Capítulo 3: Amores Mortos e Eternos

*ALERTA DE GATILHOS: ANSIEDADE, MENÇÃO A ASSASSINATOS E PERSEGUIÇÃO.

*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: Love Is Back - Celeste, Comptine d'un autre été (Yann Tiersen) - Claudio Constantini, La valse d'Amélie - Yann Tiersen, scorpio rising - paris jackson e Enjoy the Silence - Joseph William Morgan

A residência fora enfim organizada depois de algumas semanas, cada coisa em seu devido lugar, mas ainda sobraram resquícios de poeira no chão e Dane se prestou a recolher, enquanto Gaya até então digeria por constantes dias o ocorrido no porão.

Logo que tudo foi finalmente limpo, das prateleiras até os móveis lustrosos, concentrado em sua obrigação, o rapaz retomou a comunicação com o Padre Kansas após um breve tempo ausente, à medida que a Demdike seguia até os fundos da casa.

Talvez tomaria um ar ou se reconectaria com a natureza de modo a afastar as sensações e presenças ruins. Conforme fazia desde o trauma.

— Atualizações, padre?

Kansas agora temia enlouquecido a morte. Seus passos neuróticos traçavam todos os cantos.

Quando visitava a capital para assuntos da igreja, reuniões com o bispo e visitas às amigas freiras, entre os cochichos de padres protegidos pela organização secreta, ecoava através das paredes acerca de um traidor no ínterim das sombras dos templos sagrados.

Kansas faria companhia à cabeça arrancada de Franco Gregori.

Soava bizarro saber que desejavam dividir o corpo do amaldiçoado em partes, como um troféu. Consumiam ódio por ele se manter vivo e protegido por bruxas. Era deplorável imaginar que fariam tal atrocidade com o rapaz em vida.

Expliquei que muitas coisas foram repassadas sobre a moça, Sr. Deangelo — raivoso, cochichou estridente na biblioteca mediante os olhares de suspeitas na porta.

Aquele ambiente no seminário, retratava o seu refúgio.

Por quantas vezes devo implorar paciência? Não imagina o quanto as condições andam tensas por aqui. És o único que repasso informações de grande importância. Não possuo a quem confiar.

Agoniado, Dane vasculhava detalhes em seus arquivos armazenados ao passo que Gaya regava brotos de camélia¹ no jardim florido e ensolarado.

Parecia uma terapia cuidar de seus "bebês".

— Não tenho muito tempo para esperar justiça por Ivone Castrell, Padre Kansas. Também estou numa situação complicada por aqui — perdeu até o fôlego ao confidenciar. — Sabe que estive por um período na polícia e homens como eu, não se acalmam com tais situações. Estão com mil planos contra mim, a Srta. Basil e buscam descobrir sobre o senhor. Torço que não demore tanto para tudo se propagar pelas autoridades e pela mídia impressa.

Esmurrou a madeira após lançar os arquivos longe, furioso. O que chamou a atenção de Gaya, que se esticou curiosa na intenção de assistir por instantes.

— Entenda que algumas evidências chegaram em sigilo ao seu antigo setor, Sr. Deangelo. Um burburinho acerca do assassinato transita por aí. É o que posso dizer atualmente. Satisfeito? — suou nervoso abaixo da batina.

Pequenos jornais impressos gradualmente traziam o homicídio da artista em destaque e o assunto alcançaria uma proporção em passos de formiga. Mas o objetivo se tratava de chegar ao maior jornal impresso da região.

Contudo, Kansas pagou à distância a um pequeno jornalista disposto a vazar fontes desarquivadas. Feito um trabalho de telefone sem fio, sem que a igreja soubesse.

Boatos aos ventos.

As coisas não demorarão muito para se revelar. Porém, não será de imediato como prefere. É necessário que se firme na mansidão — gesticulou aspereza.

Sombras de cabeças na área externa assustaram o sacerdote recolhido na biblioteca. Eram apenas risonhos seminaristas a passar na frente do recinto.

— Assim anseio, Padre Kansas — se mostrou calmo daquela vez. Mas não se manteria dessa forma.

O investigador recolheu de volta as folhas lançadas, envergonhado de seu ato e posicionou numa pasta apanhada de uma caixa trazida da antiga casa.

Antes nosso diálogo era respeitável, Sr. Deangelo — parou por um instante a enumeração de livros num catálogo posto em mesa. — Até o dia que soube acerca de Franco Gregori.

O desequilíbrio regressou em Deangelo numa faísca, retornou a lançar a pasta na mesa de centro com imenso desprezo. Os nervos corriam atordoados por aquela ligação.

Kansas, Kansas... — murmurou — Realmente me tira do controle — afastou o telefone do ouvido, correu seus olhos na sala, em descontrole e retomou a comunicação após respirar bem fundo. — Veja bem, padre — queria ser bastante sincero ao comprimir os lábios. — Sinto muito pela minha atitude naquele dia, pois nenhum dos extremos se conhecia como agora nos conhecemos. Foi vergonhoso da minha parte. No princípio, não sabia por onde me metia. Então, a minha extrema reação é sobre a sua figura e em especial do Gregori. Aliás, OS GREGORI — enfatizou.

Mas Sr. Deangelo, deixe-me... — fora interrompido.

— Só um minuto — tomou sua vez. — Comumente esperei tragédias envolvendo essa linhagem e agora, mais uma vez, uma delas me envolve. Se não entende, deveria saber da forma que eles sempre julgaram todos e condenaram de maneiras distintas. É um histórico. Em algum momento, julgo que ele será falso, como todos já foram um dia. Para mim, é inútil salvá-lo — preferia que morresse. — Mas quem importa mesmo para mim, é a Srta. Basil e a justiça por Ivone Castrell. Portanto, nosso diálogo respeitável se perdeu quando entendi que o seu maior objetivo, padre, é proteger os seus. Não era apenas retomar a solução de uma sequência de assassinatos. Pretendia salvar SEU — salientou novamente — amigo. SEU protegido. E eu tenho a minha também.

As emoções em Dane fervilhavam similar a um recipiente a carregar água quente. Se esforçava no intuito de ser profissional, mas ouvir o sobrenome Gregori, retomava momentos e histórias contadas por sua família e tudo o que estava escrito. 

Era comprovado que Michelin Gregori amava todos os seus filhos, a incluir um adotivo. Sem distinções. Não compactuava com os erros de sua linhagem. Muito menos de seu irmão, o temível bispo Caraveckio.

Porém, seus sanguíneos não consumiam o amor entre irmãos. O ódio sujava toda uma árvore genealógica. Em especial, seu caçula Francesco, que motivou a rebelião pelo adotado, Dante Gregori.

Tudo envolvia a sede por herança e a exposta e vergonhosa homofobia contra Dante, o bastardo. Por se apaixonar e oficializar seu matrimônio com Millo Christian Webber. Ambos forjadores de armas, trabalhadores da igreja, a inimiga do pai.

Moldavam lanças, espadas, machados... Habilidosos e respeitados conforme uma ameaça à segurança da linhagem.

Do bastardo, descenderam os corvos, até alcançar Dane Dawson. E para muitos, no ínterim das reuniões de família, a revolta pelos Gregori detinha motivos notáveis. 

Dois toques foram concedidos no arco da cozinha quando Dane se encostou no objetivo de observar Gaya a cortar limões após passar um tempo no jardim. Se dispôs a preparar uma limonada para almoçarem enquanto trajava suas roupas indicadas à jardinagem.

— Pensei em sairmos para algum lugar, jantar... essas coisas — os braços enlaçados e os ombros reprimidos, porém inquietos, sustentavam o corpo. — Sair agora que está com outra aparência.

— E aonde iremos? — conversava focada em fatiar um limão em quatro partes. Faltavam mais dois, como aprendeu com sua avó — Antes queria me manter trancada... — brincou.

De soslaio, o assistiu arfar com chateação.

— Ah, pare com isso, Gaya — tomou um sorrir dela. — Tem o festival gastronômico vegano que está acontecendo em Brighton, bem na orla. Por lá, a vista do mar é tão bela e acho que irá gostar. E feito um leal amigo, considerei te levar.

— Hum... não sei. Sua proteção me deixou mais caseira.

Incomodado com a distância, se aproximou por trás e acariciou os ombros da jovem tensa ao dividir a segunda parte do limão.

— Vamos lá, Gaya — a interrompeu num abraço forte, na mulher desmotivada. — Esquecer um pouco de tudo, ser feliz por alguns instantes.

Afastou a faca das mãos tatuadas em pontos, pôs ao lado da tábua que servia de apoio ao corte, girou o corpo da moça com lentidão e trouxe a si. A colar no seu.

— Preciso pensar — escorou a cabeça no peito dele. Era quente e o coração batia plácido.

Perfumava a banho e estava tão cheiroso que custou a farejá-lo tal qual um cão. Muitos indivíduos em Londres afastavam seu olfato.

— Eu não pensaria tanto sabendo que lá as comidas são ótimas.

A enxergou de cima com um olhar pedinte e selou a testa da Demdike com um beijo. Ela se expôs manhosa e preguiçosa para sair da casa em meio aos beiços.

— O que me diz? — seus polegares arrumaram a sobrancelha bagunçada dela que estava encostada em seu corpo protetor. Permaneceria ali, mas não tanto quanto desejava com Franco. Em Dane, não havia tanta adrenalina para uma relação romântica. Confiava isso no proibido entre ela e o Gregori. — Não pense demais.

— Sabe que não consigo recusar comida, não é? — caiu num sorriso, o espremeu num abraço de cintura, comprimiu a respiração do corvo e por um momento se sentiu renovada.

— Incrível como as pessoas te ganham na barriga — sorriu a prender os dentes nos lábios inferiores. — Então, considero ser bom nos arrumarmos para chegarmos num horário decente. Temos que apanhar os pratos preparados na hora e voltar cedo para cá. 

Ponteiros indicavam o aproximar das seis horas da tarde e o rapaz aguardava pela moça.

Sua barriga até roncava de fome.

Até o instante que seu queixo quase fora recolhido do chão quando a testemunhou descer a escada.

Gaya era elegante, similar a uma divindade, alta de impor poderes, sedutora de atrair presas e amável como uma primavera. O abalava com a beleza estonteante, classe respeitável e não se intimidava com seus olhares penetrantes. Entregavam que ansiava fortalecer a autoestima da bruxa.

Contudo, não era da semelhante maneira que Franco Gregori a olhava. Cada pensamento retomava memórias com o seminarista.

Os olhares do ruivo insinuavam amor desmedido, admiração insondável e um mar de desejos reprimidos. O Gregori a devorava com os olhos de oceano, de salivar e lamber os dedos contidos nas luvas.

Era perigoso estar próximo dele. Tão insurgente e quieto. Não sabia o que esperar daquele homem de mente perturbada pelas imposições.

Com o futuro sacerdote, Gaya perdia a força nas pernas e o rapaz não sentia vergonha em expor o quanto a queria de todas as maneiras através do olhar. Comunicavam mais que os lábios.

Dane, a observava e lia conforme Sol Basil. Aparentava ser um indivíduo rude, violento, de causar temor. Porém, agia feito um gatinho manhoso diante dela.

Franco enxergava com profundidade como Gaya Demdike. Sua casca de santo desde seu nascimento, as roupas contidas, semblante abatido, ocultava um ser que ninguém calcularia seus atos.

Um provável predador camuflado em suas vestes. Conhecedor daquela em que entendia por inteiro. Um perigo por saber onde atingir suas fraquezas, seu coração.

— Acho que nunca lhe vi usar outra roupa com cores diferentes do vermelho e suponho que essa camisa aí é minha, não é?

— Vi pendurada num dos cabides e considerei de bom gosto — os sapatos tocaram o piso após o último degrau e se aproximaram da porta. — Mas lhe devolverei. Esteja tranquilo.

Ela mostrou ser uma cópia do rapaz. Só que mais rebelde com as tatuagens protegidas pelo corpo. O processo de cicatrização causava incômodo pelas coceiras que surgiram à medida que os traços secavam.

Calça jeans preta, jaqueta de couro da mesma cor, camisa larga branca e sapatilhas cinzas grafite sem detalhes. A única diferença se tratava de argolas douradas médias penduradas nas orelhas.

— Sentirei saudades de arrumar seus cachos no capacete — saíram da casa em direção à moto. Ainda mantiveram cautela ao observarem qualquer movimento na rua.

Detinha um imenso carinho por ela e os cachos crespos que eram a identidade da bruxa. Por culpa do que ocorria, precisou cortar.

— De fato é triste, mas às vezes precisamos de mudanças bruscas para poupar nossas vidas — arrumou os fios definidos por um leve creme capilar com cheiro de maçã verde. — Considero me sentir segura assim. E sem esquecer...

Exibiu seu canivete e guardou de volta no bolso da jaqueta.

— Creio que não usaremos por hoje. Brighton é mais tranquila.

A viagem até Brighton resultava em minutos e chegariam por lá próximo das sete da noite, quando o evento ganharia corpos, luzes e música em meio ao som das ondas e o bálsamo específico das águas salgadas.

Ao saírem, o trajeto por Londres foi diferente para cortar caminhos pelas avenidas e se atentarem ao perigo que corriam. Parecia que a cada esquina, o mal espreitava. Não sabiam qual: a igreja ou o espírito obsessor.

Gaya, por trás de Dante, o abraçava deitada sobre as costas numa jaqueta preta, mas não de feitio temeroso. O vento corria contra seus dedos enlaçados nele.

Sentia segurança no corvo. Se interligavam. Contudo, não procedia em uma ligação tão extrema quanto possuía com o amaldiçoado.

Tocava quem não desejava como eterno amante.

Assim que os pés atingiram achegado à praia, quando a motocicleta fora estacionada entre alguns veículos, Gaya removeu lentamente o capacete e seus olhos se esgotaram no encanto. Cumpria um momento de descanso real.

Os globos oculares refletiram cores e luzes. Escleras em festa.

O festival gastronômico vegano, se tratava de um admirável e grande festival repleto de visitantes curiosos que seguiam a pé até onde se concentravam as músicas, barracas iluminadas e de longe, no horizonte, o sol que se recolhia.

Gaya nunca visitou Brighton e não queria sair daquele lugar.

Isso aqui é lindo — sibilou ao entregar o capacete ao rapaz que se encantou ao enxergá-la radiante pela ocasião. — Por que não conheci Brighton antes? É espetacular!

— Te afirmei que Brighton é encantadora — hipnotizada, nem reparou que o corvo investigava os demais. Neurótico em caçar suspeitos infiltrados. — Precisamos sair daqui. Nos espalhar entre as pessoas — protetor, agarrou os ombros dela e deslizou até apanhar uma das mãos. — Vem, vamos ver de perto.

A festividade era feito uma gigantesca feira itinerante.

Lâmpadas de corda guiavam os altos penduradas em lampiões enormes, existiam pessoas animadas por todos os cantos como se brotassem de todos os lugares da Inglaterra.

Famílias, adolescentes na companhia de amigos, animais domésticos a passear com seus tutores, um espaço ao ar livre e preenchido por liberdade.

E o aroma, era uma mistura de condimentos, perfumes e maresia.

Logo que se misturaram com os visitantes, ambos se aproximaram de uma pequena barraca que temperava, assava e vendia algo feito na brasa. Era interessante assistir o ágil preparo dos vendedores a virar legumes em espetos entre chamas e fumaça.

— Quanto custa dois espetos? — Dane apontou com a cabeça direcionada a um bem recheado e tomou a própria carteira quando avistou Gaya vasculhar o bolso da calça.

Não desejava que ela sequer gastasse uma moeda. A levou no intuito de desfrutar o momento, descansar do horror vivido nos últimos tempos.

— Duas libras — respondeu sem nem ao menos enxergar um dos dois, pois havia demais clientes por perto que ansiavam famintos pela mesma comida. — Se eu fosse o senhor, aproveitaria antes de acabar os espetos.

— Então queremos dois, por favor — voltou a atenção nela. — Deseja somente um ou mais outro?

Soprou para Gaya que lambeu os lábios tomados por fome.

— Apenas um, já considero ser o bastante. Acho que nem uma limonada serviria — riu anasalado.

— Óbvio que serviria. Sabe preparar uma excelente limonada.

Os espetos veganos e salgados pesavam ao apanhar na mão. Serviam feito janta. E na companhia de uma limonada... Provocava salivas.

O rapaz principiou a aprontar mais dois espetos na brasa, temperou um pouco com azeite, gergelim e a jovem se distraiu após conceder as costas para a barraca, em busca de apreciar a beleza daquele evento.

Seus pés quase tocaram a ponta do meio-fio interrompido pela extensa rua tomada por frequentadores a aproveitar a ocasião.

Respirar novos ares, presenciar indivíduos a viver em alegria, lhe tranquilizava. Mal imaginava como contaria para sua família a experiência na feira de Brighton.

— Quando percebeu precisar se defender, Dane? — o notou lhe acompanhar ao se aproximar por trás, assim que enlaçou os braços de modo a analisar e relaxar o corpo.

Esperavam a iguaria ser finalizada e seus sentidos identificavam ser o corvo.

— Nunca me questionaram acerca disso — afinou os lábios. — É algo inédito de se escutar.

Pessoas transitavam diante das decorações, apontavam surpreendidas, riam alto e fotografavam até as minúcias da cidade.

— Jura? — o enxergou focado nas lamparinas à frente.

— Uhum — guiou as mãos aos bolsos, retraído e se esquentou ao notar a brisa do mar bater em seu pescoço. — Sabe que sou sincero com você — seus olhos brilhavam e refletiam as cores.

Existia um clima agradável e as águas salgadas chocavam fracas contra a estrutura no conhecido píer de Brighton que brilhava todas as noites na intenção de atrair turistas.

O calor humano em excesso, não era o suficiente para uma noite feito aquela.

Síndrome de Tourette não era discutido antigamente, entende? Creio ser novo para você, como foi para mim na época — as escleras regressaram a encaixar com as dela. — Uma criança desentende os motivos dos espasmos tomarem conta de sua rotina, mas compreende perder o domínio sobre o próprio corpo quando ocorre — pesou a respiração desestabilizada. — Passa a ouvir apelidos degradantes, gargalhadas contidas no fundo da sala, olhares de rejeição...

— Dane... — o tom penoso manchou seus lábios que se tornaram amargos.

— E principiou um tempo — imersivo, o ar escapava da boca tal qual fumaça. — Um tempo que motivou a necessidade de me proteger. Nunca desejei ser aceito ou fingirem isso. Eu exigia ser respeitado e meus pais não compreendiam tanto. Porém, minha mãe tornou-se superprotetora logo após o diagnóstico e chegou a época que impus limites necessários. Me recusei e atualmente me recuso a me julgarem frágil. Assim aprendi a me defender.

A assistiu concordar silenciosa.

— Meu pai sempre se portou compreensivo. Entretanto, a minha mãe demorou para reagir da mesma maneira até o início do meu tratamento. Coisas de família, entende? — deu de ombros e escapou um riso tristonho.

— Confesso que lhe notei algumas vezes a observar o relógio e voltar calmo ao quarto. Não entendia que se tratava disso. Me perdoe, por não conceder amparo — se achegou no rapaz e o abraçou de lado, ao envolver os braços na cintura do amigo.

Para ambos, inexistia o mundo ao passo que conversavam.

— Pensei que me estranharia, apesar de convivermos juntos.

— Estranhar? — o olhar saltou. — Dane, me encontro aqui também para lhe entender e escutar. Da similar forma que está para mim.

— Me desculpe por não ter lhe confidenciado — esticou o braço no propósito de acariciar as costas dela. — Lembro de tudo ter começado num neurologista, frequência no psicólogo, rotina no psiquiatra, retorno ao neurologista, uma carga de exames indispensáveis, diagnóstico após um ano e enquanto isso, tive um momento mais tranquilo quando te encontrava no colegial.

As lembranças do colegial se fortaleciam nos dois. Se referia a quando Dane relaxava entre a ansiedade e controlava os espasmos.

— Sinto demais por toda a exclusão que fizeram contigo nesses tempos e até meu julgamento indireto por lhe considerar uma pessoa intrometida naquele período. Além do que experienciou enquanto era mais jovem — beijou o braço oculto na jaqueta.

— Não precisa sentir — era meigo ao sorrir. — Não desejo que me enxerguem desse jeito. Por muito tempo, creio que minha mãe pensou em mim com extrema pena. Assim, entendi sozinho o controle. Nem meus pais sabiam como oferecer suporte. Aliás, consideravam saber como me ajudar. Feito sabichões.

— Alguns sempre acham — riram anasalado em conjunto.

— É... — os olhos correram em algumas barracas e nos frequentadores. — Dessa forma, me tornei um corvo. Por escolha. O que ocupou meus momentos de ansiedade.

— E foi doloroso fazer a marca? — o assistiu acarinhar a cicatriz.

— Por um período, sim, à medida que a água batia na pele. Era preciso higienizar com frequência. De todo modo, se tratou de um processo respeitável.

— Imagino. E todos possuem?

— Todos. Muitos escolhem se devem continuar. Legados familiares são tensos, Gaya.

No exato instante em que conversavam, o rapaz assobiou e entregou os espetos prontos aos dois, foi devidamente pago e ambos principiaram a caminhar na orla, aproveitando a comida quente depois das mordidas. Estava de fato delicioso.

— Passei basicamente por um treinamento. É o que acontece com os Dawson — prosseguiu na explicação após mastigar bem. — Ao passo que os rapazes daquela idade se alistaram com a permissão dos pais para servirem ao exército, eu detive um aval para seguir destinado a ser um assassino, então... — deu de ombros. — Os boatos naquele período eram verdadeiros.

Gaya recordou de quando cochichavam a respeito dos Dawson, assim como falavam das Demdike.

— Você já... — tornou-se receosa de perguntar — ... já matou alguém?

— Não me faltaram oportunidades. Porém, algo me impede. Não sei bem. Contudo, senti ânsia. Feito naquela noite.

Se aproximaram de uma artesã sentada num banco, que raspava bonecos de madeira com um canivete e ofereceu à jovem que recusou. Não poderia pagar por aquilo e seguiram adiante.

— Sabe, Dane. Costumo pensar que sente a necessidade de me proteger a qualquer custo. Compreendo que vivenciamos uma situação alarmante, entretanto, é a primeira vez que me noto rendida — apanhou um pedaço da iguaria com os dentes e mastigou até retomar seu desabafo. — Quero entender bem de onde surgiu sua vontade por isso. Não faço uma reclamação, até assimilei e julguei ser acerca da sua criação pela sua mãe...

— Não acho que tenho boas histórias para contar. Seria bom me falar mais sobre você, Gaya.

— Por favor, não mude de assunto. Você me entende. Sou curiosa e preciso conhecer melhor os meus aliados — lançou uma piscadela e ele sorriu desajeitado.

Logo que sobraram apenas palitos, ambos jogaram no lixo público, reciclável e se acomodaram nos assentos da beira-mar, junto aos demais frequentadores e enamorados.

O corvo inflou e esvaziou os pulmões carregados num pesar de buscar palavras no intuito de expor seus reais motivos, todavia, entendia que a Demdike era impaciente para enrolações.

— Amei alguém — focou nos dedos ainda machucados até pestanejar seu olhar nas decorações. — O que instigou meu instinto a cobrar e recorrer à justiça por Ivone e evitar sua morte.

— Me recordo da vez que mencionou estar com alguém no passado. Sem tantos detalhes — cruzou as pernas e seu corpo apontou ao homem. Disposta a prestar atenção. — Como se chamava?

A brisa marinha e salgada tocou os dois num arrepio e Dane não a encarava por timidez. Suas palavras sairiam fáceis sem notar as escleras a lhe fitar.

— Miranda Betz... — sorriu cabisbaixo ao recordar da face. — Ela significava tudo para mim naquele momento.

Os ouvidos apanhavam o carinho dele que recuperava cada segundo com a falecida moça na memória.

— Não se tratava somente de uma amiga. Quando Miranda desapareceu, ela... — foi carregado pelo passado, tomado numa respiração agoniante, prendeu os lábios trêmulos e afundou seus olhos nos de Gaya — Ela me prometeu que voltaríamos. Trabalhávamos em Kingston, terminamos nossa relação e permanecemos amigos. Vivíamos em tempos e pensamentos opostos. E ao descobrir que a assassinaram de maneira tão cruel, deixei de existir junto à Miranda.

Gaya acariciou seu ombro, em busca de acalentar sua dor.

— À medida que tudo foi exposto por mim e encontraram o corpo, entendi perder a única pessoa que compreendia minhas cicatrizes físicas e emocionais. Com ela se foi meu puro e genuíno amor, Gaya. Num caixão, debaixo da terra e flores.

Naquele instante entendeu a rejeição do rapaz em ser cuidado ao chegar sem alento após invadirem seu lar. Assim o assistiu a apanhar sua carteira, e dela, retirou uma foto que carregava de Miranda.

— Foi o que sobrou por completo.

A amava até depois do trágico fim. O caixão fora selado para enterro, pois, Betz foi desmembrada e partes do corpo faltaram para se completar. Seu belo rosto se desfigurou por culpa da lâmina de Elisabeth Moul que transpassou em cortes profundos. Não houve sequer a oportunidade do rapaz se despedir da face que beijou quando se conservavam juntos.

— Ela era linda, Dane... — a fotografia de uma mulher negra de tonalidade clara a sorrir para a câmera, possuía marcas de dobras e textura envelhecida por ser guardada. — Que minha Mãe Terra a abrace forte e mantenha Miranda Betz em descanso. E sobre você, enquanto os outros enxergam maldade, extraio o que há de sincero.

— Pode dizer isso com maestria — recolheu a imagem de volta. — Não enxergo tão bem.

— Imagino e presto empatia — balançou a cabeça em afirmação. — Mas não me proteja tanto por medo. Às vezes dorme com o inimigo e nem repara.

— Nem por brincadeira — olhou de soslaio e permitiu escapar um sorriso fino.

A Demdike esbarrou seu ombro no rapaz que recuperou as forças perdidas no desabafo. Precisava há tempos conversar com quem lhe escutaria e recolheria em compreensão.

— Olha aquilo ali, está vendo? — apontou com o queixo direcionado a uma mera aglomeração distante, bem próxima da baía.

Um pouco longe, trazido pelo vento, a audição da moça apanhou o princípio de "Comptine d'un autre été" de Yann Tiersen a bailar e saltar no ar misturado com outras canções, vozes enérgicas e as ondas.

— Instrumento esquisito — o corvo ondulou as sobrancelhas escuras

— É um acordeão cromático² — soou estranho para ele. — Na academia, ao ar livre, alguns alunos praticam quando estão fora de sala. Dizem que se encontra sempre um instrumentista em ruas francesas para atrair turistas — riu sem jeito. — E ao se tocar um acordeão, me instiga a vontade de dançar.

— Não está pensando nisso, não é? — resmungou.

— Me deixaria sozinha com tantos estranhos? — ergueu-se e se pôs diante dele entre beiços pedintes.

— Acho que não sou o melhor para isso, mas posso lhe acompanhar.

Nem houve tempo de recuperar fôlego logo que o puxou ligeiro pelas mãos, suspendeu o rapaz e o guiou até o instrumentista que tocava com o instrumento contra o corpo, próximo de findar a música e interligar com "La Valse d'Amélie" do mesmo compositor.

Ele os notou se aproximar conforme possíveis clientes e cumprimentou amigável com a cabeça no ritmo da canção. Junto a uma cestinha de palha que recebia moedas e cédulas.

Ao redor, uma pequena parcela de indivíduos dançavam alegres, até Gaya convencê-lo a mexer os pés de um lado para o outro. E por um momento o fez copiar nos movimentos.

— Acha que estou indo bem?

— Para alguém que diz não saber dançar, você contornou a situação.

Animada em desfrutar a noite, os pés na sapatilha quase saltitaram com Dane a apoiar uma das mãos sobre a sua cintura. Não queria tamanha proximidade para se respeitarem como amigos.

Ambos rodopiavam traçando o pavimento, o Dawson se permitiu fluir nos passos, se tornaram enérgicos pela específica composição apaixonante e melancólica que os guiava num universo solitário dividido em dois.

Gaya custou a lembrar que suas mães bailavam daquela maneira nos festivais de outono, quando uma chuva laranja despenca das árvores em forma de folhas.

Sentiam-se livres e completos.

O instrumentista se animou um pouco mais e resolveu estender a melodia em célere execução para os jovens ofegantes despencarem no chão de tão exaustos por aproveitar.

Cansada, Gaya equilibrou a respiração e o sorriso extenso cravou em seus lábios ao passo que abraçou Dane pelo pescoço.

— Não me divertia tanto há tempos, feito hoje.

Os olhares reluzentes se encaixaram por segundos, num curto espaço de tempo. O hálito quente de Dante naquela noite que se tornou fria, bateu ao encontro do rosto inerte de Gaya. Suas bochechas e uma de suas mãos levemente trêmulas acariciou o cabelo aparado da jovem que selou as pálpebras ao experienciar o carinho comedido nos cachos crespos.

Admito que sou encantado por você, Gaya — sussurrou e nem se importou de alguém vê-los. — Penso em quantas pessoas já testemunharam esse similar encanto que eu.

Seus lábios úmidos e corados se dispuseram próximos dela, que apreciou desconcertada as irises acinzentadas que piscavam rápidas, contornadas por um delineador escuro e borrado. Mas por instantes, sentiu Gaya Demdike não tão interessada. E sim, Sol Basil. A outra mulher na qual conheceu em Londres.

Quem a bruxa se tornou, não refletia em quem decerto existia em suas raízes.

Por um átimo, entre as bochechas ruborizadas do rapaz, ela se pôs prestes a recusar o que ele se aproximava a entregar de coração. Mas ao pensar um pouco, ninguém iria se importar. Não saberiam daquele momento. Tratava-se de uma vivência mediante os dois.

Gaya não estava comprometida numa relação séria, era livre e determinada para tomar suas respectivas decisões. Se recusava a se prender no passado que a abandonou pelo sacerdócio.

E assim, mal esperou para que seus preenchidos lábios aquecidos se encaixassem com os de Dane.

O corvo a tomou num beijo doce, cuidadoso, sem fulgor. As mãos acariciaram as costas da jovem ainda presa no pescoço. Era diferente da oportunidade que teve com o Franco. Não se desenvolvia como o beijo entre indivíduos que se amavam. Ambos mantinham o amor em outros. Dane pensava com constância em Miranda. Gaya respirava Franco. O beijo entre amigos, tratou-se de um beijo de consolo, ausente de sentimentos, envolvimento.

— E-eu não posso — ela se afastou ofegante e desgrudou dos lábios dele que perderam o rubor. — Não consigo, Dane. Não com você.

Embora o beijo fosse aprazível de se apreciar, o Dawson não correspondia ao que almejava.

Dane caçou a razão perdida ao transitar os olhos no chão, desentendeu em partes e regressou a compreender. Gaya representava uma amiga íntima e de tamanha confiança. Ultrapassar o grau que determinaram, não se encaixava com o que o rapaz acreditava.

À medida que recuperava seu raciocínio, a assistiu se afastar constrangida e inconsequente nos céleres passos que desviavam das pessoas. Não deveria perdê-la de vista.

Mas antes de segui-la, em segundos deixou uma gorjeta solta retirada do bolso da calça, entregou ao músico agradecido e correu desesperado de modo a apanhá-la pela mão enquanto conservava em seu campo de visão.

— Desculpe Dane. Não sou capaz de sentir algo, entende?

Se desvencilhou dele, abraçou a jaqueta e o rapaz veio por trás, à procura de resolverem a situação embaraçosa.

— Eu também não. É um fato. Me perdoe — seu tom submissivo insistiu que compreendesse. — Gaya...

— Não, não é isso. Na verdade, eu queria. Sinto falta de um carinho diferenciado. Porém, percebi que não avançará em nada — retornou a ele e bateram de frente sem se machucar. — Igualmente amei alguém — as sobrancelhas padeceram. — Aliás, o amo e ao extremo. É inexplicável repassar isso sobre um homem que nem está aqui. Mas entendi não poder forçar algo de cada lado. Nem entre nós, muito menos entre mim e ele.

— O ama tanto como amo Miranda?

— A ama com saudades. Eu o amo com repúdio — a rispidez cortou os lábios ao confessar.

Se o visse novamente, desejaria que sumisse constantemente de sua presença. Não esperaria mais nada do Gregori. Falharam conforme amantes e para retomar o antigo convívio, o deus cristão fora imposto no ínterim dos dois.

— De fato, nunca aconteceria nada, além disso, Gaya. Espero não me enxergar um aproveitador. É preferível ficarmos assim — agarrou o rosto da jovem e acariciou as bochechas com os polegares.

— Não estás se aproveitando. Mas considero ser o bastante por hoje — carinhosa, removeu as mãos do rapaz de sua face tristonha. — Melhor voltarmos para casa.

A avenida que transitavam com retorno à casa da Demdike, era quieta demais e nem era tão tarde, logo ao pararem diante do sinal enérgico vermelho. A espera no trânsito se mostrava eterna e o semáforo se mostrou falho, porém, Dane se conservou tranquilo para voltarem enquanto Gaya se evidenciou meramente sonolenta, deitada por cima das costas do rapaz e exausta por aproveitar a noite. Contudo, seu corpo relaxado despertou num repentino susto assim que a traseira da moto fora tocada levemente pela frente de um carro preto um tanto suspeito.

O pé firme do homem no asfalto se pôs de volta no pedal num átomo ao notar um empurrão e mesmo assim, a luz vermelha se recusou a trocar para o verde.

O que foi isso? — a voz abafada pelo capacete e o visor fechado, a questionou em temores e ela se atordoou, a recuperar sentidos.

À medida que Gaya rotacionou sua face para alcançar quem provocou aquilo, de súbito não enxergou nada. O capacete a impediu. Até o instante que seu torso girou para trás e seus olhos medrosos por dentro do visor, chocaram contra um veículo preto a se preparar para se bater novamente e daquela vez, empurrar distante a motocicleta.

Os encurralaram.

DANE, ACELERA! — agarrou fixo a cintura do rapaz, que reagiu rápido e atravessou o sinal defeituoso sem se importar com nada.

O motor e pneus gritaram fumaça no asfalto e o medidor de velocidade se rompeu no limite de modo a escaparem do automóvel frenético que os perseguia detrás. A adrenalina tomou a razão de ambos, as mãos do corvo firmaram nas manoplas com tensão, o chão brilhava pela chuva fraca que despencava sobre o couro das jaquetas e os postes refletiam luminescência nas vestes escuras.

Corriam por suas vidas. Escapavam do inimigo.

— Continuam atrás de nós? — corria mediante os olhos cerrados, desviando da claridade, sem se incomodar com multas. Todavia, se conservava cauteloso no intuito de evitar possíveis acidentes com os carros no sentido contrário.

Os dois compartilhavam das mesmas reações. Garganta seca que travava as vozes, suor gelado no interior dos capacetes e roupas, fora a pressão na nuca instigada pelo temor.

Planejaram assassiná-los numa única oportunidade, num típico acidente fatal que retratariam nos jornais impressos no dia seguinte.

— Continuam! Corra! — notou os dedos tatuados formigarem e a fraqueza nas pernas. Não poderia chorar naquele instante e lutava para respirar com determinada tranquilidade.

Dane constatou a ansiedade tomar conta aos poucos e seus olhos corresponderam do jeito habitual, assim como os ombros.

O coração de Gaya pareceu pular longe e outros órgãos quando se prendeu forte nele, que desviou e deslizou os pneus prestes a deitar na pista entre alguns carros presentes na via mais movimentada. Porém, o veículo insistia em apanhá-los.

Para os estranhos, aparentava ser uma perseguição qualquer. Ao estar de capacete e jaqueta a revestir até os punhos, não enxergaram a aparência mudada em Gaya. Para eles, Sol Basil continuava da mesma maneira, mantida nos cabelos cheios. Na pior das hipóteses foi poupada nisso, no entanto, a placa de Dane estava fichada.

Entre naquela viela, entra na viela! — insistiu reparar despistarem.

Seu pescoço tensionado doía de tanto se empenhar a enxergá-los por trás. E na atual ocasião, não avistara mais ninguém.

A viela de tijolos velhos e queimados tratava-se de um ambiente escuro, ausente da luz, fedia a chorume escorrido de algumas caçambas ao fundo e os dois se viram mais próximos da residência que agora dividiam o aluguel. O rapaz desligou apressado os faróis antes acesos, de arder escleras, escondeu seu veículo com agilidade aos fundos e ambos, em trajes escuros, se camuflaram em meio às sombras da aura insalubre.

Ausentes de fôlego pelo agoniante ocorrido, aguardavam atentos por qualquer movimento dos assassinos.

Distantes, foi possível enxergar o carro disparar à procura deles na região, contudo, passaram direto, sem nem ao menos perceber a viela. Se livraram logo que ouviram com atenção o rachar da pista. Entretanto, não por muito tempo.

Ao alcançarem a calma misturada com o pavor, sustentados na ansiedade generalizada, Dane sentiu segurança em plantar uma ideia na mente de Gaya. Remoía gradualmente até obter certeza de que necessitariam cumprir.

— É o momento, Gaya — dirigiu-se aos fundos, ao passo que a jovem temia o além da escuridão.

Dawson apanhou sua moto, guiou para perto da bruxa que o avistou se acomodar e acionar o motor. Precisavam se retirar daquele lugar.

— Momento para o quê? — não posicionou a cabeça em ordem depois do que experienciou.

Alguns parafusos se soltaram na agonia.

— Não esperaremos que nos apanhem — tensos e ríspidos, conversavam na penumbra e determinaram minutos para saírem dali. — Em qualquer dia, quando estiver disposta a sobreviver, fugiremos de Londres. Ou talvez, da Inglaterra.

— Deixaremos tudo e todos? — embargou a voz. Estava aflita.

— É o mal necessário.

¹Camélia: A camélia é uma planta cujo nome científico é Camellia L. que pertence à família Theaceae. Esta planta apresenta uma bela flor muito usada em termos decorativos. Relativamente ao significado da camélia, há diferenças dependendo da cor das flores. As camélias cor de rosa significam grandeza de alma; as camélias brancas são uma alusão à beleza perfeita e as camélias vermelhas são um sinal de reconhecimento;

²Acordeão cromático: Este tipo de acordeon usa teclas para produzir notas e é comum em muitos gêneros musicais, incluindo jazz e música clássica.

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