Antes


Maria Luisa

1782


O ano era 1782 quando meu vestido azul longo estava sujo de sangue e lama. Toda parte do meu corpo está dolorida e machucado. Estou largada no meio do mato como um lixo usado e descartados pelos meus senhorios.

Cuspo o pano rasgado e sujo do meu vestido que eles usaram para evitar escutar meus gritos. Faz pouco tempo que eles me usaram e voltaram para suas esposas. Minhas senhoras. A família para quem trabalho há dezessete anos.

Sempre percebia os olhares deles, dos filhos do meu patrão, enquanto ganhava corpo e crescia junto com eles. Mesmo sendo uma serviçal, eles não deixavam de me olhar e de me usar, mas nunca dessa forma antes.

Estou envergonhada deitada na lama no meio da floresta fechada da ilha onde nosso povoado mora.

Os Bragas são a família mais poderosa da ilha e tentam fugir é uma sentença para ser queimada na fogueira.

Meus pais me venderam por míseros cinco réis. Isso é tudo que custo, cinco réis.

Quando fecho meus olhos sinto um deles me segurando, enquanto o outro me violava com força e brutalidade entre minhas pernas aberta.

Tento levantar a cabeça e meu tronco sobe rangendo de dor. Meu cabelo está todo molhado e sujo e meu braço roxo e arranhado.

Não quero voltar para aquela casa e ser julgada por todos. Não posso contar para ninguém o que aconteceu ou vão me matar por mentir.

Grito de dor quando fico em pé, segurando na árvore próxima. Ando me arrastando pela floresta, sem saber onde estou indo. Cada passo que dou é como se estivesse sendo perfurada na área mais sensível de toda mulher e o vestido molhado adiciona um peso extra a desgraça dessa vida. Sendo puxada pelos galhos enquanto entro mais fundo na mata, como se estivesse sendo impedida de continuar.

Vejo uma casa de pedra e barro no meio da mata fechada. A casa brilha com a luz do fogo acessa no interior dela.

Penso em dar meia volta, mas não tenho para onde ir. Sei de quem pertence essa casa. Da mulher excluída da ilha. A mulher que veio do mar, foragida do seu país, dentro de um navio cargueiro. A mulher cujo o povoado diz que mexe com o oculto, que dança com o demônio a noite.

Olho para o céu noturno e não sinto esperança de ser salva por nada bondoso, se existe alguém cuidando da gente, isso não iria acontecer com mulheres tipo eu. Não deixaria a gente ser vendida e usada como os porcos.

Ando me arrastando e bato na porta velha de madeira e uma senhora me olha sorrindo.

– Preciso de ajuda. – Digo com medo.

– Entre.

Ela segura com delicadeza nos meus braços e me ajuda a entrar.

A casa é pequena e quente, acolhedora por dentro. O fogo vem de uma chaminé feita de pedra, decorada com plantas e ervas. Sento em uma cama dura e desconfortável. A dor volta e sinto pontadas correndo por cada terminação nervosa no meu corpo e seguro o grito mordendo a língua.

– O que aconteceu, filha? – A senhora volta com uma bacia cheia de ervas misturadas com água. Ela bate tudo com um pedaço de madeira, triturando o conteúdo dentro.

Ela não é nada parecida com a mulher que o povo comenta, mesmo que não consiga falar muito bem minha língua, consigo entender o que ela diz.

Tento contar, mas o acontecimento fica preso na minha garganta e só sai uns chiados, quando começo a chorar de raiva.

Meu corpo começa a esquentar e acolho toda a dor que sinto, me deixando com ódio de todos daquela família, de todos que me rejeitaram. Meus olhos estão vermelhos e sinto as lágrimas caindo de repulsa e ódio dos Bragas.

– Quero que todos morram! – Digo para a senhora que rir de volta.

– Posso ajudar nisso. – Ela levanta da cama. – Está disposta a pagar o preço?

Minha raiva fala antes de pensar sobre.

– Quero que todos paguem.

Com um sorriso estranho ela me leva para o lado de fora e me conduz para dentro da floresta, onde o fim da ilha termina e o mar se estende ao longe. A dor no meu corpo abriu margem para a raiva e ela me conduz por uma descida íngreme, tendo como único apoio a rocha do lado direito e a queda livre do lado esquerdo, indo de encontro ao mar aberto.

Ela desce com naturalidade para uma mulher daquela idade. Entramos em uma abertura no meio da rocha e continuamos descendo na escuridão. A lua ilumina uma caverna aberta para o mar. Um espaço amplo e bonito.

A senhora rapidamente me coloco no meio de um círculo desenhado no chão e acende umas velas espalhadas ao redor. Meus braços inchados e roxos começam a se arrepiar, quando ela começa a dançar ao redor do círculo, pulando e falando algo que não consigo entender. Como se estivesse cantando em outra língua.

As chamas ficam mais fortes e o local começa a ficar quente. A senhora para de cantar e corta a palma da mão aberta, e volta a circular, jogando sangue no chão. Quando ela termina, seus olhos estão branco e com uma convulsão seu corpo cai no chão sem produzir som.

Grito e dou um passo até ela, até ver um homem nu parado na minha frente. A pele é branca e extremamente brilhante, ele não tem mamilos ou umbigo, mas o que me faz dar um passo para trás são seus olhos escuros quanto a noite.

– Busca ajuda Luisa? – O frio em sua voz me tira do transe. Abraço meu corpo com medo e digo.

– Sim. – Não tenho nada a perder. Já fui tirado tudo de mim. – Quero que todos paguem pelo que fizeram.

Ele anda ao meu redor, me olhando de cima a baixo, analisando. Puxa uma mexa do meu cabelo preto e liso entre os dedos e solta.

– Vou fazer melhor. – Ele para na minha frente. – Vou honrar teu nome e fazer que todo o mundo se ajoelhe aos seus pés. Não só você, mas seus filhos e netos. Sua família vai ser tão poderosa que nada vai poder tocar em vocês novamente.

Começo a chorar em pensar que nada nunca mais vai poder me atingir novamente. Eu só queria isso, ser livre.

– O que você quer em troca? – Ele sorrir como a senhora caída no chão.

– A cada cinco anos uma vida pura precisa ser colhida. – Quando penso em responder ele continua. – Não se preocupe, estarei com você durante esse tempo, até meu sucessor assumir meu posto.

Com raiva de cada vez que me bateram e me amarraram, amordaçaram minha boca com um pano sujo, prendendo meu grito de dor, enquanto se enterravam dentro de mim, com força e violência. Batendo na minha bunda e mordendo meus seios até sangrar aceito a proposta.

– Aceito.

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