Capítulo 28: A Cabeça da Serpente
*ALERTA DE GATILHOS: ANSIEDADE, PÂNICO, CATOLICISMO, RELIGIÃO, SANGUE, BRUTALIDADE, TERROR CORPORAL, LESÕES FÍSICAS, AGRESSÃO FÍSICA E MENÇÃO A ASSASSINATOS.
*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: Kayla - Stephen Sanchez, Morning Sheets - Patrick Watson e Burn the Witch - Shawn James
*CAPÍTULO SEM REVISÃO MINUCIOSA.
29 de Maio de 2018
Ao seu lado da cama, Franco contemplou Gaya dormir feito um anjo. A respiração, que antes era pesada quando o escuro dominava o quarto, carregou tranquilidade na presença da Demdike.
Na noite anterior, já exaustos, ambos ainda dedicaram um tempo para trocar as camadas de lençóis sujos e tomarem um banho juntos. Além de se alimentarem.
A água escorria quente nas peles marcadas por hematomas e Gaya, de olhos selados, apreciava as mãos de Franco formarem espumas nas suas costas, ombros, numa massagem carinhosa.
— Em Edimburgo, sonhei com esse momento — o chuveiro batia nas tatuagens de Gaya que se apoiava na parede. As mãos macias do amaldiçoado deslizaram nas elevações acima das nádegas e seguiu para baixo, empinando pelas bandas para se encaixar. — Às vezes esqueço que sou padre quando estou tão próximo de ti.
A água bateu em sua cabeça ruiva, pingos caíram de seus cílios quase imperceptíveis, molhando todo o corpo e salpicando na jovem que notou o roçar de uma ereção em crescimento. Mas Franco só sentiu vontade de tê-la encaixada em seus quadris. Adorava a sensação das bandas o ocultando, só restando barriga e pelos.
— Como contaremos aos nossos filhos sobre você ter sido padre? — sorriu ao senti-lo ter um espasmo e o olhou por cima do ombro até girar o corpo e apoiar as costas no azulejo morno.
O permitiu apreciar os seios e toda sua particularidade.
Também pôde enxergá-lo totalmente encharcado pelo banho e tão sorridente, como se divertisse com a situação. Franco se inclinou para frente, lambeu os bicos arrastando a língua e chupou cada um com vontade até estalar, à medida que fitava a expressão eufórica da Demdike. E se afastou.
— Apenas contaremos — deu de ombros, esfregou o sabonete nos seios para limpar sua saliva e cada fragmento íntimo do corpo, até a ver apanhar de sua mão e retribuir o ato. — É uma história interessante para quando você envelhecer, contar aos nossos netos.
Os dedos de Gaya deslizaram no pescoço com o crucifixo, mamilos enrijecidos, meros músculos da barriga, pelos pubianos, além de limpar a extensão e os testículos. Cada parte foi oculta pela espuma.
— Você envelhecerá comigo — o puxou colando os corpos ensaboados e ele fisgou um beijo úmido de seus lábios. — Quero assistir seus fios ruivos se tornarem brancos.
— Amor, não tenho certeza disso — sorriu entre os beiços e insistiu numa língua que foi recebida.
Ambos se invadiram, Gaya sentiu-se aquecida no céu da boca, dentes, ele ainda estava faminto, embora dissesse o contrário. Mas sanariam a fome preenchendo a barriga.
Num impulso, ela agarrou novamente o rosto do rapaz para apreciá-lo durante alguns minutos após o beijo e afastou a ação, deixando-o totalmente aéreo e vermelho pela timidez.
— Então me entregue a resposta certa depois. Passarei o sabonete nas suas costas e jantaremos para dormir.
À medida que limpava as costas do padre que esfregou as mãos no rosto de modo a higienizar algumas áreas suadas, Gaya contorceu os lábios num choro silencioso e abafado pela ducha. Os olhos escuros avermelharam, sequer quis fungar o nariz para denunciar suas emoções. Ao passo que fazia espuma nos ombros, a sinuosidade das costas e pescoço, um aperto na garganta enrouqueceu a Demdike.
— Te amo — o padre soprou de costas, sobre os ombros para a esposa. — Gaya, eu te amo — repetiu, sorriu e se esforçou em vê-la. — Te amo além da morte, amor.
Os olhos da bruxa atingiram o chão antes de respondê-lo. Tentou retomar e disfarçar a voz enrolada, além de contorcida pelos prantos.
— Te amo, Franco.
Franco teve a certeza sobre como era confortante vê-la deitar-se em seu peito, repousar tranquila, cheirar as madeixas crespas e seu coração batia célere, prestes a perfurar camadas do peito quando lembrou que se casaram simbolicamente.
Ainda em segredo para todos.
Concernia na sua adorada esposa. Viveu tantos anos distante de Gaya, que aparentou experienciar um sonho, onde a cada instante amava e se assistia amado.
O sol raiou bem quente lá fora, sequer existiam nuvens para esconder o azul do céu, porém, cortinas fechadas preservaram a moça a repousar no interior da casa, abraçada em travesseiros e lençóis.
Seus dedos acarinharam o rosto da mulher, o azul marcante dos olhos correu em cada detalhe da face que dormia tranquila, sem preocupações e o Gregori se esticou para beijar a testa. Além de registrar na memória o tanto que era bela.
— Hum... devo acordar? — manhosa e rouca, o enxergou sorrir embaçado. Estava bem sonolenta.
— Volte a dormir, amor — cobriu uma parte das nádegas e beijou as costas desnudas. A pele quente tomou os lábios e Franco jurou passar o dia inteiro preso naquele corpo. — Descanse.
O olhar alcançou uma vizinha idosa do outro extremo que estendeu um vestido na sacada e voltou para dentro. Um pouco suspeito, pois jurou apanhá-la bisbilhotar. Não importava mais saberem que sequer priorizava o sacerdócio. Era um homem casado e desejava notarem o quanto experienciava a felicidade mais pura em um ser vivente.
Preenchido de pureza e paixão.
Antes que a deixasse no quarto, tranquilo em saber que Gaya permaneceria até que fugissem juntos em breve, o sacerdote se sentou nu na beira da cama, apanhou uma cueca limpa jogada no chão e se recompôs.
Constava dez minutos para as oito da manhã, seus óculos foram postos no rosto, ele esticou os músculos e seguiu até o banheiro. O dia seria dedicado a se resolver com a igreja.
Mergulhada nos travesseiros, Gaya sentiu as dores musculares inquietantes da noite anterior quando esticou o braço para apalpar o outro lado da cama.
Estava vazio.
Ao limpar os cantos dos olhos e bocejar após se espreguiçar, sua visão alcançou uma bandeja de café da manhã na mesa de cabeceira do lado que pertencia ao Franco.
Entre a arrumação das comidas, um bilhete agarrado a um pote de geleia atraiu sua atenção.
— Ele fez tudo isso? — sorriu empolgada e borboletas brincaram na barriga.
A maneira que cuidava e se esforçava para agradá-la, resultava numa realização para uma pessoa feito Gaya.
Bolachas naturais de aveia, um copo longo de suco de laranja, geleia de amora, cubos de maçã verde e folhinhas de hortelã num pratinho, instigaram roncos no estômago vazio. Ela se recostou no apoio da cama, sem se importar com os seios expostos, se esticou para apanhar e posicionou o objeto sobre as pernas cobertas.
Antes de levar qualquer alimento à boca, seus dedos curiosos desataram as dobras do bilhete:
Como sabe, detesto geleias. Contudo, quis agradar à mulher da minha existência. Havia guardado o pote para não encontrar entre meus armários, pois sabia que vasculharia cada centímetro da casa por um café da manhã.
Enquanto pensar em algo, saiba que já fiz.
Aproveite cada comida preparada com muito carinho. Espremi as laranjas e deixei os bagaços guardados na geladeira, pois sei que gosta de comer. Recolhi as folhas de hortelã do meu jardim e se desejar, pode apanhar mais algumas numa sacola para levar até sua casa. As sacolas estão na última gaveta do armário de grãos.
E não se preocupe comigo, muito menos deixe sobrar. Já me alimentei.
Também abandonei a chave da casa embaixo da porta, na ínfima abertura. Dedicarei um dia para fazer uma cópia e lhe entregarei para ter liberdade de entrar e sair.
Estarei na paróquia se quiser me ver ou devolver a chave. E claro, estou com imensas saudades do seu cheiro adentrando minhas narinas, seu corpo esfregando no meu, de cada detalhe seu em mim. Não esqueço nenhuma sensação. Nada passa despercebido. Até sua beleza enquanto dorme.
Te amo, minha esposa.
Com amor,
Franco.
Ela agarrou o papel ao corpo, sorrindo meiga, como uma adolescente radiante. Rendida por cada fragmento da paixão e vivenciava um sonho real. Tudo o que não sentiu quando era mais nova.
Recordar da noite anterior lhe instigava a recuperar sensações inexplicáveis. Seus dedos traçaram os lábios ao lembrar da forma que o Gregori quase mordeu um pedaço de sua carne, pelo tanto de desejo reprimido que carregava. Seguiu o toque até o pescoço, reproduzindo a sensação de ser comprimida, mas era diferente. O toque de Franco era inconfundível.
Ainda no banho da madrugada, arriscaram perder todas as forças num ato rápido quando o Gregori a encurralou contra a parede e puxou seus quadris para investir pela última vez naquela oportunidade. Sequer resistiu ao corpo despido da amante.
A mão apertando seu pescoço, outra espremendo a cintura e os sussurros perigosos de Franco maltratando seu ouvido, a fez suspirar durante a manhã. Seus lábios corados suplicavam perdão por não a deixar descansar, embora ela quisesse sofrer de prazer.
A maneira que ele escapava a ereção de propósito para se esfregar à medida que soprava "amor" misturado com um gemido arrastado, se tratava de um jogo com os sentidos da Demdike que cedeu suas fraquezas.
O que a motivou a reviver a sensação no dia seguinte. Mal disfarçou seus mamilos doloridos por culpa da tensão que as memórias proporcionaram.
Não teria como escapar do que passou, pois estava prestes a tomar uma boa ducha. Além de organizar algumas coisas na casa de Franco, fechar a residência, levar sua mala de volta ao lar das Demdike e seguir até a menor igreja da cidade, onde ele indicou estar.
Seria complicado encará-lo depois de cada ocasião. Pois Franco Gregori, vestido como padre, resultava numa das ruínas de Gaya.
De certa forma, estar na igreja confortava o Gregori. Mas não tanto quanto estar nos braços da Demdike. Sequer poderia comparar. Era seu refúgio, mas até quando?
Não deveria mantê-la consigo para sempre.
— Padre, há um homem interessado em conversar com o senhor — o jardineiro interrompeu Franco na sacristia.
O sacerdote recolhia algumas coisas, organizava tudo, determinado a abandonar o sacerdócio. Se convenceu que abandonaria a vida como representante de Deus, para estar com o amor da sua vida.
— Hoje não há confessionário e estamos sem previsão para atender — terminou de dobrar algumas estolas. — Por favor, poderia informá-lo?
— Ele afirmou ser urgente. Alguém na família faleceu e precisam que alguém celebre a missa de enterro — seu olhar retraído e voz rouca convenceu. — E não seria tão ruim, padre. Estou precisando de um dinheiro extra.
— Bem... em qual dos cemitérios? — subiu as mangas da camisa preta e enlaçou os braços ao cortar o assunto. — O daqui não daria para incluir.
— O de Rye. Diz ele que necessita de uma cova mais para os fundos.
— Bom... então mande-o entrar. Por favor. Como não colocarei trajes, vou atendê-lo assim.
— Então o esperarei para me chamar na praça, padre. Se decerto ele planeja enterrar.
O jardineiro, que mal se atentou na face do visitante, acatou o pedido do padre, se distanciou para abrir a porta dos fundos e convidou o homem de chapéu preto fedora a adentrar a paróquia. A entrada principal estava fechada, mas Franco resolveu não trancar para consentir aos fiéis terem minutos de oração somente com Deus.
O homem era meramente de idade, de feição carrancuda e se abriu ao avistar o sacerdote cumprimentá-lo e inclinar a cabeça para frente formalmente.
— Padre — retribuiu e removeu o acessório da cabeça, apoiando num dos bancos. — Não imagina o conforto de estar aqui.
— A casa de Deus nos acolhe e afaga — sorriu de canto. — No que posso ajudar?
Ambos permaneceram de pé, próximo do púlpito, Franco lançou as mãos unidas para frente do corpo, o homem avistou um leve hematoma no pescoço do rapaz e disfarçou.
— Uma pessoa bem próxima de mim, faleceu — o pesar dominou a voz. — Fomos derrotados com a notícia. Não fazia parte da minha família, pois era apenas um amigo de profissão e sem familiares próximos ele partiu sozinho. Não há ninguém que celebre a missa. Nem nas cidades vizinhas à Rye.
— Sinto imensamente — reprimiu os lábios e as sobrancelhas caíram em sincera compaixão. — Creio que hoje à tarde posso celebrar o funeral. Infelizmente existem os custos do cemitério...
— Não há problema. Temos dinheiro o suficiente para cumprir o enterro.
— Os demais conhecidos estão pela cidade?
— Chegarão da capital — observou os detalhes da igreja, que era a mais simples de Rye.
— Bem, então é necessário deter as documentações do falecido e algumas informações. Poderia me conceder, senhor...
Franco se pôs de costas para ser seguido pelo homem até um extremo da igreja, onde situava uma pequena entrada de encontro a um pequeno escritório, onde mal frequentava. Exceto para a preparação de funerais.
— Artur McNeill — completou.
— Bom, Sr. McNeill...
Não demorou segundos para Franco ser agarrado pelo pescoço em um mata-leão e sentir o frio na espinha se instaurar pelo corpo feito um choque. Sequer arranjou tempo para reagir, gritar, pois sua voz esvaiu em questão de segundos. Suas mãos, que mal tocavam, tentaram arranhar o rosto do assassino que o asfixiava sem dó.
— Vou te carregar morto, Gregori. Finalmente — rosnou contra Franco que notou os olhos arderem, pois, as veias vermelhas tomaram conta das escleras que secaram. — O menino de ouro.
O pavor carimbado no olhar do ruivo, se assemelhava a "Saturno devorando um filho", tal qual na própria pintura de Francisco de Goya.
Os corpos se sacudiam numa violência cruel. Franco resistia para escapar, mas suas pernas enfraqueceram e ele pensou que ali sucederia o fim. A linha que negava traçar, ao passo que Artur o imobilizava domado pelo ódio reprimido. Ambicionava cessar a vida do amaldiçoado.
Quando os globos oculares do ruivo giraram, prestes a desmaiar e sua pele se aproximar de um tom arroxeado, um registro tomou sua memória. Sentir sua respiração falhar, recordou de um momento que ele não lembrava.
Um clarão o transportou de volta ao passado. Diante de uma televisão de tubo, a imagem de uma criança pequena interligava qualquer sensação a ele. Franco sentiu o travesseiro comprimir seu rosto feito na imagem, uma voz feminina ecoou no limbo que ele se encontrava e o fio da vida, da finura de uma linha de costura, escapava de si à medida que servia como testemunha da tragédia assistida.
Se tratava de uma memória da infância trágica.
"É dessa maneira que morrerei?"
Um sopro na mente o fez aceitar que partiria. Suas lembranças também corriam com receio de serem esquecidas. A incluir o último segundo que viu seu pai. Estava tão belo e feliz, diferente do dia que as águas o levaram. Não compreendia que próximo de perecer, se enxergava uma luz e as experiências da vida passageira. Até o último amor.
Contudo, no silêncio e misto da violência, e os grunhidos do assassino cedendo todas as forças contra o padre, Franco, perto de alcançar seu fim, ouviu a porta principal da igreja ranger distante. Sequer enxergou a imagem de Cristo na intenção de implorar por sua existência.
Ele sabia que perdia a visão, tudo se transformava num buraco mais escuro que sua dor. A voz já não existia até perceber que um peso se jogou sobre as costas do assassino. A cabeça rodopiou, seu corpo foi junto e nada ainda se entendia no repentino susto.
Artur sabia que alguém o agarrou violento, ainda não visualizava quem, até o instante que atingiu o chão com o Gregori bastante aéreo com a situação. Os olhos azuis do ruivo, embaçados pela proximidade da morte, o permitiu enxergar uma silhueta feminina sobre McNeill que sacudia de modo a derrubar a figura agressiva.
A capela, antes silente, se preencheu pelos urros desesperados e rasgados do homem que gemeu de dor. O Gregori, sufocado e caído no piso enquanto recolhia o ar perdido, enfim a enxergou com nitidez: Gaya Demdike enfiou a própria chave da sua casa no ouvido de Artur.
Quando o assassino cambaleou ausente dos sentidos, unhas cravaram rasgando sua face de pele enrugada, desatando as camadas finas das bochechas. Tomada pelo ódio visceral, a bruxa ambicionava arrancar com os dentes, o rosto dos músculos, o empurrou no chão com as palmas abertas, banhando o solo em salpicos de sangue.
A cabeça do criminoso bateu contra o púlpito ladeado por Franco, que se arrastou distante, horrorizado com a cena.
— SEU DEMÔNIO!!! — Artur esbravejou e seu ouvido gravemente ferido, escorria rios de sangue, era pior que os rasgos na face. Uma das dores o perturbava. — OLHA O QUE VOCÊ FEZ!!!
— Não mexa com bruxas — enxugou o rosto suado com as costas de uma das mãos, se sujou de vermelho, misturando a cor com o tecido do vestido e se pôs diante do assassino que torcia para desmembrá-la com uma motosserra. — Você prefere mandar o recado ou morrer aqui diante do seu Deus e do Gregori?
Aprendeu bem com o Dawson.
— Eles chegarão. Esperem para ver — uma gargalhada arranhada provocou nojo em ambos. E num segundo, embora sem fôlego, Artur se levantou a empurrou forte destinado a fugir, enquanto estancava o sangue do ouvido com a mão fedendo a ferro. — Seu padre de merda morrerá da pior forma para todos assistirem!
Artur McNeill fugiu. Quase levou uma parte da porta da igreja assim que disparou pela rua e traçou o líquido rubro pelo chão de pedras da cidade. Serviu como momento para Gaya cair de joelhos no chão, sem estruturas para digerir o ocorrido. Doeu chocar os ossos das pernas no piso, mas sequer se importou.
— Ei... — extremamente rouco, Franco engatinhou até a bruxa que sequer carregou expressões. Seus olhos opacos prenderam na imundície do chão. Contudo, o olhar entregava um pavor visceral. — Amor, você se machucou? — ela nem respondeu por se perder no silêncio mental ocasionado por um trauma recente. — Vem cá. Vem cá, vem cá...
A puxou pela mão para se aninhar em seu corpo, apesar de ele ser o mais lesionado naquele instante. Gaya deitou sobre o peito de Franco, que respirava fraco, exausto, até encostar os lábios nos cabelos crespos e se permitir chorar calado. Seus olhos brilhantes de lágrimas expuseram que ele não estava bem. Há muito tempo. No primeiro fungar, a Demdike ergueu a cabeça para notá-lo e uma derrota emocional contaminou suas emoções. Detestava vê-lo chorar, visto evidenciar o quanto ele se esgotava com todas as situações. O Gregori reprimia qualquer dor sentida.
— Franco, olhe para você — apanhou o queixo do esposo que mal ocultou a melancolia. Uma das pálpebras tremia por culpa do nível de estresse e ansiedade, seus lábios também e a temperatura do seu corpo esfriou. A imagem dele bebê, como na fotografia, esmagava seu coração quando o enxergava derrotado de todas as formas. — Temos que cuidar do seu pescoço — o puxou mais para perto, beijou seus cabelos ruivos e o viu deitar em suas pernas.
Diante do altar, em meio aos santos e Cristo na cruz.
— Dói tanto... — choramingou com a cabeça deitada no colo. Porém, mal demorou seu sofrimento ao passo que se levantou e recordou que ela corria perigo naquele instante. — Mas você precisa fugir daqui — sua voz estava tão fraca que parecia chiar. — Não faz muito tempo que ele fugiu.
Quanto mais esforçava a voz, mais suas cordas vocais queimavam doloridas.
— Não posso te deixar por um segundo — analisou o pescoço do sacerdote e agarrou o rosto pálido nas mãos. — Franco, somos um. Se for para sofrer, sofreremos juntos.
Ele sentiu a umidade do sangue das mãos dela sujarem seu rosto e nem se importou.
— Gaya, eu te amo e não quero te ver sofrer nas mãos dele e dessa cidade. Em instantes chegarão aqui e mesmo que assumamos nosso relacionamento, continuarão a te odiar. Não quero assistir isso, não consigo.
— Por um momento achei que te perdi — cuidadosa, o beijou nos lábios. Mas o beijo carregava extremo sofrimento. Logo quando se resolviam, coisas ruins ocorriam na sequência.
— Meu amor... — esfregou o nariz pelas bochechas de Gaya e seus beiços voltaram a beijá-la, tomando tudo em sua boca até recuperar o fôlego. — Fuja daqui, antes que te vejam — a enxergou correr o olhar quando as testas se tocaram.
Desejava que fugisse da igreja, mas sua vontade de viver entranhado nela por toda a eternidade, crescia junto a dor. Não era nada sexual, mas um amor profundo, desvairado, protetor.
— Eu te amo, Demdike. Eu te... — soprou contra ela ao agarrar as bochechas em suas mãos enluvadas.
À medida que a entrada se manteve aberta, uma das beatas adentrou o ambiente, disposta a passar horas em oração como de costume, além de descobrir o porquê de tanto sangue respingado na escadaria. Seus olhos curiosos e distantes traçaram cada espaço exterior até ultrapassar o arco e avistar, tomada pelo horror, o padre esfregar as bochechas sujas no rosto da jovem bruxa de Rye. O ato carinhoso revirou o estômago da idosa, que se esverdeou por completo. Um gosto amargo e nojento tomou a língua da mulher que sentiu vomitar pelo que testemunhou.
Por segundos a Demdike desviou sua atenção no Gregori e seus olhos enxergaram a velha de mandíbula caída, tomada pela surpresa, de pé no centro da extensa faixa de ladrilhos desenhados que atingiam as meras escadas até o altar.
— PADRE?! — o grito ecoou na casa do Altíssimo e puxou a atenção de Franco que, de súbito, agarrou Gaya sem nem perceber. Temia tirarem-na de perto e seu instinto protetor despertou contra qualquer insulto acima da amada. — A BRUXA! O-o que estão fazendo?! Que tipo de fim dos tempos é esse?!
— Ele apenas... — quis contornar a situação.
— A Demdike e eu estamos juntos. Ela é minha esposa! — seu tom firme declarou a realização de sua vida.
Ambos se levantaram juntos, o sacerdote agarrou a mão da amada e tomou a frente, pondo-a atrás de si e evitar ferirem-na. Gaya retraiu os lábios em plena insegurança pelo que viria após a situação e assistiram à beata disparar para o exterior, sem fechar a porta para permitir curiosos se aproximarem. A Demdike piscou os olhos incontáveis vezes, o peso escapou pelas narinas e seus músculos tremeram até regressar seus sentidos quando o ruivo girou os calcanhares, encostando os corpos.
— Vá para casa da sua família — soprou fraco e ela se recusou. — Agora.
— Franco... não tem como eu te deixar sozinho.
— Virão atrás de você, Gaya. De suas mães. Falta um fio para a cidade descobrir nosso relacionamento e quero zelar por nós. Por favor. É a minha única razão de viver e se fizerem algo contigo, não quero respirar.
— Não te deixarei sozinho. Até que a morte nos separe, lembra?
— Esqueça disso nesse momento. Você ficar viva, me mantém vivo. Por favor, corra para casa. Por nós.
Gaya relutou, não desejava deixá-lo na igreja sem seu amparo. Mas necessitava telefonar ao Dane e buscar auxílio no único que compartilhava o mesmo ódio. O Dawson odiaria descobrir a tentativa de Artur. Lamberia os lábios para assisti-lo definhar em sua presença. Presentearia a alma imunda ao Diabo para aniquilar cada membro com as mãos, mas descobrir que a Demdike o feriu, soaria tal qual música aos ouvidos. O corvo entregaria sua alma para assistir sua melhor amiga cumprir da maneira que ele adorava.
Desde sua retirada da cidade, Dane Dawson retornou numa ligação repentina com um único objetivo. Poderia ser mais simpático, contudo, a necessidade para comunicar o que descobriu, rangia em sua cabeça. Queria tirar a agonia de seu cérebro.
— Dane? Oi, querido! Saudades! — com o telefone na orelha, Anya atraiu a atenção da esposa que sorriu se mantendo ocupada com o trabalho.
Às vezes mal sobrava tempo para descansarem. Mais e mais plantas eram cuidadas, recolhidas e serviam de ornamento para serem vendidas até o terceiro domingo do mês de junho, Dia dos Pais no Reino Unido.
— Igualmente, Sras. Demdike. Mas preciso muito falar com Gaya. É extremamente urgente — da janela, avistou correntes de chuva escorrerem no vidro embaçado com a paisagem nublada, cinzenta por árvores secas e um lago profundamente escuro. — Ela se encontra presente?
Telefonou direto do quarto de hóspedes na nova mansão dos Dawson em Brasov, na Romênia. Seus pais saíram por um momento com a desculpa de frequentarem um antiquário e deixaram alguns arquivos da família para servir na investigação final.
— Infelizmente ela não se encontra aqui, talvez esteja com o Franco e posso repassar a mensagem assim que nos encontrarmos com ela ou pode deixar na caixa postal da nossa residência. Delphine, ponha as begônias no outro canto — instruiu a esposa que obedeceu e pôs próximo da entrada. — O que deseja falar e que não pode nos repassar?
Ele pensou bastante, remoeu a situação com cautela, se afastou da vista e chegou perto de alguns papéis dispersos na cama. Seus dedos apanharam uma fotografia escondida entre as folhas e registrada no ano de 2003, onde três homens se reuniram diante de uma escadaria e atrás da foto constava nomes: Artur, Isaiah e outro com a inicial G, mas o restante das letras fora riscado com caneta. Entretanto, no cerne dos documentos, o sigilo das informações foi rompido.
— Bem, quero avisar que seguro uma das confirmações acerca de quem lidera os padres e a tal seita católica. O responsável por planejar a morte de Franco Gregori, silenciar os outros amaldiçoados, além de perseguir Gaya. Existe um nome. Não só a fotografia que sustento aqui, mas também algumas informações que expõem o desgraçado que interligava a comunicação com meus familiares entre a Cidade do Vaticano e a Inglaterra, na época que meus pais serviam na igreja.
— Co-como assim? — atraiu a atenção de Delphine que abandonou suas funções e se aproximou para compreender o assunto por intermédio do viva-voz acionado.
— Conferindo as evidências, esse maldito era um mentor. Ele quem contratava meus pais para cumprirem os assassinatos antes da traição acima da minha família, servia como uma ponte e me recordo do nome durante a infância, quando invadiram a minha antiga casa em Whitby. Mas feito um covarde, não usa o primeiro nome por proteção.
— E-ele está por aqui? — a tensão elevou o tom em Anya e uma das pálpebras piscou nervosa. — Digo: em Rye?
A atmosfera existente em Brasov, alcançou a floricultura das Demdike. Foi possível experienciar o mesmo frio percorrer cada particularidade dos corpos.
— Não. Ainda não. Mas sempre esteve próximo, Sras. Demdike — ergueu a fotografia contra a luz da ventana para encarar o rosto do grande inimigo. — Em especial, do Franco. Ele se apresentou em alguns momentos cruciais da vida do Gregori, segundo as anotações que carrego. E ninguém notou.
Catedral de Westminster, Inglaterra
McNeill adentrou a catedral em pleno desespero e sequer foi interrompido quando acionou o elevador para atingir andares superiores. Apertou tanto o botão que quase empurrou para dentro por força extrema. A cada passo concedido, rastros de sangue traçados no chão atraíram a atenção de funcionários e membros católicos presentes. Cochicharam que havia sofrido um atentado para estar tão ferido.
Um extenso corredor com artefatos religiosos distribuídos, feito museu, guiava até uma porta escura protegida por um guarda-costas gigantesco. Chegou tarde para a reunião.
— Me deixe entrar — estancando o sangue, entre as escleras que prendiam num desmaio, Artur apelou num tom educado. — É-é urgência — gaguejou.
— Reunião. Não pode entrar. Ordens concedidas.
De braços enlaçados ao corpo, o segurança barrou sua passagem e foi o suficiente para McNeill colapsar. Ele somente sentiu o sangue borbulhar no corpo junto a algia que percorria seus nervos. Cada centímetro da pele ardia em fúria.
— É só avisar que sou eu, Artur McNeill. Vamos lá, Hugo! Você me conhece! Olhe minha situação. Preciso apelar?
— Ordens superiores. Não foi convocado, Artur. Sinto muito, mas ele não permitiu sua entrada.
— Como não permitiu?! Ele sabe quem sou!
McNeill por segundos esqueceu a dor e a ira contaminou sua expressão torturada. Além de seu corpo que antes cambaleava por culpa da surdez.
— Fiz o que ele mandou! Ele me barrou sabendo que eu morreria? É isso?! Considerou que eu não viria porque nem voltaria aqui?! — esticou o pescoço para a entrada e gritou. — ARLO!!! — esbravejou no exterior e inaugurou sua primeira tentativa de derrubar a porta com um dos ombros. — Abram essa porta!
O segurança o segurou firme, mas não foi possível contê-lo. O sacerdote foi tomado por uma força desumana, quiçá demoníaca e deu seu primeiro chute na madeira, a seguir de um segundo que até tremeu as paredes, ecoou por todo o recinto e abriu a porta deixando uma marca do sapato sujo. A reunião foi interrompida com a invasão. Vinte homens no conforto de cadeiras esguias e estofadas, contornavam uma mesa retangular de mogno no centro. E na ponta, como líder, um mais velho os reuniu. A feição grosseira aniquilou McNeill que apavorou os sacerdotes desentendidos. Já o líder, percebeu o resultado de um assassinato fracassado. Decerto esperava que seu incumbido falecesse.
— Que merda está acontecendo aqui? E sem mim?! — sua boca babava violenta e ele olhou para cada um, entre as escleras sanguíneas.
— Artur, o que houve contigo? — um dos sacerdotes soprou distante e sequer atraiu a atenção do homem agressivo.
Dentre os vinte, havia um que sem dúvidas decepcionaria o Gregori.
Padre Kansas se fez presente. Mas sua presença fora solicitada considerando que o assunto que abordariam, se tratava de outro. Aparentou pavor com o caos, sua garganta travou e veias saltaram na testa brilhante. Olhou de soslaio para os demais padres, sem girar a cabeça e sua visão alcançou o idoso. Todos eram membros católicos, mas nenhum fazia parte do plano criminoso. Se reuniram para discutir acerca da vinda do atual papa à realeza britânica e todos se fariam presentes por lá, dispostos a receber a benção, participar de jantares e assuntos restritos.
— Você... — apontou ao velho evidente de pé. — Você me mandou matá-lo, prometeu que eu subiria de cargo e eu tentei — gotas de saliva saltaram e um dos padres próximos se limpou no rosto enojado. — Mas aquela maldita bruxa de repente apareceu e o salvou. Olhe o que ela fez com minha cara e meu ouvido! Aquela desgraçada enfiou uma chave e não consigo mais escutar! — alguns sobressaltaram por culpa do terror ao saber. — Você pagará a cirurgia para recuperar minha audição, Arlo!
Se apoiou sobre a mesa num estrondo, derrubou alguns copos d'água e sujou a superfície com sangue, à medida que o líder gesticulou para o segurança estático deixá-lo em paz e fechasse a porta. McNeill estava fraco para cometer qualquer atentado naquela sala, mas necessitava de cuidados médicos. A hemorragia enjoava a todos.
Kansas, ao testemunhar um arrepio percorrer seus membros superiores e as pernas formigarem, enfim descobriu quem se tratava da "cabeça da serpente" que tanto teorizaram. E ele sempre esteve perto. Como nunca percebeu?
Arlo Hill era considerado o seu amigo. A seguir de sua morte, Kansas o substituiria como bispo. Porém, o cargo já se encontrava impuro com toda a maldade no homem de idade, de cabelos alvos e face bondosa. Era o que ele expressava feito um descarado. O bispo utilizava de sua falsa bondade, fala mansa, para ocultar o verdadeiro rosto de um corruptor. Sempre esteve próximo. Antes do Sr. Callahan ser seminarista, após o falecimento trágico quando se apresentou no funeral, a seguir os caminhos de Franco até seu crescimento. Inclusive ordenou homens a invadir a casa dos Dawson e traiu como um mentor.
Agia como o intercessor das tarefas destinadas aos corvos que o chamavam de Gustav, seu primeiro nome. Odiava a todos sem distinção e estar numa posição favorável na igreja, o preenchia de regalias.
Kansas confiava em convencer Franco a assinar um tratado de vida e morte. O padre representava como o braço direito e sentia estar prestes a ser cortado da instituição. Pois Arlo Hill, já carregava suspeitas que o sacerdote funcionava como um infiltrado. Roman só não entendia que, após a morte do amaldiçoado, ele resultava no próximo clérigo a ser executado. Contudo, ainda servia para os planos de Hill.
— O que faz aqui, MCNEILL!? — o bispo deu suas caras ao ressaltar o padre mediante uma voz imponente que se propagou feito um trovão. — Seu trabalho é outro. Não sei o que menciona.
— Você sabe o motivo — riu e desmanchou o sofrimento ao forçar o ouvido. — Sempre soube!
Se achegou em Arlo que manteve distância mediante uma feição enojada. Detestava qualquer sujeira dos demais e mascarava as próprias.
— Por que não os convence a entrar no plano para folgar minhas funções impuras? Hã? Foi capaz de me enviar e eu saí surrado por uma maldita mulher. Ainda por cima: BRUXA!
— O problema é que seu serviço foi mal feito. Nem Deus perdoaria — nem conseguiu ocultar a face e manipulações.
— Então conte para eles, ache alguém mais competente que todos os que já saíram lesionados por esses malditos. Anda! Convoque!
Hill omitiu a presença de McNeill, regressou a atenção entre uma face boçal e alcançou a atenção dos demais padres.
— Vossa Eminência, do que ele tanto fala? — um deles teve coragem de questionar.
O bispo mastigou as bochechas ao analisar cada um naquela sala e caminhou pelo ambiente, a fim de intimidar.
— Bem... — coçou a cabeça. — Reverendíssimos, parece que foi Deus que os trouxe aqui para discutirmos esse assunto que perturba toda a igreja. Assuntos guardados dentro do nosso templo. Algo que precisamos cumprir em nome de Deus e necessito do auxílio de todos — Kansas abaixou a cabeça e os olhos alcançaram os dedos entrelaçados. — Certamente em Rye. Me recusei os envolver, mas não se deve ter segredos, certo? Isso inclui caráter religioso, a reputação de cada um que participa dessa instituição.
— Em Rye? O que tem lá? — outro questionou.
— Bem... há tempos que não entramos em discussão acerca da situação de alguns padres que sequer cumprem os juramentos com a igreja e isso enfraquece todo um sistema bem estruturado. Principalmente aqui, onde não perdemos força — se apoiou sobre os ombros de outro sacerdote que estremeceu e engoliu raspando até receber leves tapinhas. — Para ser direto, existe um padre ordenado bem abastado e descobrimos uma relação proibida com uma bruxa de reputação um tanto... sórdida — alguns murmuraram chocados. — O agravante, irmãos, é manter uma relação carregando o título. Poderíamos remover sua nomeação e deixá-lo em paz? Talvez. Mas é uma grande ameaça com a chegada do papa, onde os olhos voltam para nós, uma igreja de valores e respeito. E com a preparação para Vossa Santidade, arriscam o nosso prestígio que gradualmente despenca nesta localidade, na Inglaterra.
— Não entendo, Vossa Eminência, no que isso de fato afeta? — um deles tomou um espaço. — Podemos entrar com o processo de excomunhão e tudo se encerra, não? Considero desnecessário perder tempo com tais indivíduos.
— A questão, Padre Henry, é que o tal sacerdote detém uma certa riqueza que faz parte da nossa igreja, que sustenta também a nós e com esse envolvimento, nos prejudica financeiramente.
— Mas é apenas um único padre. Certo? Qual diferença que faz em toda uma igreja? — outro replicou, o que tirou a paciência do bispo. — Há tantos ricos nesse mundo...
— Talvez outros padres queiram estar conosco nessa situação, não é? — a voz arranhou furiosa. — Vocês realmente se arriscam perder a posição atual para se aninhar a um traidor. Se o papa souber que essa situação não foi contida, se preparem, porque entregarei cada um a ele.
— Estamos contigo, Vossa Eminência — um resolveu findar a discussão. — Nos passe a função.
— Também estou — respondeu outro.
Kansas fingiu se integrar para apanhar qualquer coisa. Precisava escutar tudo para repassar a Franco, ao Dane e fingir disposição em fazer parte do plano. Se arrependeu até de não ter levado um gravador ou algo para registrar aquela confissão. Entretanto, não imaginava que o bispo concernia no cérebro da seita.
— E posso confiar em você, Kansas?
— O quê? — recobrou a mente quando foi tirado da inércia.
— Posso. Confiar. Em. Você? — feito uma serpente, Hill arrastou a voz sussurrante e intimidadora contra o sacerdote em pânico derramado nos olhos.
Uma amizade inteira se passou na cabeça de Kansas. Ele desejava negar, mas se negasse, não poderia confidenciar ao Gregori, pois levaria seu segredo ao túmulo. Seria assassinado antes de encontrá-lo para confessar acerca da reunião. Portanto, confirmou.
— Po-pode, Vossa Eminência. Conte comigo.
— Perfeito — regressou à sua cadeira e se acomodou tão relaxado que o estofado bufou. Sua respiração aliviada pôde ser ouvida por todos. As paredes sem dúvidas se incomodaram com a tranquilidade do ser maquiavélico. Mais sagaz que o antigo Caraveckio Gregori. — Em breve, todas as informações acerca do tal padre chegarão por correspondência, a incluir endereço, data do acontecimento e horário. Não se assustem. Ele deve saber o que o espera — piscou ao Kansas que temeu nauseado. — Fiquem em atenção. Faremos uma frota para não escapar no dia. Haverá uma celebração na igreja principal de Rye, onde o padre se apresentará na sua última missa e findaremos seu tormento. Guardem esta reunião aqui ou corram qualquer risco. É um aviso. Feito Cristo, encarem como um sacrifício para nos salvar.
Kansas assistiu horrorizado, mediante um semblante frio e seu pomo movia em agonia, ao ouvir tudo aquilo. Além de Franco, também foi traído pelo bispo.
— Kansas — seu pavor sobressaltou. — Sabemos que acompanhou a trajetória do antigo seminarista e creio concordar em convencê-lo a ter um fim digno.
Foi coagido.
— Sim, Arlo. Estou de acordo.
Precisou mentir, mas sua mentira custou Franco.
— Além disso, assim como o pobre sacerdote, caso surja uma criança dessa relação, sabemos também o que fazer. Um exemplo tem que ser dado por nós. Nada pode se tornar vergonha pública. Não se deve acobertar e, que tenha o fim qualquer pequenino dessa relação diabólica. Por respeito a nossa igreja, a instituição e ao pontífice.
— Assim seja, Vossa Eminência — todos ecoaram.
https://youtu.be/EWMUZtqCU3E
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