Capítulo 13: Inferno Católico

*ALERTA DE GATILHOS: ANSIEDADE, DEPRESSÃO, LUTO, CONSUMO DE MEDICAÇÕES, AFEFOBIA, MENÇÃO À MORTE, PRESSÃO PSICOLÓGICA, ABUSO PSICOLÓGICO E CONTROLE FAMILIAR.

*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: Something Real (Did You feel It, Too?) - Oren Lavie e Sonata Sentimental #2: Bedroom Crimes - Oren Lavie

Desde abril, o pobre menino se negou a aceitar que o seu pai jamais se encontraria presente. Todos os quadros prevaleceram solitários assim como ele, visto que agora inexistia o seu artista inspirador desfrutando da vida ou a compartilhar o mesmo ambiente na casa.

Por infelicidade, ele entrou num processo de reclusão intensa, apenas disposto a receber visita domiciliar de seu psicólogo durante as novas idas de sua avó para fora da cidade, pois havia a necessidade em permanecer com o tratamento, além disso, após uma profunda e trágica perda.

As páginas do diário se preenchiam de palavras, tal qual as manchas das lágrimas que pingavam sobre o papel, porém, até então, sobraram incontáveis folhas.

Sua saudade era detalhada em partes, semelhante a um memorial dedicado ao seu pai. Até o seu convívio próximo da matriarca melhorou aos poucos, embora passasse por uma fase de crescimento, na qual os adolescentes se recusam a escutar conselhos de seus responsáveis.

Em especial, se tratando de Moniese.

De fato, não teria como apanhar conselhos em sequência do problemático histórico da Gregori.

Bem antes de repousar a cabeça no travesseiro — o momento mais aguardado por ele —, em que a sonolência impedia seu martírio, sempre prestes a escovar os dentes, Franco temia o espelho do banheiro.

Recordava a última e desesperadora ocasião na companhia da figura paterna.

Seu reflexo embaçado pelo frio e a névoa, estraçalhou os mínimos fragmentos que sobraram do coração.

Quando abaixava sua cabeça para enxaguar a boca na pia, a imagem tenebrosa sumia. Talvez resultasse num provável trauma ao ter presenciado uma morte impactante diante dos seus olhos.

Contudo, o único e sereno tempo ao longo dos seus tediosos dias, lhe distraindo do fantasma encarado no espelho, completava ao lado de Gaya.

(...)

Ao similar instante em que Moniese caía em seu sono pesado devido aos fortes medicamentos receitados pelo psiquiatra, Franco se levantava da cama, calçava seus pés ansiosos numa pantufa, colocava um roupão quentinho amarrado ao seu corpo e seguia a caminho de sua janela. De modo a comprovar se o quarto da amiga permanecia aceso, conforme um sinal de encontro.

No decorrer das madrugadas, ele aproveitava para escapar através da escada posta próxima da mesma janela quando reformaram a cobertura de telhas da residência, sem provocar nenhum barulho junto aos seus passos cautelosos na madeira gélida — temendo pelo despertar da avó — e seguia até o lar de Gaya.

20 de Junho de 2003: Um dia antes do Último Quarto Crescente

Pôde-se contemplar o som das corujas, a brisa sutil e barulhenta da madruga, tal como os latidos dos cães nas demais moradias e o perfume de arbustos úmidos por toda a alameda.

Numa longa escada externa de madeira unida à janela da garota e fixada num dos altos arbustos da residência, Franco subiu cada degrau ao exato ponto em que observava a janela do dormitório correspondente ao de Moniese.

Assegurando aliviado que a assustadora mulher dormia.

Assim, os dois se encontravam na calada da escuridão, somente iluminados pelo modesto abajur do pequeno aposento.

Não se abraçaram e nem apertaram as mãos. Corresponderam num sorriso, em respeito ao espaço do garoto.

Ao sentar-se na ponta da acolchoada cama, Franco observou Gaya se acomodar por baixo do cobertor de modo a conversarem. Em sussurros para não acordar as demais na casa, ambos dialogaram empolgados ao compartilhar as presenças.

Ele sempre se sentia confortável em desabafar com a amiga, porém, existia um horário exato para retornar ao seu quarto e fingir que se manteve em casa durante um bom tempo.

Caso Moniese suspeitasse, a possibilidade de reprisar aquela mesma situação de anos passados, consumia seu psicológico.

— Está me olhando assim... — reclamou sentado na ponta da cama. — Não precisa ter pena de mim.

— Eu não estou com pena, Franco. Apenas... — abraçou o segundo travesseiro ao lado e piscou os olhos ligeiros na direção dele, que removeu os óculos redondos da face longa e limpou-os no roupão.  — Apenas recordei dos pesadelos que me contou.

— Está com pena de mim — riu anasalado, sacudiu a cabeça e se mostrou incomodado.

— O sentimento correto é preocupação. Esses pesadelos me preocupam — bufou.

— Olha só, não são nítidos pesadelos, Gaya. Se encaixam mais em delírios — passeou a mão entre as madeixas acobreadas e bagunçadas, demonstrou a preocupação que ela carregava e suspeitava dele.

Em meio aos receios, ele encarou o carpete do aposento e esforçou em recuar o contato visual recolhido direcionado à amiga.

— O Dr. Kai sabe desses seus "delírios"? — gesticulou e o viu confirmar silente. — Será necessário consumir medicamentos pesados, similares aos de sua avó? — o viu negar. — E relacionado ao que me explicou, ela se mantém sedada, não é? Deve ser horrível — transmitiu aflição num sussurro por intermédio da voz branda.

— Eu só queria apenas... — respirou pesado e afundou as mãos no colchão — dormir. Entende? Mas não consigo administrar minha vida. Imagine organizar horários para me medicar? E talvez tornar-se dependente deles, só conseguir dormir com eles — sorriu de canto e se acomodou no colchão.

— Mas não acontecerá dessa forma, Franco. Você verá como sua vida, seu sono, seu humor mudará. Minha mãe Anya já precisou e hoje ela consegue se sentir melhor que antes.

— Não sei... preciso conversar bastante com o Dr. Kai. Ele é mais preparado sobre isso.

— Realmente é — o confortou num sorriso. — E ele notou alguma diferença em você? Digo em relação a coisas boas.

— O Dr. Kai acredita que reajo melhor ao passar dos anos. Confia que, apesar da minha perda familiar, me mantenho em evolução como pessoa. E revelei que nas madrugadas costumo fugir por um momento até aqui. Ele não resmungou sobre, entretanto, pediu que eu fosse cauteloso, conhecendo o histórico problemático da minha avó. 

— Ele está correto — Gaya sorriu, mirou a porta e jurou ter ouvido algum barulho de garrafas se chocarem lá fora. — Deveria se manter em alerta.

Talvez fosse uma de suas mães caçando por comida escondida na geladeira.

— O entendo, mas fica impossível não te ver — Gaya escondeu o rosto por baixo das cobertas por poucos segundos após notá-lo sorrir ruborizado. — Você sabe... — desviou olhares e se notou envergonhado — Eu me mudaria para seu quarto se minha avó não criasse situações chatas entre nós. Gosto de estar perto de você.

Notou-se mais tímida.

— Saiba que apoio sua vinda porque admitiu conforto ao conversar e estar comigo. Portanto, como poderia negar suas visitas? — deu de ombros.

— Me empurrando da janela? — Gaya se enfureceu. — Possui a minha permissão — fez uma brincadeira considerada de mau gosto pela garota.

— Que absurdo! Franco, jamais fale tal asneira, nem por diversão! — o garoto não conteve risadas e os olhos da garota se horrorizaram a respeito do que acabara de escutar.

"Terrível!", considerou num eco mental. Embora, o que fora dito se tratasse de uma gaiatice inocente.

— Como eu lhe empurraria sendo a primeira pessoa a lhe salvar? Me explique essa, Franco! — xingou todas as gerações dos Gregori num resmungo. — O universo ou seu Deus que te defenda... Perder meu melhor amigo? Em hipótese alguma! Não se brinca com a morte — seu olhar principiou a brilhar em lágrimas, sensível ao que fora falado.

Desentendeu conforme um gracejo.

— Se acalme, Gaya.

Aproximou-se cauteloso, orientado à sua amiga, emitiu uma entonação serena, desconsiderou um contato aconchegante, contudo, demonstrava cuidado.

— Foi apenas uma brincadeira, estou em busca de me manter distante da melancolia. Nunca abandonaria a minha maior e única amizade — suas bochechas se ruborizaram perceptíveis mais uma vez, mesmo que o ambiente se deparasse meramente escuro.

Sua visão reluziu na direção dela e a tranquilizou.

— Eu apenas tenho você, Gaya. Não podemos nos afastar.

Nunca! Ouviu bem?

— Sim, eu ouvi — choramingou.

No mínimo conquistou um sorriso tímido da menina que enxugou as lágrimas do rosto com as costas das mãos e revirou os olhos.

— Nem depois de morto te deixarei em paz — arrancou mais um sorriso contido dela.

— Esqueça disso! Seremos amigos apenas em vida. Não quero espíritos me perturbando. Você já me tira do sério ainda vivo. Imagine quando partir idoso — emergiram interrogações acima da cabeça do garoto.

— Somente em vida? Desistiria de nós, mesmo que eu surgisse de forma fantasmagórica? Similar aos fantasmas que aparecem vestidos em lençóis? Daqueles que residem em mansões velhas e atravessam paredes como da "Mansão Maravel?" — amava mencionar o livro que compartilhavam amor desde a infância. — Suponho que me encaixaria como um, pois a casa já possuo — lançou uma piscadela.

— Eu permaneceria sua amiga ainda se estiver vivo. Mas ao contrário... não, Franco. E fantasmas nem existem. Idênticos aos dos filmes? Não mesmo — arrepiou-se. — Vamos mudar de conversa?

— Ah, não! — insistiu. — Agora você me deixou curioso.

O inicial diálogo tornou-se gradualmente curioso. Como de costume, era desse modo que acontecia.

Sempre quando principiavam um assunto, alternavam com mais outro que enriquecia a conversa e ultrapassava o tempo necessitado de atenção.

— Então, como são? — suas sobrancelhas uniram-se numa dúvida e torceu para continuarem no assunto. — Aprendi que fantasmas existem. Não os que citei, os que enxergam através de furos nas cobertas conforme nos longas-metragens noir. Mas os que são translúcidos.

Entende?

— Nossa... essa conversa é realmente necessária?

— Toda conversa é necessária — a convenceu.

Gaya fingiu bocejo e visou escapar do assunto, contudo, Franco se exibia desperto para escutá-la.

— Espíritos, Franco. Somente espíritos. Logo que desencarnam, transformam-se em borboletas. Porém, não são similares às normais, das quais podemos tocar. Estourei suas interrogações? — o amigo sondou confuso, pois nem sequer ouvira falar a respeito disso.

— E?...

— E são manifestações naturais em percurso à próxima passagem da vida. Quando se tornam, sempre se despedem das pessoas na qual amam. Comumente, estas almas mantêm uma forte ligação com as "bruxas". Ou seja, minha família — acomodou-se no colchão à proporção que explicava. 

Já era escuro enquanto conversavam após a bruxa apagar o abajur, transmitindo pouco medo ao garoto desacostumado com as conversas.

— Nessa condição, nunca presenciarei o meu pai idêntico a uma borboleta? — Franco alcançou o seu momento delicado carregado por um leve sentimento de esperança. 

— Creio que não. Foi o que a minha avó falou. Só os que possuem uma resistente conexão com as curandeiras.

Um pouco decepcionado pela resposta, o menino abaixou a cabeça até se atentar nas seguintes explicações da menina.

— Também disse a minha avó, que há tempos atrás, o único "não-bruxo" a se metamorfosear numa borboleta quando descansou, isto é, faleceu, se referiu ao grande amor de uma curandeira. Depararam-se vinculados até o fim e jamais me pergunte o porquê. Mas reza a lenda que ele aguardou a morte da amada para seguirem juntos a caminho da eternidade. Assim, todas as noites, enquanto ela dormia, o "não-bruxo" adentrava o quarto, entregava seu beijo de borboleta na ponta do nariz da querida bruxa, para no dia seguinte cumprir com o mesmo ciclo. E caso seja real, minha mãe Delphine sendo uma 'não-bruxa', pode se tornar uma assim que partir. Espero que o tempo demore bastante, pois me recuso a vê-la descansar. 

No fundo, Gaya percebera em algumas noites que sua avó permitia deixar a porta do quarto sempre aberta.

— Desconhecia sobre a lenda. É linda e, em simultâneo... — sua face demonstrou sensibilidade por aquela história durante uma pausa comovente — ... tristonha. Duvido que serei uma borboleta por nossa amizade, mas torço que seja bem aos oitenta anos. Porque almejo visitar Londres na sua companhia, fazer uma viagem exterior entre amigos, comprar um fusca, realizar o desejo do meu pai, frequentar museus preferidos por ele, onde me guiaria se estivesse vivo.

Para demonstrar um afeto profundo através de ambos, os dois unicamente trocaram sorrisos genuínos.

— Ele se orgulha e muito de você, Franco. É algo além do plano que conseguimos visualizar. Não importa se ele conseguiu se tornar uma borboleta, pois o Sr. Callahan vibra em felicidade por guiá-lo à medida que vivia. Observará cada realização sua enquanto aguarda retornar em outra vida.

Próximo das quatro horas da manhã, à medida que o céu permanecia escuro, análogo na presença de alguns tons lilás e meros pássaros que despertavam das árvores a cantarolar em nome da liberdade, Franco desceu a escada após se despedir por mais uma madrugada ao lado de sua amiga.

Desconfiado analisou a rua e um dos postes que até então a iluminava, inspirou o ar fresco e o suave perfume da natureza, caminhou direcionado à sua casa e entrou silencioso fechando a porta de entrada com cautela.

Resultou na primeira vez que voltou pela frente.

Contudo, foi surpreendido pela medonha silhueta de Moniese sentada no sofá, encarando o garoto por meio de seus olhos brilhantes que acenderam no ambiente soturno, semelhante a uma configuração diabólica.

Seus cabelos ruivos e desgrenhados terrificaram mais que o seu próprio olhar.

Imobilizado, perdurou de costas, sentido à porta.

Franco nem sequer insistira em prosseguir com pelo menos um passo à frente e começou a suar frio assim que a mulher tenebrosa acionou o interruptor para ligar a luminária de piso posicionada ao lado do estofado.

— Por onde esteve durante esse tempo todo? — um pouco estranha, mostrou-se passiva-agressiva.

Todavia, essa serenidade se transfigurou temível do que costumava ser.

Também examinou o neto dos pés à cabeça e respirou denso ao se expor furiosa.

Franco se manteve imóvel e suprimiu a fala. Suas mãos começaram a formigar em decorrência do nervosismo e suas pupilas expandiram por intermédio do azul oceano, culpa da aura intimidadora proporcionada pela matriarca.

— Vou lhe perguntar de novo... — num hiato, o estremeceu. — Querido, onde esteve durante esse tempo inteiro? — sua entonação era mansa e ao similar instante, ameaçadora, contendo suas personalidades imobilizadas pela mente.

Impossibilitando evidenciar um conflito.

Algumas horas antes, Moniese despertara de seu sono pesado ocasionado pelos medicamentos, caçou Franco pela residência e aguardou inquieta pela chegada de seu neto a contar das duas da manhã, mediante a um relógio dourado de bolso — herança dos Gregori na qual carregava nas mãos —, antecedente ao regresso dele.

Expectou acomodada naquele sofá, encarou o teto escuro enquanto a luz da rua transpassou através da fresta e mirou num único espaço da habitação.

No presente e naquela ocasião, o interrogava e consumia uma raiva controlável. Posto que qualquer um juraria presenciar uma de suas pálpebras tremer pelo excesso de estresse.

— Garoto, dirá o motivo pelo qual se fez presente na casa das Demdike? E numa madrugada? Aguardo por suas respostas — os olhos estreitaram-se, sua voz arranhada dominou a atmosfera opressora e desestruturou o neto. — Vamos, pois, tenho pressa.

O menino engoliu seco o nó entalado na garganta, se preencheu de coragem e fôlego evidenciados através dos peitos para enfrentar a mulher, após se notar inseguro.

Franco comprimiu os punhos, cerrou o olhar e caminhou lento em postura valente na direção de sua avó que prosseguiu encostada no acolchoado:

— Fui ver a Gaya, vovó.

Moniese quase pulou do sofá, contudo, aguardava por uma resposta semelhante.

— Fui vê-la como faço em todas as madrugadas — sentiu-se ousado por meio das palavras. — E sempre farei o mesmo quantas vezes eu quiser.

"Rebelde como o maldito pai", a idosa resmungou silenciosa.

Ela se levantou do estofado, sustentou uma pertinente distância dele e controlou a impulsividade.

Mentalmente, desejaria arremessar o garoto pela janela, por imenso ódio acumulado em seu interior. Porém, conteve ao esforçar-se em transmitir um semblante angelical.

Passara tempos na reabilitação enganando os médicos e enfermeiros, agora se mostrava preparada para manipular seu neto com maestria.

— O que eu já lhe falei? Elas são impróprias para você. Se portam iguais às péssimas influências, Franco.

— Não, vovó. Você nunca entende! — agarrou os cabelos entre os dedos, estressado. — Não são, porque tirei minhas próprias conclusões a respeito delas e jamais me afastarei da Gaya. Nem que me force, nunca mudará o meu pensamento sobre elas. São pessoas boas, como o meu pai disse bem antes de partir...

— Seu pai era um estúpido, querido. Um completo maluco, inconsciente e patético.

O interrompeu, expôs seu desprezo ao falecido filho e permitiu cair a máscara.

— É o que essas bruxas promovem no psicológico dos homens. Controlam feito um fantoche, um boneco manipulável. Estão agindo dessa maneira com você! Precisa se conservar em alerta. 

— NÃO FALE ASSIM DO MEU PAI! NÃO FALE ASSIM DAS DEMDIKE! — seu rosto era feroz e rasgou a Gregori com os olhos.

— Abaixe o tom de voz comigo. Está falando com sua avó e não com aquelas infames — apontou o dedo indicador para a porta.

Ele apertou os olhos, evitou uma possível crise de ansiedade, respirou com pesar, ao mesmo segundo que preservou sua audição escudada, o impedindo de ouvir as besteiras disseminadas por ela.

Mas algo lhe chamou a atenção.

O que estava prestes a reparar, desvendava as misteriosas saídas de sua avó. Aquilo modificou na pior notícia quando já fortaleceu sua ligação com Gaya.

— Por isso, precedendo o piorar das coisas, visitei por alguns dias um local adequado para você em Hertfordshire, onde existem inúmeras árvores e poderá colecionar várias folhas para o seu mostruário. Se acostumará por um período e acatei as recomendações de seu pai, que descanse em paz, a fim de ter um bom estudo, afinal, Franco I não se encontra mais aqui para lhe educar e seus caminhos estão em minhas mãos.

O menino se alegrou por um momento interiormente, esqueceu o que ela havia dito sobre Callahan e acreditou que, assim como sua amiga, agora frequentaria pela primeira vez uma escola padrão e iria se socializar com crianças diferentes da única na qual conhecia. 

— Nesse caso, irei para o ginásio? Daquelas que as crianças da vizinhança comparecem? — ainda chateado, Franco não demonstrou a animação contida.

— Não necessariamente — respondeu seca.

— E para onde irei? É tão longe de Rye, vovó? Não compreendi. Hertfordshire é distante demais das Demdike, de casa, da senhora...

— O propósito é esse.

Sua face ergueu-se em prepotência, exaltando seu nariz torto, fino e empinado.

— Prepare suas malas porque ficarás no Colégio Interno de São Edmundo logo neste domingo e veja pelo lado bom, pois lá só existem meninos. Conhecerá crianças como você, de famílias benquistas — ele principiou a negar insistente com a cabeça. — Sem hesitações, Franco. Possui onze anos e deverá tomar um rumo para sua vida. É necessário prosseguir com a nossa linhagem.

— O quê? Linhagem? Já estamos morrendo. Não faça isso comigo, vovó! Não preciso frequentar nenhum internato!

Surpreso, num impulso, correu até subir o primeiro degrau da escada, estressado e revoltado em razão das decisões da mulher. Queria se afastar do que fora decidido por ela e impor suas vontades. 

— Ligarei para o Dr. Kai, e urgente! Ele precisa saber disso! — Franco advertiu-a assim que elevou meramente a voz e conteve a tristeza ao presenciar o seu destino sentenciado pela avó que tanto o desprezou. — Nunca comparecerei a um maldito internato! NUNCA!

— Você não possui coragem, Franco. Além de Deus, aqui na terra quem manda em você, sou eu.

Por fim, ao bater um dos pés contra o piso, esbravejou zangado, com as escleras vermelhas em virtude das lágrimas que escorreram de repente através de suas bochechas que coraram em decorrência do nervosismo.

Porém, antes que pudesse chegar ao corredor que levaria aos quartos, a avó o impediu e apelou para o sentimental.

— Espere, Franco! — notara que ele correspondia facilmente aos apelos emocionais.

Um golpe baixo numa vítima da dependência.

— Representa o último pedido de seu pai, querido. Quando ainda me visitava no hospital — as sobrancelhas caíram numa expressão piedosa e esforçou-se em convencê-lo a cumprir sua maior vontade.

Posicionado lateralmente para Moniese, Franco petrificou seu corpo preenchido em saudades pelo Sr.

Callahan. Ela havia tocado em seu ponto fraco.

Todavia, mentiu.

Nunca em vida o Sr. Callahan faria um pedido desses. Os caminhos aconselhados ao filho, se mostraram opostos aos da mãe. Contudo, conseguiu mexer com a cabeça do mísero garoto.

— Nossa última conversa encerrou após este desejo. Entendo que ele sentia empatia pelas Demdike, mas nessa ocasião, o seu pai concordava comigo.

O jovem a olhou de soslaio, abatido pelo pedido, enquanto lágrimas racharam suas escleras em vasos sanguíneos e a ponta do nariz avermelhou.

— Portanto, o caminho correto é o que lhe ofereço, querido. Jamais se arrependerá. Por favor, realize o sonho de seu pai, que Deus o tenha. Faça igualmente por você.

As palavras acertaram o coração do modesto e jovem Gregori. E naquela ocasião, consciente que Franco visitaria a amiga durante todas as madrugadas, Moniese esperou sentada no sofá conforme uma rotina e se atentou aos mínimos movimentos provenientes do quarto do neto.

Manifestou doentia.

Enquanto passavam as horas, quando se recusava a se medicar por recomendação médica, certificava que ele dormia no aposento após encomendar uma cópia da chave do quarto durante as idas para o centro.

Logo que entendia a ausência dos barulhos que o ranger da madeira do quarto provocava, Moniese se abaixava deitando no chão e checava os passos do Gregori por baixo da porta.

Visto que dormia, sem emitir ruídos, invadia o dormitório para comprovar a presença dele.

E ao chegar o dia tão desanimador, um dos padres representantes da instituição fez questão de buscá-lo em casa.

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