos mais íntimos e desejavam manter a amizade, mas a energia que ambos emanavam, transmitia em cada um, determinados desejos carnais.

Outrora, por um fio não se desgrudavam e naquela atual ocasião, sentiam a necessidade de se afastarem. Desconheciam o que poderia acontecer além de um beijo.

Era tentador se aproximar de Gaya e não poder beijá-la, tocá-la... Seu corpo estremecia ao ouvir o nome da jovem que com o passar dos anos, se tornava encantadora e o fazia sonhar acordado.

Até que em um momento do aniversário...

— Olhe para frente, Franco — resmungou em cochichos.

Ambos se esbarraram no corredor que guiava ao banheiro principal enquanto as Demdike bebiam e gargalhavam na sala.

Gaya saiu depressa pela porta, cruzou seu caminho com o rapaz e o deixou inquieto além de medroso.

Com alturas próximas, por acidente encostaram os queixos, motivando-o a rir desconcertado.

Parecia que ele precisava usar o banheiro de imediato. Apressado com alguma coisa.

O olhar perverso do rapaz caminhou excitado pelo corpo marcado de Gaya que ajeitou a alça caída do vestido. Ele também folgou a gola por sentir um calor repentino e umedeceu os lábios rosados com a língua.

Tudo se evidenciou tenso naquele corredor.

Já ela o notou estranho e ondulou as sobrancelhas em busca de decifrar as linguagens corporais.

O aniversariante se mostrou apressado para alcançar o banheiro e suas mãos em concha foram postas à frente da calça.

Não era boba sobre o que ele fracassou em esconder.

Entretanto, o Gregori não estava disposto a permanecer próximo dela naquele instante. O pescoço de Gaya era vulnerável para suas mãos compridas que ardiam nas luvas.

— Derramei chá na calça e preciso me limpar — mas Franco odiava chá e ela sabia disso.

Passou sem encostar por trás da jovem estática para alcançar o banheiro, aspirou o perfume da moça que inflamou seu corpo e acentuou o que escondia.

— Você precisa de ajuda? — voltou na direção de Franco que suou frio e molhou os fios do cabelo caído sobre a testa.

Por um momento mirou a calça dele e os pelos do corpo emergiram, além do lábio inferior preso nos dentes.

A mancha não se tratava de chá.

"Ela está de fato me fazendo essa pergunta?"

— Posso pegar algum pano para você e lhe ajudar a limpar...

"Gaya Demdike, isso soa bizarro".

— Agradeço, mas não. É mais complicado do que se imagina — escorado na porta e afobado, o Gregori permitiu escapar um riso frouxo, como um gemido.

Ele notou um leve e repentino choque abaixo da barriga, expandiu os lábios provocados, prendeu de imediato para evitar algo ser emitido e fechou lentamente a porta.

Que merda — ao encostar o ouvido na porta, ela sorriu e selou os lábios. — Merda, merda, merda, isso não sai? — ouviu-se o zíper da calça ser aberto e a água sair da torneira. — Bem no dia do meu aniversário.

A voz rouca, acentuada e abafada de Franco aguçou a audição de Gaya e disfarçou os passos calmos de Delphine que a apanhou encostada na madeira.

As situações entre ambos avançaram.

No ínterim do curto tempo afastado de Gaya, considerando ser o melhor para os dois — embora se frustrasse pela decisão —, Franco conquistou coragem ao obter pela primeira vez, a sua carteira de habilitação.

Custou uma semana para enfim ser aprovado.

Os testes foram consideráveis fáceis na sua mera opinião e esse seria o primordial passo destinado a conquistar — graças a uma parte de sua herança — o tão desejado fusca preto de 1972. O carro dos sonhos de seu finado pai.

E no exato dia, enquanto se ocupava com a nova vida, Franco recebera uma ligação. Não estava preparado para atendê-la.

Durante um dos calmos finais do entardecer, pensativo, sentado na ponta de sua cama, Franco recebera a chamada do prezado Reverendo Gaspar, que mal reconheceu a voz do memorável menino que caminhava sereno e às vezes um pouco revoltado pelos corredores do internato.

O sacerdote surgira com um convite ao rapaz e o convidou para integrar num seminário católico de sua cidade.

Segurando o telefone próximo da orelha esquerda, ele observou o bilhete pregado no quadro que portava pequenas anotações no quarto e de imediato aceitou a proposta.

Já não avistava a Gaya há vários dias e apesar disso, se via disposto a tentar se apegar ao sagrado. Não era o que esperava, porém, considerava melhor.

— Por essa razão, meu caro Franco, oriento que até o dia trinta do mês repense a respeito do convite. Lhe recomendei aos sacerdotes de sua cidade e consideraram plausível a ideia de ter mais um seminarista da própria Rye. Está consciente que só deverá aceitar com total certeza se de fato quiser seguir os caminhos de Deus?

— Detenho as minhas convicções, Reverendo Gaspar. Decidi seguir os caminhos do Pai.

Seu psicológico lhe perturbou com a imagem do beijo no canto da boca e lhe impediu por um triz de prosseguir no santo destino.

— Se Deus designou uma escolha para mim, creio que não ousarei recusar — do outro lado da linha, o Reverendo celebrou num sorriso cheio de rugas.

— Estou em festa com sua decisão, Franco. E não se esqueça de conferir todas as documentações que surgirem. No seminário que indiquei, há pessoas de confiança e estará em ótimas mãos.

Longe de Rye, à medida que mantinha a distância do rapaz, Gaya se empenhava em realizar as provas de modo a ingressar nas Academias Reais de Londres, para se dedicar às suas duas maiores paixões: a Academia Real de Arte Dramática e a Academia Real de Música. Notáveis instituições acadêmicas de renome. Lugares em que ela se esforçaria para construir seu sucesso.

Gaya não desejava apenas ser reconhecida só como uma bruxa. Ela igualmente buscava garantir seu espaço como artista.

Focava em alcançar destaque numa delas, se sacrificaria mudando com destino à capital e buscaria estar mais próxima da vida acadêmica e profissional.

Pela primeira vez visitara a cidade. Sua perspectiva emanava sonhos.

Bem cedo, antes de chegar aos locais dos testes, Gaya embarcou no primeiro trem — apesar de sofrer com a passagem cara —, acenou para as mães que desejaram sorte e mais tarde, encarou frente a frente os jurados.

As avaliações se encaminharam rápidas, ela obteve conselhos, elogios pela sua capacidade vocal em formação, além de sua atuação transmitida através da alma e recebera a recomendação após conceder seus dados cadastrais, que em breves dias os resultados sairiam.

Contudo, modesta, entendia que havia demais vozes magníficas naquele teste.

Quando retornou para casa, ao anoitecer, no mesmo período de março não pensava tanto em Franco, pois visava seus estudos.

Mas em vinte e sete de março, sentada junto às suas pernas cruzadas, aconchegada em sua cama, folheando curiosa e empolgante as apostilas das academias — a fim de revisar como seriam os períodos acadêmicos das duas —, Gaya ouviu o telefone da sala tocar por três vezes. O que lhe chateou.

Logo que abriu a porta, determinada a descer e atender a ligação, no intuito de focar nas cadernetas, percebeu que a chamada fora recebida por sua mãe, Anya.

Curiosa e atenta, ao escutar de cima, ela apoiou as mãos no corrimão da escada e notou seu coração encolher de nervosismo:

— Franco, sempre é ótimo lhe escutar! — Anya conduziu uma longa pausa remansa enquanto ouvia o que ele falava. — Gostaria de conversar com Gaya? Espero que ela compreenda sobre o que dirá.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top