Capítulo 20: Pele e Ossos - Parte I
ALERTA DE GATILHOS: RELIGIÃO, CATOLICISMO, INSINUAÇÃO SEXUAL MODERADA, PERTURBAÇÃO ESPIRITUAL, INCORPORAÇÃO ESPIRITUAL, ANSIEDADE, PÂNICO, CETICISMO, CONSUMO DE BEBIDA ALCOÓLICA, IMPOSIÇÃO E PRESSÃO PSICOLÓGICA.
*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: Sweet Oblivion – David Kushner e Feel It All – Chance Peña.
*CAPÍTULO SEM REVISÃO MINUCIOSA.
10 de Maio de 2018
— Franco me convidou para conhecer a casa reformada após a missa da noite — confidenciou enquanto terminava de separar a terra do vaso de modo a transferir e inserir uma muda de orquídea. — E estou analisando.
No mesmo instante, na floricultura após uma semana depois da visita do padre, Anya e Delphine se entreolharam preocupadas.
Delphine mudava a vitrine com novas plantas, flores vermelhas e amarelas para a estação e Anya acompanhava a filha no balcão.
Gaya principiou a afofar o solo em novos recipientes e a mãe removia folhas murchas que serviriam de adubo.
— Lembra do que falei? — a sobrancelha em suspeita alertou. — Percebi que segue cada passo seu. Não acho que deveria dar uma oportunidade ao Franco, visto que está num relacionamento com Dante — Anya mal olhou para a filha à medida que conversavam.
— Mãe, apenas quero agradá-lo. Há períodos que não nos vemos — o tom era quase desesperador. — Só quis avisar acerca disso. Não possuo mais idade para pedir permissão — deu de ombros.
— Delphine falou do agrado que fez na nossa cozinha. A propósito, fizeram. Foi um agrado e tanto, não é?
— Por que recordar disso? Não tem necessidade — revidou.
— E eu não disse nada! — Hawthorne exclamou distante, aflita por expor a filha. — Nem sei de onde tirou essa situação, Anya.
— Foi só naquela vez, mãe. Jamais tivemos nenhuma interação feito aquela — libertou o ar pesado, num sopro. — Uau! Esperaram me julgar tão tarde?
Na realidade, atualmente interagiam além do esperado. As Demdike percebiam.
— Perdoe-me, filha. Mas não acredito em você. A conheço desde pequena, Gaya — a mais jovem entortou os lábios. — E o Dante sabe? — Anya prosseguiu.
— Ele sabe de tudo — respondeu ríspida. — Hoje retornará. Se encontra com a família para rever os irmãos. Não preciso que Dante tome conta dos meus passos.
— Responsabilidade afetiva, querida — Gaya não poderia culpá-la pela interpretação, pois os dois sustentavam um falso namoro. — Bem, a vida é de vocês. Mas entende o que o Franco deseja. Gosto muito dele, mas eu o respeitaria como padre. Portanto, de todo jeito, está errada. Ambos estão. Em especial, ele. Constrangedor.
A jovem torceu os beiços, interrompeu o trabalho e se afastou da mãe.
— Filha, o que a gente quer explicar é que além de ser um sacerdote, Franco se mantém recluso. Pode sentir a sua ausência em razão dos tempos passados e a solidão. Talvez alimente segundas intenções por você que está numa relação séria — Delphine intercedeu.
— Apesar de conhecerem-no feito ninguém, posso lhes certificar que o conheço bem mais — regressou em rápidos passos e se posicionou estática entre as duas. — Se ele se apaixonou por mim, não tenho culpa. Afinal, crescemos juntos.
— Quem lhe garante, filha. Franco é indecifrável. Ele pode dizer algo e pensar em outra coisa. Aliás, agir diferente. Franco anda errado e sonda o que pensam de nós. Qualquer tentativa injusta contigo, sabe que a punição não cairá nele, não é? O peso sempre cede para o lado julgado o mais fraco.
— Mãe, não temo mais ninguém aqui — limpou as mãos no avental e removeu os laços por trás, agoniada. — Para mim já se passou o tempo de me manter reclusa. Lembram a maneira que Moniese me tratava e eu mal me defendia direito. Onde passei, me tornou resistente. Se alguém nos julgar, me julgar, não será o momento de permanecer silente ou fugir.
— Então, filha — se aproximou de Gaya. — Precisa notar se Franco fará de tudo por você nessas ocasiões. É um conselho nosso — Delphine era complacente. — Para não se machucar. Sentimos que algo irá piorar. O Franco de antes faria isso porque inexistia sérios compromissos com o catolicismo. Mas durante o conforto na igreja, será que renunciaria para defender uma única pessoa contra todos? Vale a pena sustentar uma amizade que um se abraça em Cristo e a outra espera esse abraço? Os dias mudaram, querida. É uma adulta consciente e saberá o que fazer. Mas se perceber, não hesite em deixá-lo.
Ao anoitecer, as mães de Gaya conservaram um intervalo da noite na intenção de jantar a sós, como era um pouco de costume.
Provavelmente voltariam de táxi bem tarde, quiçá bêbadas e não asseguraram o horário de retorno.
Após às oito horas, resultou no tempo que a jovem bruxa levou para se arrumar num vestido vinho de comprimento médio e leve.
As alças de lacinhos expuseram os ombros, a tatuagem no pescoço e a pele que brilhava num óleo de amêndoas. De casa, partiria até a capela em que Franco concluía mais uma missa.
Não se dispôs a esperá-lo em meio a uma celebração com idosos que odiavam sua família e tratavam as bruxas conforme pessoas inferiores.
E enquanto passava um batom vermelho nos lábios diante do espelho do banheiro, a audição captou o toque da campainha.
Gaya concedeu os últimos retoques, desceu a escada com cautela e abriu a porta. Se mostrou feliz com a pessoa em sua frente.
— Está tão linda, aonde irá?
Dane a abraçou forte, inalou uma parcela do perfume no pescoço da jovem, adentrou a residência e largou os pertences no chão, à medida que ela fechava a porta.
Existia uma pequena bolsa vermelha no sofá logo que o Dawson se sentou destinado a descansar da viagem que fizera até a casa dos pais.
— Promete que não ficará chateado? — lançou as mãos para trás, constrangida ao falar.
— Já entendi — revirou as escleras e sorriu ao acomodar os braços no apoio do estofado. — Se não for incômodo, sua função hoje é pegar qualquer informação por lá. Se algum membro da igreja se comunica com seu padre, alguma carta escondida na casa... essas coisas.
— O quê? Não compreendi.
— Evidências.
— Qual o motivo para coletar essas tais evidências?
— Sondam seu sacerdote há tempos e talvez existam pistas por lá. E não se exponha demais. Evite pôr sua família em risco. Já conversamos sobre isso.
Removeu a jaqueta e cheirou as roupas, axilas. Considerou tomar um banho. Não importava onde a bruxa encontraria o padre. Focou em resolver toda a situação.
— Tentarei. E você veio de onde? Achei que voltaria cedo da casa dos seus pais.
— Tive que passar no seminário antes de voltar para cá — se mostrou apreensivo ao apoiar os cotovelos nos joelhos. — Falei com o Kansas, meu cliente. O que tanto queria descobrir — recordou da primeira vez que ambos se viram de novo. — Ele admitiu que tudo entrou em crise dentro da igreja. É provável que algo acontecerá, todos verão e estou bastante preocupado, Gaya.
— O que pensa? — se aproximou do rapaz. — Me assusta a forma que explica as coisas — sorriu sem jeito.
— Kansas soube de você. Ele conhece o Franco, igualmente é um padre — nem se surpreendeu.
— Havia um homem careca no clube de jazz enquanto eu trabalhava. No dia do assassinato de Ivone e quando nos encontramos pela primeira vez. Não aparentou fazer parte daqueles padres, mas me causou desconfianças. Depois o notei numa mesa.
— Se for o mesmo que mencionamos... eu estava sentado com ele no dia que te vi de novo — a jovem acatou. — A questão é que descobriram quem és e sua dupla identidade.
A testemunhou mudar a feição receptiva em uma preenchida de medos.
— Como souberam?! — agravou a voz.
— O Kansas me repassou a informação no dia que viemos. Não lhe contei por que se situava num processo delicado com sua avó — o tom era baixo, retraído. — Mas hoje, me revelou que, um dos sacerdotes visitou sua casa alugada em Londres, fingiu interesse no aluguel e por infelicidade, a proprietária nos delatou. Não adiantou mentirmos sobre viajar até outro canto. Esse mínimo detalhe nos entregou. Um descuido.
A ansiedade tomou conta da jovem que contornou a sala em pura apreensão. Faria um buraco no piso de tão copiosa.
— Merda! — chutou uma das cadeiras ao andar enraivecida, guiou as mãos até a testa e desarrumou alguns ínfimos cachos. — E agora? O que faremos?!
Os olhos sanguíneos evidenciaram desespero. Se pudesse, quebraria todos os pratos e xícaras de porcelana por tamanha indignação.
— A ideia de escaparmos daqui é primordial — se levantou de modo a acolhê-la, mas foi recusado.
No instante lembrou de ter prometido que ficaria por Franco. Que fugiriam. Entretanto, escaparia do Gregori, da igreja, da cidade para sempre. Teria que ser egoísta no intuito de salvar as mães.
— Convenci minha família a escapar e creio que amanhã já não estarão mais aqui, por Rye. Também irão repassar qualquer pista acerca da "cabeça da serpente" — a moça negava insistente, desejava sumir. Não acreditava em tudo o que ocorria. — Não temos como entrar agora em conflito com esses malditos, Gaya. O que nos resta é coletar o que servir para expor o que acontece.
— E o Franco? Ele... — embargou a voz carregada em razão do desalento. — Ele tem alguma possibilidade de ser poupado? — Dane contestou silente. — Se caso fugirmos, antes falaremos. Explicar o que ocorre, para se defender. Ao menos precisamos dar a opção dele se proteger, Dane. Mesmo que o deteste! Acha que Franco merece morrer?! Só porque as suas famílias entraram em discórdia? Hein?
Disparou até o Dawson, em busca de discutir face a face, mas o corvo não baixou a guarda. Embora Gaya se mostrasse valente no propósito de encostá-lo contra a parede.
— Entende que o amo, Dane! — se jogou ao encontro do peito do rapaz que a abraçou forte ao passo que ela manchava os olhos com maquiagem, mas o batom estava intacto. — Você sabe — se sufocou num choro sofrido. — Você sabe... — soluçou e as escleras se inundaram salgados.
— Eu sei, Gaya. Sinto muito — a recolheu de modo a acalmar seus sofrimentos. — Posso não gostar dele, mas gradualmente me esforço para que seus futuros assassinos sejam expostos. Seu padre é o "ganso de ouro" deles. Entre escolhê-lo e suas mães, precisa recordar de onde tudo começou. Guardar o que possuem ou se enterrar juntos.
Gaya ansiava protegê-lo.
— Ele é a exceção — o rosto doía do tanto que a tristeza comprimia os músculos. — Ele é a exceção...
Já haviam criado um laço amoroso, íntimo, de almas eternas. Não queria se tornar Dane Dawson que guardava a foto da falecida amada na carteira. Tampouco pensar como seriam felizes depois do caos, os filhos, a casa em que morariam.
Decerto, fingir que nada aconteceu, tratá-lo com indiferença de modo a montar uma barreira entre os dois até o dia que fugisse de Rye, fosse uma escolha louvável.
— Rye não é similar a antes, Gaya. Uma cidade tão bela cria ruínas com o tempo por culpa dos residentes — conversava enquanto escutava a jovem sugar os prantos. — Estamos num lar estranho e habitado por tiranos. Franco faz parte deles.
Era fim de missa na igreja de Santo Antônio, onde o confessionário recordava toda a impureza e desejo dos dois.
Mas agora, a bruxa que antes se empolgou em chegar para vê-lo, parecia ter perdido o brilho diante da paróquia viva devido à presença do líder que, mesmo jurado a morte, resistia a cada instante.
Gaya nem ao menos passou da escada, diferente do dia que buscou se confessar.
Prevaleceu estática, abatida, sem coragem, à medida que alguns idosos passavam ao seu lado mediante os olhares de julgamento.
A abalava de uma maneira sem explicação. Mas suportou até o esperar sair
Até que um deles esbarrou-a sem motivos. Atropelou a jovem que olhou torto a tal atitude covarde.
Logo que se virou de modo a alcançar uma desculpa, o corpo fora perfurado numa dor inexplicável.
A Demdike sentiu o coração se machucar por dentro quando dos lábios enrugados de uma velha saíram palavras de acusação e dor.
— Bruxa assassina — enunciou num tom que, quem se encontrava por perto, ouviu com clareza.
A incluir Franco Gregori, que surgiu sem Gaya tê-lo percebido.
O rapaz avistou a bruxa antes da escada, temeu os olhares dos fiéis que ainda restavam a sair da igreja e não fez nada. Se mostrou retraído diante da situação.
— O que disse? — chegou perto da mulher que riu perversa, estridente e da boca fina um forte odor de ovo podre atingiu as narinas da bruxa que encarou enojada.
— Um dia te avisei que nunca se aproximaria do meu neto. O sofrimento te espera, Demdike — tratava-se de outra voz e ela se arrepiou por inteiro ao passo que um rosnado findou o aviso.
Nem ao menos piscou ao enxergar a idosa partir como se não tivesse dito um tremendo absurdo.
Aos que restaram e assistiram, além de cochicharem mediante um olhar acusador, se passou na cabeça que o referido neto se tratava da senhora. Um dos vendedores numa perfumaria em Rye.
Nunca imaginariam que a idosa fora incorporada por aquela que jamais descansou e que o neto concernia no padre que momentos antes celebrava a missa.
Logo que a bruxa voltou a si, acostumada com as aparições de Moniese, seu olhar regressou a Franco, que digeriu com dificuldade o que viu.
Gaya, a esperar que o rapaz se aproximasse com preocupação, o notou receoso, a mirar todos os cantos da rua e enfim se achegou na moça que sentiu um peso indecifrável no peito.
— Você viu? O que ela falou a mim, Franco? — tremia de medo, de bater os dentes. — Quero sair daqui, precisamos sair.
— Eu vi, Gaya. Desde o início — respondeu num tom sério, sem qualquer reação. Insensível. — Não deveria se importar.
— Por que não fez nada? Me ajudar ou algo assim? — a expressão se petrificou. — Me senti humilhada, como sempre fazem.
— Acho que não foi nada tão pavoroso — sequer contou com o apoio do sacerdote naquela situação. Anya e Dane estavam certos. — Entende a maneira que as católicas daqui agem. Não suportam sua família, mas aos poucos tudo ficará bem. Acredite em mim.
Lembrava a forma que a avó respondia, a dar desculpas esfarrapadas.
"Não é o mesmo Franco que conheci", Gaya esmagou seus prantos por dentro. Em pele e ossos. E os olhos brilhavam com as lágrimas que proibia escorrer.
Contudo, o Gregori ocultava um detalhe relevante e preferia empurrar distante, no propósito de evitar tornar as coisas mais ainda caóticas.
Também o sentia saber de algo, talvez acerca da mesma coisa que ela temia. Mas Franco foi omisso. Tal atitude pesava na balança.
— Como não foi nada, Franco?! — o assistiu subir de novo os degraus, na intenção de selar a igreja com cadeados. — Desde quando age assim? E comigo?
— Por favor, não precisamos discutir — o homem olhou temeroso por cima do ombro, mais uma vez ao redor e não havia ninguém na rua da capela. — Depois conversaremos com mais calma.
— Não posso crer no que diz. Com mais calma?! Lançou um ponto relevante que condiz a mim para baixo do tapete. Acho que discutir sobre isso é primordial. E quer saber? — enrugou o nariz e os lábios. — Fique com seus fiéis e dane-se qualquer conversa.
O sacerdote fechou a porta principal da igreja sem dar atenções, e ao pôr as chaves no bolso, a avistou partir e andar furiosa abaixo dos postes, já distante, de volta para casa. Preenchida pela decepção.
Sem se importar com o padre que desceu cada degrau ligeiro e adentrou o fusca de modo a apanhá-la, logo que a moça virou a rua, o rapaz abaixou o vidro da janela do motorista enquanto a ela dava passos irritados sem o encarar.
— Gaya, entre no carro, por favor. Me perdoe por agir e falar daquela forma.
O olhar era atento no caminho de seixos e nela que andava de braços enlaçados, mediante os olhos a tocar o chão.
— Vai a merda, Franco! Me deixe em paz. Sabe bem o que fez.
Até que ele estacionou de frente a uma casa qualquer da vizinhança, com a chave ainda na ignição, saiu apressado no intuito de alcançá-la e a interrompeu antes de atingir a porta das Demdike.
Era próximo das dez horas e muitas casas se mantinham de luzes apagadas. Raro alguém se conservar acordado no período noturno.
— Me perdoe — agarrou a jovem relutante contra o corpo.
— Me largue, Franco — no instante, só o queria distante. — Viu o que fez?!
— Não. Não vou te largar. E vi o que fiz, admito que fui covarde, não reagi bem ao que falaram de você. Por favor, me escute. Olhe para mim — segurou o queixo da jovem impulsiva.
— É o princípio para eu entender que numa próxima vez me deixará sozinha. Me largue agora.
— Não vou te largar. Nunca — por segundos caiu aos encantos do ruivo.
Entretanto, se desvencilhou dos braços do rapaz que a apanhou outra vez, a prendeu nas mãos e imobilizou com cuidado para trás, acima das nádegas.
— O que quer, afinal? Hein? — pretendia chorar por ele. Embora não quisesse.
— Podemos conversar? — acarinhou a pele retinta e precisava consertar as atitudes. Por segundos se atentou nas janelas vizinhas até soltar os pulsos. — Ou passar o restante da noite juntos. Buscar me reparar contigo de qualquer maneira. Por favor — quase se ajoelhou diante dela. — Te suplico.
Estava tão irritada que nem o respondeu. Apenas seguiu birrenta e sozinha até a casa do padre que desligou o veículo, apanhou a chave e caminhou até a amada que se dispôs diante da porta dos Gregori.
Resolveu acatar daquela vez por culpa da consciência pesada ao lembrar que o padre vivia os últimos tempos. Mas também não deveria ceder numa próxima omissão.
O rapaz girou a chave e maçaneta, de modo a permiti-la entrar primeiro. Se mostrou ansioso no intuito de apresentar a casa reformada.
— Seja bem-vinda de volta — o ar quente bateu contra o rosto da jovem que sentiu a atmosfera diferente. Antigamente tudo era frio.
Da última vez era mórbido, sem cores, sem vida. Mas no momento, existiam fragmentos de Franco nas paredes pintadas com flores laranjas, folhas verdes, pinceladas discretas. Nada muito tão colorido, pois ainda apreciava tons sombrios.
Os móveis foram reformados, o sofá trocado por um de segunda mão, contudo mais bonito. A cozinha estava organizada e havia o jardim que antes morto, se tornou florido.
Franco concedeu vitalidade na casa carregada por lembranças e acontecimentos ruins, pesados ao homem que um dia foi uma criança preenchida por receios.
Além do odor de mofo que findou, perfume de tintas a óleo, grama regada e essência de canela adentraram e permaneceram.
Para uma jovem anteriormente decepcionada, vê-lo apresentar a residência com carinho, fez seu coração se sensibilizar.
Os passos calmos traçaram o piso ao apreciar os detalhes da casa, ainda segurava a bolsa vermelha de mão, ele fechou a porta e trancou. Por um momento, ela olhou sobre o ombro e mal se importou.
— Quando reformou tudo? — tocou e arrastou a mão no sofá macio e aquecido ao conversar ríspida.
— Assim que fui ordenado e voltei, consegui algumas coisas por doação e pus as antigas para doar na igreja — a seguiu com os olhos e corpo enquanto a moça passeava e analisava cada detalhe. — Também pintei as paredes, repassei coisas desnecessárias à reciclagem e arrumei o jardim. Precisa ver — tímido, pendeu a cabeça feito um cão arrependido e pôs as mãos nos bolsos.
— Foi nessa sala que quase nos beijamos — se inclinou no apoio do sofá enquanto o padre levou a mão oculta até o queixo e coçou, ruborizado.
— Eu era um bobo para você. Aliás, permaneço.
— Nunca foi bobo. Gostava de vê-lo tímido perto de mim. Há uma diferença nisso — escapou um sorriso entre a seriedade dos olhos. — Hoje se tornou essa pessoa indecifrável. Que mal reconheço. E... — pensou em rebater com o ocorrido da noite — ... esqueça.
Franco sorriu de canto e nasalado.
— Não aprova quem sou hoje? — o enxergou remover devagar a tira branca da gola e desabotoar o tecido. — Eu que me esforço em te agradar?
O Gregori parecia provocá-la ao notar os tediosos olhos da jovem se revirar.
— Em partes estou feliz por sua evolução — se distanciou do sofá, dele e tateou a textura da parede da lareira. — Se é isso o que deseja saber.
Quando a camisa escura foi aberta até a metade, a evidenciar o peitoral e crucifixo, o padre resolveu prosseguir com a noite. Não queria perder tanto tempo.
— Sumirei por minutos apenas para tomar uma ducha — subiu o primeiro degrau e apoiou a mão em luvas no corrimão. — Tem problema em ficar um pouco sozinha?
No fundo, almejava tê-la como companhia no banho.
— Não, não... — atualmente, Franco se mostrava bem à vontade. — Demore o quanto achar necessário — entregou um sorriso desgastado, sem evidenciar os dentes.
— Bem... será rápido — apoiou os cotovelos no corrimão e distante, admirou a bruxa. Se derramava aos pés dela. — Assim que eu sair, jantaremos. Aproveite para conhecer o jardim.
Não era costume vê-lo assim, lhe tratar feito uma convidada e não uma amiga de anos. Então o olhar sobressaltou com as sobrancelhas e ele reparou, esquisito.
— Notei esquecer que meu pai me ensinou a usar o fogão cedo demais — balançou a cabeça, decepcionado.
— Não é isso, é que... — achegou perto da escada no intuito de vê-lo de cima. O padre a encarava com desmedido desejo. A respiração era pesada por suportar tanta paixão. Também encará-la abaixo de seu queixo, alimentava impurezas. — Estou feliz que vive da forma que deseja. Depois de tudo o que passou.
— É... continuo a tentar, porém, incompleto — as pupilas aumentaram na direção dela, que engoliu seco. A maneira que a analisava, sugava todas as forças. — Porque ainda não me casei contigo.
— Franco... — escapou num sussurro.
Tomou todo o fôlego dela num quase ultimato.
Gaya o enxergou sumir à medida que desvencilhou a camisa do corpo, a deixou imóvel e sozinha. Na ocasião, a madeira não rangia.
"Tão hipócrita e ao mesmo instante, fascinante", suspirou sedenta pelo Gregori ao recordar da devoção em seu corpo.
De fato, Franco havia feito uma reforma na casa e Gaya não esperou tanto para sair curiosa em apreciar as mudanças, além de encontrar evidências que pudessem servir e entregar ao Dawson.
Primeiro, após deixar a pequena bolsa no sofá, Gaya chegou até o jardim que o Gregori dissera ter reerguido e zelado. Havia poucas flores, a mesma costela-de-adão comprada na floricultura descansada num vaso, mas a grama era verde quando a luz da lua refletiu entre uma breve garoa que principiou a cair. A cozinha aparentou ter sido limpa no mesmo dia, bem mais cedo, e as mobílias higienizadas.
Ovos em cestas acima da geladeira estavam conservados, o fogão polido sem impurezas, as louças enxutas e a mesa bem forrada.
Ao se retirar da cozinha, os pés guiaram até uma porta escondida no final do corredor que ladeava a escada. De lá um perfume de tinta e telas cruas escapou por baixo da madeira. A moça visou abrir sem emitir ruídos, mas deparou-se trancada assim que girou a maçaneta.
Distante, no andar de cima, a audição captou a queda da água do chuveiro ligado e seguiu ao escritório aberto que pertencia ao pai de Franco, o Sr. Callahan.
O recinto agora se situava na posse do padre e pintor.
Franco transformou num recanto de livros e lindas memórias que resistiam. Não havia sequer algo que pertencesse diretamente à Moniese.
Logo que adentrou, existiam quadros a expor folhas secas de variadas espécies protegidas por uma placa de vidro, tal qual ele fazia ainda criança. Organizou melhor os registros de infância.
Também, na mesa arrumada, existiam fotos emolduradas do pai com o padre em algumas fases da vida. Uma exibiu a fotografia de Franco aos quatro anos, antes da cicatriz, a tomar banho de bacia no jardim da mesma casa. O pai se encontrava ao lado, acompanhando o sorridente menino vestido com um short laranja. Provavelmente a mãe do rapaz capturou a imagem antes de tudo suceder.
Outra registrava o pai deitado na cama do filho que se apoiava em seu peito, enquanto o Sr. Callahan segurava um livro aberto. Moniese não gostava que o filho lesse qualquer história ao neto.
Repudiava. Exceto a bíblia.
E uma no meio de três demais molduras, Gaya apanhou com imenso carinho e aperto na alma.
Mostrava o bebê ruivo e pequeno com a minúscula mão agarrada no mindinho de Callahan. Um mar de sentimentos tristes tomou a jovem que suspirou e não suportou o peso da imagem.
Períodos antes, Franco temia o toque. E quando era um recém-nascido, mostrava segurança num mero espremer de dedinhos.
— O que fizeram contigo, meu amor... — acariciou a foto do bebê a dormir nos braços do jovem pai que lembrava o Franco na atual idade. — O Sr. Callahan foi importante para todos e te amava muito.
Abandonou a imagem na mesma posição, na intenção dele não perceber mudanças. Conferiu gavetas, mas umas estavam vazias e algumas trancadas. Daquela vez não conseguiria nada ao Dane.
Passeou pelo ambiente ao observar os livros na estante, talvez destinada a achar qualquer chave escondida, mas os olhos fixos no parapeito da janela encontraram algo de grande interesse.
Num vaso marrom bem preparado, com solo úmido e bem afofado, resistia uma papoula-vermelha com pétalas vívidas. O amaldiçoado preservava uma memória de infância compartilhada entre ambos. Por um momento Gaya esqueceu da decepção que vivenciou antes de entrar na casa.
De uma coisa era certo: Franco Gregori mostrava que a amava através das pequenas coisas.
A Demdike nem sabia da existência da flor na casa. Ele preservava a memória dos dois em coisas compartilhadas entre ambos.
— Faz tempo que não ouço as flores — tateou as pétalas, conforme na primeira vez aos sete anos. — Mas sinto que Franco cuida muito bem de ti — quis manter as lágrimas no canto dos olhos. — Sinto, sim. Cuida de você como se cuidasse do nosso amor.
Era real.
Tudo o que recordava a Demdike, o padre fazia questão de preservar. Para um homem que vivia pela morte e sabia o quão próximo partiria, cada segundo na vida era dedicado a manter Gaya Demdike em alguma lembrança.
Assim que regressou aos livros na estante cheia, os olhos da bruxa alcançaram uma desorganização no centro de algumas obras. Um livro aparentou estar mal encaixado ou ele havia lido recentemente para ajustar num aperto dos grossos. A lombada deparava-se ao contrário, mas um detalhe fora um pouco reconhecido.
Logo que os dedos apanharam o exemplar nas mãos curiosas, um sorriso meigo escapuliu dos lábios presos e sérios.
— Mansão Maravel... — principiou a folhear as folhas preservadas, levou o livro até o nariz de modo a cheirar o perfume das páginas e cada obra na estante se conservava nova. Franco cumpria da mesma maneira que no seminário. Zelava pelos livros. — O cheiro é o mesmo... — inspirou mais um pouco, de costas para a porta. — Parece livro novo.
Falava sozinha ao notar o amor que o Gregori sustentava pela leitura.
— Você o achou.
Ela se agarrou no exemplar por culpa do repentino susto. Nem o ouviu chegar, pois estava descalço e sem as luvas que provocavam o barulho de couro.
De cabelos molhados a cair sobre os olhos e uma camisa branca social solta embaixo, além de uma calça social preta desgastada, Franco escorou na entrada do escritório e a deixou apreciar o livro. Havia chegado no instante, após a descoberta da papoula.
Os pés se aproximaram da jovem e se encostou no intuito de falar sobre o livro guardado na estante. A Demdike o olhou tal qual um desconhecido à medida que o rapaz voltou os olhos à capa. Se expôs mais apaixonada que antes.
— Você comprou?
— Digamos que peguei escondido do seminário.
Sorriu e atraiu o olhar dela em seus dentes. A sensação transitava entre amor e paixão pelo homem que apanhou e girou o livro nas mãos. Ele reparou cada detalhe da capa completa até abrir numa das páginas marcadas por uma folha seca.
— Reli esse trecho das montanhas cinzentas na intenção de auxiliar na liturgia eucarística e não olhe assim para mim, Gaya. Parece que me implora algo — sim. O queria de várias formas, mas se irritou com o ocorrido mais cedo.
Reparou que o encarava fixa em cada detalhe da face e nas madeixas ruivas. Apesar da raiva sentida previamente, o queria nos lábios, na pele...
— Ficamos distantes por tanto tempo que nos tornamos estranhos a nos conhecer mais uma vez — Franco pôs a mão sobre a folha ao escutá-la reclamar.
— É... não digeriu bem quem me tornei — a trouxe para perto com uma das mãos livres, beijou a testa e guardou o livro no mesmo local. Os olhos azuis voltaram à flor e sentiu que a amada viu. — Nem a papoula.
— Não consegui de forma alguma. Pensei que permaneceria vulnerável, temeroso, mas os impulsos tomaram conta de ti — levou as mãos para trás logo que se afastou, ele observou com atenção e completo encanto o seu vestido.
— Sempre fui inclinado ao emocional desde que nos conhecemos. Acho que esqueceu. A diferença é que escolhi o controle. Mas não foi o suficiente para mim.
— Recordo de seus tempos no internato — se desconcertou ao recuperar que Franco nunca temeu nada e ninguém para estar próximo dela. — Por que se lembra até hoje dessas coisas? Qualquer um esqueceria após anos afastados. A incluir o livro — se pôs de costas ao rapaz e ainda caminhou na sala.
— Jura que pensa assim? — sorriu confuso. — Jamais esqueceria de tudo o que vivemos e sentimos. Sabe o motivo disso, Gaya. São nítidas as razões que me fazem preservar tudo o que me lembra você — a face da bruxa sobre o ombro, ainda de costas, voltou ao rapaz que faltava beijar e lamber seus pés. — Sempre foi você.
Gaya sabia. Entendia com excelência. Só usavam de ações e desabafos enrolados até expor o que temiam dizer.
Se amavam.
Mal se encostou nela quando resolveu sair do escritório. Se mostrou entristecido pela bruxa se sentir tão insignificante na vida do Gregori.
Ele retornou a se escorar na entrada, mirou o chão e tudo se tornou silêncio até retomar a normalidade.
— É... está com fome? — puxou de novo um assunto e a moça concordou. — Bem... — coçou a nuca. — Nosso jantar será "tattie scone", um dos pratos escoceses que eu comia nos tempos de diácono transitório em Edimburgo. Estarei na cozinha se não quiser me acompanhar — deu as costas, o tom era abatido, mas Gaya resolveu quebrar a frieza.
— E... — titubeou, mas não queria findar o resto de noite que principiava a ser especial. — E o que significa?
Chamou a atenção do rapaz que a guiou até a cozinha.
— Basicamente bolinho de batata — se agachou destinado a abrir o forno, uma bandeja já foi posta no interior, fechou e ligou no propósito de esquentar. — Porém, preparei para você comer também. Fiz temperado com azeite, purê de batata, sal e orégano. Comumente se come de manhã, mas como é um prato quente e estou disposto a abrir um vinho para degustarmos, já organizei tudo.
Se ergueu firme, seguiu até um pequeno armário que servia de adega e apanhou a garrafa deitada de modo a mantê-la ideal e numa temperatura certa com um abridor de garrafas de metal.
Havia aprendido no seminário com os colegas.
Enquanto isso, ela seguiu até a entrada do jardim na intenção de admirar a chuva leve que caía sobre a grama.
— Como? — "já preparei tudo" despertou sua atenção. — Como preparou tudo?
— Eu sabia que viria — o maldito sorriso sacana foi lançado e a despertou da carne ao espírito. Um desejo que bombeou seu sangue e sentidos.
Franco posicionou a garrafa sobre a mesa, removeu o lacre, a rolha, se distanciou e apanhou entre os dedos o corpo de duas taças redondas e achatadas do armário superior próximo da geladeira
A bruxa regressou até ele que entregou a taça numa das mãos, preencheu com três dedos da bebida e fez o mesmo na sua.
— Por nós e os que amamos — ergueram as taças. — Um brinde.
— Um brinde.
Ambos bateram os vidros num tilintar. Vinho não era comum nos lábios da dama
— Calma... um gole de cada — rouco, a estremeceu. — Não devemos passar dos limites numa degustação — antes de beber, a guiou com uma das mãos e o toque delicado a arrepiou num controle comedido. Desconhecia como degustar e Franco estava lá para lhe ensinar. — Damiano Vastillo, 1928, suave. É um dos melhores que já provei. Molhe os lábios com cautela.
Os lábios se mancharam em vinho e entre o gole, os olhos encararam Franco anestesiado com a cena.
— Isso... — ao passo que ele se deliciava com a situação e o tom arrastado cravou no ambiente, conforme um gemido, a bruxa custou se notar bem úmida. — Com calma.
Era doce, quente e descia escorregadio na garganta feito uvas. Assim que a boca se afastou da taça, ele bebeu o que lhe pertencia. Aproveitou a degustação dela no objetivo de apreciar com atenção.
Quiçá idealizar perversões com a experiência.
— Padres podem provar? É uma dúvida sincera.
— O exagero é um pecado — explicou após umedecer os lábios ardentes em desejo. — O vinho é uma bebida santa junto ao pão. O corpo e sangue de Cristo. Também representa fartura, celebração. Além da fertilidade.
Se interessava em conhecer um pouco da visão católica por Franco. Soava mais sincera e sem julgamentos. E ouvi-lo explicar, era esclarecedor.
No exato instante, o forno disparou e os bolinhos ficaram prontos.
Com a taça, Gaya se acomodou na cadeira que o encarava do outro lado da mesa, de costas ao jardim. E preparado com luvas fofas, Franco apanhou a comida com cuidado, pôs sobre o fogão já desligado, removeu o que compunham as mãos, fechou a abertura e principiou a ajeitar a mesa com ela a observar.
Adicionou velas brancas de candelabro sobre recipientes de porcelana, acendeu três no centro da mesa e Gaya se admirou com tanto carinho que o padre carregava para fazer da noite inesquecível, conforme todos os dias que se encontraram desde que a bruxa retornou.
O olhar atento seguiu cada passo e ação de Franco.
O clérigo preparava os bolinhos que possuíam o tamanho da palma de uma mão numa outra bandeja metálica mais bonita, apanhou algumas coisas na geladeira enquanto entregava meros goles do vinho e parecia que o ver cuidadoso com a cozinha e comida, lhe incitava sensações deliciosas. Era satisfatório saber que o sacerdote ajeitava um jantar único aos dois.
Ao analisar, os braços de Franco não eram mais finos, feito antes.
Os antebraços detinham algumas veias que saltavam até as mãos compridas e desenhadas. A nuca com cabelos ruivos e ainda úmidos brilhavam a ela que já o imaginava ceder em suas mãos.
A iluminação proporcionada pelas velas possibilitava ver com precisão a silhueta do corpo por baixo da camisa branca e fina. Não era extremamente forte e transitava no meio-termo. Atlético.
E o formato das nádegas na calça, se expuseram acentuadas, que a instigaram a tocar, apertar e testemunhá-las ao comprimi-las logo que se afundasse nela.
Não sabia se os pensamentos impuros emergiram por culpa de um mínimo gole do vinho ou Gaya de fato aceitou que o queria mais uma vez.
De repente, entre a anestesia por analisá-lo sobre a roupa, mal percebeu que os pratos e talheres foram postos, bolinhos acompanhavam as velas com a garrafa de vinho, uma salada e um recipiente com algo que lembrava um molho.
— Um prato para a senhorita — Gaya sentiu a barriga tremer de fome por culpa do cheiro. — Bolinho vegano da Escócia com uma humilde salada de tomate pequeno, alface, azeite e um pouco de molho de ervas como acompanhamento — a serviu enquanto estava de pé, antes de se servir e sentar. — Espero satisfazer seu estômago.
Franco sabia agradá-la mediante o olfato e a moça mal esperou para dar a primeira garfada antes dele se acomodar no outro extremo.
Logo que se dispôs na cadeira, a assistiu faminta enquanto segurava a taça no alto com o cotovelo apoiado na mesa.
Sorria por ela receber o prato tão bem.
— Hum... — um mero gemido satisfeito provocou sua calça abaixo da mesa. — Brilhante — elogiou após mastigar e engolir a comida. Também selou as pálpebras e se deliciou com a sensação do sabor. — A propósito, mãos divinas.
O padre sorriu desconcertado, era objetivo próprio agradá-la e se juntou na comida. Porém, o elogio de Gaya também se referia ao ardente ocorrido na floricultura.
— Em Edimburgo, na ausência da cozinheira, às vezes ficávamos responsáveis pela comida. Me encarregava de formar a massa. Leva um tempero para absorver o gosto, mas pode mudar um pouco a forma que deseja o bolinho, entende? Por lá, na casa paroquial se fazia na manteiga e farinha sem fermento, para afinar. Porém, eu gostava de montar em tamanhos consistentes para ser bem alimentado — cortou um pedaço do bolinho, afundou uma parte no molho posto no prato e levou aos lábios, a mastigar com maciez e leveza.
— Não sabia que gostava tanto de cozinhar.
— Nesse momento, só para você.
— E antes, houve mais alguém na qual dedicou um prato? Um tempo para cozinhar tão bem? — sorriu com os lábios selados. — Ah... você tem as palmas macias, Franco.
— Sei até onde quer chegar e jamais conseguirá extrair infidelidade da minha parte — respondeu sem a encarar e fatiou mais um pedaço de modo a levar à boca — Não rompi minha castidade. Sequer ousaria. Não tem o que suspeitar de mim — se incomodou de boca cheia, sorriu após engolir e rompeu a seriedade. — Mas eu faria essa mesma pergunta a você — referiu-se ao Dane.
— Para mim? — gargalhou. — Patético.
— Sim, você.
— Dante não está aqui para responder essa questão.
— Rebati sua pergunta. Não mencionei seu "amigo" — gesticulou aspas com os dedos e a mandíbula tensionou.
— Então, Franco, não pretendo responder. Porém, saiba que não cheguei a tal ponto com ele, da mesma forma que ocorreu conosco.
— Me sinto aliviado, porque não quero te imaginar nos nossos mesmos atos com outra pessoa. Aposto que pensa da exata maneira.
Se portou desajeitada ao notar o ciúme proveniente do amado e contornou o olhar na comida que se finalizava.
O Gregori queria exclusividade entre ambos.
— A mudar de assunto, as tatuagens doeram? — mastigou outra fatia após a mera discussão e apoiou o cabo da faca no queixo, destinado a analisar as tatuagens evidentes.
As irises azuis contornaram com apreciação nela.
— Não tanto — tocou a do rosto, da garganta. — Foram dores suportáveis.
Ele abaixou a cabeça, riu anasalado enquanto mastigava, engolia e Gaya não sabia o real motivo. Maquiavélico, articulou algo destinado a desarmar.
— E sobre o dia no confessionário, te machuquei? — a bruxa sobressaltou as escleras. — Foi suportável para você?
Gaya quis saltar sobre o corpo dele naquele instante entre o sorriso malicioso do Gregori. Permanecer num jogo com Franco, instigava qualquer tipo de sentimento mais perverso de se imaginar.
Prestes a implorar de língua para fora que ele pincelasse sua boca com o que adorava apreciar pulsante.
Para digerir a pergunta, teve de beber o último fragmento do vinho. Não esperava por isso enquanto o homem sorria de canto à medida que os cotovelos e antebraço descansavam sobre a mesa.
Se dispôs a inflamá-la.
Gaya sentiu se encaixarem quando tudo se iniciou. Como se ambos foram feitos um para o outro, embora achasse que não o suportaria dentro por culpa da espessura. Até o instante que Franco acelerou e pesou os movimentos.
A bruxa sentiu afundar, invadir. Lhe preencher.
Estar excitada além do esperado por Franco, facilitou a penetração até um instante que, mesmo úmida, o ruivo não entendia a dimensão do que provocava.
Não a machucava, porém, a sentiu que perderia mais forças nas pernas se ele prosseguisse. Entretanto, toda a sensação era prazerosa por inteiro.
— Suportável para mim? — riu nasalado. — Eu repetiria. Apesar de me tornar fraca por um momento. Não entende o impacto do seu corpo, Franco. Nem mesmo ao se estimular, como me admitiu.
— Me perdoe por isso. Preciso dosar algumas coisas — levou a mão à testa, embaraçado. — É um aprendizado. Releve.
https://youtu.be/RNfgnxEg3eY
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