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Eu e Leonardo caminhamos pela praça em silencio e depois nos sentamos no banco. Fechei meus olhos para sentir a brisa tocar em minha pele delicadamente, Leonardo pegou a minha mão fazendo com que eu olhasse para ele.

- Tem certeza que está bem? - ele tinha um olhar triste

Eu dou um sorriso sincero.

- Me sinto melhor. Ainda não falei com meu pai.

- Eu entendo. - ele sorriu na tentativa de me consolar - Deve ser complicado sua relação com ele.

- É fácil de explicar para alguém, mas o difícil é conviver com isso. - suspirei - Ele quer que eu seja a garota perfeita. Tire notas boas sempre, enfrente o mundo, mas seja quieta. Se pareça mais com seus primos. Não tenha sentimentos.

- Um robô perfeito.

- Exatamente. - eu sorrio - Um robô ou talvez um fantoche que aceite tudo e mesmo assim não sinta. Leonardo?

Ele me encara.

- O que?

- Acho que não sei o que são sentimentos bons e verdadeiros mais. Talvez, eu não saiba o que é viver de verdade.

- Como seu irmão, eu vou te ajudar. - Leonardo me abraçou

- Obrigada. - digo

****

A melhor definição para relação de pai e filha entre meu pai e eu, realmente é a palavra complicado. Parece que as lembranças ruins sobressai das lembranças boas. Quando penso nele, eu apenas lembro dele brigando comigo e com minha mãe. Foi um alivio, meus pais terem divorciados, mas infelizmente, minha mãe foi a unica que não saiu bem na historia. Mas é fato, pelos menos um tem que sair machucado quando o amor acaba.

Acho que eu tenho uma lembrança boa, o dia que eu e eles íamos para Alaska tomar soverte. Foi uma das épocas que eu via meu pai de bom humor, sem descontar em mim. Eu ainda sinto um pouco de felicidade ao recordar, mas essa imagem se transformar em cinza. É triste ver que tudo se destruiu nas chamas.

Quando cheguei em casa, minha mãe estava na cama dormindo. Eu deitei ao lado dela e abracei.

- Que foi? - ela perguntou olhando para mim

- Nada. - digo - Pode dormir.

Ela sorriu e beijou minha testa.

- Você sabe que eu gosto quando você dorme comigo? - ela me abraçou mais forte

- Eu sei, mãe. - sorrio

- Você é minha filha querida e a mamãe te ama. 

- Eu também te amo.

Ela fechou os olhos e eu deixo as lagrimas escaparem.

- Bons sonhos, mãe.

Eu ainda sonho com o dia que minha mãe esteja bem, mas ela se recusa se tratar por mim. Ela não quer que eu more com meu pai. Então, eu preciso sair da cidade para ela não se sentir obrigada se deixar de ser tratada por minha causa.

- Mãe, pode deixar que eu vou conseguir. Quando esse dia chegar não precisará cuidar de mim. - digo olhando para ela que está dormindo - Eu te amo muito, mãe.

Eu levanto de cama e vou arrumar a casa antes de começar a estudar novamente. Minha tia e nem meu pai viriam hoje, então, eu teria um tempo de paz apenas para mim. Sem discussões por dois aqui em casa.

****

Eu cheguei na escola e fiquei observando as pessoas. Tudo era diferente. Hoje em dia, as pessoas me evitam, no entanto, antigamente, elas chegavam a me invejar por causa dos meus pais. "Ah Nicole, você tem muita sorte", "Seus pais vão a sua apresentação que inveja", " eles assistem filme com você"... Eu apenas assentia com cabeça envergonhada. Não era bem assim. Antes do filme, meus pais arranjam um motivo pra brigar e depois do filme eles se arrependem de ter gasto tempo. Um dia antes da minha apresentação de balé ocorreu uma discussão. Minha mãe nunca está prestando atenção no que eu falo. Ela me dizia como eu deveria me comportar e vive de aparências. Eu sei que é errado dizer que estou feliz dela estar neste estado, mas me sinto aliviada em casa. Mesmo assim... Preciso que ela fique melhor para eu poder partir em paz.

A noite, eles acreditavam que eu estava dormindo na madrugada, mas, eu tinha dificuldade pra iniciar o sono e acabava escutando o que eles falavam de mim... Eu nunca escutei um elogio naquelas noites. Eu virava de um lado para outro tentando não pensar nessas conversas. Até hoje, acredito que eles pensam eu sou fraca ou qualquer ruim de mim. Passei a não acreditar em elogios que recebo. Minha mãe dizia que eu não deveria demonstrar o que eu sinto, então, eu escondo tudo para mim como uma filha obediente que eu devo ser.

Eu sei que minhas emoções estão tomando conta de mim, eu tenho consciência, mas, não sei com quem devo falar. Eu só quero sair dessa cidade sem nada amarrado em mim. Meu plano é simples tentar me manter viva e recomeçar minha vida em outro lugar. Parece que estou fugindo, mas cansei de lutar todos os dias. Eu quero o fim daqui e começar um novo ciclo. Chega de apertar reset, eu quero game over.

A verdade é que eu não queria que ninguém importante vivencia-se o meu mundo real, infelizmente meu irmão já está envolvido nessa historia e só ele já me basta.  

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