Um Piquenique
Capítulo 20 — Um piquenique
O dia estava ensolarado e quente. Uma brisa suave soprava seus cabelos curtos e se não fosse por toda a distração que o evento proporcionava a sua volta teria notado o olhar nada discreto que o Duque lhe lançava por entre uma árvore e uma tenda.
O piquenique de primavera era um evento clássico da temporada de casamento e Jimin sabia que outros nobres, que também estavam à procura de um compromisso, aproveitavam eventos como aquele para cortejar seus pretendentes.
Por onde se olhava se via tendas e mais tendas atadas, cheias de jovens em ascensão, com alfas, ômegas e betas dando o seu melhor para conseguirem chamar a atenção daqueles em quem tinham interesse.
Aquele era o seu primeiro ano ativamente na temporada, mas já havia ido a eventos como aquele. Sempre pensou que quando chegasse a sua vez, estaria infeliz por ter que se casar com alguém que não queria, mas agora, diferente do que imaginava, estava feliz.
Yoongi estava no campo de tiro ao alvo, mostrando seus talentos para alguns dos nobres que por ali estavam e ganhando olhares admiradores de alguns jovens que se encantavam com o charme do futuro rei.
Jimin achava divertido como todos pareciam encantados com ele, ainda mais por ter sido a escolha do príncipe, o que era engraçado ao todo, porque Yoongi não havia sido sua escolha.
— O que o príncipe herdeiro de Katar faz sozinho durante o evento social mais divertido da temporada? — A voz de Jungkook se fez presente atrás de seu corpo e com um pequeno choque encarou o alfa.
— Bom, o noivo do príncipe herdeiro de Katar está ocupado demais se exibindo para me prestar algum galanteio bobo. — Respondeu divertido, vendo Jungkook entortar o nariz. — Então estava observando a senhorita Della, que está ali, trançando o cabelo de algumas crianças.
— Sabe de quem são aquelas crianças? — O duque questionou confuso, a dama de companhia deveria ficar ao lado do príncipe o tempo todo.
— Eu não tenho certeza. — Negou pensativo, já havia às visto em um lugar ou outro, mas não se lembrava. — Ela me contou que nunca participou de um evento como esse, então lhe dei o dia livre para aproveitar as barraquinhas e as atrações. — Explicou. — Afinal de contas, a senhora Wood já deixou tudo pronto para o meu retorno aos meus aposentos e ela está em algum lugar por aqui, buscando algo para eu beber.
— Você já contou a elas sobre seu relacionamento com o Infante, ou elas ainda acreditam que esse será o casamento do ano? — Perguntou com certo deboche.
— Se o senhor não tivesse sumido nos últimos dias, saberia que eu contei assim que me recuperei do incidente. — Jungkook riu fraco pela língua afiada do ômega e viu os olhinhos se semicerrarem em sua direção. — Afinal de contas, houveram perguntas sobre o porque o senhor estava me acompanhando e não o meu noivo.
— Perguntas válidas. O que respondeu?
Jimin empinou o nariz, voltando a olhar para as pessoas em volta que pareciam se divertir demais para notar a conversa que estavam tendo.
— A verdade. — Respondeu sem olhar para o alfa. — Que meu coração pertence a um idiota e que nada além de uma amizade existe entre o Yoon e eu. — Jungkook suspirou, sabia que o ômega estava chateado por ter sumido por alguns dias, mas o que podia fazer em uma situação como aquela?
— Você sabe que eu estava cuidando do julgamento. Não queria que se envolvesse. — Contou. — Também houve alguns problemas em casa. Fazia muito tempo que não visitava minha mãe e ela me mandou uma carta carregada de ameaças e tons de chantagem, precisei ir.
— Eu sei. Só estou chateado porque senti sua falta. Parece que faz tanto tempo que não nos vemos. — Resmungou, mesmo consciente de que foi apenas por alguns dias. — Você perdeu muita coisa.
— Como o que? — Questionou angustiado por não poder abraçá-lo em público.
— Eu não tenho certeza, porque Yoongi não me disse com todas as palavras, mas acho que ele tem algum interesse na Senhorita Della. — A fofoca fez com que Jungkook franzisse o cenho.
— Está falando sério?
— Estou sim. Ele olha de uma forma doce para ela e eu tenho quase certeza de que ela retribui, mesmo que mais tímida. — Contou. — Acho que ela ainda não aceitou muito bem nosso casamento ser só uma fachada e tem medo de que me ofenda. — Suspirou. — Ela sempre o admirou então talvez esteja confusa com seu coração e sua lealdade a mim.
— Compreensível. — Resmungou ganhando a atenção do ômega. — Não me olhe assim, sabe que não é a mesma coisa. Eu tenho títulos, ninguém irá me ofender ou dizer algo na minha frente, ela não possui esse privilégio.
— Eu sei. — Suspirou. — Queria que as coisas fossem mais simples.
— É. Eu também queria, mas se elas fossem, talvez nós não teríamos nos conhecido e nem nos apaixonado.
Jimin o encarou com um olhar surpreso e fez o seu melhor para esconder o seu sorriso.
— Tem razão. Iremos dar um jeito nos problemas. — Voltou a desviar o olhar, empinando o nariz e o Duque riu ao ver o ato de fuga do ômega e iria o importunar, mas parou ao ver o Rei e sua comitiva se aproximando do príncipe.
— Majestade. — O Duque disse se reverenciando e Jimin o acompanhou ao notar seu pai ali.
— Estão se divertindo? — Questionou com um sorriso tranquilo e Jimin concordou, feliz em ver seu pai bem.
O homem havia passado alguns dias bem ocupados entre falar com o conselho e se resolver com os nobres. A papelada do casamento era resolvida e o julgamento dos traidores foi feito, tudo estava enfim caminhando para a paz e Burly já se reerguia.
No entanto, o Rei se sentia em falta com seu filho por não conseguir ficar ao seu lado depois do atentado. E não havia deixado passar que era um erro que vinha cometendo a muito tempo, visto que Jimin não lhe contou sobre a ameaça que estava passando.
Não queria mais cometer aquele erro.
Sabia que havia deixado a criação de Jimin nas mãos de Jungkook por muito tempo e que era difícil ver seu filho, porque ele lhe lembrava Elizabeth, mas seu pequeno milagre merecia amor e atenção e por mais que tivesse cometido tantos erros com ele, não queria mais errar.
— Estamos. — Jimin respondeu, desviando o olhar para as pessoas ao seu redor. — Está um dia bonito e fresco, e é divertido observar todos.
O Rei concordou, olhando na mesma direção que o filho e logo limpou a garganta se virando para sua comitiva.
— Poderiam me deixar a sós com meu filho? Tenho algo para falar com o Príncipe. — O pedido era uma ordem e logo foi acatada quando todos se curvaram, dando um passo para trás antes de se virarem definitivamente e se afastarem.
Jimin encarou Jungkook confuso, que por sua vez, achou melhor deixar que o ômega tivesse um momento sozinho com o próprio pai.
— Algo errado? — Jimin se mostrou confuso ao se ver sozinho.
— De forma alguma. Apenas queria saber se está bem? — Questionou com um tom suave e levemente culpado. — Não tivemos tempo de conversar depois de tudo e eu fiquei preocupado.
— Ah. Não se preocupe. Jungkook ficou comigo durante boa parte do tempo e quando ele viajou Yoongi me fez companhia. Não fiquei exatamente sozinho. — Justificou ao ver o desconforto do pai.
Sabia que não era de propósito, sabia que ele era ocupado e que tinha suas responsabilidades, era difícil ser rei e Jimin poderia viver com aquilo. Quando mais novo, tentava de tudo para chamar a atenção do pai, achava que era de propósito, que seu pai tivesse alguma mágoa ou que o culpava pela morte da mãe, mas com o passar dos anos, se convenceu de que seu pai lhe amava e que a distância não era algo proposital e sim uma consequência de seu título.
Quis acreditar que o homem ficava tão magoado por estar longe, quanto Jimin ficava e que se demonstrasse aquela dor, apenas deixaria seu pai pior por não poder ser mais presente. Passou então a mascarar o sentimento, a aproveitar os poucos momentos que tinha ao seu lado e a admirá-lo como o grande homem que era.
— Jimin. — O Rei suspirou, era um pouco triste ver como Jimin fazia de tudo para não o preocupar. — Estou dizendo que eu gostaria de ter ido até você. De ter ficado ao seu lado. — O olhar do filho vacilou e o rei respirou fundo, olhando ao redor. Não era educado ter contato físico em público, mas queria mais do que tudo abraçar seu menino. — Gostaria que tivesse me contado tudo o que estava acontecendo, de ter ajudado a resolver tudo e de ter te protegido quando precisou.
— Eu não queria te preocupar. — Jimin murmurou, sentindo o peito apertado e as mãos trêmulas. — Estava ocupado com outras coisas e não precisava de mais um problema.
— Nunca é um problema quando se trata de você. — Afirmou. — Quero que me conte se tiver algo errado, quero estar ao seu lado e te ajudar em momentos difíceis.
Jimin hesitou, se segurando para não chorar. Era difícil não demonstrar tudo o que estava sentindo ao ouvir com todas as palavras que ele se importava, que ele queria estar ali e fazer parte da sua vida. Fungou, olhando para cima na tentativa de evitar chamar a atenção.
— Eu... bem... é bom saber que se importa. — Murmurou choroso. — Quer dizer... é claro que eu sabia que você se importava, mas...
— Eu me importo, Jimin — Afirmou ao ver o filho tagarelando, com medo de errar as palavras. — Me importo com tudo referente a você.
— Até com coisas bobas? — Perguntou com a voz embargada, dando de ombros. — Até com aquilo que não faz tanta diferença? — O Rei concordou e ao ver que o filho estava se esforçando para não derramar lágrimas, o puxou para perto, mandando as regras de etiqueta para o inferno, porque seu menino precisava daquilo e nada no mundo deveria o impedir de dar a Jimin o carinho que precisava.
Ao sentir o calor do pai, seus olhos transbordaram, deixando que tudo saísse e acolhido pelo colo do pai que a tanto tempo não sentia, se permitiu chorar, sentindo todo o amor que fluía naquele momento.
— Está tudo bem. — Afirmou acariciando as costas do ômega. — Pode chorar, está tudo bem. — O Rei se sentiu mole ao ver o quanto seu filho havia sentido sua falta e quis esclarecer tudo para Jimin, dizer tudo o que ainda não havia dito. — Eu... eu queria que você soubesse que eu te amo, filho. — Jimin fungou. — Eu te admiro e tenho muito orgulho do homem que você se tornou. Você me lembra muito a sua mãe e eu queria que ela tivesse aqui, porque ela saberia melhor do que eu, como demonstrar tudo isso.
— Eu também queria e sinto muito que ela tenha ido. — Murmurou entre o choro. — Muito mesmo.
— Não tem que se desculpar. Você sabe que não foi culpa sua. — Afirmou, o apertando mais. — Ela te amava e tenho certeza que independente do onde ela esteja, ela ainda te ama mais do que tudo e também está orgulhosa.
— Não acho que ela ficaria tão orgulhosa assim ao saber o que eu estou fazendo. — Resmungou com um tom sentindo. Por mais que tentasse não pensar e soubesse que aquela era sua melhor saída, o sentimento de estar sendo egoísta com Jungkook não o abandonava.
— Está brincando? Ela melhor do que ninguém sabe o que é a vida da realeza. — Brincou, tentando acalmar o filho. — Ela teria te apoiado e até mesmo sugerido uma solução. — Jimin se assustou ao notar que talvez o Rei soubesse sobre o que se tratava e se afastou para encarar o pai.
— Pai...
— Eu sei. Está tudo bem. Conversei com Yoongi e conversei com Jungkook. Os dois estão de acordo, o conselho não irá contestar e você poderá ficar ao lado de quem ama. — Informou, olhando nos olhos do filho. — Os contratos já foram assinados, Yoongi terá pouco tempo para conseguir um herdeiro, mas nada disso recai sobre suas decisões. Estamos orgulhosos que tenha conseguido uma solução. Isso é tudo, Jimin. Ela estaria orgulhosa.
— Acha mesmo que isso vai dar certo? De que podemos viver assim? — A pergunta era tremida, porque a opinião do pai significava muito para Jimin e com um sorriso carinhoso, o rei respondeu.
— Acho que você será feliz, Jimin. Todos vocês serão.
| O SEGREDO DO PRÍNCIPE |
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top