O Plano

Capítulo 19 — O Plano

Jimin sentia a mão tremendo. Escondia a arma dentro da manga de seu casaco e agradeceu a breve distração do homem ao empurrar os alfas para fora que lhe garantiu tempo o suficiente para desembolsar a adaga e a esconder como pode.

Agora, sozinho com o homem assustador e cruel, que lhe encarava como uma maldita presa, não tinha tanta certeza se conseguiria ir até o final.

— Agora que estamos sozinhos, irei lhe ensinar algo que não contam para os jovens nobres. — A fala lhe embrulhou o estômago e Jimin sentia que a qualquer minuto vomitaria.

— Antes, me responda algo. — Começou a dizer com receio. — O herdeiro de Burly, Miles, o menino que vocês pegaram. Ele está vivo? — A pergunta era carregada de medo e Jimin não sabia qual resposta seria pior.

— Não pegamos o outro herdeiro. Não sei quem foi, nós apenas aproveitamos a distração que gerou para tentar chegar até você. — O homem explicou se aproximando da mesa, deixando a faca sobre o móvel antes de começar a caminhar até o príncipe.

Jimin sentiu o peito angustiado. Já haviam pensado na hipotese dos atentados não estarem interligados, mas por algum motivo ainda tinha esperança de que o herdeiro estivesse vivo e com aquelas pessoas. Que tudo aquilo tivesse um final feliz.

— Dina e Marta queriam sua cabeça, mas eu queria a coroa antes. — Continuou se aproximando, contando como se fosse um jogo divertido. — Elas pretendiam te matar depois que eu assumisse o trono, mas se você cooperar, irei garantir que as duas terminem na forca.

— Irá trair as pessoas que lhe ajudaram?

— Elas não me ajudaram. Caso não tenha notado, elas estavam tentando te matar a todo custo. Se eu não tivesse chegado primeiro, estaria morto.

— Então eu deveria lhe agradecer? — A pergunta era sarcástica e carregada de mágoa. O beta estava a poucos passos de distância e a cada segundo que passava, mais medo Jimin sentia.

— Eu gostaria de ver alguma gratidão. Passei boa parte das últimas semanas escondido em passagens secretas desse castelo esperando pelo momento certo de agir. Garantindo que aquelas duas imbecis não pusessem tudo a perder e acabassem te matando.

— Você não fez um bom trabalho. Teve o escorpião, o veneno e o...

— Cala boca. — Brigou, sem notar que o príncipe tentava ganhar tempo. — Marta estava furiosa depois que foi demitida pelo Duque por "falar o que não devia ao príncipe". Ela queria a sua cabeça. — Jimin então se lembrou das servas que lhe contaram sobre seu futuro casamento e de comoJungkook havia afirmado que nunca mais as veriam. — Dina chegou só depois.

— Ela foi a mulher que me falou sobre o Duque? — Mais afirmou do que perguntou. — Porque ela me queria morto?

— Ela é apenas uma pobre invejosa. Não consegue entender a diferença de classes e o porquê de você poder ter tudo, quando ela não tem nada. — Explicou com desgosto. — Não passa de uma porca.

— E quanto a você? — A pergunta saiu tremida, em meio a um fungado. — O que eu lhe fiz?

— Você é apenas uma ponte para o que eu quero. — Afirmou se aproximando de vez do príncipe. — Uma consequência. Eu iria te descartar se você me atrapalhasse, mas se estiver comigo, irei lhe proteger. Não tenho nada contra você, apenas quero o que mereço.

— Acha que merece ser Rei? — Jimin perguntou segurando o choro, apertando com mais força o punhal em sua mão.

— Mereço mais do que aquele velho estupido que todos chamam de Rei. — O olhar do homem desceu pelo seu corpo e o ômega jurou que vomitaria a qualquer segundo.

No corredor, barulhos altos de passos chegaram e Jimin sabia que deveria ser os guardas, o socorro que precisava e um rápido alivio o percorreu, antes de ver o homem sorrir.

— Chega de conversa, meu bem. Logo logo esses idiotas irão conseguir derrubar a porta e eu preciso que você esteja indecente o suficiente para que não haja dúvidas de que sua honra é minha.

O príncipe sentiu o medo misturado a adrenalina e sem conseguir pensar duas vezes, pulou sobre o homem. O movimento foi tão rápido que o beta nem mesmo viu de onde veio. Em um segundo Jimin havia o derrubado no chão e antes que pudesse reagir, o ômega já cravava uma adaga em sua garganta.

A dor era pungente e o sangue que jorrava tornava impossível de falar ou respirar. O ômega havia retirado a faca, logo a cravando novamente em seu peito, repetidamente. Com uma mistura de ódio, medo e fúria.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto e suas mãos tremiam em pânico. Estava manchado de sangue e aos poucos perdia a força. Viu o homem morrer diante de seus olhos e ao finalmente se ver a salvo, respirou aliviado deixando seu corpo desabar ao lado, exausto e esgotado pela carga de adrenalina.

As batidas na porta eram constantes e fortes, como corpos se chocando contra a madeira. Sabia que deveria ir até lá, abrir a porta ou tentar dizer algo para que soubessem que estava bem, mas não tinha forças o suficiente para aquilo, e seu choro convulsionou ao ouvir o barulho alto da madeira cedendo e pessoas entrando.

Não demorou muito para Jimin sentir ser puxado e logo o cheiro já tão conhecido de Jungkook estava presente, enfiou seu rosto no peito do alfa e se permitiu enfim chorar, desabar tudo aquilo que estava preso. Todo o medo, agonia, aflição e ansiedade. Todo o sentimento de que poderia morrer a qualquer minuto.

Sabia que tinha que ir atrás de seu pai, garantir que ele estava bem e que não tomasse o veneno que as servas iriam o servir, mas não conseguia controlar o choro preso em sua garganta. Sentia Jungkook acariciando suas costas e sabia que o alfa lhe perguntava algo, mas a voz dele estava tão distante, tão longe de seus ouvidos.

Saber que havia um corpo morto ao seu lado lhe causava náuseas e desgosto, uma repulsa grotesca que parecia física, sabia que aquilo ainda não havia acabado até Mila e Marta estarem presas e isso lhe apavorava.

Tentou respirar fundo, fazendo o possível para se acalmar e depois de um tempo, quando finalmente seu lobo descarregou toda a carga energética que tinha, finalmente pode ouvir melhor o homem que lhe abraçava.

— Está tudo bem, tá tudo bem, meu amor. — Jungkook o apertava com força, lágrimas escorriam de seu rosto e a ideia de que o pior poderia ter acontecido era assustadora.

Jimin não falava uma palavra, apenas chorava. O homem estava morto e suas roupas cobertas de sangue. Não sabia se havia chegado tarde demais para impedir uma desgraça, mas esperava que sim.

— Está tudo bem. Você matou ele. Tudo vai ficar bem agora. — Fungou. — Estou orgulhoso, Jimin. Você foi muito bem.

— Eu matei um homem. — A voz trêmula resmungou, chamando a atenção do alfa, ao finalmente perceber que o ômega estava tendo um lapso de lucidez e se apressou a dizer ao ver que seu menino iria desmaiar.

— Você se salvou, Jimin. Isso é tudo o que importa.

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Estava confortável. O lugar parecia agradável, estava aquecido e seguro, seu lobo se sentia aconchegado, de uma forma encantadora. Abriu os olhos, piscando lentamente, apenas para ter certeza de que tudo estava bem.

Viu então o tecido branco do que parecia ser uma camisa. Notou que abraçava alguém e não precisou de muito para que os feromônios no cômodo denunciasse Jungkook. Olhou ao redor apenas para confirmar que estavam em seu quarto, mas assim que se mexeu, o alfa despertou, assustado com a ideia de Jimin saindo de seus braços.

— Jun? — O ômega murmurou ainda sonolento.

— Você tá bem? — A voz saiu ofegante e Jimin apenas murmurou em resposta. — Eu fiquei tão preocupado, você acabou desmaiando, o curandeiro disse que você estava bem, que apenas havia sofrido uma carga muito intensa de emoções, mas eu fiquei com medo de que estivesse machucado.

As lembranças dos últimos acontecimentos brilharam em sua mente e como se tudo voltasse com força total, se sentou, encarando o alfa com medo.

— O meu pai...

— Ele está bem. Está descansando no próprio quarto. Ele fez um pronunciamento ainda essa manhã se redimindo com os nobres do baile e prometendo que iríamos compensá-los por tudo. — Explicou com calma e Jimin não deixou de notar a informação de que havia dormido um dia inteiro.

— Existem duas servas... — Jimin começou a dizer ainda alarmado, mas Jungkook o interrompeu, tentando o acalmar.

— Marta Morris e Mila Hall. Eu sei. Elas estão presas nos calabouços. Vão ser julgadas no final da semana. — Contou. — Os guardas as pegaram em flagrante quando tentavam fugir após soltarem o lustre. Acharam que elas eram as únicas ameaças e por isso demoraram pra chegar onde estávamos.

— Ah. — Jimin exclamou, se sentindo enfim aliviado e tranquilo. — Eu fiquei assustado.

— Eu também. Nunca imaginei que passaria pelo dia em que não poderia lhe salvar. Em que estaria de mãos atadas em uma situação tão...

— Agora está tudo bem. Não quero pensar nisso. — Foi a vez do príncipe de o interromper.

— Mas precisamos falar, Jimin. — Rebateu. — Preciso saber o que aconteceu. O que ele fez com você? Preciso saber se está bem. — A pergunta era carregada de preocupação, mas antes que o ômega respondesse, Jungkook reforçou. — Independente do que aconteceu, nada vai mudar. Não precisa ter medo de dizer a verdade, queremos saber apenas para que possamos tratar isso da melhor forma possível. Ele pode ter te machucado ou causado traumas severos, que precisam ser tratados.

— Ele não fez nada. — Afirmou. — Eu fiquei com medo e achei que não teria coragem de matá-lo, então tentei o distrair o quanto podia. Ele me contou sobre as cúmplices, seu plano maluco e então vocês chegaram.

— Quando chegamos, você estava em choque e ele morto. — O Duque o lembrou e Jimin concordou.

— Ele disse que vocês demorariam para abrir a porta e então eu não sei o que aconteceu. — Engoliu um nó que se formava em sua garganta ao lembrar. Seus olhos desfocados e a boca trêmula deixava claro o quão abalado estava. — Só lembro de estarmos no chão e de o acertar com toda a força que eu tinha. — Contou segurando o choro, mas parou ao se lembrar de algo. — A adaga... Eu perdi a adaga do Yoongi? Ela era um presente de família. — O tom magoado em meio ao frágil apertou o coração do alfa.

— A faca está comigo. Eu vou limpá-la antes de lhe devolver. — Garantiu.

— Vai me devolver? — A pergunta era repleta de confusão e surpresa, porque em sua mente, era claro que Jungkook não gostava da ideia de estar armado.

— Você mostrou que pode se proteger sozinho, Jimin. Não irei tirar isso de você, se em algum momento puder salvá-lo. — Foi claro, com um tom doce. — Volte a dormir, teremos tempo para conversar com calma.

Jimin relaxou ao ouvir o tom suave do alfa e voltou a se deitar, se acomodando contra Jungkook quando ele também se deitou. Seu coração batia calmo e podia ouvir o mesmo compasso vindo do peito do amante, aquilo o tranquilizou e por uma noite, deixou todos os problemas de lado, porque estava seguro nos braços dele. 

| O SEGREDO DO PRÍNCIPE |

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