Capítulo 3 – A nova amiga

— Então você já é casada há sete anos? — O menor perguntou para a serva a sua frente. — Qual o nome dele? Ele é gentil? Nunca fez nada que te machucou ou magoou? O que acontece depois que... — Toda a euforia do menor foi interrompido pela beta.

— Tenha calma, vossa alteza. — A moça disse rindo fraco enquanto mexia no guarda roupas do ômega, observando o menino que estava sentado, em uma poltrona no meio do quarto entre a cama e a porta que levava ao banheiro, ao lado de uma mesinha de madeira maciça que possuía apenas um livro em cima.

— Me desculpe por toda a minha afobação. — Resmungou um tanto tímido, desviando o olhar da mulher para a colcha bordada em seu colo, mexendo nos fiapos soltos do tecido. — Eu apenas estou nervoso demais com tudo o que vai acontecer hoje a noite.

— Não precisa ter tanto medo assim, vossa alteza. — Respondeu segurando um sorriso sincero ao ouvir o tom envergonhado do príncipe.

Diferente dos boatos que circulavam o castelo, Jimin não era nenhum monstro abusivo, muito pelo contrário, ele era um jovem de personalidade doce e simpática, assim como Elizabeth fora um dia.

— Um casamento não é um bicho de sete cabeças. É apenas a união de duas pessoas que se amam muito.

— Esse é o problema. Eu não o amo. — O príncipe negou abaixando a cabeça novamente, arrumando melhor sua postura na poltrona macia em que estava sentado. — Nem ao menos o conheço. Como poderia amá-lo?

— O amor vem com o tempo. — Sussurrou tentando animá-lo. — Quando me casei com Namjoon, não imaginei que um dia amaria ele, mas hoje eu sei que o amo. — Sorriu ao pensar no alfa. — Ele era um tanto quanto desengonçado demais. Quando tomamos a cura, eu havia entendido que todo alfa ficaria com um ômega, mas dentre todos, ele me escolheu.

— Sua história é tão linda, Sra. Wood. Queria ter algo assim. — Murmurou baixinho. — Ter um amor antigo. Uma história longa com alguém que realmente amo e então me casar e ser feliz de verdade com essa pessoa.

— Ninguém vem a sua cabeça quando pensa em amor? — Perguntou enquanto terminava de dobrar algumas roupas no maleiro do príncipe. — Ninguém mesmo?

— Não conheço nenhum alfa além do Duque. — Explicou com um tom emburrado. — Nunca saí do castelo. Nunca conheci alfas ou betas, pelo menos não o suficiente para me apaixonar por algum e também não é como se eu pudesse escolher, no final quem escolhe é o Rei.

— Sabe que não é bem assim. — A mulher disse baixo se aproximando. — Quem vai te acompanhar durante todo o percurso é sua graça e eu tenho certeza de que se você pedir, se você conversar com ele. — disse com um sorriso carinhoso. — Ele fará tudo o que você mandar.

— Jungkook não tem o poder de escolha. Sei disso. — Negou com a cabeça, desviando o olhar. — E ele me esconde coisas e eu também sei disso. — Disse no mesmo tom baixo e pesaroso.

— Esconde? Que tipo de coisas? — Perguntou curiosa.

A mulher não queria se meter nos assuntos reais. Muito menos queria insultar ou desrespeitar o príncipe com tanta informalidade, mas depois de alguns minutos conversando era difícil manter a linha de informalidade, Jimin era tão suave e amigável, de fato, um doce ômega. Chegava a dar dó na mulher apenas de pensar em tudo que ele passaria.

— Ele não me conta tudo sobre esse casamento e eu sei que é algo ruim porque ele fica nervoso e irritado quando toca no assunto.

— Não seja assim. — Repreendeu rindo, em uma tentativa de tranquilizar o príncipe. — Ele apenas não quer te entregar para outro alfa. — Disse simplista voltando para suas tarefas.

— O que quer dizer com "outro alfa"? — Perguntou surpreso com o que a mulher parecia insinuar.

— Ô, não. Eu não quis insinuar isso. Por Deus, não. — Negou rapidamente com medo de ser mal-interpretada. — Apenas deve ser muito difícil para ele. O senhor é o único ômega na vida dele e bem...

— Eu sou o único? — Disse sorrindo largo. Gostava daquilo. Gostava de saber que era o único na vida do alfa. Os olhinhos cheios de esperança não passaram despercebidos pela serva que sorriu fraco para o menor.

— Você gosta dele, né? — O sorriso da mulher apenas aumentou ao ver as bochechas coradas.

— Não diga tolices. Eu nunca o amaria.

— Ninguém falou nada sobre amor, vossa alteza. — Gargalhou. — Olha, não estou dizendo que é fácil, mesmo porque não é. O senhor deve estar confuso com tudo o que está acontecendo. É normal.

— Eu tenho medo. — Admitiu para a mulher. — Todos dizem que eu sou da realeza e que eu deveria agradecer por isso, mas não tenho nem ao menos o poder de decidir o meu próprio futuro. — A beta conseguia ver insegurança e tristeza em seus olhos. — O Duque sempre foi a única certeza na minha vida e agora até ele eu posso perder.

Até aquele segundo, achava que o príncipe estava apenas confuso com o casamento e seus sentimentos pelo Grã-duque, que o menor estava apenas confundindo os tipos de amor e que tudo o que os servos falavam era apenas coisas de pessoas que falavam demais e gostam de fofocar e criar mentiras sobre os monarcas, mas talvez ela estivesse enganada.

Jimin não parecia confuso sobre seus sentimentos, muito pelo contrário, ele parecia ter certeza absoluta sobre o que estava sentindo pelo Duque. Ele tinha medo de perder seu único e melhor amigo. Tinha medo de seu futuro alfa e acima de tudo, ele tinha medo do futuro que o aguardava.

— Querido, você não irá perder ele. — Disse em um tom preocupado ao ver os olhinhos se enchendo de água. — Ele sempre estará aqui para você. Céus, ele é impossível quando o assunto é você. — Uma única lágrima fugitiva escorreu de seus olhos, mas logo foi enxuta.

Jimin sentia que o mundo que conhecia estava sumindo, que a qualquer segundo tudo desmoronaria bem diante dos seus olhos e que não havia nada que poderia fazer.

— Ele não é meu. Nunca foi. — Disse segurando o choro. — Seu destino é ser o conselheiro do Rei e eu não sou o Rei. — Sentia seu coração apertado ao falar em voz alta o que sabia a tanto tempo. — Seja quem for meu futuro marido, ele será o verdadeiro Rei de Katar. E quando esse dia chegar, Jungkook não será mais meu e então eu não terei mais nada.

Margaret Wood não sabia o que falar. Aquela criança que todos julgavam mimada carregava mais peso consigo do que qualquer um sequer um dia imaginou. Jimin estava desmoronando e ninguém parecia ver aquilo.

— Eu não serei mais nada. — Concluiu abaixando a cabeça. Gotas grossas e quentes escorriam pelo seu rosto e a mulher se desesperava ao ver o ômega chorar de forma tão sofrida. — Estou condenado.

— Alteza, eu nem ao menos sei o que falar. — A beta admitiu em um tom baixo ao ver o menor tão frágil a sua frente.

— Não diga nada. — Pediu tentando se recompor, envergonhado por ter confessado um de seus maiores temores a uma mulher que havia conhecido a tão pouco. — Apenas não deixe que os outros saibam disso. Será o nosso segredo. — Sorriu fraco em meio ao seu desespero, mas seu sorriso sumiu ao ouvir sua porta se abrindo.

— Deixo você sozinho com ela por alguns minutos e já está contando segredos para ela, Jimin? — Jungkook perguntou entrando no quarto com um sorriso, mas esse logo morreu ao ver o rosto vermelho e abatido do mais novo. — Por que está chorando? O que aconteceu?

— Nada. — Jimin disse evitando encarar Jungkook. — Eu estava com saudades. Como foi com o meu pai? — Perguntou desconversando enquanto se levantava da poltrona deixando a colcha de lado para abraçar o mais velho.

Foi naquele momento que Margaret percebeu. A beta observou o príncipe respirar fundo o cheiro do mais velho e fechar os olhinhos com força enquanto estava nos braços do Duque, como se ali estivesse em paz.

— Bom. Seus futuros pretendentes já devem estar chegando e bem... — Limpou a garganta, constrangido pelo contato íntimo na frente de uma terceira pessoa. — Você tem que estar impecável para hoje a noite.

— Alteza. Sua graça. — A mulher reverenciou. — Vou dar privacidade para vocês e...

— Jones, eu gostaria que a sra. Wood fosse minha dama de companhia de agora em diante. — Jimin interrompeu a beta.

— Como? — Perguntou surpreso se afastando minimamente.

A beta não possuía títulos para ser uma dama de companhia, no máximo poderia ser sua serva particular, mas com um pedido direto do príncipe, Jungkook não sabia como negar tal título a mulher.

— Eu não sou mais o suficiente? — O alfa brincou, mas a beta notou um lampejo de dor nos olhos do ômega antes dele sorrir para esconder a dor dos olhos atentos do alfa.

— Sabe que não é nada disso, bobo. Apenas quero ter alguém para me apoiar nesse momento, alguém com uma outra visão, além da sua e da minha e bem, a Sra. Wood é casada e feliz no casamento, então talvez ela possa me ajudar nisso. — Começou a tagarelar, decidido a convencer o alfa de que aquilo era sim uma boa ideia.

Jones não gostava nem um pouco de deixar Baker perto de outras pessoas, sejam alfas, betas ou até mesmo ômegas, mas em poucos dias ele já perderia o pequeno herdeiro para um alfa, precisava se acostumar.

— Pois bem. Margaret Wood, você foi promovida a serva real. — apertou o menor no abraço.

— Muito obrigado, meu Duque. — A serva agradeceu em uma reverência contida e envergonhada.

— Agora, por favor, me deixe sozinho com o príncipe um instante. — A beta apenas reverenciou mais uma última vez antes de se retirar. — Posso saber qual dos seus segredos você contou para ela, alteza? — Perguntou sorrindo enquanto limpava um vestígio de lágrimas no rosto bonito e redondo do ômega.

— Está com ciúmes? — Gargalhou se afastando e caminhando, dessa vez até a cama. — Não fique. É apenas coisas de ômegas. — Sorriu ao ver a cara confusa do alfa.

— Ela não é uma ômega. Está mentindo pra mim? — Disse tentando puxar o mais novo de frente para si, na tentativa de olhar em seus olhos e buscar a verdade que Jimin parecia querer esconder.

— Às vezes eu minto pra você, Jungkook. Mas imploro todas as noites pra que você descubra minhas mentiras.

| O SEGREDO DO PRÍNCIPE |