Capítulo 20: Pele e Ossos - Parte III

ALERTA DE GATILHOS: PROFANAÇÃO, CATOLICISMO, CENAS SEXUALMENTE EXPLÍCITAS, TRAUMAS PSICOLÓGICOS, CIÚMES E CONFLITOS AMOROSOS.

*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: MIDDLE OF THE NIGHT - Elley Duhé.

*CAPÍTULO SEM REVISÃO MINUCIOSA.

As mãos nervosas da bruxa se esforçaram e alcançaram a ereção do homem que se contorceu e comprimiu o abdômen. Se encontrava da mesma maneira que ela, mas queria vê-la ter orgasmos, molhar todo o divã, as mãos, lavar a imagem de filho de Deus.

Se purificar com prazer.

O ruivo era imundo por completo quando se tratava de sexo.

Também queria puni-la em razão dos anos em distância. Por morar em seus pensamentos, em seu coração, desde que entendeu ser seu amor.

Mas o caminho foi Franco quem escolheu. As próprias decisões e pensamentos eram hipócritas, tal qual sua família amaldiçoada. Determinava que evitaria buscá-la, contudo, corria atrás, feito um acorrentado. Respirava Gaya, observava, traçava passos, ansiava agradá-la por sentir tranquilidade nisso, e mesmo assim, sofria por não se permitir ser quem sempre almejou se tornar.

O amaldiçoado removeu os dedos, os contemplou pingar sobre a pele negra e regressou com a massagem superficial no ponto favorito de Gaya, que gemeu, tremeu, quase urrou de bater os dentes.

Sentiu perder as forças nas pernas, quando o rosto de Franco mais uma vez se esforçou em sugar os bicos dos seios com os lábios e língua. A manter contato visual enquanto lhe estimulava de dois modos.

— Franco — soluçou — me foda — acelerou a fricção, na intenção de vê-la gritar mais e a assistiu lacrimejar de tesão, ao ponto de escorrer lágrimas. — Me fode agora!

As coxas se deitaram de cada lado na intenção de expandir o íntimo e o permitiu ter mais espaço entre o barulho aquoso que os movimentos proporcionavam.

Ele se esticou, abandonou os seios e arrastou os lábios nos dela, a pincelar e evidenciar os dentes. Encontrava-se sedento para escutá-la choramingar de excitação.

— Preste atenção em mim — se tornou irredutível e sorriu ao alcançar sua atenção. No abismo de seu corpo, implorava chamá-la de "meu amor". — Tem certeza de que me quer agora? — focou sorridente nos lábios expandidos da jovem ao senti-la próxima do segundo ápice.

Por favor, me fode da maneira que só você conhece.

A Demdike contraiu os músculos e sentiu não suportar mais os dedos do Gregori roçarem habilidosos. Sentiu que precisava estremecer, que a carne principiava a ter choques.

— Só uma maneira é pouco.

— Pervertido! — gemeu alto no ápice e o sentiu enfiar de novo os dedos por dentro, a fim de notá-la contrair e sorrir desafiante. — Faça agora! Pare de me atormentar.

Jogava com seu corpo.

Shhh... me chame assim de novo e verá o quanto é mais inocente que eu — o tom de sua voz era decadente quando afastou os dedos, os chupou entre os lábios corados e agarrou firme as bochechas espremidas que se molharam com a saliva quente, na intenção de encará-la entre os olhos azuis. — Preste atenção — arrepiava a maneira que o azul de seus olhos cravava em toda a extensão do rosto tatuado. Daquela maneira que servia para pintar com precisão as minúcias da bruxa. — Te darei o que quer depois que me fez assistir seu orgasmo — falou tão próximo que a lambeu raspando a mandíbula e a mordiscou até machucar. O Gregori agia de feitio territorial.

Ainda nos espasmos, Gaya mal aproveitou do momento logo que o testemunhou se erguer de joelhos, abrir rápido o zíper da calça, baixá-la com agilidade e se expor pulsante, pronto para invadir entre as pernas.

A glande brilhava úmida num pré-líquido que escorria constante do topo até os testículos, as veias estouraram na base, Franco segurou firme, se masturbou diante dela, numa expressão excitada de executar almas e se esfregou para trocarem a lubrificação.

"Maldito seja o dia que me apaixonei por você", pensou ao assistir veias saltadas roçarem perto da entrada, numa provocação que passou a adorar. A forma que Franco instigava os movimentos, em um vai e volta torturante, uma ameaça, matava Gaya gradualmente.

— Na minha bolsa tem algo — apontou para trás dele. A pequena bolsa vermelha.

O Gregori interrompeu o roçar, apanhou o acessório confuso com os dedos pegajosos e destravou o zíper. Dentro havia um espelho em formato de coração, dois batons vermelhos de diferentes tons, uma carteira e uma cartela de algo que já tinha visto na época de seminarista. Alguns rapazes andavam com o item escondido nas carteiras quando saíam de férias.

O padre tomou e desatou um dos envelopes metálicos nos dedos e analisou em dúvidas.

— Já vi nos tempos de seminarista. Nunca usei.

— Eu disse que compraria — tomou dele. — Fique quieto para eu colocar.

— Você o quê? — em partes, agia feito um bobo.

Ela se esticou, as mãos o puxaram pelas nádegas e elas amaram a sensação de sentir o quão eram macias e fortes. Instigando um arrepio.

Franco, rendido de joelhos, prevalecia por cima com as coxas quase a tocarem nos seios da jovem que abriu a embalagem com os dedos e removeu com cuidado o preservativo, à medida que o ruivo prestava atenção.

— Da próxima vez que utilizar, enquanto estiver excitado, segure a ponta para retirar o ar e desenrole o restante do plástico até o fim. Jamais use se estiver furado. Nunca aprendeu durante o colegial?

— No internato não ensinavam essas coisas. Apenas consumia revistas eróticas, falávamos e aprendíamos safadezas — se desconcertou ao desabafar. — Tudo relacionado à educação sexual, soava vulgar, um perigo aos garotos católicos.

— Para um padre de vinte e seis anos que me entrega prazer, não ter aprendido a usar um preservativo, na minha consciência, é inédito.

Nervoso e atento, o rapaz levou as mãos enlaçadas para trás da nuca, rendido ao vê-la prender a ponta do látex e revesti-lo com o resto.

— Se trata de um objetivo te excitar se sei me estimular — o ouviu e sorriu de canto entre um repentino gemido do rapaz. — Aprendemos na força.

Ele apenas sentiu e testemunhou a mão de Gaya desenrolar macia pela base do pênis, ao segurar com cuidado e leveza até encostar nos pelos ruivos. À medida que o protegia, o rapaz ofegava sem rumo. Até desaprendeu a respirar por um momento.

Ah... assim me enlouquece — sugou o ar entre os dentes cerrados. — Se segurar com mais força, eu gozo — ameaçou mediante o lábio inferior preso.

Da barriga para baixo era notável as contrações com o toque. Às vezes "saltava" ao experienciar o leve atrito da palma.

Com calma... não esfregue tanto, é bastante perigoso — gemeu arrastado, vulnerável. — Suas mãos me torturam, Demdike.

— As suas também — replicou sorridente por incitá-lo.

A forma que o assistia vidrado, anestesiado, também cessava sua sanidade. Quanto mais se deliciava com a cena, se certificava inchar entre as coxas.

— Não me arrependo de ter esperado e rompido meu celibato, sabia? — focou nos dedos dela, que provocou o ligamento entre a glande e o "corpo". — O catolicismo soube bem a maneira de martirizar minhas vontades, ao ponto de sufocar e me fazer libertar tudo.

— Preciso lhe temer?

— Nem questione. Entende que precisa.

E então, por um momento, convicto em agir de tal maneira, antes que se afundasse, os dedos macios da moça prosseguiram a segurar os testículos numa massagem que ele conhecia. Evitava ao menos que ficassem doloridos conforme já estavam.

— Como também aprendeu? — expandiu os lábios num choque, ainda com as mãos na nuca. — Seu toque é tão gostoso...

— Conversas maduras durante a vida acadêmica, cochichos nos corredores, experiências compartilhadas... é a primeira vez que tento — acariciou as coxas fortes do homem que revirou os olhos em puro frenesi. — Antes de tudo, posso lhe questionar sobre algo mais pejorativo?

Ainda o massageava.

— Pergunte-me o que quiser — arfava pesado. — Merda... isso é delicioso.

Alternava o olhar entre os olhos da bruxa e o ato. Não sabia onde focar. Os parafusos de sua cabeça se soltaram há tempos e ali, bem no exato segundo se perderam.

— Qual o seu fetiche individual secreto? O que sonha me assistir fazer. Para descobrirmos juntos, já que zelamos por nossa virgindade até aqui — o sacerdote engoliu seco. — Não tenha medo, Franco. Pretendo realizá-los contigo.

Todos os pelos ruivos emergiram e Franco precisava contar.

— Bem... — titubeou, porém, obteve segurança. — Sempre fui curioso em saber como é utilizar seus lábios em mim. Já deixei explícito. Da mesma maneira que planejo realizar contigo. Seu gosto é viciante. Sei disso através dos meus dedos.

O aquecia até ser penetrada.

— Sonha me assistir ajoelhada enquanto te chupo? — olhou para o que estava protegido e visou entender como atiçar mediante a língua e chupões.

— Sim — afirmou inquieto. — Preciso foder sua boca. Em qualquer momento.

Aparentava ser um sonho testemunhar o padre falar de tal maneira.

— Acho que compartilhamos do mesmo pensamento, Padre Franco. Só preciso que me guie quando eu fizer. Parece ser gostoso.

Aposto que sim.

Apesar de ser um safado, Franco se sentiu surpreso com a declaração. Temia ser julgado.

Franco, contido na camisa, se afastou um pouco de cima, próximo da outra ponta do divã, ainda de joelhos, de frente a ela. Fixou sua total atenção na moça nua no ambiente que era meramente frio, chuvoso lá fora, sem latidos, uivos, piar de corujas ou bater as asas dos morcegos.

Contudo, as respirações de ambos inundavam o ateliê em devassidão. Era perceptível o quanto estava corado e os óculos caíam da ponte nasal, além do crucifixo já evidente por fora.

Ereto, apontado para Gaya, afastou mais as coxas da amada com as mãos, ergueu os quadris de modo a apoiar a lombar nos joelhos rendidos, a puxou e colou, num encaixe que tomou gemidos e chiados entre os dentes cerrados.

*senha de acesso para visualizar a ilustração sem censura: papoulavermelha (link do site na bio > acessar artes proibidas para apreciar cada detalhe da cena ilustrada)

— Merda... daria tudo para fazer isso em todo o canto da casa — o padre sorriu traiçoeiro. — E faremos.

No instante que se adentrou, se assistiu desaparecer por inteiro nela e os músculos do abdômen contraíram e queimaram.

Assim, Gaya prendeu um leve grito com as mãos no momento que Franco ondulou lentamente os quadris ao embater fundo. Experienciando o deslizar, o envolver em sua ereção, o calor e a umidade que recebia com facilidade.

Pelos ruivos e escuros se uniram. Uma, duas, três, quatro, cinco... As carnes ardiam em suor.

— Gaya, você pode se enfurecer comigo, me odiar algum dia, mas sempre lembrará disso — chocou a pele contra a dela, que gemia incontrolável. — Lembrará de mim.

O divã começou a ranger no chão, o padre de lábios entreabertos puxou a barra da camisa com uma das mãos e prendeu nos dentes, no intuito de assistir o vai e vem, além de caçar os olhos de Gaya que piscavam em cada colisão.

Contudo, ao querer que o tormento se rompesse em eternidade, o rapaz se jogou por cima, com todo o peso do seu corpo. Largou o tecido, se pôs face a face num sugar de lábios, envolveu os braços por baixo das costas da moça e a trouxe consigo para sentar sobre as coxas escorregadias.

Senta bem gostoso em mim — golpe baixo escutá-lo falar de tal maneira.

Gaya caiu sobre o ombro de Franco ao quicar com a ajuda do rapaz que a sustentava por baixo, por intermédio das nádegas. Ela pulava na intenção de facilitar a penetração à medida que ele sussurrava. Tal qual o Diabo no ouvido.

— Deus... me perdoe! — as sobrancelhas cederam e a feição derreteu gloriosa. — Precisava de você. Precisava te foder assim, Gaya — gemeu contra a orelha ao apanhar a nuca da jovem em sua mão que tremia e em sequência, a pressionou contra seus lábios quentes. Salivas e suor tomavam conta do pecado aceito por ambos. — Sentiu saudades? — abandonou a boca, hipnotizou a audição dela que regressou a sofrer e a bruxa concordava com a tal voz sofrida, excitante, que ainda prendia sua nuca com violência.

— Sempre pensei em você, Franco.

— Sempre? — as escleras reluziam a cada instante que alinhavam o olhar. — Sinto sua falta a cada segundo — insistia nela que quicava e tremia. — Estou te machucando?

— Só estou perdendo as forças e prestes a repetir depois — a mirou com carinho.

A amava com grandeza e profundidade. Nunca, em toda a existência, amaria outra pessoa que não fosse ela.

Então vamos gozar juntos — soprou entre os repentinos beijos e a bruxa concordou copiosa.

Sim... — perdia o ar com o sacerdote. — Me faça gozar contigo.

O Gregori a sentiu contrair tudo por dentro, o que lhe levou ao inferno e céu em fração de segundos. As peles úmidas facilitavam o ato escorregadio.

Assim, ele tremeu aquecido ao esporrar copiosas vezes por dentro da proteção, entre os lábios soltos, expandidos e a Demdike o agarrou com força, pelas costas, na camisa. Colando corpos. Farejou os cabelos lavados e beijou cada extensão do rosto corado, conforme nunca demonstrou todo seu amor e paixão pelo amaldiçoado.

Franco, ao estremecer com a amada, sofrer os arrepios, desacreditou que tudo aquilo era real. Gaya estar de volta, fazerem aquilo sem pudor, mas de uma forma, sentia com certeza que o amava, porém, carregava mágoas. Em especial, por mais cedo.

— Meu corpo é seu, Demdike — exausto, declarou entre o nariz a arrastar contra os lábios. — Te pertenço, Gaya. Sempre.

Fraca, o abraçava forte para sequer o largar. Não era permitido antes. Sequer uma união de dedos, um carinho nos cabelos. Franco agora confiava por inteiro na mulher de sua vida.

— Tudo é seu desde o momento que nos conhecemos. Meus toques, minha confiança, cada ato importante. Gaya Demdike, por favor, nunca me deixe. Assim como jamais a deixarei.

A madrugada, que registrava uma e quarenta e dois, abraçou os dois deitados no divã, juntos entre beijos e carícias.

O corpo desnudo de Gaya descansava sobre o de Franco, que admirava analisar as mãos contra a luz do ambiente. Contemplava o momento até o olhar analítico da bruxa passear na cicatriz.

Mas antes da calmaria, o ajudou a remover o preservativo preenchido, o ensinou a dar um nó para que numa próxima vez o padre tomasse o rumo. Deixaria alguns na casa do rapaz.

— Como a enxerga hoje? — ele se notou confuso. — A cicatriz — reforçou e os dedos entregaram um carinho no rapaz que se anestesiou com o toque.

Há tempos que não era tratado com amor. Sem gritos, pressões, choros e frieza.

— Sente dor?

— Existe ainda somente uma dor emocional quando a lembro comigo. Acho que nunca contei como ganhei.

Na memória dos dois, o motivo de Franco ter obtido a cicatriz era um mistério desde criança. Gaya apenas conhecia bem o seu medo ao toque, a rejeição pela aproximação e não o cerne do problema.

— Se me contou, não consigo recuperar na memória. Faz muito tempo. Então, acho que nunca desabafou sobre isso.

O Gregori recolheu a mão estendida no ar junto ao próprio peito que respirava sem rumo, pesado e os olhos sofridos se fecharam de modo a não misturar a ansiedade daquele tempo sombrio.

— Eu era uma criança feito qualquer outra antes de me conhecer — as lembranças da primeira vez que a viu na rua, o fez sorrir por segundos. Adorava reviver a inocência junto a ela. — Mas não sei bem se fiz algo contra minha mãe, se falei... eu só... — arfou pesado e experienciou a garganta comprimir as palavras — ... eu só registrei na memória que por algum momento ela quis me matar.

Em silêncio, Gaya prendia as lágrimas com dificuldade. A angústia que provocava isso ainda não se equiparava a dele. Suas mães lhe amavam tanto e ainda receberam Franco na família. Já o ruivo, que antes era pequeno, nunca alcançou a proeza e orgulho de falar: "mãe".

Para Gaya, Franco era amoroso. Mas a casca fria, impenetrável pesava mais.

— Hoje entendo que precisava de ajuda, que o convívio dela com minha avó não deve ter sido tão perfeito. E depois, foi como se minha mãe tivesse partido para outro lugar e largado sua marca em mim, para recordar o quanto fui odiado — tornou-se pensativo até retomar.

Gaya negava insistente com a cabeça. Queria que soubesse o quanto era amado por ela e as mães. Não admitia vê-lo se tratar assim.

— Confesso que, para eu estar dessa maneira que me reencontrou, tive que escutar de algumas pessoas sobre o passado ser um motivo de reavaliação. Não tive culpa pelo que sofri, apenas nasci. Mas nasci errado, na minha sincera opinião. Não pude ter um bom convívio com minha mãe, fui controlado por minha avó, perdi meu pai, te perdi... — exausto, um suspiro correu de sua boca, desesperado para sair do tormento que habitava naquele corpo. — Mas não sei se foi Deus ou algo que existe além Dele, que me fez erguer novas oportunidades para ser feliz, como estou agora nesse momento.

A recolheu nos braços, num abraço mais forte de esmagar ossos. Nunca o sentiu daquela maneira. O amaldiçoado se tratava de uma pessoa amável que se escondia no luto e no medo.

— Por isso que só tenho você. Não digo que irá me curar com amor e atenção, Gaya. Não acho justo entregar essa responsabilidade a alguém que não tem obrigação com isso. Mas, só tenho você para resistir. Mesmo distante, eu sabia que estava viva. Senti. Deixaria de existir se eu soubesse que celebraria sua missa de enterro.

— Não fale isso, Franco. Digo, sobre você, sabe... — detestava falar disso — ... cessar sua vida. Conversamos sobre isso em tempos atrás.

— Como não? — os olhos pareciam diferentes. Existia raiva, revolta e ele se remexeu, incomodado ao encará-la. — Do que adianta viver se você não respirar? E acho que minha obsessão, de que tanto se irrita, é sobre isso. Te manter sob os meus olhos, porque eu me sacrificaria para te salvar de tudo.

— Franco...

— É a verdade.

Gaya considerou que talvez o poupasse numa ponta de esperança que emergiu com a declaração.

— Então deixaria de ser padre? Viveríamos tranquilos, sem temer descobertas e medos — levantou o busto de modo a enxergá-lo com mais atenção e testemunhá-lo desmanchar a revolta ao acariciá-la no queixo. — Faria isso? Mencionou a ideia de fugirmos e só valerá a pena se abdicar do sacerdócio. Você verá, Franco. Todo o seu martírio, tudo o que reprime, sumirá e dará lugar à liberdade. Poderemos retomar seu tratamento para a fobia, nos apoiar como amigos e casal. Sem imposições, julgamentos, apenas nós dois.

Acariciou de volta o rosto do rapaz que selou as pálpebras num sofrimento antecipado. Mas a Demdike, os olhos reluziam em esperança à medida que Franco recebeu beijinhos na pele.

— E nós fugiremos, Gaya — expôs tristeza e seu hálito bateu quente. — Porém, preciso resolver mais algumas questões antes disso. Tudo precisa ser bem-planejado.

— Torço muito para sairmos daqui. E deixar de ser padre — por instantes se animou, mas o semblante desmanchou ao assistir o rapaz recuar o olhar até a janela. — Não mencionou e acho que nunca mencionará, não é?

Um silêncio gritante de minutos tomou conta do ateliê e ela se levantou. Os olhos azuis transitaram em cada parte do ambiente e compreendeu que ele não tinha tamanha coragem apenas para isso.

— Tem medo que te julguem por estar comigo em público? — as escleras agora brilhavam em lágrimas tristes ou talvez em chamas odiosas. — Por favor, seja sincero.

— Gaya, eu... — não sentia ser o momento para escolher.

Franco segurava um sentimento que não queria exprimir.

Durante o tempo diácono, a frieza tomou conta de seu encanto. Aos poucos, se tornava um rapaz de "bons costumes" para se exibir aos desconhecidos. Mas quem o conhecia, nu e cru, sabia que ele não se portava assim.

Desconhecia os motivos para agir de tal modo, mas Franco Gregori se afastava do garoto que mesmo com os empecilhos vivos, saía da porta à rua em busca de defender a bruxa que oscilava sua respiração e batimentos cardíacos.

Mas no instante, o sacerdote desconhecia qual rumo tomar. Mesmo depois das promessas.

Estar com ela, ou envergonhar uma trajetória longa com a igreja e seus fiéis que depositavam confiança no sacerdote? Fora sua promessa à avó.

— Então é mais fácil fingir do que assumir para Rye que me adora? — contorceu os lábios e engoliu o pior choro. Se sentiu arrependida de estar com ele e ter se entregado. — Por que não deseja ser sincero comigo?

Ainda por cima, permanecia nua diante do padre que se sentou no divã sem a peça inferior. Por instantes, Franco se perdeu nas palavras, sem língua, sem esforços.

— Não é sobre isso, Gaya — de tão decepcionada, mal o escutou. — Volte aqui, vamos conversar, meu amor... — as últimas palavras escapuliram inaudíveis para a moça.

Gaya pensava no risco da exposição, mas por um lado ansiava saber se o rapaz teria a coragem em algum momento. Se ele mostrava que a amava tanto e nunca disse, esperava que fugissem juntos sem ser um padre.

— Eu deveria ter analisado antes de vir. Aliás, nem deveria ter interrompido meus passos para te acompanhar. Fui tola — recolhia vestido, sapatos e a bolsa junto aos seios. — Não queria transformar seu desabafo em algo sobre nós, mas infelizmente não me contive. Você escutou e viu o que aquela mulher falou de mim quando saiu da igreja — apontou furiosa à janela e os olhos principiaram a inchar por culpa do choro. — Fingiu estar tudo certo. Entendo não poder aguentar pressões, mas se me diz e me faz prometer coisas sobre nós, deveria abandonar o sacerdócio para fugir comigo, Franco. Desse lugar que te prende em traumas! Me fez jurar! Não suporto mais estar feito alguém que diz querer e o seu querer é apenas o meu corpo.

— Gaya, não é verdade... — quis trazê-la de volta ao divã assim que tentou agarrar as coxas. — Não é momento de nos afastarmos. Precisamos um do outro.

— Ah, pare de bobagens, Franco! — o padre se chocou. — Olhe como trata nossa relação! Diz que não sou responsável por ti, mas se mostra dependente de mim! — a voz trêmula acompanhou o indicador que tocou o centro dos seios. — De fato não é o momento. Mas não preciso de você, Franco. Não preciso de ninguém. Sei lidar comigo sozinha e é tudo complicado a se tratar de nós. NÓS — enfatizou.

Começou a se vestir em completa agonia e quase trocou os lados certos da roupa. Não queria manter contato visual e o Gregori, encarava o chão, envergonhado. Porém, um pouco orgulhoso.

— Qualquer dia desses — ajeitava os laços e a barra do vestido —, não sei, viajarei para longe e eu esperava te carregar daqui. Agora não sinto ter essa necessidade.

— Ainda com isso? Mesmo com aquele homem por perto? — quis desconversar e com desdém.

— O que tem contra o Dante?! Não o mencione assim. Ele faz parte da minha vida — passou a gaguejar. — E-e não mude o sentido da conversa. Não torne tudo sobre você!

Travou envaidecida a passagem do ateliê, entre o corredor e quase atingiu a porta na intenção de destrancar, mas fora interrompida. Franco nem se importou de estar despido e disparou até a Demdike. Se colocou contra a porta e ela sequer esbanjou qualquer reação.

Apenas torcia em voltar para casa. Por lá, teria apoio de pessoas que não se envergonhavam de si. Porém, permitiu que as mãos e corpo do Gregori voltasse contra sua pele. As mãos espremeram as bochechas, tomaram testa com testa, olhares penetrantes e a bruxa manteve os braços soltos, sem o tocar.

— Não suporto vê-la perto dele e de nenhum outro — suspirava tomado pelo sentimento. — Porque sei que ele não teme nada por estar ao seu lado. Sinto que pode ser quem é perto de ti e nunca me exibirei assim. Parece que tomou um espaço que desisti para me tornar um padre. Ele irá contigo, bem compartilha o mesmo quarto, a mesma cama com você e o que me resta é me corroer com isso. Por isso também vacilo em decidir.

— Continuará a não suportar. Rosna contra mim com sua coleira que tanto menciona, seus superiores seguram as correntes. Mas você mesmo a pôs no pescoço quando quis se tornar um padre. Compreendo ser questão familiar, mas se estar nessa posição te machuca por não estar inteiramente satisfeito, é hora de ser quem de fato se esconde.

Delicada, removeu as mãos do próprio rosto, se afastou e abriu a porta da mesma maneira que o deixou no inverno de 2009.

— Não adianta consumir ciúmes por alguém que não assume. Muito menos permanecer com uma paixão que não haverá progresso, padre.

No fim, apenas ouviu a madeira se fechar.

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