Capítulo 4

Rafael

(Sexta-feira) 9 de julho - 13:12

Marcos termina de ajeitar suas coisas e bate na minha porta me tirando do transe.

– Está tudo pronto para sairmos. Amanda está esperando lá embaixo no carro.

– Certo, vamos.

Fecho a porta e descemos em silêncio. Marcos, está tão empolgado que fica a todo momento sorrindo e dando socos de leve no meu ombro, enquanto fala o quando está empolgado em conhecer toda a família Martins, já que nunca deixamos convidados de fora participar dos nossos encontros.

O elevador abre as portas para o estacionamento, onde Amanda e Daniel estão conversando do lado do meu carro vermelho. Pego no bolso da minha calça em busco do meu celular e lembro que dei para Daniel. Ainda não consegui comprar um novo, então vou passar esses dias inteiro sem poder me distrair e evitar minha família fingindo que preciso resolver algo importante pelo celular.

– Podemos ir? – pergunto antes de chegar perto deles.

O telefone de Amanda começa a apitar e vibra loucamente em sua bolsa. Ela olha a tela e começa a xingar.

– Olha o que aquele insento fez!

sem esperar minha resposta, dou um passo para trás, quando Amanda estica os braços e me mostra a tela do celular. Nosso nome começa a rolar rapidamente, com pessoas surtando em saber da nossa reunião. Toco na tela, onde um vídeo do Erick sorrindo aparece.

"Gente, vocês não vão adivinhar o que estou fazendo agora??? A reunião com minha família vai acontecer esse final de semana e estou terminando tudo aqui para partir em viagem. Vou tentar filmar escondidos para vocês. Faloooou!!!"

– Essa criança é um completo inútil. – Daniel olha assustado para nós três reunidos. – Entra no carro com Daniel. – Fecho a porta para ele não escutar o resto e Amanda continua.

– Erick, sempre estraga tudo.

– Melhor irmos logo ou vamos acabar nos atrasando.

***

A viagem de ida foi rápida e fácil, mal nos comunicamos. Daniel dormiu durante todo o caminho e Amanda foi reclamando sobre tudo, consigo mesma, sem precisar da minha opinião. Marcos foi minha maior dificuldade, a todo momento ele apertava meu ombro para dizer "não acredito", "Alice vai está lá", "será que estamos perto". Ele só veio descansar e parar de me perturbar quando dilui em água dois diazepam e dei para ele tomar.

Encostei minha cabeça no encosto da poltrona do avião e tentei descansar durante o restante do voo.

Um carro da família já estava nos esperando, quando desembarcamos em Fernando de Noronha. Nossa casa.

***

Marcos ainda estava sonolento, bocejando junto com Daniel, quando descemos na casa onde nossos avós moram e onde ocorre o encontro da família.

A única mansão nas redondezas, depois do Morro da Bandeira, na ponta da ilha, a quase duas horas da cidade central.

Do lado de fora escuto a água da piscina ligada. A porta se abre e o motorista desce para abrir as portas.

– Fui instruído a deixar vocês na porta e voltar para a cidade.

– Tudo bem, senhor. Obrigada por ter ido nos buscar. – Amanda agradece e ele sorrir para ela, mostrando mais dentes que o normal.

Tiramos nossa bagagem e entramos na mansão.

A entrada é feita por duas escadarias de mármore branco, separadas por uma cachoeira azulada, enorme, vinda da piscina de cima. Subimos as escadas com a bagagem e vimos a mansão branca em formato de M, toda iluminada. A piscina de vinte e cinco metros de comprimento se estende até a entrada principal da mansão, com duas palmeiras, uma em cada lado, fazendo sombra durante o dia. A mansão tem dois andares e nove janelas espalhadas pela fachada.

Somos recebidos pelos nossos pais que estão em pé na entrada. Daniel sai correndo e os abraça, perguntando se pode entrar na piscina.

– Agora não, filho, está escurecendo. Vamos entrar primeiro. Oi mãe... pai.

Eles balançam a cabeça e abrem espaço para Amanda entrar com Daniel.

Sigo Amanda, acenando com a cabeça para os dois na porta, mas sou impedido de continuar quando minha mãe segura minha mão. Fico surpreso com esse gesto de afeto. Por mais que ela nunca tenha sido uma boa mãe com a gente, quando ainda era adolescente eu costumava acreditar que tudo não passava de encenação. Com o nosso pai foi o completo oposto, ele sempre estava presente e tentava ao máximo criar vínculos com a gente, por mais que a mídia (ainda) mencione que não somos filhos legítimos dele.

Somos o completo oposto, ele é baixo de pele negra e os olhos são dos mais profundos verdes. O que acaba quebrando o argumento da mídia, visto que Amanda puxou seus olhos. E eu puxei a família da nossa mãe.

Por um momento ficamos parados nos encarando, esperando ela dizer alguma coisa. Retiro minha mão e cumprimento meu pai com um aperto de mão.

Marcos entra abraçando nossa mãe, enquanto aperta a mão do nosso pai.

– É um prazer imenso ser convidado para passar o final de semana com todos. Vocês não sabem o quanto estava ansioso para conhecer os Martins.

– O prazer é todo nosso e podemos dizer que também é uma surpresa sua vinda... Rafael? – minha mãe pergunta.

– Amando o convidou... eu não tive... – ela estende a mão na minha frente, impedindo que continue meu pensamento.

– Sua irmã é muito ingênua.

Ela fecha a porta de madeira e entra no corredor à direita, onde dá acesso à sala de jantar e à cozinha. Escuto o barulho de vozes vinda daquele lugar, mas decido seguir Amanda para o andar de cima.

Subimos a escadaria que se divide em duas direções, o lado esquerdo pertence os filhos dos filhos (primos), o lado direito é destinado aos filhos (tios) e no centro, fica a suíte principal dos nossos avós.

Seguimos um longo corredor com dez quartos divididos, cinco do lado direito e cinco no esquerdo. Meu quarto é o último do lado direito, com vista para a piscina. Amanda fica com o primeiro quarto (esquerdo).

– Cara, to achando que foi uma péssima escolha ter vindo. Teus pais não gostaram muito da minha presença.

Não sei o que dizer, porque acredito que ele, realmente, não deveria ter vindo.

– Marcos, você precisa entender uma coisa que tentei te dizer diversas vezes. Minha família não é nada do que aparenta na internet. Você é meu amigo, fico feliz por você ter vindo aqui, mas também não queria tua presença aqui. Desculpa!

– Tudo bem, só não entendo porque tudo isso.

– Vai entender.

Abro a porta do meu quarto e tudo parece em perfeito estado, totalmente o oposto de como deixei da última vez. As cortinas estavam rasgadas, a parede verde tinha um buraco do tamanho do meu punho, quando soquei ela e não existia mais a porta do banheiro depois deu ter chutado ela até arrancar das dobradiças.

Entro dentro do quarto é a primeira coisa que percebo são duas camas de solteiros no canto da parede. Óbvio que ele já sabia que Marcos estava vindo com a gente. Meu coração começa a apertar e sinto uma sombra percorrendo meus pensamentos, como se alguém estivesse lambendo meu cérebro e se divertindo em passar os dedos entres as depressões dele.

Respiro fundo e relaxo, faço novamente e vou me acalmando.

– Cara, esse seu quarto é irado. Olha só isso? Um closet e um banheiro individual. – Marcos, pula na cama já se esquecendo que não deveria está aqui. – Tem até uma cama para mim. Você dividia seu quarto com mais alguém?

– Não.

– Então como...

Amanda bate na porta e abre entrando no quarto e me livrando de explicar algo que não estou autorizado a falar.

– A maior parte da família já chegou e está no andar de baixo. Vocês vão descer agora?

– Daqui a pouco a gente desce. Vamos guardar nossas coisas primeiro.

– Tá certo, encontro com vocês lá embaixo então.

Empurro nossa mala para o closet e Marcos abre a mala dele com o pé.

– Assim é bem mais rápido. – Marcos diz.

Empurro minha mala para dentro do closet e fecho a porta.

– Tem razão, é mais rápido.

Marcos corre para a porta, empolgado em sair e conhecer os outros, ignorando completamente o que falei com ele no corredor. Se fosse em outra situação, como nas festas que costumamos ir, eu teria revirado os olhos e deixado ele se divertir, mas a situação é outra.

– Marcos, antes da gente descer, preciso te dizer uma coisa é quero que você preste muita atenção. – ele para e me olha nos olhos com atenção e sei que é real. – Não quero que você ande por aí sozinho ou fique longe de mim. – ele me olha de cima a baixo e dá um sorrisinho. – é sério. E o mais importante, o que eu pedi para você fazer, faça, sem pensar.

– Ok, acho estranho, mas ok, o que você pedir para fazer vou fazer.

– Rafael!

Descemos a escada e Leticia corre da sala de estar, onde os primos estão reunidos no sofá e poltronas e me abraça, pulando no meu pescoço com os pés descalços. Ela não cresceu quase nada, ainda bate no meu ombro, seu cabelo está curtinho e com mexas loiras. De todos os meus primos, a única que criei mais carinho e afinidade foi com ela.

– Leticia! – abraço ela de volta, sentindo seu corpinho mais leve do que tinha me lembrado. – Leticia esse é meu amigo Marcos.

Marcos fica paralisado e Leticia estende a mão para cumprimentá-lo. Dou duas batidinhas nas costas dele para destravar e ele fala.

– Caraca mano. Eu sou apaixonado pelas suas músicas.

– Obrigada. – Leticia sorrir para ele. – vem, quero apresentar vocês a uma pessoa.

Matheus e Erick param de conversar quando entro na sala e me observam, olhando para Marcos da cabeça aos pés e sorrirem com maldade. igoro os dois e vou para onde, Amanda e uma mulher loira que não conheço estão conversando. Lara e Bruna discutem no sofá sobre Alice não ter sido convidada e fico aliviado em escutar isso. Passo por elas é pergunto para Bruna.

– Alice não foi convidada? – Ela me olha nos olhos e responde com solidariedade nas palavras.

– Ela cumpriu o objetivo dela. Pensei que você também havia sido liberado.

– Infelizmente não.

Leticia segura na mão da mulher loira e me apresenta nervosa.

– Rafa, essa é minha namorada Fernanda.

– Namorada? – minha pergunta acaba saindo nervosa.

– Algum problema? – Fernanda me pergunta.

– Lógico que não, é um prazer te conhecer Fernanda. – abraço ela e seguro a mão da Leticia escondido, tentando demonstrar força. – Só fiquei surpreso com sua presença.

– Ela foi "convidada". – Erick diz do outro lado da sala, rindo, fazendo aspas com o dedo.

Não preciso de mais informação para entender o "convidada".

– Vai ficar tudo bem Leticia.

A última pessoa que faltava chegar entra pela porta, nossa tia Amalia. Sem olhar para os sobrinhos reunidos na sala de estar, ela caminha para a escada e sobe, segurando uma mala pequena na mão, sumindo de vista. Viro para Marcos e Fernanda e digo.

– Essa é nossa tia Amalia. Ela é a mais simpática da família Martins.

Somente os dois caem na risada, enquanto o restante prende a respiração.

Uma hora depois estamos todos reunidos na mesa de jantar. A mesa de vinte e dois lugares está vazia na nossa frente. Sento ao lado de Amanda e Marcos e na nossa frente, Leticia, senta com Fernanda. Nossos pais sentam mais perto do nosso avô, que ainda não apareceu.

Nossa avó, Luísa, entra com um carrinho, carregando vinho tinto. Ela coloca na mesa e volta para a cozinha. Vó Luisa, tem oitenta anos, mas parece que tem sessenta, seu cabelo ainda tem mexas pretas e seus olhos começam a aparecer rugas da idade. O que choca todos que a vê, depois de ter sumido de vista das mídia como nosso Avô (Antônio Rodrigo), a anos.

– Mano, vocês dormem no formol?

– Fica quieto e não chama atenção. – Marcos concorda com a cabeça e fica sério.

Erick, sentado do lado de Marcos, próximo de mim, aproveitando a deixa de Marcos, ele puxa assunto com Lara, sentado na sua frente.

– Aparentemente, não precisamos nos preocupar esse ano. Nosso avô tem bastante opções ou todas, vai saber. – Erick enche sua taça de vinho e leva aos lábios, mas não bebe, ele espera para soltar mais um veneno. – Então Amanda, Daniel já tem uns dez aninhos?

– Cala essa boca Erick. – Amanda quase grita, segurando a borda da mesa com força.

– Foi por isso que convidou esse ai? Por acaso está tentando mudar o foco para outra pessoa? – ele olha para o lado e encara Leticia quieta na mesa. – E você Letícia, consegue acreditar que acabei ficando até com pena? Depois do que aconteceu achei que você já estaria o mais distante possível da gente. Não é Rafael?

Levanto batendo com as duas mãos abertas na mesa de madeira, assustando todos e fazendo Erick quebrar sua taça de vinho, antes dele encostar pela segunda vez naqueles lábios venenosos.

– Se você abrir essa maldita boca novamente eu vou te fazer implorar como aconteceu da última vez. E você sabe o que sou capaz de fazer.

Erick coloca delicadamente o que sobrou da taça na mesa. Levanto e saiu da sala. Precisando acalmar essa vontade que começa a se apoderar de mim.

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