A Viagem

Capítulo 10 – A viagem

— Eu nunca saí de Katar. — Maggie falava enquanto observava a paisagem do lado de fora da carruagem.

— Eu também não. — Jimin respondeu com um tom mórbido, bem diferente do que esperava estar no dia em que cruzasse aquelas muralhas. — Na verdade, eu nunca deixei o castelo. Estou contente em finalmente poder sair, mas estou triste pelas circunstâncias. — Desviou o olhar da janela, mexendo no detalhe de sua roupa, apenas para dissipar a ansiedade. — Christopher é apenas uma criança e ele parecia tão animado com o noivo.

— Ele nem ao menos o conhecia. — Resmungou Jungkook, um tanto quanto confuso com o quão pessoal aquilo parecia para Jimin.

Não queria soar insensível, mas era estranho ver Jimin tão envolvido com algo, ainda mais relacionado a casamentos. Com toda aquela confusão sua conversa com o ômega seria adiada e Jimin falava como se entendesse de amor, mas precisava entender que o que ele sentia pelo infante, estava longe de ser amor, se era isso o que o mais novo achava.

E que amor era algo sério e que levava tempo. Era algo forte e verdadeiro, impossível de se conter e que apenas quem sentiu de verdade, sabia como era. Precisavam conversar.

— Mas já o amava. Isso é o que importa. — Respondeu levemente irritado. Jungkook não parecia entender o quão difícil seria aquilo para o menino.

— Jimin. Não estou te entendendo. Por que isso parece tão pessoal pra você? — Questionou confuso fazendo Jimin entender que ele realmente não sabia. Todos viam o superficial da vida de um membro da realeza e por mais que Jungkook estivesse sempre ao seu lado, ele não conhecia seus medos.

— A vida de um herdeiro é cheia de incertezas. — Começou a dizer. — Não sabemos em quem confiar ou por quanto tempo as pessoas ficaram em nossas vidas. Tememos ataques externos e ainda mais os internos. — Abaixou a cabeça. Não conseguia encarar nenhum dos dois. — Não podemos escolher nosso próprio destino. Porque nossa vida é servir ao povo. Não podemos escolher quem amar ou quando amar. Não podemos abraçar quando temos saudades ou chorar quando estamos tristes. Temos que manter as aparências para o povo e só alguém que vive assim, entende o que é.

— Eu não sabia. — Maggie resmungou segurando lágrimas. O menino já havia lhe confessado ter medo do futuro e de perder Jones, mas não sabia tudo o que se passava na mente do ômega. — Sinto muito, querido.

— A culpa não é de vocês. A maioria dos servos acham que estão aqui para nos servir e que nossa vida é fácil, mas renunciamos à nossa felicidade para manter o reino em paz, mas ninguém percebe isso.

— Jimin. Você vai ser feliz. — Jungkook afirmou segurando as mãos pequenas do ômega. — Não tem com o que se preocupar. — Jimin encarou suas mãos juntas e negou com um sorriso triste. Se soltou em silêncio virando o rosto para a janela. Não queria falar com Jungkook sobre aquilo.

Não conseguia entender o que estava sentindo pelo alfa nos últimos dias e era idiotice pensar que poderia ser feliz daquela forma. Jungkook não perguntou, mas sentiu seu coração apertar diante da recusa do mais novo. Era impossível não reparar que o ômega estava o afastando desde a discussão no dia do baile.

Sabia que não estava totalmente certo, mas céus, Jimin também não estava. Estava com ciúmes e precisava admitir isso para si mesmo. Independente de qual alfa Jimin escolhesse, iria achar errado, porque no fundo acreditava que somente ele saberia como tratar o menor. Yoongi não era o problema. Seu ciúmes era.

Durante todos aqueles anos havia tratado o menor como se fosse o seu ômega e agora havia chegado a hora de entregá-lo para outro. Jungkook não imaginou que seria tão difícil, mas chegava a ser ridículo. Não queria perder Jimin e esse era o maior dos problemas.

Sabia que entregar a mão do mais novo para qualquer outro alfa, seria o mesmo que dizer adeus para tudo o que já haviam vivido. E sabia também que não poderia passar o resto da vida mentindo para si mesmo. O que sentia por Jimin havia deixado de ser amigável a muito tempo.

O ômega o despertava sentimentos que nunca havia sentido com ninguém e por mais que fosse errado e acabasse o levando a forca, tinha que admitir que estava apaixonado pelo menino.

Talvez Jimin nunca o correspondesse, mas precisa aceitar seus próprios sentimentos. Não aguentava ver o menino o afastando daquela forma e precisava conversar com ele. Se Jimin realmente quisesse se casar com o Infante, Jungkook apoiaria. Faria de tudo para ver aquele ômega feliz, mesmo que não fosse consigo.

A viagem foi longa e silenciosa. Margaret não ousou falar mais nada durante todo o caminho. Observava o Príncipe e o Grã Duque em silêncio. Os dois pareciam ter tantos sentimentos reprimidos e conflitantes que chegava a gritar para qualquer um que olhasse atentamente.

Jimin sentia seus olhos querendo transbordar, mas se manteria firme. Não queria ter que responder perguntas embaraçosas sobre o porquê de estar chorando. Se sentia ridiculamente frágil e sensível diante de tudo aquilo e odiava isso. Tentava tanto passar uma imagem de alguém forte e decidido, mas se sentia pequeno por dentro.

Depois de longas horas, finalmente a carruagem parou em frente ao palácio de Thule. Foram muito bem recebidos pelos Reis, mas não puderam deixar de notar o olhar abalado da família real.

— E como está Christopher? — Jimin perguntou incerto ao não encontrar o menino pelo castelo.

— Ele não comeu nada desde que soubemos. — Charlote Eliza Littford, a Rainha de Thule comentou triste. — Está trancado em seu quarto desde então. — Aquilo apertou o coração do ômega. Jimin tinha apenas quatro anos quando sua mãe faleceu e tinha certeza de que ninguém deveria passar por isso.

Christopher tinha apenas sete anos. Sua maior preocupação deveria ser sobre as aulas de etiqueta e não sobre a vida e a morte de alguém querido. Jimin evitava pensar em Miles. O herdeiro tinha apenas  cinco anos e seu fim trágico era imperdoável. Eles disseram desaparecido, mas sabiam que a essa hora a criança já deveria estar morta.

Aquelas crianças mereciam muito mais do que aquilo. Mais do que uma morte prematura e um trauma para toda a vida. Mereciam ser felizes, mas como entraria naquele quarto e falaria aquilo para Christopher, quando ele mesmo não acreditava na felicidade.

— Quero falar com ele. — Disse para a rainha. — Conheci seu filho no baile e ele é um garoto encantador. Ele me contou sobre Miles e sei o quão difícil deve estar sendo pra ele. Também aprendi sobre a morte muito cedo. — Charlote se lembrava muito bem de quando Elizabeth faleceu. Todos ficaram comovidos. Céus, a Rainha de Katar era amada por todos e fora uma perda terrível.

— Acho que talvez você possa ajudá-lo. Já tentamos de tudo, mas ele nem sequer se mexe. — Admitiu com o olhar baixo, preocupada com seu filho. — Olga, leve o Príncipe Jimin até o quarto de Christopher. — Pediu para sua serva particular. — E mostre o quarto de hóspedes para o Grã Duque e a dama de companhia do Príncipe.

Jimin acompanhou a beta até os aposentos do jovem herdeiro. O quarto estava escuro e o menino estava deitado de barriga para cima em sua cama. O olhar estava fixo no teto e nem sequer se mexeu quando o ômega entrou.

Caminhou em passos leves até a cama e se sentou ao lado do menino. Encarou o rosto vazio que antes costumava ser cheio de alegria e percebeu que a inocência que havia visto no dia do baile, não existia mais. Doeu se lembrar de como se sentiu quando sua mãe faleceu e imaginou o que Christopher estava sentindo naquele momento.

— Não vai passar. — Quebrou o silêncio. — Todos vão te falar que um dia vai passar e que as coisas vão melhorar, mas não vão. — O menino o encarou, sem esboçar uma reação. — Durante anos, você irá se lembrar e se perguntar como seria se ele estivesse aqui. Em alguns momentos, vai desejar que estivesse e em outros vai agradecer por ele estar em um lugar melhor.

— E como eu faço para parar de doer? — Perguntou com a voz rouca pelas horas de choro e falta de uso. — Como faço para continuar?

— Não tem uma cura ou receita. Um dia vai levantar e perceber que não pode parar. — Respondeu com o olhar perdido. — Somos herdeiros, Christopher. Não temos escolha senão continuar. Temos milhões de pessoas lá embaixo que dependem de nós. Não temos tempo para lamentar aqueles que foram. — Lágrimas brilharam pelos olhos de jabuticaba do pequeno alfa. — Mas podemos mudar isso.

— Como? — Questionou focando-se no ômega. — Como mudamos isso?

— Não podemos trazer ele de volta, mas podemos garantir que isso não aconteça nunca mais. — Sorriu fraco. — Você será Rei um dia. Um bom Rei. Um Rei justo que pregara a paz entre povos. — Limpou a garganta. — A Realeza não nasceu para amar, mas temos o poder em nossas mãos. Se não pode ter Miles, lute por sua memória. Levante e seja o melhor Rei que você puder e homenageará a vida dele.

O quarto permaneceu em silêncio. O menino fungava baixo e fechou os olhos com força. Jimin estava certo. Ele podia ficar ali sentindo raiva do mundo inteiro ou poderia se levantar e dar o seu melhor para que mais ninguém sofresse. Não queria que mais ninguém sentisse a dor que estava sentindo e mudaria aquilo.

Jimin percebendo que o menino precisava de um tempo se levantou e caminhou até a porta, mas parou ao ouvir a voz do menino.

— Existe felicidade para pessoas como nós? — Questionou com a voz mole pelo choro. — Algum dia, vou voltar a sorrir e me apaixonar por alguém? — Aquilo pegou Jimin de surpresa. Não sabia como responder aquilo.

Não sabia como era ser feliz ou se algum dia conseguiria ser, mas sabia que não podia desistir. O mundo já havia arrancado a esperança daquela criança e ele não sabia como devolvê-la, mas sabia que não mentiria para ele.

— Eu não sei, mas prometo que se um dia eu encontrar a resposta, você será o meu primeiro remetente. — Sorriu para o menino e pode ver a sombra de um sorriso no rosto do jovem alfa. 

| O SEGREDO DO PRÍNCIPE |


CHOREI. CHOREI MESMO E SE PAH CHORO DE NOVO. 

A HISTÓRIA DE CHRISTOPHER SERÁ CONTADA NO LIVRO 4 - ROYALS 

DISPONÍVEL NO MEU PERFIL EM VERSÃO JIKOOK

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