A conversa
Capítulo 11 – A Conversa.
O Quarto era enorme. Pela janela uma linda vista da vila de Thule podia ser encontrada. A cama era macia e seus pensamentos estavam longe. Maggie estava no quarto do lado. Havia dispensado ela depois do jantar. Precisava ficar sozinho.
Seus pensamentos o atormentavam. Não sabia se havia ajudado Christopher, mas sabia que havia feito o seu melhor. Queria poder dizer algo diferente para ele. Gostaria de dizer que tudo ficaria bem e que no final ele poderia encontrar a felicidade como todos, mas não poderia mentir.
Duas batidas na porta chamaram sua atenção. Imaginou que a Rainha estivesse ali para lhe perguntar sobre a conversa, mas antes que desse permissão, a porta já estava aberta.
Jungkook possuía uma expressão preocupada e um olhar cansado. Se não o conhecesse bem, até mesmo estranharia a forma como o alfa entrou sem permissão e no meio da noite, mas no fundo o ômega sentia que no futuro sentiria falta de visitas como aquela e se pudesse chutar, Jimin diria que o alfa havia tentado dormir e fracassado no caminho.
— Precisamos conversar. — Foi firme trancando a porta.
— Precisamos? — O ômega questionou o encarando, sem real surpresa ou malcriação, apenas o mais sincero questionamento. Se sentou na cama, encostando a cabeça na cabeceira e esperou que o alfa dissesse o que tanto o incomodava.
— Precisamos. — Afirmou. — Não sei por onde começar, mas algo mudou durante a minha viagem e eu não sei explicar o que. — Foi direto ao ponto. Jimin cogitou sobre o que responder, mas Jungkook parecia decidido a saber a verdade e diferente dele, Jimin não mentiria.
— O que mudou, foi que você não estava viajando. — Jimin disse em um tom baixo, mas alto o suficiente para o alfa escutar. Aquilo fez Jungkook estremecer. — Você estava na ala Norte. Estava no Cio e mentiu pra mim. — Jogou a verdade sobre a mesa, sem mais medo do que poderia acontecer. Aquilo deixou o alfa sem palavras. Não podia acreditar que Jimin sabia sobre aquilo.
— Quem lhe contou? — Questionou contendo a raiva. Mataria quem quer que fosse.
— E isso realmente importa? — Perguntou calmamente. Não entregaria a serva. Não sabia o porquê de a mulher ter lhe dado tal informação, mas não a entregaria.
— Eu não podia te contar, Jimin. Você não entende. — Resmungou se desarmando.
— Não podia? — Questionou o menino com um tom irônico. — Acha que eu ainda sou uma criança e que não entendo o que é um cio? — Disse bravo se levantando. — Acha que eu não estou pronto para tudo isso? Que não estou pronto para tomar minhas próprias decisões? — Caminhou até o alfa, que estava parado no meio do quarto. — Que não posso escolher com quem devo me casar? — Parou em frente ao alfa. — Ou acha que eu não consigo lidar com a verdade?
— Você não conhece a verdade, Jimin. — Rosnou baixo ao ser afrontado, porque droga, aquilo tudo não era verdade e não queria que o ômega acreditasse naquelas palavras, ao mesmo tempo em que não tinha coragem o suficiente para lhe admitir a verdade. — Eu mesmo demorei para aceitar a verdade.
— Você me subestima. Desde o começo é assim. — Brigou segurando o olhar do alfa. — Me manteve preso por anos porque não achava que eu era capaz de viver no mundo lá fora. — Gritou contido.
— Te mantive preso, porque achava que quando saísse, não precisaria mais de mim. — Respondeu bravo, mas seu olhar se suavizou ao ver o ômega se desarmar. — Nunca achei que era incapaz. Apenas não queria que crescesse rápido demais.
— Por que não? — Questionou se sentindo amolecer.
— Porque eu sabia que quando crescesse, eu não seria mais necessário. Você encontraria seu alfa e então viveria sua vida e eu seria apenas mais alguém que você conhecia.
— Você tinha medo de me perder. — Constatou em choque, sentindo o peito apertado. — Durante anos achei que esse medo era apenas meu, mas você também sentia ele. — Seus olhos se molharam, mesmo que tentasse impedir as lágrimas. — Por que não me disse isso antes?
— Porque eu demorei para admitir pra mim mesmo a verdade. — Jimin encarava seus olhos com medo. Não sabia sobre o que Jungkook falava, mas não podia se impedir de temer por aquilo.
— Que verdade é essa que custou tanto perceber? — Jungkook não pensou. Os olhinhos molhados do ômega o deixavam em alerta. Seu lobo lutava por uma atitude e quando viu, já segurava o rosto do ômega entre suas palmas grandes e quentes e o olhava no fundo dos olhos.
— Eu sou seu. — Respondeu com certeza e convicção. — Eu sempre fui seu, desde o primeiro dia e nada vai mudar isso. — Encostou sua testa na do menor e observou a respiração do ômega ficar irregular. — Eu tentei negar para mim mesmo, Jimin e você pode ir em frente e se casar com o Infante de Dundeya, mas nada vai mudar isso.
Jimin se sentia mole nos braços do alfa, agradeceu por Jungkook estar o segurando de alguma forma, porque sabia que cairia se tivesse que se manter sozinho. Seu olhar desceu para a boca do alfa e teria o beijado se Jones não tivesse o segurado no lugar.
— Não tome decisões erradas. — Fechou os olhos. — Não confunda o que sente por mim. Eu sempre estarei aqui por você. Você me escolhendo ou não. Pense nas consequências antes, Jimin.
E tão rápido como veio, ele foi. Jimin se deixou cair no chão frio do quarto vazio e notou lágrimas nos seus olhos. Tudo o que achava estava errado e não sabia o que fazer. Jungkook tinha os mesmo medos e inseguranças que ele, mas se ambos queriam aquilo, por que não podiam ficar juntos?
Passou a noite toda acordado revirando aquelas dúvidas e foi só quando o sol nasceu que percebeu o erro em seu destino. Seu pai surtaria com a hipótese da tradição milenar dos Jones ser quebrada.
O Rei havia posto Jungkook ao seu lado para o criar e o aconselhar, manter a tradição viva. Havia confiado sua vida ao alfa para criá-lo e educá-lo. Jungkook tinha um título e o conselho não barraria o casamento com um Grã Duque, se esse Grã Duque não fosse um Jones.
Jones não eram Reis. Jones eram conselheiros. Jimin sempre achou uma tradição boba, mas nunca a questionou por que ela mantinha Jungkook por perto, agora ela o afastava dele e pela primeira vez se pegou odiando aquela maldita tradição.
Seu pai nunca aceitaria e mesmo que aceitasse, o conselho jamais aprovaria. Se suspeitasse de um possível romance entre eles, poderiam questionar sua pureza e então seria destituído do posto antes que pudesse tentar se explicar ou que tivesse chance de provar. Desonraria uma família inteira.
Como seu amor poderia ser tão errado, se ele lhe fazia tão bem?
Quando o sol brilhou em sua janela, desistiu de tentar dormir, mas uma noite havia sido passada em claro e sua mente ainda borbulhava em desgosto.
Nada havia mudado. Jungkook havia posto as cartas na mesa, mas suas mãos estavam amarradas. Era um ciclo vicioso. Talvez agora tivesse a resposta da pergunta que Christopher havia feito. Herdeiros nunca seriam felizes como as outras pessoas.
Se levantou sem a menor vontade e se banhou sem a ajuda de Maggie que ainda deveria estar dormindo, após se vestir e colocar a adaga que ganhou de presente do Infante em seu bolso direito, como agora era um costume, caminhou pelos corredores sem pressa, observando a decoração impecável que o castelo possuía.
Por uma janela conseguiu ver uma serva roubar um beijo de um dos guardas e deixou um sorriso bobo lhe escapar. A vida devia ser muito mais fácil sem regras de etiqueta e tradições estúpidas.
Continuou caminhando pelos enormes corredores e antes mesmo que pudesse notar já estava no salão de jantar. A mesa estava posta. Servos zanzavam para todos os lados trazendo frutas e outras iguarias típicas de Thule.
Voltariam para Katar depois do café. A visita era algo rápido. Queria apenas ver o menino e dar seu apoio. Não tinha nada que pudesse ser feito naquele caso. Seu pai e Yoongi estavam ajudando a Rainha de Burly a se reerguer, tinha medo de que ninguém se lembrasse do herdeiro prometido de Thule.
Não demorou muito para Rainha e Rei chegarem à mesa e logo Jungkook desceu sendo acompanhado por Maggie, até mesmo Elisa, a princesa de oito anos já se encontrava a mesa. O café seguia em silêncio. Era nítido o olhar cansado da Rainha. Devia ser difícil ver seu filho sofrendo e não poder fazer nada. O Rei viajaria naquela tarde para Burly para prestar sua solidariedade, mas ela ficaria ali, lutando contra o inevitável.
— Bom dia. — Uma voz suave e fina ecoou pelo salão chamando a atenção de todos. Os olhos da Rainha brilharam ao ver seu filho ali, se sentando à mesa.
O olhar da Rainha se voltou para Jimin, que sorria orgulhoso para o menino. Ela não sabia o que ele havia feito ou falado, mas agradecia ao ômega por ter dado certo. Seu filho estava ali. Não sorria como de costume, mas estava ali e isso era o que importava.
— Como está se sentindo querido? — Perguntou a rainha encarando seu filho.
— Ainda dói, mas não posso mudar o passado. — Respondeu com o tom baixo. — Me resta mudar o futuro. — Completou virando-se para o ômega. — Obrigada. — Sussurrou.
— Fico feliz que tenha voltado. — Jimin cumprimentou com um sorriso. — Tomou a decisão certa.
— Espero que esteja certo.
| O SEGREDO DO PRÍNCIPE |
Em Royals - LIVRO 4:
Elisa será - Taehyung
Christopher - JK
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