A Beta
Capítulo 12 – A Beta
O clima estava pesado no caminho de volta e Jimin agradeceu ao chegar em casa. Seu pai ainda não havia retornado, mas uma carta lhe dava a certeza de que pela manhã estaria de volta.
Sem saber o que fazer, o pequeno príncipe se trancou em seu quarto e passou o resto do dia confinado. Não permitiu a entrada de Maggie e muito menos a de Jungkook. Precisava ficar sozinho e agradeceu por conseguir.
No meio da madrugada a fome lhe atingiu em cheio. Sentia seu estômago clamar por algo doce e açucarado. Pensou em chamar um dos guardas, para que ele acordasse uma das servas, mas depois de ter passado o dia inteiro isolado, não estava pronto para voltar a ser cercado de pessoas.
Decidiu então que iria por conta própria até a cozinha, uma área do palácio que não ia desde que era pequeno e sentindo uma adrenalina tomar seu corpo, como se aquela fosse uma das atividades mais perigosas que poderia fazer, saiu da cama.
O castelo estava em completo silêncio. Lá fora, guardas faziam a ronda noturna, mas nos corredores a maioria cochilava. A cozinha deveria estar vazia a uma hora dessas, mas para a surpresa de Jimin, uma beta estava ali.
Ela não parecia ser muito mais velha do que o príncipe. Julgava uns 20 e poucos anos para a menina de cabelos cor de mel. Seu vestido estava cheio de farinha e até mesmo o seu rosto tinha um pouco do pó branco. Estava tão concentrada em misturar a massa que tinha em sua panela que nem ao menos notou a aproximação lenta do príncipe.
— Meu deus. — Gritou se assustando. — Está tentando me matar do coração? — Questionou histérica. — Isso não se faz. Eu poderia ter morrido. — Jimin levantou uma sobrancelha. Ninguém nunca tinha falado assim consigo, tão informalmente. Havia gostado daquilo.
— Me desculpe. Não quis assustá-la. — Respondeu segurando o riso, mas a menina bufou.
— Onde já se viu, em tempos como esse, fazer uma brincadeira como essa. — Continuou resmungando. — Como se todo mundo não estivesse em alerta o suficiente.
— Do que está falando? — Jimin questionou ao ver o pânico da garota. — Porque estão em alerta? — A serva então parou o que fazia para observar melhor o ômega a sua frente e quase bufou ao notar as roupas de dormir com um brasão do reino bordado.
— Você é um nobre. Por isso não deve saber de tudo o que vem acontecendo. — Insistiu, voltando a mexer em sua panela. — Mas imagino que já saiba sobre a situação do reino vizinho.
— Sim, Burly foi atacado, estou ciente disso. — Jimin afirmou, se sentando em uma das cadeiras próximas da menina, sem desmentir o mal-entendido, que para o príncipe, parecia divertido.
Assim como a maioria das pessoas que moravam na vila e nunca haviam tido contato com o castelo, ela não tinha a menor ideia de quem ou como era o príncipe e aquilo lhe parecia ser uma vantagem.
— Mas onde isso afeta o povo de Katar?
— Bom, o meu pai trabalha na guarda real, ele disse que nosso príncipe viajou para Thule para fazer alguma das coisas dele. — Tagarelou dando com as mãos, como se não tivesse a menor ideia do que pessoas da realeza faziam em seu dia a dia. — Sua viagem era confidencial e ninguém sabia, então tudo foi feito como se deve ser. Sua comida foi preparada, seu banho foi esquentado e tudo foi feito, porque nenhum dos servos sabiam sobre sua ausência.
Jimin estranhou aquilo, mas acreditou ter sido um pedido do próprio Duque, para não alarmar o povo. Mesmo com algumas dúvidas em sua mente, não interrompeu a menina, que parecia distraída enquanto cozinhava e lhe contava o que sabia.
— Mas enquanto ele esteve fora, o responsável por provar a comida dele foi envenenado. O guarda responsável por sua porta sumiu e se não fosse pelo general, que aparentemente era o único que sabia sobre a viagem de sua alteza, explicar sua ausência em seus aposentos, todos teriam surtado ao imaginar o pior.
Em choque Jimin repassava as informações em sua mente, sentindo seu coração disparado e as pernas bambas ao imaginar o pior.
— Acha que alguém está atentando contra a vida do príncipe? — Questionou baixo, com a voz trêmula, apenas para garantir de que não havia entendido errado.
— Isso é o que o meu pai diz. — Arrebitou o nariz. — Ele acha que seja quem for, está tentando dar um fim nos herdeiros e disse mais, ele também acha que a pessoa não está trabalhando sozinha. Já que conseguiu livre acesso para o castelo e para a cozinha.
— Isso é loucura. Burly foi atacada por uma rebelião, tinham um propósito, queriam a coroa. — Jimin interrompeu, tentando pensar com coerência.
— Isso eu já não sei. — Deu de ombros. — O que eu sei, é que o príncipe já chegou de viagem e ainda não tiveram coragem de contar isso pra ele. Acho que estão com medo da reação de vossa graça quando souber que ele corre perigo.
— É um medo coerente. O Duque surtaria se soubesse.
— Pelo o que todos dizem, ele mesmo procuraria pelo culpado e o mataria com as próprias mãos. — A menina disse com emoção, mas logo se calou, se voltando para o ômega. — Mas isso são apenas fofocas. Não sabemos exatamente como ele reagirá.
Se sentindo ansioso e com os nervos à flor da pele. Jimin batucou com os dedos na mesa, vendo a menina voltando a mexer a panela em uma receita que parecia complexa e sem fim.
— O que tanto faz com essa panela? — Perguntou, consciente de que não conseguiria voltar a dormir e muito menos para o seu quarto, onde estaria sozinho e desprotegido.
— Estou treinando. — Respondeu mexendo a massa. — Comecei a pouco tempo a trabalhar aqui no castelo. Preciso desse emprego e quero surpreender no café de amanhã. — Respirou fundo, torcendo o pulso que já doía pelo esforço. — Soube que o príncipe ama bolo de laranja e limão e dado todos os acontecimentos, achei que ele iria gostar de algo doce. — Abaixou a cabeça envergonhada por estar sendo tão gananciosa em pensar que o príncipe gostaria de um dos seus bolos.
— Tenho certeza de que ele irá adorar. — Sorriu para a menina, fazendo o seu máximo para se distrair. — Para sua sorte, também é um dos meus favoritos. — Se levantou da cadeira desconfortável, indo para perto do balcão, onde a menina estava. — Quer que eu de minha opinião?
— Não. Esse bolo é para o príncipe. — Negou com uma careta, mas logo riu nervosa, pegando uma colher para passar na massa. — Se você falar que está ruim, eu vou ter uma crise. — Ofereceu a colher melecada com a massa crua. Jimin nunca tinha provado algo como aquilo, mas parecia delicioso.
Pingou uma pequena porção na palma de sua mão e então lambeu. O gosto estava delicioso, o azedo do limão se mesclando com o doce da laranja. Estava perfeito. Olhou para a menina e sorriu amigável.
— Está delicioso. — Disse encarnado a quantidade de massa. — Tenho certeza de que todos irão querer comer um pedaço disso.
— Tem o suficiente para todos da família real. — Sorriu satisfeita. — Soube que o Rei chega à manhã cedo e que trará um dos pretendentes do príncipe.
— Certo. O suficiente para a família Real. — Observou ao redor. — Por que não fazemos mais e servimos para todos os servos e guardas? Eu posso te ajudar a fazer.
— Está louco. Não podemos fazer isso. — Disse rindo, com a certeza de que o homem à sua frente não batia bem das ideias. — O cozinheiro real teria um ataque se eu gastasse tanta coisa assim para fazer para todos. Essa comida é para a família real.
— Não acho que eles ligariam. — Disse dando de ombros. — Eles tem bastante comida e se estiver com medo, eu assumo total responsabilidade.
— Tem certeza disso? Você pode ser expulso. — Disse com insegurança, não sabia de qual família pertencia aquele nobre, mas eles não tinham tanta influência assim para tomar uma atitude tão drástica.
— Se me ensinar a fazer esse bolo, eu até mesmo te convido para tomar café com a família real amanhã cedo. O que acha?
— Acho que você é louco. — Disse desacreditada, mas logo deu de ombros, se algo acontecesse, iria botar a culpa em cima do nobre e afirmar que ele a obrigou. — Vem. Temos muito o que fazer.
Em pouco tempo outra receita estava pronta. Jimin tentava ao máximo repetir os passos que ela fazia, mas parecia complicado demais. No final, a beta que Jimin descobriu se chamar Kirby Della o ajudava a salvar a massa e colocava para assar.
O príncipe aos poucos se acalmava, tirando de sua mente aquela situação assustadora e se sentia seguro em ter mais alguém do seu lado, ainda mais uma desconhecida que parecia simpatizar com o príncipe.
Quando o sol nasceu naquela manhã. A cozinha estava lotada de bolos, não só de laranja e limão, mas de muitos outros sabores também. Jimin nunca havia se divertido tanto e agradeceu por aquela experiência nova.
— Vou subir para me trocar. — Disse ao terminar de tirar o último bolo do fogo. Em alguns minutos seu pai e Yoongi deveriam chegar e Jungkook apareceria. — Vá até seu quarto limpar a farinha. Irei lhe buscar para o café da manhã
— Como você me colocará na mesa com eles? — Disse incrédula. — Isso é loucura. Eles nunca vão aceitar isso.
— Confia em mim, sim? Te encontro em alguns minutos. — Sorriu antes de sumir pelos corredores. Subiu o mais rápido que pode e se assustou ao encontrar Jungkook e Maggie parados na porta de seu quarto discutindo com o guarda.
— Como o senhor não viu para onde ele foi? — Jungkook rosnou irritado. Havia acordado com as batidas de Margaret em seu quarto e seu coração quase parou ao saber que Jimin não estava em seus aposentos. — É responsável pela segurança do príncipe. Deveria saber onde ele está o tempo todo.
— Eu não o vi sair. — O guarda disse recuando assustado. — Ele estava lá dentro a última vez que eu o vi.
— Céus, ele deve estar.... — Margaret se calou ao ver o ômega parado no corredor com o rosto cheio de farinha e açúcar. — Sujo?
— Graças a Deus. — Jungkook esbravejou indo até o menino. O abraçou apertado, aliviado de ver Jimin são e salvo bem a sua frente. — Onde você estava? — Questionou firme para o ômega, que teve um leve deja vu de quando era mais novo e tentava fugir do melhor amigo.
— Estava no castelo. — Respondeu rindo da feição brava do alfa. — Eu assei um bolo. Bom, na verdade, muitos bolos. — Gargalhou e se soltou do alfa, mesmo que quisesse permanecer naquele abraço por mais tempo. — Vamos tomar café. Meu pai já deve estar para chegar e quero conversar com você mais tarde. É importante. — Disse entrando no quarto, sem dar tempo para que o Duque o respondesse.
— Vou preparar sua tina, Majestade. — Maggie disse correndo para o banheiro enquanto o menino vasculhava seu baú de roupas. Em pouco tempo, Jimin estava pronto e já descia as escadas em direção a cozinha principal sendo seguido por Maggie e Jungkook, que fez questão de o esperar na porta de seu quarto.
— Você perdeu a cabeça? — Jimin parou ao ouvir um grito vindo da cozinha. — O que vamos fazer com tudo isso? O Rei irá nos mandar à forca se souber que desperdiçamos tanta comida.
— Eu apenas pensei que... — A voz de Kirby foi cortada pela voz rude do alfa.
— Errado. Você não pensou. — Disse irritado.
— Algum problema? — Jungkook disse ao entrar na cozinha. O silêncio se fez presente ao ver o alfa e todas as betas abaixaram a cabeça com medo da possível bronca. Jungkook analisou a cozinha repleta de bolos e encarou Jimin com um olhar avaliador. — É o responsável por isso? — Perguntou para o príncipe que concordou para a surpresa de todas as servas.
— Sim, ela foi gentil e me ajudou. — Disse indo até Kirby e segurando a mão da menina que parecia tremer em pânico, com medo de que o nobre sumisse e a deixasse na pior. — Ficamos a noite toda preparando tudo isso. Ela me ensinou a assar bolos. — A beta o encarava assustado, como se não entendesse a situação. — Ela tomará café da manhã com a gente.
— Bom, aqui tem bolo o suficiente para um batalhão tomar café. — Jungkook riu ao ver o olhar orgulhoso e contente no rosto do ômega.
— Essa é a ideia. — Sorriu. — Eles cuidaram de mim a minha vida toda e recentemente parece que passaram por situações difíceis. Pensei em agradecê-los. — Sorriu olhando para todos aqueles betas. — Passei a noite toda cozinhando bolos para todos vocês. — Maggie sorriu caminhando por entre os pratos. — Kirby me ajudou, bom, ela fez muito mais do que só ajudar. Eu nunca havia cozinhado na minha vida toda e no final eu não estava uma tragédia completa.
— Meu príncipe, está me dizendo que o senhor fez tudo isso para nós? — O alfa que antes gritava com Kirby perguntou assustado, ganhando um confirmar de cabeça do ômega. — Céus, achei que estávamos em um enorme problema.
— Príncipe? — Kirby perguntou encarando o ômega ao seu lado. — Você é o príncipe? — Jimin concordou sorrindo pela surpresa da menina. — Eu acho que vou desmaiar.
— Se desmaiar vai perder o nosso café. — Brincou. — Vamos, quero que todos experimentem nossos bolos. — Sorriu empurrando a beta para o salão de jantar. Della sentia suas pernas bambas ao sentar no estofado chique e jurava que iria enlouquecer quando Jimin lhe serviu um pedaço de bolo.
— Acho que estou dentro de um sonho. — Resmungou encarando a prataria lustrada a sua frente.
— Isso está uma delícia. — Jungkook resmungou após comer um pedaço. — Parabéns. Vocês são ótimos cozinheiros. — Parabenizou os dois. Jimin sorriu satisfeito e quase pulou da cadeira ao ouvir o portão se abrindo. — Majestade. — Jungkook se levantou reverenciando o Rei.
Haviam acabado de voltar de uma viagem difícil. O Reino de Burly estava arrasado pela perda do Rei e ainda mais arrasado pela perda do herdeiro. Reis de todos os cantos iam até Burly prestar sua solidariedade, mas isso não amenizava a dor que todos estavam sentindo.
Quando pisou em Katar, observou uma grande movimentação em seu castelo. Guardas e servos se serviam de uma enorme mesa repleta com os mais diversos tipos de bolos posta no jardim.
— Eu iria perguntar o que é toda aquela bagunça lá fora. — O Rei disse ao ver um sorriso animado no rosto de seu filho. — Mas imagino que tenha dedo seu nisso. — Se sentou à mesa. Estava orgulhoso de seu menino. O clima em todos os reinos estava pesado depois do ataque, mas quando retornou para Katar, todos no castelo estavam felizes e animados. Elizabeth ficaria orgulhosa de seu filho.
— Eu aprendi a fazer bolo. — Disse como uma criança alegre. — A senhorita Della me ensinou. — Disse encarando a beta, que sorriu tímida. — Pai, quero que conheça Kirby Della. A melhor confeiteira que esse castelo já viu. — A serva se levantou sem jeito e caminhou para perto do rei fazendo uma grande reverencia em respeito.
— É um prazer senhorita. — Cumprimentou com um sorriso. — Vejo que é uma convidada para o café. Sinta-se à vontade.
— Onde a Senhora Wood está? — Jimin questionou ao olhar ao redor. — Quero que ela tome café conosco hoje.
— Ela disse que levaria um pedaço de bolo para seu marido. — Jungkook respondeu bebendo um gole de café preto. — Deve voltar depois do café, eu a dispensei.
— O Senhor Scott deve estar vindo. Ele estava deixando o seu cavalo com o cavalariço e já viria para cá. Ele estava com saudades, querido. — Disse para seu filho, que apenas abaixou a cabeça. — Fez a escolha certa.
Se aquela era mesmo a escolha certa, por que se sentia tão mal com ela?
| O SEGREDO DO PRÍNCIPE |
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